Na antecâmara do último encontro na Bélgica para a Liga dos Campeões, João Pereira deixou cair todas as “amarras” em termos de comunicação de quem só quer fazer o melhor para o Sporting e para si e explicou de coração mais ao pé da boca todo o trajeto que foi fazendo em termos profissionais. Muitos duvidavam que poderia chegar ao mais alto nível, foi internacional, jogou em dois “grandes” e esteve na La Liga. Depois, as dúvidas recaíam sobre a capacidade de enveredar por uma caminho como técnico e foi tentando rebater essas dúvidas na formação leonina após terminar a carreira de jogador. No entanto, depois da partida e da quarta derrota consecutiva, voltou a ser contido. Mais do que isso, falou do que os números não mostraram.

Apesar dos elogios à exibição do conjunto verde e branco e da ideia de que antes do golo da reviravolta dos belgas era o Sporting que estava por cima, os leões tiveram apenas dois remates enquadrados em todo o jogo com uma diferença de 84 minutos entre ambos, criaram apenas uma oportunidade na segunda parte e já com o resultado em 2-1, tiveram a partida com menos tiros tentados à baliza na Liga dos Campeões e terminaram também o encontro da sexta jornada como equipa que menos ações defensivas teve num duelo a contar para a Liga dos Campeões esta época. A par disso, foram-se somando também algumas lesões que condicionaram as opções sobretudo no meio-campo entre Daniel Bragança, Morita e Pedro Gonçalves, havendo também as baixas de Nuno Santos, Eduardo Quaresma e eventualmente Gonçalo Inácio, que “caiu” na Bélgica.

A pressão em torno da equipa, e por inerência ainda mais sobre o treinador, aumentou nos últimos dias até porque a semana poderá trazer uma situação ainda não vivida pelo Sporting na presente época na Primeira Liga: mesmo ganhando ao Boavista, poderá perder a liderança caso o Benfica vença o AVS e, na quinta-feira, o Nacional, num encontro em atraso relativo à oitava jornada. No entanto, João Pereira não se desviou um milímetro em relação ao discurso que tem mantido desde que assumiu o comando dos leões, reforçando de novo que se sente como solução e não como problema e que não há ninguém que esteja mais frustrado com os resultados recentes (quatro derrotas seguidas em cinco jogos) do que jogadores e equipa técnica.

“Momento de viragem com o Boavista? Já falamos nesse momento de viragem há algum tempo. Entramos para todos os jogos para ganhar, fizemos o melhor possível também na Bélgica. Vamos entrar com toda a vontade de ganhar como nos últimos jogos e a acreditar que às vezes o destino prega algumas partidas que não vão voltar a acontecer. Se o Sporting não ganhar? Não falo em ses nem hipoteticamente. A vitória é o que dá segurança, toda a gente sabe disso. Se voltava a atender aquele telefonema do presidente? Atendia a chamada, claro, porque não sabia o que era. E voltava a dizer que sim, que quero estar aqui e que estou preparado. Continuo a achar o mesmo”, começou por referir na conferência de antevisão do encontro que se realiza este sábado à noite em Alvalade (20h30) frente ao 14.º classificado com apenas duas vitórias.

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Acredito no trabalho da equipa técnica e da estrutura. Todos estamos no mesmo barco e a remar para o mesmo lado. Os resultados não têm aparecido, apesar de ditarem muito da continuidade de um treinador, mas às vezes a competência não se vê só nos resultados. O presidente e a Direção viram competências em mim. Sei que eu e a minha equipa técnica somos competentes.”

Em paralelo, João Pereira abordou também a questão de não poder estar no banco como treinador principal e falou da forma de jogar da equipa na perspetiva da exploração da referência Gyökeres. “Como principal ou não, a mensagem seria exatamente a mesma porque pensamos tudo como uma cabeça só. Todos sabemos o que queremos de cada jogador, de cada ação do jogador, os posicionamentos, o que queremos de cada um em campo… Menos exploração da profundidade? Há uma situação que leva a isso: normalmente o Sporting chegava aos últimos 30 minutos a ganhar, as equipas adversárias abriam mais espaço. Não temos chegado aos últimos minutos em vantagem, o que leva as outras equipas a baixar e a profundidade deixa de existir”, explicou, recordando as dificuldades criadas pelo Santa Clara num bloco muito baixo em 5x4x1 e também os momentos de controlo de jogo dos leões na primeira parte da partida com o Club Brugge.

“Acho que os jogadores já passaram o luto. Falando do jogo anterior, entrámos muito bem, até fazermos o golo eles não tocaram na bola a não ser na saída, marcámos numa boa jogada com apoio frontal do Viktor [Gyökeres] por dentro e depois com bola por fora. Depois o Club Brugge vai lá uma vez e a bola infelizmente bate num jogador nosso e entra quando podia sair pela linha lateral. É normal os jogadores sentirem. Parece que tudo nos acontece, sentem um bocado. Não existe ninguém que esteja mais frustrado do que eu, os jogadores, a Direção. Queremos muito ganhar. Se ganhar menos, num futuro tenho menos clubes para treinar, os jogadores a mesma coisa. O mercado reduz para toda a gente. Podem querer tanto como nós, por isso é que aceito as críticas. Quando era adepto também ficava frustrado”, apontou João Pereira.

Admitindo a falta que alguns jogadores como Pedro Gonçalves ou Nuno Santos fazem na equipa mas dizendo que “o azar de uns é também a oportunidade de outros”, o técnico salientou “o apoio incondicional durante o jogo à equipa” apesar da contestação “normal” depois das partidas pela falta de vitórias e voltou a mostrar uma total confiança na inversão dos resultados. “Sinto o mesmo tipo de confiança, a mesma confiança de toda a gente como no primeiro dia. A confiança é a mesma. O caráter não se define por resultados, acredito que os resultados vão aparecer. Continuo a acreditar que sou a solução porque tenho confiança na vitória. Não sei o que vai acontecer. O que me traz aqui não é o dinheiro, não é o dinheiro que me move. Estou aqui porque gosto, quero ganhar títulos e estou aqui porque amo a minha profissão”, concluiu.