Ricardo Salgado quebrou o silêncio que prometeu manter até conhecer as conclusões da auditoria forense às contas do Banco Espírito Santo para dizer que está a ser vítima de uma “tentativa de julgamento público”.
O ex-presidente do BES enviou um comunicado a afirmar que 48 horas antes de a SIC avançar com algumas conclusões da auditoria, tinha sido contactado pela Deloitte para uma reunião de esclarecimentos que devia ser realizada durante esta semana.
Salgado diz que foi contactado sexta-feira “no contexto do processo de auditoria em curso que está a ser conduzido pelo Banco de Portugal e CMVM ao Banco Espírito Santo com a colaboração da Deloitte”. O objetivo seria “clarificar alguma informação recolhida no âmbito da referida auditoria, e obter informação adicional”. A própria consultora terá mostrado preferência em agendar o encontro para o “final” desta semana.
“Perante esta factualidade, e sem ter existido qualquer contraditório por parte do Dr. Ricardo Salgado (e, presume-se, de outros visados) parece evidente que estamos, uma vez mais, perante uma desleal e inusitada tentativa de se fazer um julgamento público e mediático, com motivações predeterminadas e preanunciadas, com vista ao condicionamento da opinião pública e, eventualmente, da própria Comissão Parlamentar de Inquérito”, refere o comunicado enviado pela assessoria de imprensa de Ricardo Salgado.
A SIC avançou este domingo que a auditoria estaria “praticamente fechada e pronta para o governador do Banco de Portugal levar ao arranque da comissão parlamentar de inquérito”, a 17 de novembro.
Segundo avançou a SIC – e conseguiu confirmar o Observador – a Deloitte não conseguiu identificar o destinatário final das muitas centenas de milhões de euros que saíram do BES nos últimos dias da gestão de Ricardo Salgado, depois de o banqueiro ter saída marcada e ainda antes de Vítor Bento ter assumido o lugar de presidente executivo.
A auditoria concentrou-se particularmente nos 1,5 mil milhões de euros que as contas do primeiro semestre de 2014 identificaram como perdas adicionais e que elevaram os prejuízos do banco ao valor histórico de 3,6 mil milhões de euros, precipitando a resolução.
Os peritos localizaram as ordens de transferência dentro do BES, o que permitirá a Carlos Costa enviar dados concretos para o Ministério Público dentro de alguns dias, quando os trabalhos da auditora e do Banco de Portugal estiverem concluídos. A hipótese que se levanta nesta fase é de prática de atos ruinosos, que colocaram em causa os rácios de solvabilidade do BES.
Uma hipótese que Ricardo Salgado considera, para já “uma desleal e inusitada tentativa de se fazer um julgamento público e mediático”.
Ricardo Salgado também foi chamado a prestar declarações no âmbito da comissão de inquérito, cujo início está agendado para dia 17 de novembro.