Contra a Inglaterra, que até era (não é mais; perdeu com a Itália, Harry Kane and the guys desiludiram e ficou no último lugar do grupo) uma das favoritas a vencer o Europeu, a miudagem correu que se desalmou, pôs em sentido os “grandalhões” da defesa inglesa com o ziguezaguear de Cavaleiro ou Ricardo, mas, sobretudo, com a imprevisibilidade com que a canhota de Bernardo Silva (foi o melhor em campo nesse jogo) perfuma o relvado. A defender, fê-lo quanto baste, mas não sem que Rui Jorge sofresse uma valente de uma headache. Valeu-lhe João Mário.

Na segunda partida, frente à Itália, os Sub-21 defenderam à italiana e tiveram na baliza um José Sá (salvo as distâncias que um suplente do Marítimo e duas lendas da Squadra Azzurra naturalmente têm) que não deixaria Dino Zoff ou “Gigi” Buffon a desdenhar. O problema é que Portugal foi sofrível no ataque, Rafa e Mané não deram conta do recado, e Berardi só não nos tramou as contas do apuramento por infelicidade do pobre do Domenico — ele bem tentou, e futebol é coisa que não falta naquela canhota; a Juventus já o segurou para 2015/2016.

Diante dos suecos, e com os resultados anteriores, não se pode propriamente dizer que Portugal estivesse entre a espada e a parede. Quereria ganhar, claro, a jogar bem ou a jogar mal, tanto faz, mas mesmo um empate, com um ponto repartido para cada lado, lhe bastava para seguir viagem até às meias-finais do Europeu. E, sobretudo, como Rui Jorge disse repetidas vezes, bastava para garantir que, no verão do próximo ano, os “garotos” iam jogar à bola nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.


Suécia:
Carlgren; Lindelöf, Milošević, Baffo e Augustinsson; Hiljemark, Lewicki e Khalili; Hrgota, Theline e Guidetti.

Portugal: José Sá; Esgaio, Ilori, Paulo Oliveira e Raphaël Guerreiro; William, João Mário, Sérgio Oliveira e Bernardo Silva; Ivan Cavaleiro e Ricardo.

Portugal entrou com vontade de ir ao choque com os suecos, mas rapidamente percebeu que não tinha cabedal para isso, e que lhe era bem mais útil trocar a bola, rasteira, de pé para pé, e ir galgando metros, sobretudo pela esquerda, onde Bernardo e Raphaël Guerreiro combinavam bem, e ora cruzava um, ora cruzava o outro. Victor Lindelöf, o tal que é do Benfica “B” e renovou recentemente pelas “águias”, não teve um começo de noite descansada com os dois pela frente.

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William Carvalho, quem sabe se para que Arsène Wenger se decida a depositar nos cofres de Alvalade os 40 milhões de euros de que a imprensa britânica vai fazendo eco, foi o primeiro a criar perigo. E que perigo. Aos 7′, William, sem correrias e slaloms desenfreados, que ele não é disso, foi, a passo, aproximando-se da área sueca, tabelou com Cavaleiro, e deu por si de frente com Carlgren. O problema é que quis driblar o guardião nórdico, contorná-lo, e não, ele também não é disso, e Carlgren mergulhou para a bola, agarrou-a, e Wenger lá voltou a guardar o livro de cheques.

Sobre o “baixinho” Bernardo Silva, quando ele resolve atazanar a vida a quem lhe surge pela frente, não há muito o que dizer, ou como dizê-lo. Ele receciona a bola como se tivesse cola na bota, põe-na sempre a rolar, rapidamente e bem, e foi isso que fez aos 14′. A bola caiu-lhe na canhota, descaído na esquerda, lá entortou o podre do Lindelöf mais uma vez, deixou para Ivan, que, com os olhares todos em Bernardo, teve tempo de tabelar com Sérgio Oliveira, e o médio portista atirou de pé esquerdo por cima. Ele bem quis metê-la onde a coruja faz o ninho, “na gaveta”, mas o pé esquerdo de Sérgio não é o de Bernardo, e ficou-se pelo bruaaaaa no estádio.

