Paulo Portas sentiu-se obrigado a desmentir, por comunicado, a versão de que se tinha demitido do cargo de ministro dos Negócios Estrangeiros através de um SMS, na crise política de há dois anos. O líder centrista, que até julho de 2013 ocupou aquela posição no Governo, corrige assim o que é defendido numa biografia autorizada de Passos Coelho, Somos o que Escolhemos Ser, e que esta terça-feira foi apresentada ao público.

“O pedido de demissão do então ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros aconteceu na manhã de 2 de julho de 2013, e foi naturalmente formalizado por carta“, esclareceu ao final da noite o gabinete de imprensa do CDS numa nota enviada às redações. No mesmo esclarecimento diz-se também que Paulo Portas “não falou com a autora do livro, pelo que admite que a mesma tenha incorrido num lapso a que não atribui importância”.

A biografia de Passos Coelho, Somos o que Escolhemos Ser, é da autoria de Sofia Aureliano, uma assessora de comunicação do PSD. O livro, lançado esta terça, causou um certo mal-estar junto de alguns responsáveis centristas, que ainda antes do esclarecimento de Portas se mostraram irritados com Passos sobre algumas revelações feitas no livro, a que o primeiro-ministro terá dado o aval, já que se trata de uma biografia autorizada.

Centristas irritados com Passos

As revelações de Passos Coelho numa biografia autorizada não caíram bem no seio do CDS. “Desnecessárias” é o mínimo que os centristas contactados pelo Observador dizem sobre as palavras do primeiro-ministro, que no livro se queixa que Paulo Portas se demitiu em julho de 2013 por SMS.

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Em privado, ninguém gostou de ver escrito que Paulo Portas se demitiu por SMS (“essa é uma versão”, dizem) e muito menos quando os dois partidos querem evitar querelas na opinião pública agora que decidiram ir coligados às eleições legislativas. Em público, a norma é o silêncio para evitar centrar as atenções na relação entre os dois líderes, Passos Coelho e Paulo Portas, que já sofreu vários altos e baixos.

“Foi infeliz”, diz um centrista em declarações ao Observador. Mas não são só as declarações na primeira pessoa ao livro “Somos o que escolhemos ser” que não caíram bem no seio do CDS. Também os elogios públicos de Passos Coelho a Manuel Dias Loureiro, no passado fim de semana deixaram o CDS incrédulo. No conjunto, são dois episódios protagonizados pelo chefe do Governo e líder do PSD que os centristas dispensavam. “É evitável”, classifica um. “Era dispensável”, desabafa outro. No caso do elogio a Dias Loureiro, os centristas ficaram agastados por aquilo que consideraram ser palavras “sem se perceber o objetivo ou o enquadramento”.

Sobre o livro, o vice-presidente do CDS e ex-eurodeputado Diogo Feio foi o único que deu a cara pelo descontentamento, dizendo que “era bom também que o livro dissesse de que forma o primeiro-ministro informou Paulo Portas sobre o nome da nova ministra das Finanças”. Citado pelo Económico, o eurodeputado lembra ainda que “tudo começou com uma sms”, dando a entender que faltavam elementos na biografia esta terça-feira apresentada, onde Passos Coelho revela que Paulo Portas se demitiu, na crise do verão de 2013, por sms. Contactado pelo Observador, não quis acrescentar nem mais uma palavra.

A mesma ideia foi deixada por outra fonte do CDS que lembra que a biografia não conta toda a história da demissão de Paulo Portas, incluindo dados que já foram tornados públicos.

Contudo, o acordo de coligação assinado no dia 25 de abril, e que deixou os centristas satisfeitos, não estará em causa. “Com a coligação feita, não há problema, se fosse antes poderia haver”, conta um governante centrista.

Na prática, o CDS já vê com alguma condescendência alguns “tiros no pé” dados por improviso pelo chefe do Governo: “É a maneira dele [Passos Coelho] ser”, diz um dirigente do CDS que desvaloriza o calendário para a apresentação do livro. Até porque, salienta, os dois partidos já estão no terreno a preparar as eleições.

Foi o que aconteceu na terça-feira, com a reunião entre as distritais dos dois partidos. O encontro serviu para estabelecer um calendário para a articulação de estruturas. Têm agora um prazo de 10 dias para criar comissões políticas distritais da coligação. “Foi mais um happening comunicacional do que algo prático”, afirmou fonte social-democrata ao Observador, referindo-se à conferência de imprensa de Marco António Costa e Nuno Magalhães.