“Considera que Pablo Iglesias e Irene Montero devem continuar à frente da Secretaria-Geral e do cargo de porta-voz parlamentar do Podemos?” É esta a questão a que os quase 500 mil militantes do Podemos irão responder ao longo desta semana, num plebiscito convocado pela liderança, para lidar com as críticas à compra de uma vivenda de 600 mil euros, que tem início esta terça-feira.

O casal, que está na liderança do partido espanhol, anunciou a decisão de pôr o cargo à disposição, através desta votação, no passado sábado. “Se nos mandarem demitir, demitimo-nos”, prometeu Iglesias na conferência de imprensa onde anunciou esta decisão, explicando que, caso seja essa a vontade da maioria, abandonarão inclusivamente os cargos de deputados.

A polémica em torno de Pablo Iglesias e Irene Montero começou quando foi conhecido que o casal, que está à espera de gémeos, pediu um empréstimo à habitação para comprar uma vivenda em Galapagar, nos arredores de Madrid. A propriedade, com jardim e piscina, tem uma área de dois mil metros quadrados e custou 540 mil euros. O valor elevado provocou polémica e rapidamente houve quem ressuscitasse um antigo tweet de Iglesias onde criticava o antigo ministro da Economia, Luis de Guindos, pela compra de uma casa de 600 mil euros. Fontes do Podemos, contudo, argumentam ao El País que o caso é diferente porque Iglesias e Montero compraram a casa para residir enquanto Guindos o fez como investimento.

“Abriu-se um debate sobre a nossa credibilidade e honestidade. Nós achamos que estamos a agir de forma coerente e responsável, mas se alguém acha que não somos coerentes, não nos compete a nós julgá-lo. São as pessoas do Podemos, os militantes, que devem avaliar isso”, reagiu Montero na conferência de imprensa de sábado, onde o casal aproveitou para denunciar o “assédio mediático” que diz ter sido alvo, denunciando a publicação de fotos das ecografias dos seus filhos ou a divulgação da sua morada.

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Dentro do Podemos, poucos membros aceitam falar publicamente sobre o caso, conta o El Mundo. O jornal, no entanto, recolheu algumas opiniões não identificadas que criticam a decisão de convocar um plebiscito sobre a matéria, falando numa “fuga para a frente” que coloca o partido numa posição insólita.

Uma das poucas opiniões divulgadas foi a de Isidro López, deputado na assembleia municipal de Madrid e membro de uma corrente interna rival da de Iglesias, que acusou os líderes de estarem a “dinamitar” o partido e a reduzi-lo “a um aparato de legitimação de caprichos dos líderes”. Mais tarde, acabaria por retratar-se no Twitter, escrevendo que a compra da vivenda não é “moralmente reprovável”, mas sim “politicamente desastrado”. “Em qualquer dos casos, é uma autêntica brincadeira quando comparado com o apoio a megaprojetos urbanísticos como a Operação Chamartín”, acrescentou, referindo-se ao projeto urbanístico de Madrid cuja execução se arrasta há 25 anos.