A detenção da italiana Cecilia Sala, no Irão, onde estava com um visto válido de jornalista, poderá estar relacionada com a detenção, em Milão (Itália), de um traficante de armas iraniano. A relação entre um e outro caso foi avançada pelo jornal La Repubblica e admitida por um porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, à mesma publicação.

“Estamos a par da notícia da detenção no Irão da jornalista italiana Cecilia Sala”, respondeu o porta-voz, quando questionado pelo jornal italiano sobre a ligação entre a detenção da jornalista e, três dias antes, a 16 de dezembro, do suíço-iraniano Mohammad Abedini-Najafabadi, de 38 anos, num aeroporto em Milão, ao abrigo de um mandado de captura dos EUA. O homem é suspeito de associação criminosa com fins terroristas e está detido em Milão, mas o advogado disse à agência Ansa que rejeita todas as acusações.

O porta-voz do Departamento de Estado norte-americano adiantou que a detenção de Sala “ocorre depois de um iraniano ter sido preso em Itália, três dias antes, por contrabando de peças de drones. Apelamos mais uma vez à libertação imediata e incondicional de todos os prisioneiros detidos arbitrariamente no Irão sem justa causa”, pediu, apontando que há uma prática do regime em prender cidadãos estrangeiros “sem motivo”.

“Infelizmente, o regime iraniano continua a deter injustamente pessoas de muitos outros países, muitas vezes para utilizá-las como arma de arremesso político. Não há qualquer justificação para este facto e estas pessoas devem ser libertadas imediatamente. Os jornalistas fazem um trabalho vital de informação ao público, muitas vezes em condições perigosas, e devem ser protegidos”, disse. Os EUA, garantiu ainda, estão em “contacto frequente” com aliados e parceiros cujos cidadãos “são injustamente detidos pelo Irão”.

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Mohammad Abedini-Najafabadi estava a ser procurado pelos EUA por fornecer uma organização terrorista estrangeira e, em violação das sanções em curso, traficar componentes de drones, alguns dos quais terão sido usados num ataque na Jordânia que causou mortes. A detenção em Itália levou Teerão a convocar para reuniões os embaixadores da Suíça e de Itália. Os EUA deverão pedir a sua extradição de Itália para território norte-americano e o ministro dos Negócios Estrangeiros italiano já admitiu aceitar.

Cecilia Sala partiu de Roma a 12 de dezembro com destino ao Irão. Devia ter voltado à capital italiana oito dias depois. Mas, na véspera da sua partida, o telemóvel deixou de dar sinal. Agora sabe-se que a italiana de 29 anos foi detida e está “numa cela isolada há uma semana”. Está na prisão de Evin, na capital do Irão.

Em reação, a primeira-ministra italiana, Georgia Meloni, reconheceu que o caso é “complicado” e garantiu que está a segui-lo “de perto”. “Em acordo com os seus pais, estamos a prosseguir este objetivo de ativar todas as vias de diálogo possíveis e com a necessária prudência”, afirmou, em comunicado. O ministro dos Negócios Estrangeiros de Itália, Antonio Tajani, também garantiu que o país está a fazer os possíveis para retirar a jornalista do Irão.

O Corriere della Sera escreve, porém, que parece cada vez mais certo que “a libertação de um só é possível se a do outro acontecer”.