Mexa-se, pela sua saúde (física e psicológica)
É provavelmente a resolução que com mais frequência é estabelecida assim que um ano acaba e outro começa: trabalhar o corpo e seus músculos. Mas esta devia ser uma premissa sem data e aplicada com bastante frequência: a relação entre o exercício e o bem-estar físico e emocional há muito que está estabelecida mas, verdade seja dita, nunca é demais recordar. Diz Filipa Jardim da Silva, psicóloga clínica da Oficina de Psicologia, que a prática regular de exercício físico moderado — repita-se, moderado — é “dos melhores antídotos para a doença mental”. Por esse motivo, garante a psicóloga, antes de recorrer a medicação, talvez a solução esteja a uns ténis de distância.
Encare os alimentos como medicamentos
Gira o disco e toca o mesmo, não é? Filipa Jardim da Silva assegura que é importante tentar correlacionar os estados de humor com o plano alimentar do dia a dia. A ideia é evitar escolhas alimentares que nos coloquem “em montanhas russas de açúcar no sangue”, até porque quanto maiores forem as oscilações dos níveis de açúcar na corrente sanguínea, maiores serão também as oscilações de energia e humor. “Privilegie a ingestão de todos os macronutrientes em quantidades adequadas à sua idade, género e estilo de vida e, mais do que desenvolver uma relação assente na restrição, aposte numa relação com a comida assente na diversidade.”
A isto a nutricionista Lillian Barros acrescenta que, atualmente, em vez de uma contagem de calorias, o que importa são os diferentes nutrientes que compõem os alimentos — em causa está, então, a alimentação funcional. “Existem nutrientes com uma ação preventiva e terapêutica”, assegura a nutricionista. E se há alimentos capazes de ajudar a evitar constipações ou com capacidade para ajudar a regular o trânsito intestinal, também os há para contribuir para um melhor estado de humor — são exemplo os alimentos ricos em triptófano, um aminoácido precursor de serotonina, esse neurotransmissor associado ao bem-estar. Este aminoácido pode ser encontrado em carnes (preferencialmente magras) e peixes (como o salmão, que é rico em ácidos gordos essenciais), mas também na aveia e nas bananas, exemplos práticos e fáceis de encontrar. O chocolate, preferencialmente negro com mais de 70% de cacau, é ainda tido como um calmante natural, pelo que Lillian Barros aconselha o seu consumo moderado e regular.
Procure equilibrar a vida profissional com a pessoal
O trabalho está a invadir cada mais a esfera pessoal e familiar. Exemplo disso é o facto de o trabalho prolongar-se fora de horas e ser feito também em casa e não só no escritório. Quem o diz é Pedro Afonso, professor auxiliar de Psiquiatria da Faculdade de Medicina de Lisboa, do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica e da AESE. Em finais de novembro, o especialista apresentou dados de um estudo desenvolvido na Business School, que mostrou que mais de metade das pessoas inquiridas — num universo de cerca de 400 ex-estudantes daquela instituição — trabalhava mais do que as 48 horas semanais propostas pela OCDE.
Em entrevista ao Observador, Pedro Afonso afirmou que o “trabalho migrou para a outra parte da nossa vida” e que tal deve-se não só ao desejo de sucesso profissional, mas também ao ambiente de trabalho que assim o impele — porque, por enquanto, quem trabalha mais horas é visto como uma pessoa mais empenhada e vice-versa. A carga horária em excesso, vista como uma forma de escravatura pelo profissional, é um dos motivos porque se rouba tempo à vida pessoal mas também ao sono, o que tem várias consequências negativas: desde o aumento do risco de acidentes, nomeadamente acidentes de trabalho, à perda de produtividade. Mais:
A falta de sono tem uma relação bidirecional, ou seja, se dormirmos pouco isso aumenta a probabilidade de termos doenças psiquiátricas, nomeadamente perturbações depressivas. Por outro lado, quase todas as doenças psiquiátricas dão alterações do sono”, garantiu à data Pedro Afonso.
Aplique o mindfulness no dia a dia…
Em abril deste ano Vasco Gaspar, autor do livro Aqui e Agora, dizia ao Observador que o mindfulness é a capacidade de estar presente. Encarado como um treino mental que ensina as pessoas a lidarem com os seus pensamentos e emoções, a técnica é capaz de ajudar a distinguir o pensamento útil daquele inútil que, muitas vezes, chega a ser prejudicial. “Quanto mais consigo ter a capacidade de estar presente, mais vou conseguir lidar com a minha vida, com os meus problemas. A nossa cabeça está tão cheia que não conseguimos dar atenção a ninguém”, chegou a afirmar Vasco Gaspar, licenciado em Psicologia do Trabalho e das Organizações pela Universidade de Coimbra e ainda professor certificado no Search Inside Yourself, programa de mindfulness desenvolvido e testado na Google.