Portugal encostava os suecos à defesa, não se lhes viu um remate que aquecesse as luvas de José Sá na primeira parte, e a superioridade foi tanta que, aos 16′, até deu para Ricardo inventasse uma “vírgula” — à Rivellino, lembra-se dele? — no defesa-central Baffo, que é daqueles “pesadões”, duros de rins, e, sem peias, atirou logo dali. Foi por cima, mas foi por pouco.

A intensidade baixou, baixou muito, a Itália já vencia a Inglaterra por 2-0 no outro jogo e, com esse resultado a manter-se ou a avolumar-se, Portugal e Suécia seguiriam em frente no Europeu. Rui Jorge é que não gostou da “panelinha” e soltou um berro lá para dentro, audível o suficiente para que Cavaleiro, aos 30′, deambulasse da bandeirola de canto, à esquerda, para a quina da área, e cruzasse. Saiu meio cruzamento meio remate, ninguém chegou, mas a verdade é que o guarda-redes sueco mediu mal a trajetória que a “redondinha” tomou, assustou-se, assustou a defesa toda!, e defendeu mal e parcamente para canto. Mas defendeu.

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A Itália, logo após o intervalo, fez o 3-0, esperava-se que o jogo acalmasse, mas a verdade é que a Suécia fez mais na reentrada do que em toda a primeira parte. Logo aos 51′, Guidetti, que arrumou com a favorita França no play-off de apuramento para o Europeu Sub-21, o tal Guidetti de quem se diz estar no radar do Sporting, cruzou da direita, Isaac Thelin, do Bordéus, ganhou nas costas de Ricardo Esgaio — tem quase menos dois palmos de altura do que o sueco de origem congolesa –, cabeceou como é regra, de cima para baixo, mas a bola, à volta, subiu, subiu tanto, que foi saiu por cima da barra.

Primeiro Gonçalo Paciência, e depois Iuri Medeiros, entraram na segunda parte, e aos 76′, Gonçalo foi respirar na nuca de Baffo, desgastou-o, roubou-lhe a bola junto à linha de fundo, deixou para o “Messi dos Açores” que, a fazer lembrar o seu ídolo de Rosário, na Argentina, bateu-lhe de “canhota”, fez a bola fugir, em arco, da defesa e do guarda-redes. Iuri é bom de bola, mas não é La Pulga, e o guarda-redes sueco lá segurou.

A dupla Iuri-Gonçalo ameaçou, e aos 82′ fez por consumar nova ameaça. Foi o esquerdino quem endossou a bola para Gonçalo Paciência, e o ponta-de-lança do Porto “B”, trocou as vistas a Milosevic, mudou do pé esquerdo para o direito, tudo isto no espaço de uma cabine telefónica, e rematou, seco, sem hipóteses para Carlgren. 1-0 para Portugal.

Com este resultado a Suécia estava fora do Europeu. O central Milosevic, que andou perto do José Alvalade no verão passado, mas acabou no Besiktas da Turquia, cansou-se de cortar bolas na defesa, e resolveu ir lá à frente ganhar uma, de cabeça, a Tobias. Azar dos azares, sobrou para Simon Tibbling, que nem é um prodígio de técnica, mas foi capaz de picar a bola por cima do pé de Paulo Oliveira, e ficar olhos nos olhos com José Sá. Mais azar só mesmo o ressalto que a bola fez em William. Empate para a Suécia, 1-1.

Até final, as equipas como que assinaram um pacto de não agressão, Portugal circulava a bola na defesa e os suecos viam-na circular de longe, mas seguem as duas para o Rio de Janeiro, em 2016, onde vão disputar os Jogos Olímpicos. E mais importante que isso, seguem para a meia-final do Europeu, onde Portugal defrontará a Alemanha, dia 27 de junho, às 17h, e a Suécia a Dinamarca, no mesmo dia, às 20h.