A Hajj é o nome dado à peregrinação que os muçulmanos realizam à cidade santa de Meca, na Arábia Saudita, e o último dos “cinco pilares do islamismo”. É obrigatória para qualquer muçulmano adulto desde que, para isso, tenha condições financeiras e de saúde. Este acontecimento junta, em média, anualmente, 2 milhões de pessoas de todo o mundo, constituindo assim uma das maiores concentrações humanas.
A Hajj só pode ser feita uma vez por ano e, de preferência, entre o oitavo e o décimo terceiro dia do último mês do calendário islâmico. O ano atual para os islâmicos, de acordo com este calendário, é o de 1436, sendo que a contagem começou sexta-feira, dia 16 de julho de 622 d.C., o dia da fuga de Maomé de Meca para Medina, isto porque, se a peregrinação for realizada noutra altura já não será uma Hajj mas sim uma Umra, que é considerada uma boa ação mas não substitui o quinto pilar do islamismo.
A decisão de realizar a peregrinação, para ser válida, não pode prejudicar ninguém. Não se deve, por exemplo, contrair dívidas, não se deve deixar dívidas por pagar e não se deve deixar membros da família sem recursos ou desprotegidos durante o tempo de ausência.
Ao chegar aos arredores de Meca, o peregrino deve entrar em estado deihram (um estado sagrado), vestindo, por exemplo, a roupa que utilizará durante a celebração dos rituais. Esta roupa consiste em peças brancas não cosidas (por isso, nas imagens já publicadas da tragédia desta quinta-feira as pessoas estão vestidas de branco).
Outros dos rituais necessários para concluir a jornada é a realização, depois de entrar na Grande Mesquita de Meca, de sete voltas à Kaaba (uma construção cúbica de 15,24 metros de altura, cercada por muros de 10,67 metros e 12,19 metros, permanentemente coberta por uma manta escura com bordados dourados) no sentido contrário aos ponteiros do relógio, ao mesmo tempo que se fazem as respetivas orações. Depois, o peregrino percorre um corredor, dentro da mesquita, de novo sete vezes. Este ritual homenageia o desespero de Agar, mulher de Abraão, quando procurava água para o filho Ismael nesse mesmo local.
Depois do pôr-do-sol, e para dar como terminado o primeiro dia, as pessoas dirigem-se a Mina, local onde ocorreu o esmagamento que matou centenas de pessoas esta quinta-feira, onde acampam até ao dia seguinte. Aqui realizam-se mais orações durante a noite.
Também em Mina são atiradas sete pedras contra, entre outros, Jamarat al-Kubra, uma pedra que representa Satanás. O objetivo é renunciar, simbolicamente, ao mal e receber o Deus único. Depois de terminados estes, e outros, rituais fica consumada a Hajj, alcançando um estatuto de respeito e orgulho na comunidade e família.
Esta quinta-feira centenas de pessoas morreram esmagadas devido a uma debandada na cidade de Mina, nos arredores de Meca. Mas já não é a primeira vez que uma situação semelhante ocorre. De acordo com uma lista publicada pela BBC, em, pelo menos, cinco anos diferentes ocorreram tragédias com dimensões semelhantes ou maiores:
1987: 400 pessoas morreram devido a confrontos entre as autoridades sauditas e manifestantes pró-Irão.
1990: 1.426 peregrinos morreram dentro de um túnel que leva à saída de Meca.
1994: 270 pessoas morreram numa debandada durante o apedrejamento da figura de Satanás.
1997: um incêndio matou 343 peregrinos e deixou 1.500 feridos.
2006: 364 peregrinos morreram esmagadas, também durante o ritual de apedrejamento.