“Considera que Pablo Iglesias e Irene Montero devem continuar à frente da Secretaria-Geral e do cargo de porta-voz parlamentar do Podemos?” É esta a questão a que os quase 500 mil militantes do Podemos irão responder ao longo desta semana, num plebiscito convocado pela liderança, para lidar com as críticas à compra de uma vivenda de 600 mil euros, que tem início esta terça-feira.
O casal, que está na liderança do partido espanhol, anunciou a decisão de pôr o cargo à disposição, através desta votação, no passado sábado. “Se nos mandarem demitir, demitimo-nos”, prometeu Iglesias na conferência de imprensa onde anunciou esta decisão, explicando que, caso seja essa a vontade da maioria, abandonarão inclusivamente os cargos de deputados.
A polémica em torno de Pablo Iglesias e Irene Montero começou quando foi conhecido que o casal, que está à espera de gémeos, pediu um empréstimo à habitação para comprar uma vivenda em Galapagar, nos arredores de Madrid. A propriedade, com jardim e piscina, tem uma área de dois mil metros quadrados e custou 540 mil euros. O valor elevado provocou polémica e rapidamente houve quem ressuscitasse um antigo tweet de Iglesias onde criticava o antigo ministro da Economia, Luis de Guindos, pela compra de uma casa de 600 mil euros. Fontes do Podemos, contudo, argumentam ao El País que o caso é diferente porque Iglesias e Montero compraram a casa para residir enquanto Guindos o fez como investimento.
¿Entregarías la política económica del país a quien se gasta 600.000€ en un ático de lujo? http://t.co/4EhKia0d vía @el_plural
— Pablo Iglesias (@Pablo_Iglesias_) August 20, 2012
“Abriu-se um debate sobre a nossa credibilidade e honestidade. Nós achamos que estamos a agir de forma coerente e responsável, mas se alguém acha que não somos coerentes, não nos compete a nós julgá-lo. São as pessoas do Podemos, os militantes, que devem avaliar isso”, reagiu Montero na conferência de imprensa de sábado, onde o casal aproveitou para denunciar o “assédio mediático” que diz ter sido alvo, denunciando a publicação de fotos das ecografias dos seus filhos ou a divulgação da sua morada.
Dentro do Podemos, poucos membros aceitam falar publicamente sobre o caso, conta o El Mundo. O jornal, no entanto, recolheu algumas opiniões não identificadas que criticam a decisão de convocar um plebiscito sobre a matéria, falando numa “fuga para a frente” que coloca o partido numa posição insólita.
Uma das poucas opiniões divulgadas foi a de Isidro López, deputado na assembleia municipal de Madrid e membro de uma corrente interna rival da de Iglesias, que acusou os líderes de estarem a “dinamitar” o partido e a reduzi-lo “a um aparato de legitimação de caprichos dos líderes”. Mais tarde, acabaria por retratar-se no Twitter, escrevendo que a compra da vivenda não é “moralmente reprovável”, mas sim “politicamente desastrado”. “Em qualquer dos casos, é uma autêntica brincadeira quando comparado com o apoio a megaprojetos urbanísticos como a Operação Chamartín”, acrescentou, referindo-se ao projeto urbanístico de Madrid cuja execução se arrasta há 25 anos.
Algunas aclaraciones: comprarse un chaleto en Galapagar no es moralmente reprobable sino políticamente torpe. En cualquier caso es una auténtica tonteria en comparación con apoyar megaproyectos urbanisticos como la Operación Chamartín. Eso es lo grave
— IsidroL (@suma_cero) May 20, 2018