A sessão de Q&A (perguntas e respostas) é das iniciativas da Comic Con mais apreciadas pelo público. É através dela que centenas de fãs têm a possibilidade de assistir a uma conversa com um artista e um interlocutor em palco. Esta sexta-feira, foi a vez da atriz Cobie Smulders – conhecida pelo papel de Robin Scherbatsky na sitcom norte-americana “How I Met Your Mother” e pela interpretação de Maria Hill nos filmes da Marvel como “Os Vingadores” e “Capitão América”. Acompanhada pelo ator Joe Reitman na função de entrevistador, a atriz canadiana falou sobre o percurso profissional e alguns momentos particulares da sua carreira.
Mal abriram as portas do auditório foram muitos os que começaram a correr em direção às cadeiras para arranjar o melhor lugar para ver e fotografar Cobie Smulders. Outros permaneciam estrategicamente nas pontas das filas, de forma a ficar perto dos microfones, espalhados pela sala e que dariam oportunidade aos mais sortudos de questionar e dizer um “olá” à atriz. À hora certa, aquela que muitos conhecem por Robin Scherbatsky, apareceu e soltou uma saudação portuguesa, apesar da dificuldade que tinha no sotaque. “Eu estou a adorar o Porto. Vocês têm muito bom vinho”, disse entre risos.
Uma das curiosidades que não se cansa de mencionar em entrevistas e em público é a experiência que teve como modelo. E desengane-se quem pensar que foi algo muito passageiro ou redutor. A atriz canadiana viajou por vários países e assegurava os primeiros anos da vida adulta com o ordenado vindo da moda:
“Nessa altura, tinha vergonha da minha profissão. Embora fosse paga pelo que estava a fazer, achava tudo muito aborrecido”, explica. A carreira na representação começou pelo gosto e por “achar os grupos de atores todos muito fixes”.
Embora tenha gravado algumas séries de televisão no Canadá com pequenas participações — como “Jeremiah”, “The L Word” e “Smallville” –, foi a gravação do episódio piloto de “How I Met Your Mother” que haveria de a catapultar para Hollywood. Cobie Smulders saía do Canadá para os Estados Unidos da América, tal qual a personagem a que dava vida: a jornalista canadiana Robin Scherbatsky fazia o mesmo trajeto, com o objetivo de crescer profissionalmente “Temos isso em comum e mais algumas coisas. Exceto o facto de ela ser sexualmente promíscua”, afirmou. A personagem colecionou várias aventuras amorosas durante os nove anos da sitcom. Porém, o protagonista Ted Mosby e o amigo Barney Stinson, perito na arte de atrair mulheres, eram os candidatos mais duradouros. Durante nove anos, milhares de espectadores esperaram pelo desfecho amoroso destas personagens. E há quem não tenha ficado satisfeito com o final.
As perguntas do público começaram e Cobie Smulders não parecia recear nenhuma. Aliás, obrigou os espectadores a antes de interrogá-la, dizer: “Ninguém te perguntou nada, Patrice!” – em alusão à colega de trabalho de Robin Scherbatsky, Patrice, com a qual a personagem reclamava sem razão aparente. Como se fosse uma senha para entrar em alguma sociedade secreta, a atriz respondia com um ‘obrigado’, depois da expressão ser dita.
Foram muitos os que perguntaram sobre os momentos preferidos na série, qual dos homens escolheria para Robin e qual a passagem favorita do livro The Playbook, que reúne as melhores frases de engate de Barney Stinson. A atriz respondeu a tudo sem hesitar e até cantarolou o êxito de Robin Sparkles, o alter-ego da personagem, “Let’s go to the mall”.
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Alguns sortudos, além de fazerem perguntas, subiram ao palco. As duas irmãs, Inês e Matilde Ferreira, foram umas das escolhidas. “Posso tirar uma foto consigo? Crescemos a ver a série”, disseram. No final, as jovens de 18 anos confessaram ao Observador, que não tinham nada planeado. “Nunca esperei que ela dissesse que sim”, disseram. Tanto disse que sim, que Cobie Smulders foi mesmo alertada por Paulo Rocha Cardoso, diretor da Comic Con Portugal, para não o fazer por questões de segurança. Na brincadeira, a atriz levantou-se e disse: “Não faça isso, este é o meu momento!”. E quase como uma claque de futebol, todo um auditório gritou o seu nome.
Uma das últimas perguntas mostrou como How I Met Your Mother ainda está presente na memória de todos. “Não quero fazer nenhuma pergunta, apenas quero mostrar isto e quero que assine”, disse um jovem rapaz. E perante o público e o palco, ficou uma réplica da famosa trompa azul que Ted Mosby roubou de um restaurante para dar a Robin, em prova do seu amor. A frase “Eu roubaria uma orquestra inteira por ti” ainda é utilizada em vários produtos de merchadising da sitcom.
