O projeto neerlandês War in Court publicou esta sexta-feira, pela primeira vez, os nomes dos 425 mil suspeitos de colaborarem com o regime nazi que ocupou o país entre 1940 e 1945. As leis que restringiam a divulgação da lista por questões de privacidade expiraram no primeiro dia do ano.
O arquivo, constituído por trinta e dois milhões de páginas, segundo o Telegraph, consiste nos nomes de pessoas investigadas por suspeitas de colaborarem com o regime nazi, a partir de uma investigação judicial especial ocorrida no imediato pós-Segunda Guerra Mundial.
Apenas os nomes estão disponíveis online e somente um quinto das pessoas listadas foram levadas a tribunal, consideradas culpas e consequentemente penalizadas. Estas circunstâncias causaram críticas, nomeadamente descendentes de pessoas acusadas e de vítimas do regime nazi, que argumentam contra a publicação dos nomes online sem o devido contexto completo, por causar um risco de “estigmatizações injustas de famílias e comunidades”.
As informações completas de casos individuais estão apenas disponíveis, presencialmente, no Arquivo Nacional de Haia. Todavia, é necessário apresentar uma razão considerada válida para aceder aos casos completos, estando disponível nomeadamente a familiares e historiadores.
Os documentos contêm informação muito detalhada acerca de cada caso, nomeadamente nomes, moradas, crimes em causa, afiliação religiosa e referências informativas direcionadas à polícia. Entre os 450 mil nomes estão pessoas posteriormente consideradas inocentes, militantes de base do Partido Nazi e 20 mil membros do exército nazi e criminosos de guerra.
A intenção original era publicar todas estas informações online na passada quinta-feira. No entanto, após aviso da Autoridade de Proteção de Dados dos Países Baixos, a decisão foi adiada, divulgando-se apenas os nomes dos suspeitos e explicando-se como é possível ter acesso presencial aos registos pretendidos.
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Segundo a Euronews, o Instituto Huygens, que auxiliou na digitalização desta base de dados de nomes suspeitos, argumenta que esta arquivo “contém histórias importantes tanto para a geração atuais como para as vindouras”, adicionando que “os filhos merecem saber o que os seus pais estavam a fazer durante a guerra”.
Segundo um estudo realizado pela ARQ no passado mês de setembro, cerca de um quinto dos neerlandeses sentir-se-ia desconfortável em descobrir que um detentor de um cargo público é descendente de um colaborador do regime nazi.
Além disso, o mesmo estudo reporta que cerca de 8% dos neerlandeses iam sentir-se desconfortáveis ao descobrir que um amigo é descendente de um colaborador do regime nazi.
Apesar da sua expressa neutralidade quanto às ações dos Nazis durante o início da Segunda Guerra Mundial, os Países Baixos acabariam por ser invadidos pela Alemanha a 10 de maio de 1940. A ocupação durou até 5 de maio de 1945, data celebrada atualmente como o feriado do Dia da Libertação.