O agora ex-administrador do Novo Banco Carlos Brandão, que foi esta terça-feira afastado do cargo por “operações financeiras suspeitas”, está a ser alvo de buscas pela Polícia Judiciária (PJ) e Ministério Público (MP), e é suspeito dos crimes de fraude fiscal qualificada, branqueamento de capitais e falsificação de documento.

Segundo o comunicado publicado pela Procuradoria-Geral da República, o inquérito está a cargo do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) e as buscas abrangem quatro residências e um banco, além de outras sete buscas não domiciliárias.

“Estão a ser realizadas diligências de busca para identificação e apreensão de documentos e outros meios de prova de interesse para a descoberta da verdade”, refere a nota do MP, que realça que foram constituídos dois arguidos. O Observador sabe que os arguidos são Carlos Brandão e a sua mulher.

Nas buscas estão presentes um magistrado do Ministério Público, um juiz de instrução e 25 investigadores da Polícia Judiciária e seis peritos da Unidade de Perícia Tecnológica e Informática, segundo esclareceu entretanto a PJ numa outra nota à comunicação social.

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O Novo Banco anunciou hoje a demissão, com justa causa, do administrador e principal responsável pelo Risco do banco Carlos Brandão, depois de terem sido identificadas “operações financeiras suspeitas na sua esfera pessoal“. Essas suspeitas foram comunicadas ao Ministério Público, diz o Novo Banco, garantindo que as operações “não envolvem, de forma alguma, o banco”.

A informação foi comunicada pelo banco em comunicado enviado à CMVM. “Esta decisão foi tomada no seguimento da identificação, através de processos internos do banco, de operações financeiras suspeitas realizadas na sua esfera pessoal, as quais deram origem a uma denúncia às autoridades“, explica o banco em comunicado.

O Novo Banco frisa que “as operações em causa não estão relacionadas nem envolvem, de forma alguma, o banco e, como tal, não têm qualquer impacto nos clientes, em contas ou operações de clientes, na posição financeira ou na atividade do banco, nas suas operações comerciais, no sistema de gestão de riscos nem nos seus colaboradores”.

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Após deteção da situação, o banco iniciou uma investigação interna e apresentou uma denúncia junto do Ministério Publico, o que levou ao início de uma investigação que está agora em curso. De igual modo, o banco reportou o assunto ao regulador e à autoridade de supervisão competente nesta matéria”, acrescenta o comunicado.

A responsabilidade de chief risk officer vai ser assumida de forma interina pelo presidente-executivo, Mark Bourke. Numa carta enviada pelo próprio Mark Bourke aos colaboradores, nesta terça-feira, o presidente reconhece que esta é uma “situação indesejável” para o banco e que começaram com operações que “causaram enorme preocupação” ao presidente da instituição.

Nesta comunicação aos colaboradores, citada pelo jornal Eco, a gestão do banco sublinha que todas as autoridades foram informadas do que se estava a passar, incluindo o BCE. Ao mesmo tempo, o gestor foi mantido em funções “para não interferir com a investigação do Ministério Público“: “Foi necessário manter a pessoa em causa no seu cargo e garantir a estrita confidencialidade do assunto”.

Enquanto a investigação decorria, Carlos Brandão foi mantido em em funções – e não sabia que estava a ser investigado. “Neste período, foram tomadas todas as medidas adequadas para proteger o banco e os seus stakeholders”, garantiu o presidente do banco.

Depois de ser diretor de risco no Santander Totta, Carlos Brandão foi country manager do Barclays em Portugal e, depois, passou a presidente do Bankinter quando o banco espanhol comprou as operações de banca comercial do Barclays em Portugal. Deixou esse cargo em meados de 2017 para se juntar ao Novo Banco, primeiro como diretor do departamento de risco reportando ao administrador Rui Fontes (da administração da António Ramalho).

A partir de meados de 2022, já com Mark Bourke, passou para a administração executiva do banco. O banqueiro foi, também, escolhido como porta-voz do Novo Banco na comissão de inquérito parlamentar.