Enquanto António Guterres se mantém em silêncio sobre uma candidatura presidencial e aumentam os sinais de que o seu futuro pode continuar ligado às Nações Unidas, o PS agita-se e alguns socialistas defendem já uma alternativa ao nome do ex-primeiro-ministro: Jaime Gama.

Sérgio Sousa Pinto, presidente da comissão de Assuntos Europeus e ex-líder da JS, afirma ao Observador que Jaime Gama “seria um bom candidato” e que “gostaria que estivesse disponível” para ser candidato presidencial. Sobre a indefinição de Guterres, diz que “não há nenhum drama”. “Ainda há muito tempo e Guterres não é o único nome do PS”, acrescenta.

“O eleitorado potencial de Guterres, e em particular o Partido Socialista, não pode ficar refém desta indecisão e que, prolongando-se a mesma, há que encarar tempestivamente uma outra solução, com vocação vencedora”, escreveu Seixas da Costa no seu blogue, defendendo uma candidatura do ex-ministro dos Negócios Estrangeiros: “Neste caso, não tenho a menor dúvida: o nome de Jaime Gama é, by far, aquele que me parece indiscutível como podendo encarnar uma candidatura presidencial de altíssima craveira. Trata-se de um dos mais qualificados e bem preparados quadros políticos de que o país hoje dispõe, tem uma grande notoriedade nacional e internacional, revela um equilíbrio e um sentido de Estado que pede meças a quem quer que seja, na nossa política doméstica”.

Garantindo não ter informação privilegiada, o embaixador considera que a Guterres “lhe agradaria” mais um cargo internacional – continuar como alto-comissário para os Refugiados é uma das hipóteses – do que ser Presidente da República em Portugal. “Resta saber se a manutenção em aberto desta hipótese é, em termos de calendário, compatível com o “timing” ótimo para lançamento de uma candidatura presidencial”, diz.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Contactado pelo Observador, Jaime Gama não quis fazer qualquer comentário a estas manifestações de apoio.

Seixas da Costa, que foi secretário de Estado dos Assuntos Europeus num Governo de Guterres, considera ainda que é “inevitável” que as próximas eleições presidenciais tenham duas voltas – algo que não acontece desde os anos 80.

Alberto Costa, que foi ministro da Justiça de Guterres, recusa o vazio perante uma indisponibilidade do ex-primeiro-ministro: “Ainda é cedo. Acho que não há um vazio”. E, em declarações ao Observador, avisa: “Nenhuma organização em Portugal está dependente apenas de uma personagem por maiores que sejam as suas qualidades”.

Outro ex-governante de Guterres e um entusiasta da sua candidatura presidencial, Jorge Coelho, limita-se a afirmar ao Observador que “continua a dizer o que sempre disse”, ou seja, que o ex-primeiro-ministro é o melhor candidato presidencial, a seu ver, e que espera que este decida avançar.

Em entrevista ao Observador em outubro, o ex-ministro de Sócrates Augusto Santos Silva, por seu lado, defendia que “já é tarde” para que Guterres diga que não é candidato presidencial.

O mandato de Guterres como alto-comissário para os Refugiados termina em 2015, mas pode ser prolongado.