O consórcio ENI/Galp vai investir mais de 100 milhões de dólares (92 milhões de euros) no primeiro poço de pesquisa em águas profundas na costa portuguesa, ao largo de Sines. O consórcio, onde a empresa portuguesa tem 30%, já assumiu o compromisso com o governo português para realizar essa perfuração este ano ou no início de 2016. Isto não obstante, as hipóteses de sucesso, ou seja de encontrar petróleo em quantidades com valor comercial, serem inferiores a 20%, adiantou esta terça-feira o presidente executivo da Galp,

Mesmo em caso de descoberta comercial, o desenvolvimento de um projeto de produção demoraria no melhor dos cenários 15 anos até gerar os primeiros frutos, sublinhou Manuel Ferreira de Oliveira, numa conversa com jornalistas portugueses após a apresentação do plano de investimentos da Galp em Londres.

O investimento de 100 milhões de dólares é um valor de referência para empreendimentos de pesquisa em águas profundas, tendo sido o montante mobilizado para a perfuração realizada no ano passado ao largo da costa de Marrocos que se veio a revelar seco. No caso das águas ao largo de Sines, o valor deverá ser superior.

O projeto na costa alentejana será contudo uma pequena parte do plano global de investimento da Galp, que não obstante a queda do preço do petróleo, continua essencialmente focado para as áreas de pesquisa e exploração.

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Investimento foi adiado e não cortado

A Galp anunciou uma redução do 20% no plano de investimentos para 2015/2019, mas não se trata de um corte, sublinhou aos jornalistas o CFO (administrador financeiro), Filipe Silva, mas sim de um adiamento no desenvolvimento de projetos de produção. Em causa está o atraso de um ano no arranque de seis unidades de produção (plataformas) nas águas brasileiras, incluindo campos de grande dimensão como Carcará e Júpiter, e da exploração de gás natural em Moçambique.

E no caso do Brasil é incontornável o efeito Petrobras onde o caso de corrupção Lava jato está a ter consequências nos principais fornecedores da empresa, alguns dos quais estão à beira da falência. Não obstante, o atraso no arranque destas novas plataformas até veio numa altura oportuna, dada a queda do preço do petróleo.

O plano da Galp tem como pressuposto o cenário de petróleo a 55 dólares por barril, prevendo que a cotação regresse aos 80 dólares em 2019. A empresa mantém as apostas no Brasil, Moçambique e Angola, mas apesar de estar a estudar outras geografias na área de pesquisa, o objetivo é não se comprometer em novos grandes investimentos até ao final da década. Ferreira de Oliveira realçou que num ambiente de turbulência na indústria, a empresa optou por ser conservadora. Neste momento difícil, o pior seria fazer uma apresentação com excesso de otimismo, concluiu.

A Galp planeia investir 1,2 mil milhões a 1,4 mil milhões de euros por ano entre 2016 e 2019, uma revisão em baixa do plano apresentado aos investidores no ano passado quando o petróleo estava na casa dos 90 dólares por barril. A revisão em baixa foi discutida e, em alguns casos, aprovada no quadro dos consórcios onde a empresa portuguesa está presente com participações minoritárias, acrescentou o presidente executivo.

Os projetos já em desenvolvimento ou aprovados permitem assegurar que a Galp alcance uma produção diária de 150 mil a 200 mil barris por dia na década de 20, atingindo um pico de mais de 300 mil barris diários. Segundo Ferreira de Oliveira, estes projetos permitem manter esse nível num horizonte de 20 anos, mas uma petrolífera tem sempre de investir para repor produção, mesmo quando o mercado está em baixa, como acontece atualmente. A Galp produz hoje 40 mil barris diários.