A arte aplicada às unhas tem muitas expressões e nem todas resultam em três centímetros de matéria acrílica decorada como se fosse um bolo de aniversário. Não só é possível fazê-lo dentro dos limites do bom gosto, por muito discutível que este termo seja, como há desfiles de moda que provam que uma pequena pincelada ali e uma outra acolá podem fazer a diferença. Quanto ao exagero, deixemo-lo nos bastidores das semanas da moda ou nas mãos dos estilos mais arrojados.

Uma das mentes criativas responsável pelo regresso das unhas artísticas é Miss Pop, um nome também ele artístico para a especialista Simcha Whitehill. Fixada em Nova Iorque, onde chega a preparar milhares de unhas a cada edição da semana da moda, tem uma ideia muito própria do que esta parte do corpo representa na imagem de uma mulher, mesmo fora da passerelle, no dia-a-dia. “Gosto de fazer com que as unhas pareçam joalharia — acessórios que se prolongam através da mãos”, referiu numa entrevista à The Cut, em outubro de 2014.

Nessa altura, o nome Miss Pop começava a aparecer em revistas como a Elle e a Marie Claire e, mais tarde, associado a marcas como Moschino e Rodarte. Whitehill mudou-se para Manhattan para ser jornalista, mas houve um dia em que olhou para as próprias unhas e disse: “Acho que consigo levar isto para outro nível”. Fala num renascimento da nail art e vê nele uma forma de expressão individual. Na preparação de um desfile de moda, trabalha em conjunto com os designers para encontrar as unhas certas. A verdade é que na cabeça de Simcha Whitehill não há assim tanta diferença entre o que uma manequim a percorrer a passerelle e uma mulher na rua. “Estamos a desafiar a noção de como a arte pode ser vestível. E não é algo preciso — é efémero. Posso usar o que quer que esteja na moda esta semana e ir mudando”, afirmou à mesma publicação.

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Órbitas e gatinhos: nas unhas, vale tudo

Aplicações, autocolantes, rabiscos, contornos, padrões, mensagens, desenhos geométricos e pinceladas livres — a “nova” nail art é um jogo onde vale tudo, tudo depende da criatividade de quem a faz e da ousadia de quem a usa. Miss Pop costuma dizer que as unhas são o ritual de beleza que alguém faz para si próprio. Ao contrário do cabelo e da maquilhagem, elas estão sempre no nosso campo de visão. Para os outros, tal como a roupa, são uma espécie de cartão-de-visita, mais um motivo para lhes dar alguma personalidade.

O trabalho de Katerina, em Lisboa, combina cores sólidas, stickers e desenhos

Comecemos por uma das tendências mais simples, mas também mais requisitadas do momento: as unhas com órbita (orbit nails). Fizeram sucesso no último desfile de Jeremy Scott, na Semana da Moda de Nova Iorque, e não é preciso ser nenhum Picasso para conseguir reproduzi-las em casa. Longas e amendoadas, estas unhas vivem de um contorno numa cor que contraste com o tom de base. Tanto Adeam como Libertine foram marcas que se destacaram pelo uso de “materiais pesados” nas manicures dos seus desfiles, na mesma semana da moda. As aplicações douradas e a pedraria conferiram um acabamento luxuoso às unhas, pouco prático para o dia-a-dia, é certo, mas uma fonte de inspiração para umas quantas adaptações menos aparatosas. Nem Rihanna ficou indiferente ao fenómeno quando, na última semana, apresentou a sua coleção de outono-inverno 2018/19 em Nova Iorque.

Mas a nail art de hoje também traz influências orientais. Da Coreia do Sul e do Japão chegam inspirações do k-pop e do anime. Neste segmento, Park Eunkyung e Natsuki Sasagawa são dois perfis de Instagram obrigatórios, que o diga Katerina Pravorska, de origem ucraniana, mas há dois anos e meio a fazer unhas diferentes em Lisboa. “É complicado, as pessoas não estão muito par do que se passa em países como os estados Unidos, a Coreia e o Japão. São muito conservadoras, têm medo de fazer algo diferente”, explica ao Observador. Por outro lado, quem a procura (ou a Mafalda Rodrigues, com quem divide o espaço Vanity Poison, em Campo de Ourique) já sabe ao que vai.

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Katerina não precisa de aplicar unhas postiças e a arte e feita, mesmo que estejam curtas. Cores, desenhos e autocolantes (os últimos vieram diretamente do Japão) fazem as delícias das clientes mais descomplexadas, um número que está a aumentar. “A maior parte das pessoas ainda tem aquela ideia de que a nail art é uma coisa de mau gosto, mas cada vez mais gente procura mais informação e vem ter connosco”, afirma. A criatividade parece ser a peça chave. Katerina, para já longe dos bastidores das grandes semanas da moda, parece não ter falta dela.