Em outubro vamos ser visitados por um cometa raro e teremos algumas oportunidades para ver Marte e Júpiter. Mesmo que alguns fenómenos sejam apenas visíveis para quem tem equipamento profissional à mão, vale a pena estar a par do que se vai passar.

Há um evento que não se voltará a repetir nos próximos milhares de anos – o cometa C/2013 A1 Siding Spring vai passar junto a Marte no dia 19 de outubro, segundo as previsões da NASA (agência espacial norte-americana). É a primeira vez que o cometa, vindo da nuvem de Oort (a 50 mil unidades astronómicas, o equivalente a um ano-luz do Sol), entra no sistema solar e vai passar a cerca de 140 mil quilómetros de Marte.

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Trajetória do cometa vai passar junto de Marte no dia 19 de outubro – NASA

Poderá ser um bom momento para ver o Cometa e Marte, a partir das 19:20 e durante, mais ou menos, uma hora. “O cometa C/2013 A1 Siding Spring e o planeta Marte estarão na constelação Ofiúco, próximo do aglomerado globular NGC 6401, na direção sudoeste, onde se poderá observar o cometa através de binóculos ou telescópios”, indica ao Observador Suzana Ferreira, membro do corpo científico do Observatório Astronómico de Lisboa, acrescentando que o cometa também pode ser avistado uns dias antes e depois de 19 de outubro.

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Há aqui duas notas importantes: Marte estará mais ou menos a um palmo do horizonte, o que pode ajudar na localização a quem é menos treinado mas exige um espaço desimpedido para boa visualização; e como o cometa vai passar tão próximo de Marte, será necessário ter um bom equipamento para conseguir ver ambos distintamente.

A verdade é que vale o esforço. É raro ter um cometa tão próximo de um planeta no nosso sistema solar — vai passar em Marte a um terço da distância a que a Lua está da Terra. “A passagem do Cometa Siding Spring por Marte é um fenómeno de muito interesse científico e raro. Não é todos os dias que um cometa passa tão perto de um planeta do nosso Sistema Solar, e por isso será talvez a mais importante observação do género desde que o cometa Shoemaker-Levi 9 se despenhou em Júpiter”, diz ao Observador Ricardo Cardoso Reis, astrónomo no Centro de Astrofísica da Universidade do Porto.

O El Mundo explica que não se espera que esta passagem provoque chuva de meteoros, pelo que tanto as naves a orbitar o planeta como os robots Curiosity e Opportunity, que operam na superfície, devem estar a salvo de qualquer atividade.

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Imagem do cometa Siding Spring captada pelo telescópio Hubble (original à esquerda, processado à direita) – NASA

Não será só Marte a deixar observar-se durante o mês de outubro, também Júpiter encontrará um bom lugar no céu. O planeta vermelho, que pela cor que apresenta torna-se mais fácil de identificar, será visível desde o pôr-do-sol até às 22 horas. Mais para o final do mês, só até às 21 horas. Começamos por vê-lo na constelação de Ofiúco, que representa o deus da Medicina a segurar uma serpente, e depois na constelação de Sagitário. Já o maior planeta do sistema solar, Júpiter, passará da constelação de Caranguejo para a constelação de Leão em meados de outubro. Estará visível a partir das três da manhã ou, mais no final do mês, a partir da uma — para que ele atinja uma altura ideal para observação será necessário aguardar até às quatro da manhã, mas promete valer a pena numa noite limpa.

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@ Milton Cappelletti

Às vezes acontece, mas nem todos os dias são bons para estar com a cabeça na Lua. Para o mês de outubro, o melhor será experimentar nos dias seis e oito. No dia seis a Lua estará o mais próximo da Terra possível – perigeu – a “apenas” 362 mil quilómetros e estará quase totalmente visível, porque a Lua cheia é dia oito. Se quiser comparar com o tamanho da Lua no ponto mais distante da Terra – apogeu – espere até dia 18, quando esta está a quase 405 mil quilómetros.

A Lua cheia de dia oito, tão próxima do perigeu, é chamada de “Lua de caça” pelos espanhóis por iluminar tão bem uma noite do mês de caça em Espanha. Como em Lua cheia não há sombras na superfície lunar, ela fica bem visível no céu mas não é a melhor para espreitar o próprio corpo celeste que fica demasiado luminoso. “A Lua cheia será especial por haver um eclipse lunar, mas que infelizmente não será visível em Portugal”, refere Suzana Ferreira. Também em outubro haverá um eclipse parcial do Sol, a 23 e 24. Mais uma vez, não será visível em Portugal.

Se aproveitar para manter a cabeça no ar tente também ver a chuva de meteoros, tarefa difícil devido à previsão de céu nublado. No caso das Dracónidas, pequenos fragmentos do cometa 21P/Giacobini-Zinner, será ainda mais difícil porque o dia da atividade máxima coincide com a Lua cheia, logo um céu muito iluminado para se conseguir ver a chuva de estrelas. Já as Oriónidas terão a data de atividade máxima perto da Lua nova (a 23 de outubro) e um período de atividade mais alargado. Esta chuva de meteoros resulta da fragmentação do cometa Halley, que passou a última vez pela Terra em 1986. Como tanto as Dracónidas como as Oriónidas são chuvas fracas de meteoritos, se as quiser o melhor mesmo é evitar noites nubladas e a poluição luminosa das grandes cidades.

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@Milton Cappelletti