A Tecnoforma -Formação e Consultoria S.A. era o “mecenas” do Centro Português Para a Cooperação (CPPC) e entre 1996 e 2000 pagava-lhe um donativo mensal, explicou esta sexta-feita o advogado da empresa. Cristóvão Carvalho recusou, no entanto, dizer o valor pago aquela Organização Não Governamental (ONG), cuja atividade cessou um ano antes de Passos Coelho integrar a Tecnoforma.
O primeiro-ministro Pedro Passos Coelho fazia parte do conselho fundador do CPPC e só em 2001 passou a prestar funções na Tecnoforma. Estes serviços terminaram em 2007 e Passos Coelho “foi remunerado por isso”, garantiu o advogado. O primeiro-ministro desempenhou funções como consultor e, depois, no conselho fiscal.
Apesar de afirmar que a Tecnoforma é uma empresa que tem as contas “transparentes” e “publicitadas”, o advogado Cristóvão Carvalho garantiu, no entanto, desconhecer qual o valor pago todos os meses à ONG. Reiterou que a Tecnoforma e o CPPC eram independentes e que tinham objetivos diversos. Isto apesar de ambas terem exatamente a mesma sede.
“Gerou-se uma confusão, tudo cabe dentro do caso Tecnoforma. A Tecnoforma é uma empresa S.A. que tem a sua situação publicitada. A Tecnoforma confirma que Pedro Passos Coelho iniciou a sua colaboração em finais de 2001 e terminou em finais de 2007. E foi remunerado pelos serviços que prestou”, explicou Cristóvão Carvalho.
Na conferência de imprensa que marcou para esclarecer a polémica em torno do primeiro-ministro e de alegadas remunerações que teria recebido, enquanto deputado em regime de exclusividade, o advogado afirmou ter-se gerado “uma confusão”. “O CPPC foi constituído em 1996 com vários ilustres”. E disse os nomes de cada um deles.
“Pedro Passos Coelho fazia parte do conselho de fundadores“, explicou. Só não disse que alguns desses elementos que integravam a direção eram, à data, administradores da Tecnoforma – como era o caso de Fernando Madeira que já disse, numa entrevista à Sábado, que a ONG foi criada especificamente para angariar fundos comunitários. E que Passos Coelho tinha um papel fundamental.
O advogado que representa a Tecnoforma diz, no entanto, que a ONG foi criada com o objetivo de abrir uma universidade em Cabo Verde para colaborar com os PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa) e, para tal, angariar fundos comunitários. “Foi por isso que foi feita essa cooperação”. Os jornalistas perguntaram-lhe se havia outros projetos e porque é que a ONG acabou por ficar inativa em 2000 (Passos Coelho integrou a Tecnoforma um ano depois), mas o advogado disse não saber. “Sou advogado da Tecnoforma e não da CPPC”. afirmou. Também garantiu desconhecer que outros mecenas financiavam o CPPC, embora a Tecnoforma “fosse o principal mecenas”.
O advogado justificou a conferência de imprensa com o facto de já terem sido arquivados dois dos três processos que arrastaram a empresa para tribunal. O dos aeródromos, que correu termos em Coimbra, por suspeitas de fraudes na aprovação do projeto. E o relativo à queixa que levantava suspeitas em relação a Passos Coelho. Aberto está, ainda, o “processo de Lisboa”, que resultou das declarações da socialista Helena Roseta e que envolvia suspeitas de tráfico de influências contra Miguel Relvas. “Os administradores já foram inquiridos. É neste processo que temos muito para dizer, mas ainda não podemos falar”.
O advogado disse que em 2011, quando surgiu a primeira notícia sobre o caso, forneceu toda a documentação ao jornalista António Cerejo, do Público. “Toda essa informação foi enviada ao Ministério Público.
“A Tecnoforma vai reagir em tribunal contra o jornalista, o jornal e todos os comentadores que já vieram tecer considerações sobre o caso. Entre eles há um membro do executivo”, disparou, sublinhando as consequências destas notícias na empresa. “A Tecnoforma tinha um valor de mercado de 14 milhões de euros em 2011”. No ano seguinte, em novembro, a empresa estava em processo de insolvência. “Está agora a tentar renascer”.
Jornalista que denunciou caso diz que foi barrado à entrada da conferência
Já no final da conferência, e quando o advogado era abordado por jornalistas para perguntas à margem, entrou na sala da conferência o jornalista António Cerejo. Exaltado, afirmou ter-lhe sido barrada a entrada quando se identificou. “Passavam cinco minutos das 17h00 e barraram-me a entrada”. De documentos na mão, o jornalista tentou colocar questões ao advogado. “A conferência de imprensa terminou, não respondo a mais nada. Os outros estiveram aqui a horas”, disse Cristóvão Carvalho.
Os jornalistas intervieram e afirmaram não se importar. Queriam ouvir as respostas às questões que continuam por esclarecer. O advogado acabou por virar as costas e sair da sala perante as questões de António Cerejo. “Onde estão as contas da CPPC? Porque não diz que as contas da CPPC e da Tecnoforma estão todas fechadas num armazém em Sintra? Porque não responde a estas perguntas?”. O advogado ainda ouviu, mas acabou por ir embora e abandonar os jornalistas e a sala. Ninguém mais o viu.