A maioria das companhias aéreas está a falhar no objetivo de redução das emissões de CO2, em particular no que toca à adoção de combustíveis sustentáveis para aviação (SAF). Um ranking elaborado pela Federação Europeia de Transportes e Ambiente (T&E), e divulgado pela Zero que é membro da federação, coloca a TAP no grupo das mais empresas mais mal classificadas com zero pontos. E aponta culpas à indústria petrolífera que está a resistir a investir mais em combustíveis mais limpos.

Segundo este estudo, apenas 10 das 77 companhias analisadas estão a fazer um esforço para “adotar alternativas credíveis ao jetfuel convencional. As restantes 67 — onde se inclui a TAP —, ou estão a comprar combustíveis sustentáveis para a aviação em quantidade insuficiente ou o tipo errado de combustíveis sustentáveis para a aviação, ou nem sequer estão a considerar a utilização de combustíveis
sustentáveis para a aviação.”

A transportadora portuguesa aparece a partir da 41ª posição, onde estão as empresas que têm nota zero nesta classificação. Entre as melhores classificadas estão duas candidatas à privatização da TAP — a Air France/KLM que lidera o ranking e a IAG em quarto lugar num top cinco que inclui ainda a United Airlines, a Norwegian e a Wizz Air.

A redução das emissões da companhia aérea portuguesa é considerada “ínfima”, sendo apenas conhecido um voo de teste com combustíveis sustentáveis realizado em 2022. Em comunicado a Zero diz que não se conhecem “objetivos para a utilização de combustíveis sustentáveis para a aviação ou e-SAF até 2030 ou investimentos ou acordos relacionados com combustíveis sustentáveis para a aviação”.

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As regras europeias estabelecem que as companhias aéreas devem incorporar 2% de combustíveis sustentáveis. Numa intervenção realizada numa conferência no final de outubro, o administrador da TAP Mário Cruz indicou que a companhia estava ainda à procura de um fornecedor de SAF. Mário Cruz deixou ainda a porta aberta à cobrança de uma taxa ambiental nos bilhetes para financiar o custo acrescido.

TAP admite aplicar taxa ambiental para financiar custo de combustível sustentável a partir de 2025

A Federação Europeia de Transportes e Ambiente faz também uma avaliação crítica das soluções que estão a ser disponibilizadas pelas empresas petrolíferas e conclui que este setor mostra “a relutância da indústria em mudar para combustíveis mais sustentáveis, dando prioridade a investimentos em combustíveis fósseis.”

Tendo por base os projetos da ENI, Total, Shell,  BP, Chevron, ExxonMobil, Sinopec e Saudi Aramco, a produção deverá atingir apenas as 3 milhões de toneladas de combustíveis sustentáveis para a aviação por ano até 2030, o que corresponde a menos de 3% da produção. E muito deste combustível não é o mais sustentável porque é biocombustível que utiliza a produção de culturas como o milho e a soja. As melhores opções são o e-SAF (combustível sintético produzido a partir de eletricidade renovável, hidrogénio verde e dióxido de carbono captado diretamente do ar (DAC, na sigla inglesa) e os biocombustíveis avançados que usam resíduos como matéria-prima.

No caso de Portugal, o comunicado lembra que a Galp só prevê arrancar a produção de SAF a partir de 2026, apostando essencialmente nos biocombustíveis. “Desconhece-se se e para quando a produção de e-SAF.” Há outros projetos anunciados da Smart Energy e da Navigator, mas sem data de execução.

Sublinhando que as “petrolíferas são a peça que falta no puzzle da transição para os combustíveis sustentáveis para a aviação”, a federação alerta que a relutância em investir “está a sabotar a transição no setor”. E defende que as companhias aéreas devem pressionar os produtores de combustíveis a utilizarem os tipos corretos de matérias-primas, caso contrário, podem dizer adeus às suas metas de redução de emissões. Apela também aos reguladores e decisores políticos que promovam uma estratégia industrial europeia para o e-SAF com apoios públicos.