Luís Marques Mendes considera que não será na terça-feira, dia em que se realizará um conselho de ministros extraordinário, que a questão do possível aumento de impostos ficará resolvida, já que o tema “pode vir a gerar uma guerra dentro da coligação”. Isto porque o PSD está a estudar a hipótese de aumentar a taxa normal do IVA, algo a que o CDS se opõe “terminantemente”.

“A intenção da ministra das Finanças é a de passar o IVA dos 23% para os 24%. Claro que o Governo já tinha decidido, no próximo ano, passar o IVA de 23% para 23,25%. Agora, o aumento seria este ano. A justificação é um ponto que convém analisar com cuidado, já que há uma verdade conveniente e correta, e outra inconveniente”, explicou o social-democrata no seu comentário habitual no Jornal da Noite, na SIC, neste sábado.

O Governo diz que “é preciso eventualmente fazer um aumento do IVA porque houve chumbos do Tribunal Constitucional (TC) nos cortes salariais em maio. Esses chumbos abriram um buraco de sensivelmente 500 milhões de euros. Só que há uma almofada que permite tapar este buraco sem recorrer ao aumento dos impostos. Porquê? Porque a receita fiscal do orçamento, felizmente para o Estado e para o Governo, está a crescer mais do que estava previsto. O que significa que, em números redondos, há uma folga na ordem de mil milhões de euros”.

E se Marques Mendes considerou que “o Governo só fala nesta parte”, de seguida explicou “a parte de que o Governo não gosta”. “Ao mesmo tempo que há um buraco resultante do chumbo do TC, também pode haver um buraco resultante de haver descontrolo na despesa do Estado, nas chamadas gorduras do Estado. No primeiro semestre do ano, segundo números oficiais, a despesa total sem juros devia estar a reduzir-se em 3,9%. Está a subir 0,6%, o que significa uma derrapagem na ordem dos mil milhões de euros”. Ou seja, “a aquisição de bens e serviços, uma rubrica importante”, devia estar a reduzir e está a aumentar. “Os ministros são pouco poupadinhos e o Ministério das Finanças não está a pôr ordem na casa toda”, acusou o social-democrata.

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O comentador considera que se o aumento do IVA for para a frente, “é um enorme erro” por parte do Governo. Por um lado, “é um erro político que vai abrir uma brecha na coligação, e em ano eleitoral isso é péssimo”. Por outro lado, “é muito mau para a economia”, que “está a crescer ainda de uma forma muito débil”. “Não podem ser os contribuintes a pagar a ineficiência e o desleixo dos ministros. O CDS não pode ceder nisto”, avisou o social-democrata.

Entrevista de António Costa é “manobra de tática eleitoral”

António Costa ter considerado Rui Rio, ex-autarca do Porto, o seu adversário “é a surpresa da entrevista” dada ao Expresso. Uma entrevista à qual Marques Mendes fez alguns reparos. O atual autarca da Câmara Municipal de Lisboa nomeou Rui Rio “para lançar confusão dentro do PSD e para fragilizar Pedro Passos Coelho”, afirmou o antigo líder do PSD. “É uma manobra de tática eleitoral”, disse o social-democrata, acrescentando que “também há alguns apoiantes de Rio que pensam isso, que pensam que as sondagens vão mostrar que ele [Rui Rio] é mais popular que Passos e que pode haver umas diretas antecipadas no PSD para decidir o líder. Eu diria para eles tirarem o cavalinho da chuva”.

Para Marques Mendes, a entrevista de António Costa também “é um presente envenenado para Rui Rio”. “Se Rio não disser nada nos próximos dias ou nas próximas semanas, fica a imagem de que está na sombra a arregimentar tropas, de que está a fragilizar e a enfraquecer o Governo e a liderança partidária”. No entanto, Marques Mendes considera que Rio “provavelmente não vai dizer nada”, não obstante de “o país todo ganhar em ele próprio clarificar estas questões”. “Eu, no lugar dele, falava com clareza”.

Sobre a polémica na federação distrital de Braga, onde existem mortos, acamados e emigrantes inscritos nos cadernos eleitorais do Partido Socialista, Marques Mendes foi sucinto. “O que está a acontecer no PS em matéria de irregularidades (…) já aconteceu há vários anos no PSD. E significa que o PS não aprendeu com os erros dos outros”. O social democrata questionou a atuação do secretário-geral do PS em relação à situação. “E António José Seguro, que é o líder, não dá um murro na mesa? Não tem uma palavra para se demarcar? Não tem uma palavra para censurar e para investigar tudo isto?”. Para Marques Mendes, a polémica faz com que se crie “uma imagem que pode contaminar as próprias primárias mas que contamina, também, a imagem dos partidos”.