A morte de nove animais no canil Chão dos Bichos, em Loures, causada por um incêndio, provocou uma onda de solidariedade que levou dezenas de pessoas a deslocarem-se ao local para ajudarem e entregarem bens à associação.

O incêndio, que deflagrou na segunda-feira, dia 10 de agosto, na zona da Murteira, destruiu parte do canil da Associação Chão dos Bichos, que albergava 170 cães. Muitos destes animais, que tinham fugido assustados com o fogo, regressaram nas últimas horas, mas três continuam ainda desaparecidos.

“Isto é uma situação muito dramática porque há quatro anos que lutamos arduamente por estes animais, damos os nossos tempos de lazer por eles, e chegar aqui e encontrar muito fogo, muitos cadáveres, muitos animais assustados, muitos animais desaparecidos, é muito complicado. Estamos muito tristes”, disse à agência Lusa a presidente da associação.

Mas a dor de Ana Sousa e dos voluntários desta associação está a ser atenuada pela onda de solidariedade que se gerou, após um apelo nas redes sociais.

À entrada e no interior do canil estão dezenas de sacos de rações, centenas de litros de água em garrafões, cobertores, lençóis, casotas, entre outro material. Há quem chegue e também entregue dinheiro.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Felizmente que a solidariedade fez-se. A verdade é que não pararam de chegar pessoas durante a noite toda e o dia de hoje. É a parte que nos deixa felizes. É um bocadinho o compensar de toda esta tragédia, porque, para nós, foi uma tragédia muito grande. É aliviar um bocadinho da dor, sabermos que as pessoas estão connosco e que nos querem ajudar. Agradecemos profundamente toda a ajuda”, referiu Ana Sousa.

Durante a tarde de dia 11 de agosto, os carros não pararam de chegar ao canil com ajuda.

“Trouxe ração, cobertores, lençóis, madeiras para construir abrigos, oleados, o que consegui arranjar. É uma catástrofe. Creio que não foi propositado, mas estas coisas acontecem. Acho que, com a ajuda de todos, conseguem arranjar isto novamente”, vaticinou a voluntária Ana Fernandes, depois de ter deixado a sua contribuição.

Outra das voluntárias, Joana Silvestre, ajudava o marido a montar, na berma da estrada, uma casota que tinha em casa.

“Há muito tempo que sigo esta associação. Assim que soube que tinham sido atingidos pelo incêndio, como tenho coisas do meu cão que ele já não utiliza, acho que mais do que nunca estavam a precisar. O que me levou a vir cá foi o amor aos animais”, salientou.

Enquanto no exterior do canil aumentava o volume das ofertas, no seu interior havia pessoas a brincarem com os cães dentro das casotas que resistiram ao fogo. Alguns voluntários limpavam o chão negro marcado pelo incêndio e outros construíam “casas” novas para os animais.

“Sou morador em Loures. Tenho um animal e acho que isto foi uma catástrofe muito grande, não só aqui para o canil, mas também para o nosso concelho (…). Quem fez isto acho que devia ser punido. Se Deus existe, Deus há de dar o seu veredicto”, afirmou Ricardo Sobral, depois de deixar um saco de ração.

Visivelmente emocionada estava Filomena Martins que, com a ajuda dos vizinhos, conseguiu reunir algum material, “meteu-se” no carro com a filha e deslocou-se ao canil.

“Os pobrezinhos dependem de nós. Faz-me muita confusão vê-los morrer assim, precisarem da ajuda das pessoas. E há pessoas que maltratam os animais, e a mim comove-me muito”, afirmou.

Quanto ao futuro da Associação Chão dos Bichos, a presidente assegurou que vai continuar a lutar por um espaço digno e com condições, em vez de um terreno privado arrendado.

“Estamos em negociações com a Câmara [de Loures], no sentido de termos um terreno camarário, de sair daqui. Gostávamos que isso acontecesse rapidamente. É lutar, continuar a lutar”, vincou Ana Sousa.