Simulações realizadas por uma equipa de investigação multifacetada revelaram que Plutão, agora um planeta anão, mas em tempos um membro do Sistema Solar, poderá ter “adquirido” uma das suas cinco luas depois de um fenómeno de “beijo e captura”.

O estudo, promovido pela Universidade do Arizona e publicado na revista Nature, descreve o evento que colocou o satélite Caronte na órbita de Plutão, e Plutão na órbita de Caronte. A dinâmica entre satélite e planeta difere da observada entre a Lua e a Terra: no “nosso” caso, o satélite orbita em torno do planeta, enquanto que no caso em estudo, os dois corpos astronómicos orbitam entre si.

O fenómeno começou com uma colisão, o “beijo”, que acabou por ligar Plutão e Caronte temporariamente, em vez de se fundirem. “Como Plutão está a rodar rapidamente antes da colisão, e como Caronte se encontra maioritariamente fora da sua zona de co-rotação, é capaz de ’empurrar’ Caronte para fora, e Caronte começa a migrar lentamente para fora”, explica Adeene Denton, uma dos investigadores, em declarações ao jornal britânico The Guardian, a “captura”.

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Depois da separação, a equipa de investigação refere que os dois corpos ficaram “relativamente intactos, mantendo o seu núcleo e a maior parte do seu manto”, sugerindo que “Caronte possa ser tão ancestral como Plutão”. Esta descoberta contradiz hipóteses previamente apresentadas para a génese desta lua, que indicavam uma deformação de ambos Plutão e Caronte com a colisão e, “como bolhas numa lâmpada de lava”, a mistura acabaria por resultar na formação do satélite.

São o “maior sistema binário da população conhecida de objetos trans-Neptunianos no Sistema Solar exterior” e, no entanto, os eventos que conduziram até à sua dinâmica continuam sem ser certos. Esta nova hipótese surge depois de uma análise geológica aos componentes que formam os dois corpos — “pedra e gelo” — e, desta forma, conseguiram aferir que no evento de uma colisão, diferiam do comportamento previsto para outros planetas de maiores dimensões, uma vez que não apresentam uma composição “fluida”.

Denton admite que ainda é preciso estudar mais para entender integralmente a formação das restantes luas de Plutão, mas acredita que, tal como Caronte, vários corpos astronómicos localizados no Cinturão de Kuiper podem ter “sofrido” o mesmo fenómeno. “Como oito dos dez maiores corpos têm um satélite grande como Caronte, o beijo e captura pode ter sido um evento prolífico por todo o cinturão, durante a formação do Sistema Solar”.