destaque

Era difícil. Especialmente para Manuel Cajuda. Nunca, com ele sentado no banco e a dar ordens, uma equipa tinha aparecido no Funchal e de lá saído com uma vitória frente ao Marítimo. Mas daquela vez conseguiu-o. 1-0 e pronto, está feito. O Vitória ganhava e Cajuda sorria. Duplamente: com mais três pontos no bolso, os de Guimarães ficavam em quarto lugar no campeonato, à nona jornada. “Algum dia teria de acontecer”, desabafava o treinador.

Dezoito pontos, 12 golos marcados, oito sofridos a novembro de 2007, no início de uma aventura que terminou com o Vitória a fechar o pódio na liga, uns meses depois. Aí estava a caminho da história. E com 20 pontos, 18 bolas metidas em balizas contrárias e sete consentidas, onde acabará? É a pergunta que se faz em Guimarães, sete anos depois. E esta apareceu depois da equipa de Rui Vitória estrangular um leão que o visitou.

Este Vitória tem tiques de grande: todos jogam com vontade inflacionada, parecem correr sempre mais que os outros e pressionam, como loucos, cada adversário que ousa ter a bola em sua casa. Depois há problemas de pequeno — o dinheiro que muito falta e os tímidos salários que não o deixam piscar o olho a nomes vistosos. Mas só os nomes, pois os jogadores dão nas vistas. E muito. Os 18 anos de Bernard Mensah impressionam pelo muito que já joga. João Afonso é um central certinho, que corta tudo e cabeceia como poucos (a época passada jogava na terceira divisão). E Hernâni é um extremo, cabo-verdiano e canhoto, que surpreende pela facilidade com que acelera, cruza e remata. Tudo num ápice.

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Depois há André. O André que também o é de apelido. Com 25 anos e a braçadeira de capitão, leva apenas 58 jogos na primeira liga. O suficiente para roubar éne bolas todos os jogos, não inventar quando tem de passar a bola e ser ele o descomplicador que simplica tudo. E também sabe marcar penáltis. Não dizia Fernando Santos que, com ele, jogariam sempre os melhores que estivessem nos melhores momentos de forma? Aqui parece estar um deles.

Às tantas, na tal época de Manuel Cajuda, o treinador disse, já no final, que o Vitória ia “dormir no terceiro lugar”. Agora já leva várias noites deitado na cama do pódio. E mesmo com golaços de Brahimi mais a Norte e de Talisca para Sul, o destaque tem de ir para uma equipa que, por coincidência, ainda só perdeu na Madeira, com o Marítimo (4-0). Quem diria?

desilusão

Há festa e contentamento em Guimarães. O futebol anima a cidade. Mas não lhe consegue retirar uma coisa — a violência em torno do Estádio D. Afonso Henriques. Pela terceira vez esta época (já aqui apareceu) houve confusão em torno do recinto vimaranense. Desta vez num parque de estacionamento ali perto, onde dois adeptos do Sporting foram atacados e esfaqueados. Um deles acabou no hospital.

O Vitória, no relvado, está ótimo. Mas Guimarães não se livra de, mais frequentemente do que o desejável, juntar a violência ao futebol. E o Sporting não livrou de lá sair com a primeira derrota no campeonato. A equipa, até aqui, jogava bem. É intensa, marca golos (muitos e até bons), aperta os inimigos no relvado e, mesmo com derrotas, até deixa a elogiam na Champions. Mas na cidade berço nunca pareceu ter uma coisa — vontade em ser melhor que o adversário. Até o próprio presidente o disse: “Não demonstraram garra nem vontade de vencer.”

frase

“Quero dar os parabéns aos jogadores do Paços, que tiveram fair-play, disseram aos meus jogadores “pá, paciência, nós não temos culpa…”. Domingos Paciência bem o disse. E a verdade é que a culpa só foi do árbitro, quando aos 60 minutos do Paços de Ferreira-Vitória de Setúbal foi o único a ver um penálti e motivos para expulsar Ricardo Batista, guardião dos visitantes, após este cortar a bola com a mão. O treinador do Setúbal já fizera três substituições e, portanto, teve de ser Giovanni, um avançado, a pegar nas luvas e ir para a baliza.

Tudo acabou em derrota. 4-1 para o Paços. Mas Domingos agradeceu aos jogadores adversários por, supostamente, terem abrandado o ritmo. E Paulo Fonseca não gostou. Nada. “Se os meus jogadores desaceleraram depois do 2-0 e da expulsão, acho que isso não é respeitar o adversário. Respeitar o adversário é dar o melhor”, argumento o treinador da equipa que, assim, ficou em quarto lugar na liga e ultrapassou o Sporting. “Não gostei dessa gestão, podia ter dado maus resultados”, acrescentou. Já houve alguém a dizer que o fair-play “é uma treta”. Lembra-se?

resultados

Benfica 1-0 Rio Ave
Penafiel 1-2 Estoril-Praia
Vitória de Guimarães 3-0 Sporting
FC Porto 2-0 Nacional da Madeira
Paços de Ferreira 4-1 Vitória de Setúbal
Marítimo 1-2 Moreirense
Gil Vicente 1-1 Arouca
Académica 1-1 Sporting de Braga
* o Belenenses-Boavista joga-se a partir das 20 horas de segunda-feira.

O Paços foi o único a golear. O Estoril-Praia lá conseguiu vencer fora de casa. O Sporting de Braga ainda não o fez. E o Gil Vicente continua sem o fazer. Ainda resta uma partida por jogar e, caso o Belenenses logre arrancar do Boavista a quinta vitória no campeonato, então fechará a jornada na quinta posição e ultrapassará também o Sporting na tabela. Umas palavras para Emídio Rafael, o lateral esquerdo que, em janeiro de 2011, rompeu os ligamentos do joelho, esteve dois anos sem jogar à bola e agora, no Estoril, tenta, uma vez mais, renascer. Marcou um golaço de livre. O segundo golo nesta liga. Que tenha sorte.