Morreu José Fonseca e Costa, realizador português autor de filmes como “Kilas, o Mau da Fita”, “Cinco Dias, Cinco Noites” e “Balada da Praia dos Cães”. A informação foi confirmada ao Observador pelo também realizador António-Pedro Vasconcelos. José Fonseca e Costa faleceu este domingo de manhã, na sequência de uma pneumonia em consequência de uma pré-leucemia, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa. Tinha 82 anos.

“É um choque tremendo”, diz António-Pedro Vasconcelos, que com José Fonseca e Costa foi dinamizador em Portugal do movimento do Novo Cinema. “Estava bastante debilitado” devido à leucemia e a pneumonia “foi fatal”.

José Fonseca e Costa nasceu a 27 de junho de 1933 em Angola, tendo-se mudado para Lisboa em 1945. Frequentou a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, mas não terminou o curso para se dedicar à sétima arte, coisa que fez durante toda a sua vida. Descobriu o cinema aos 16 anos. “Nunca me hei-de esquecer”, disse no programa da RTP “José Fonseca e Costa. A Descoberta da Vida. Da Luz… e da Liberdade Também”.

“Foi a ver ‘O Terceiro Homem’ do Carol Reed, com Orson Welles, no Eden, sentado na primeira fila. E disse: ‘Mas o que eu quero fazer é isto, o que eu quero fazer é cinema.”

https://www.youtube.com/watch?v=sHAn1GnwyRQ

Quando a RTP foi fundada em 1958, José Fonseca e Costa concorreu a uma vaga como assistente de realização. Ficou em primeiro lugar, mas a PIDE impediu-o de entrar. Em 1960, o Fundo de Cinema Nacional recusou-lhe uma bolsa de estudo para ir para o Reino Unido estudar cinema. Pouco depois, foi detido por participar em ações contra o Estado Novo.

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Em 1961 aproveita uma oportunidade dada por Michelangelo Antonioni, que o convida para ser assistente estagiário num novo filme, “L’Eclisse”. Mesmo sem salário envolvido, aceita ir para Itália, de onde só regressa em 1964. Até ao final dos anos 1960 dedica-se a filmar documentários e publicidade, até que em 1971 conclui a sua primeira longa-metragem de ficção, “O Recado”.

Participou no filme coletivo do pós-25 de abril, “As Armas e o Povo”, em 1975, uma colagem de imagens recolhidas entre os dias 25 de abril e 1 de maio de 1974. Realizou “Os Demónios de Alcácer Quibir” (1976), “Sem Sombra do Pecado” (1983), “Balada da Praia dos Cães” (1986″), “A Mulher do Próximo” (1988), “Cinco Dias, Cinco Noites” (1996) e “O Fascínio” (2003). A última ficção foi “Viúva Rica Solteira Não Fica” (2006), tendo concluído em 2009 “Mistérios de Lisboa or What the Tourist Should See”, feito a partir de trechos escolhidos do guia What the tourist should see e de excertos de poemas de Álvaro de Campos, numa homenagem a Fernando Pessoa.

Mas seria “Kilas, o Mau da Fita“, estreado em 1981 no mesmo Eden que o fez descobrir a sétima arte na adolescência, a marcar-lhe a carreira. Foi um dos maiores sucessos comerciais do cinema português e trouxe enorme popularidade ao ator Mário Viegas.

https://www.youtube.com/watch?v=y3bSkOuRGzw

José Fonseca e Costa fez crítica cinematográfica nas revistas Imagem e Seara Nova. Foi sócio fundador e dirigente, em 1969, do Centro Português de Cinema, e, mais recentemente, da Associação de Realizadores de Cinema e Audiovisuais.

Há um ano, recebeu o Prémio Carreira da Academia Portuguesa de Cinema. Quando o foi receber, no Centro Cultural de Belém, disse que “o ICA [Instituto do Cinema e do Audiovisual] é o reino da burocracia, das portarias salazarentas, dos regulamentos mirabolantes. A burocracia mata a criatividade. A criatividade devia matar a burocracia, a criatividade somos nós”.

Deixa por concluir a longa-metragem “Axilas“, com produção de Paulo Branco. “Uma adaptação de um conto de Rubem Fonseca”, adianta António-Pedro Vasconcelos.