Por esse motivo, o mindfulness pode ser um contributo válido para ajudar a lidar com o stress e com a ansiedade, e pode ser aplicado de duas formas: formal e informalmente. Se a primeira consiste em meditar sem que seja preciso cruzar as pernas ou pôr as mãos ao nível do peito, a segunda implicar trazer para o quotidiano o que se aprendeu na meditação — exemplo disso é, quando a guiar um carro, prestar atenção ao caminho que se está a fazer e não conduzir em piloto automático, coisa que pode ser aplicada em muitas facetas do dia a dia. “Muita gente vive as piores coisas da vida sem as viver. É uma questão cultural. Acho que o ser humano perdeu a capacidade de descansar”, disse ainda Gonçalo Pereira, também ele especialista em mindfulness.
Mas há mais a ter em conta até porque, segundo Filipa Jardim da Silva, um dos erros mais comuns é a procura da prática meditativa em picos de mal-estar — é importante que os exercícios de mindfulness e a meditação sejam praticados todos os dias.
A postura Mindful é um modo de estar na vida e não apenas exercícios reservados a alguns minutos. Estar-se atento a si mesmo com curiosidade ao invés de julgamento, nomear as emoções e as sensações físicas vividas constituem formas de estar que, a pouco a pouco, podem tornar-se em rotinas espontâneas e numa forma de estar e viver”, explica ainda a psicóloga.
… e o movimento slow também
A ideia é abrandar os ponteiros do relógio porque o mundo tornou-se demasiado rápido. O movimento slow — que nasceu em Itália em 1986 com o termo slow food — é uma tendência atual que pretende contrariar o ritmo agitado e frenético das sociedades modernas: seja disso exemplo a época natalícia que ainda há dias levou-nos para filas de compras intermináveis. Para abrandar não é preciso escondermos-nos no alto de uma montanha ou fugir para o campo (ainda que as duas opções sejam tentadoras), mas sim aplicar pequenas estratégias capazes de influenciar positivamente o nosso dia a dia.
Apesar de não haver uma receita única, tal como salienta Raquel Tavares, membro da direção da Associação Portuguesa de Slow Movement que nasceu em 2009, a adaptação ao movimento passa por impor alguns limites, como não responder a e-mails a partir de determinada hora, e respeitar o nosso próprio ritmo. A ideia é ir fazendo pequenas mudanças em pequenos passos, como tomar mais atenção ao caminho trabalho-casa ou, volta e meia, saborear de forma consciente uma determinada refeição (sim, as semelhanças com o mindfulness são muitas). Uma proposta bem mais abrangente, por exemplo, é fazer um consumo mais consciente, isto é, consumir menos e com mais qualidade.
Faça resoluções (boas) de ano novo
As pessoas, de um modo geral, precisam de metas para seguir em frente e talvez seja por isso que as resoluções de ano novo são, para alguns, uma tradição inabalável. No primeiro dia do ano 2015, Filipa Jardim da Silva explicava ao Observador que na passagem do 31 de dezembro para 1 de janeiro, encarada como uma fase de transição, há uma tendência para fazer um balanço do que se conquistou e do que falta conquistar. É que as resoluções — estejam elas escritas num papel ou na ponta da língua e da memória — ajudam a definir prioridades na nossa vida, mas para que a coisa corra bem é preciso que estas sejam flexíveis, bem definidas, mensuráveis, alcançáveis e definidas no tempo, até porque o seu incumprimento é capaz de provocar frustração e consequente desmotivação.
Agora, mesmo a chegar a 2017, Filipa Jardim da Silva recupera alguns conselhos-chave: os objetivos a serem traçados devem ser realmente importantes para si e não para os outros. E quanto mais emocionalmente significativos forem, maior será o seu compromisso e motivação para os levar avante. “Muitas vezes definem-se mal os objetivos, o que é meio caminho andado para não os alcançar. E a culpa pode não ser da falta de motivação, mas sim da má definição das metas traçadas. Encare os seus objetivos como um GPS: se não introduzir uma morada concreta, ele não conseguirá emitir nenhuma coordenada”, conclui a psicóloga.