Mário Soares classificou esta terça-feira a vitória do PS nas europeias como “uma vitória de Pirro”, em artigo de opinião no Diário de Notícias. “Isto é: que não devia ter sido aclamada com o entusiasmo com que o seu líder o fez”, explica o ex-Presidente da República, para quem “o povo falou claro, não quer a direita que está no poder”.

Soares cita António Costa – que no domingo, após as eleições, disse ao Observador partilhar “a preocupação de à derrota histórica da direita não ter correspondido uma vitória histórica do PS”. E faz a citação para a corroborar: “Com efeito, assim foi.”

Mas o fundador não faz só uma tese, lança também o desafio à liderança de Seguro. Anotando que “os partidos do chamado arco do Governo estão desacreditados”, apela ao PS para que “não fique isolado” e “tente cooperar com toda a esquerda” (terminando mesmo o artigo a incentivar o Bloco de Esquerda para que não desista, depois da derrota de domingo).

Soares dedica ainda parte do artigo a Cavaco Silva, que “sairá muito mal da cena política” caso não demita o Governo. E remata: “Quem o avisa, seu amigo é.” Critica ainda o Presidente por os portugueses não terem dado ouvidos ao seu apelo à participação eleitoral, uma vez que a abstenção foi muito elevada (a abstenção alcançou os 66,1%, ultrapassando marginalmente o máximo anterior, que era de 64,5%, registado em 1994 quando Mário Soares ainda era Presidente da República).

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

De acordo com o Público, Mário Soares reunir-se-á esta tarde com críticos da liderança de António José Seguro, na sede da sua fundação.

Também o Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, Guilherme Pinto, considera que “a vitória socialista pode bem ser de Pirro” num artigo publicado esta terça-feira no Jornal de Notícias. “A direita desceu de forma abissal (…) e o PS não conseguiu melhor do que meter-se num 31”, comenta o autarca, que foi dirigente do PS mas acabou por sair do partido há um ano, depois de os órgãos do partido lhe tirarem o apoio para uma recandidatura a Matosinhos.

Guilherme Pinto afirma ser “dramático (…) que o país não quisesse que fosse o PS a capitalizar o resultado do descontentamento com o Governo” e que quem tenha beneficiado disso tenha sido Marinho e Pinto, “um sinal perturbador para a oferta política corrente”.

Para o ainda autarca de Matosinhos (agora independente), “dramática é (…) a intuição de que dificilmente surgirá alguém que tenha o condão de ajudar a desdramatizar tudo isto”, referindo-se ainda aos elevados valores de abstenção e ao crescimento da extrema-direita nas eleições europeias.

Santos Silva pede mais mobilização

O ex-ministro socialista Augusto Santos Silva defendeu esta manhã que “não seria o mais inteligente, do ponto de vista político”, o PS “diminuir a vitória” de domingo colocando em causa a liderança de Seguro. Mas, em declarações à TSF, deixou o alerta: “O PS sozinho não vai conseguir” chegar a uma maioria absoluta, pelo que lhe cabe “continuar o trabalho de alargamento da sua base social”.

Já o ex-ministro socialista José Vera Jardim alertou, segunda-feira à noite, na Rádio Renascença, para o risco da situação política cair “no pântano” com a fragmentação de votos evidenciada por estas eleições. “Não havendo uma vitória esmagadora do PS, a caminho de um número que desse a possibilidade de uma maioria absoluta daqui a um ano, corremos o risco de voltar a uma situação pantanosa como na fase do eng. Guterres”, disse.

“O que me preocupa é a criação de condições de governabilidade porque a vitória do PS não garante que no próximo ano estejamos em situação de conseguiu fazer sair de casa milhares de portugueses”, acrescentou, esperando ainda “turbulência séria” com a eminente decisão do Tribunal Constitucional sobre o Orçamento deste ano e com a elaboração do Orçamento para o próximo ano.