A utilização generalizada de uma terapêutica para prevenir o VIH comporta vários riscos e, em simultâneo, oportunidades. E é entre este espectro que se situam as opiniões recolhidas pelo Observador.
César Monteiro, do site da internet dezanove.pt, reconhece que há cada vez mais homens que têm relações sexuais desprotegidas com outros homens e “o número de parceiros sexuais é significativamente maior do que a média”. Referindo que estes factos já constam dos relatórios da Organização Mundial de Saúde, o biólogo teme “a negligência em relação ao uso do preservativo” e, deste modo, “aumentar a disseminação de outras DST’s, como a sífilis e a gonorreia”.
O elemento da publicação LGBT vai mais longe na sua análise e aponta a “falta de sentimento de enquadramento na sociedade atual” sentida pelos homens homossexuais como a causa maior de comportamentos de risco. César Monteiro diz que “ainda existem muitos homens que se escondem sempre no seu armário” e “em estados de ansiedade, conflito interno e depressão, as pessoas têm uma propensão para comportamentos sexuais de risco”. Assim, o voluntário do site da internet dezanove.pt conclui que “ainda é precoce avançar com um política nacional de prevenção da transmissão do VIH com a toma do Truvada” e, explica, a concretização dessa medida não vai ajudar a comunidade LGBT. “É preciso re-educar a sociedade no sentido de que todas as pessoas possam ter direito a um desenvolvimento psicossexual saudável e sem traumas”, remata César Monteiro.
O editor da secção Gay da revista Time Out não tem dúvidas. “Eu diria, de forma politicamente incorreta, que o preservativo por si já morreu”. É desta forma que Bruno Horta reage à notícia, afirmando que “toda a gente sabe que a utilização do preservativo é cada vez mais rara sobretudo entre homossexuais, embora não assumam”. Aceitando esta realidade, considera que o surgimento do medicamento para prevenção “é uma ótima notícia”, mas realça que “temos de ter sempre cuidado com a toma sistemática, embora não esteja informado sobre os efeitos secundários”.
O editor da publicação apresenta uma explicação para a não-proteção de um dos maiores grupos de risco. “Como já quase ninguém morre de sida, as pessoas vêem a doença como algo menos perigoso, apenas crónico”. Bruno Horta refere que as “imagens chocantes” que mostravam indivíduos numa condição bastante debilitada “deixaram de existir no espaço público” e, portanto, “a imagem da morte VIH despareceu, logo, as pessoas tendem a ter comportamentos menos protegidos”.
A toma do medicamento pré-exposição, na sua opinião, é “uma forma pragmática de liderar com o problema”, porque, recusando o preservativo, a comunidade homossexual “não se protege”. “Independentemente desta questão ter interesses comerciais por trás, [usar o medicamento para prevenir] é uma visão prática das coisas”, conclui.
Gonçalo Lobo, presidente da Abraço, aponta dois riscos, caso a toma do medicamento pré-exposição seja implementada. O primeiro é a resistência à medicação, caso a pessoa fique um dia infectada: “Essa pessoa que já fez a medicação pré-exposição, se um dia ficar infectada, já apresenta resistências à medicação e já não será eficaz”. A segunda é a falta de proteção a outras doenças sexualmente transmissíveis. “Ao usarmos este medicamento em detrimento do preservativo, estamos a abrir portas a outras infeções como a hepatite, a sífilis e a gonorreia”, conclui, porque o medicamento só protege o paciente do VIH.
O responsável da associação considera que a toma do medicamento para prevenção “não vai ser um comportamento generalizado”, porque “não vai ser um medicamento barato”. Gonçalo Lobo recorda outro caso que não chegou a ser concretizado em Portugal, para justificar a descrença na aplicabilidade da profilaxia pré-prevenção. “Há quatro anos estava em voga um gel vaginal, sobretudo na África Sub-sariana. Volvidos quatro anos, não se vê esse espermicida em Portugal”.