“Há miúdos de 11 anos que vêm ter comigo e dizem-me que são fãs da série”
Depois da sessão, o Observador falou com Cobie Smulders durante alguns minutos. Aos 34 anos, prepara-se para rodar “Why We’re Killing Gunther” – um filme de ação e comédia com Arnold Schwarzenegger como protagonista – e “Friends From College”, uma série original da Netflix. Os próximos passos passam igualmente pelo teatro, com a estreia da atriz na Broadway em “Present Laughter”.
Na Internet circulam frases, textos e momentos emblemáticos da Robin Scherbatsky e os espectadores parecem adorar esta personagem. O que é que ela representa nas sitcoms norte-americanas?
A Robin Scherbatsky é e foi uma mulher muito independente. Decidiu que não queria casar, pelo menos durante grande parte da série. Seguiu sempre o seu caminho. Acho que atualmente é uma atitude muito comum. Mas no mundo da televisão, ela é basicamente uma mulher que não precisa de um homem e toma as suas próprias decisões. Para os espectadores, acho que é muito interessante e entusiasmante ver uma personagem assim.
Robin não é exatamente a tradicional personagem feminina…
Sim, ela consegue ser muito masculina. E acho que as pessoas gostam disso.
A Cobie sentiu que estava a interpretar uma mulher diferente daquela a que os espectadores estavam habituados?
Não diria que a Robin estava a começar alguma tendência na televisão. Acho que ela era a imagem real de muitas mulheres. Mesmo quando começamos a série em 2005, havia mulheres jornalistas muito competentes. A Robin, de certa forma, representava-as. Não só a sua inteligência, mas o facto de quererem ter uma carreira e colocarem isso em primeiro lugar. No fundo, a personagem significava que aquele estilo de vida era aceitável e compreensível. Talvez naquela altura escolher a carreira em oposição à família era algo recente. Mas ao mesmo tempo, não acredito que seja assim tão fora da caixa.
Houve duas irmãs que subiram ao palco durante a sessão de Q&A…
Sim, o telemóvel delas não funcionava para tirar a fotografia. Eu queria ajudá-las, mas não sabia o que fazer…
Elas têm 18 anos e disseram que cresceram com “How I Met Your Mother”. Portanto, quando a série terminou tinham 16 anos. Este tipo de situações surpreende-a?
É muito estranho. Não pelo facto de elas terem 16 anos e verem a série, mas é estranho porque tenho miúdos de 11 e 12 anos que vêm ter comigo. Eu penso: ‘Quando a série começou, tu não eras nascido ou eras um bebé’. Hoje, as pessoas veem televisão de uma forma diferente. O público é bem capaz de ver 200 e tal episódios numa semana. Não sei se se tornam, a partir disto, fãs muito dedicados. Porém, é muito estranho saber que há pessoas, neste momento, a descobrir e a ver “How I Met Your Mother”. Porque estava a acontecer na minha vida há 10 anos. Isto é o que causa estranheza, não propriamente a idade dos espectadores. A cronologia é uma coisa estranha.
Também durante a sessão, a Cobie parecia lidar bem com o público: as pessoas subiram ao palco, houve até alguns momentos de tensão…
Sim e depois fui avisada de que não podia fazer aquilo, porque as pessoas podiam magoar-se. Eu devia ter pensado nisso, mas só dizia ‘Claro, subam!’ (ri-se)
Porquê é que cria estes momentos de interação? Nem todos os artistas o fazem.
Esses momentos são importantes tal como no nosso dia-a-dia. Não é propriamente pelo facto de ‘Ah, ela aparece na televisão e fala com os fãs’; eu apenas acho que é importante esta interação entre seres humanos. É divertido ouvir o que o público pensa da série, o que gosta, o que não gosta e debater sobre isso. É interessante conhecer as pessoas. Eu aplico a mesma fórmula na minha vida e não apenas perante uma audiência.
Já participou em alguns filmes da Marvel e vai estrear-se na Broadway. Qual o papel que gostaria de ter e ainda não teve oportunidade?
Para mim, o teatro é um grande desafio. Tem sido um sonho na minha vida e estou ansiosa por concretizá-lo. Eu gosto de fazer papéis variados. Vou gravar um filme no próximo ano, onde serei uma artista de música, portanto vou tentar aprender a tocar guitarra. É um bocadinho intimidante. Mas eu sou assim: coloco-me em situações de risco e depois tenho um ataque de pânico na noite anterior e depois faço-o (não sei como). Faço coisas que me desafiam, mais do que querer interpretar uma personagem peculiar.
Não sei se já reparou, mas o cosplay é uma coisa muito importante na Comic Con…
Sim, é. Eu vi toda a parada do Star Wars e é muito entusiasmante.
Qual seria o seu disfarce por aqui?
Oh meu Deus… nunca me senti como uma personagem sexy. Portanto, podia ser qualquer coisa relacionada com o rock’n’roll, grunge ou algo pateta. Muitas raparigas estão a empenhar-se muito, mas eu não o faria. O disfarce seria com uma máscara, seria o Darth Vader.