O Fundo Monetário Internacional (FMI) cortou as estimativas de crescimento económico global, fruto da retoma “modesta” nas economias desenvolvidas e de um abrandamento nos mercados emergentes. A expansão económica deverá continuar a ser “moderada e desnivelada”, diz o FMI, que alerta que os “riscos negativos” para a economia se agravaram nos últimos meses.
A instituição liderada por Christine Lagarde publica nesta terça-feira um atualização às perspetivas económicas globais, o seu World Economic Outlook. O FMI passou a prever um crescimento global de 3,1% para este ano, que contrasta com os 3,3% previstos em julho.
A confirmar-se a taxa de crescimento prevista, esta corresponderá a uma desaceleração face à expansão económica de 3,4% registada em 2014, na estimativa do Fundo. No próximo ano – 2016 – a economia global deverá acelerar para um crescimento de 3,6%.
Na zona euro, a economia deverá crescer 1,5% este ano e 1,6% em 2016. As estimativas para Portugal não mudaram: O FMI continua a prever que a economia portuguesa cresça 1,6% em 2015 e 1,5% em 2015. O que baixou foi a projeção para o desemprego (taxas de 12,3% em 2015 e 11,3% em 2016 – antes previa-se 13,1% e 12,6%, respetivamente). Por outro lado, o FMI aponta, contudo, para um saldo externo menos positivo este ano: 0,7% do PIB, metade da última previsão.
Este é, contudo, um crescimento global “desnivelado”, como já alertou Lagarde várias vezes. “Seis anos depois de a economia mundial emergir da recessão mais generalizada e profunda do pós-Guerra, o Santo Graal do crescimento global robusto e sincronizado continua a ser um objetivo elusivo”, lamenta Maurice Obstfeld, que sucedeu a Olivier Blanchard na liderança do departamento de pesquisa económica do FMI.
“Apesar de diferenças consideráveis nas perspetivas para os vários países, as novas projeções constituem uma revisão em baixa das expectativas de crescimento no curto prazo”, diz o economista. A revisão em baixa não é mais do que “marginal”, diz o FMI, mas é “generalizada”. “Os riscos negativos para a economia mundial parecem ser mais pronunciados do que pareciam apenas há alguns meses”, avisa o FMI.
Três “forças complexas” em jogo
O que está a tirar fôlego ao crescimento internacional é a fraqueza em algumas economias emergentes de grande dimensão, com a China à cabeça, e em alguns países exportadores de petróleo.
Na análise do FMI, há três fatores de incerteza que, tratando-se de “forças complexas”, estão a pesar no crescimento global. A saber:
- China em mudança: As autoridades chinesas estão a tentar fazer uma transição na economia do país, reduzindo a importância relativa das exportações e aumentando a relevância dos serviços e consumo interno. Esta não será uma transição fácil de fazer, havendo riscos de uma aterragem brusca. E a transição é, também, um fator que contribui para que a China seja um comprador menos intensivo de matérias-primas e energia nos mercados internacionais, o que nos leva ao ponto 2…
- Queda dos preços do petróleo: Rússia, Venezuela e Nigéria são alguns dos países que sofrem com a descida dos preços do petróleo e de outras matérias-primas. A queda das cotações beneficia quem importa petróleo, mas são um desafio para quem vê os seus orçamentos públicos (e privados) desequilibrados pelo preço mais baixo do petróleo.
- Subida dos juros da Fed: A política monetária nos EUA estará no início de um novo ciclo. Os estímulos lançados no auge da crise financeira já foram retirados e, nos próximos meses, é provável que se siga a primeira subida das taxas de juro, o que tem implicações enormes para o resto do mundo – sobretudo para os países emergentes mais endividados, como explicámos no trabalho “A Fed está prestes a “bater as asas” e subir os juros nos EUA. O mundo aguenta?”.
Nos países desenvolvidos, a incerteza é um pouco menor, com expectativas de que o crescimento acelere em 2016. Os EUA deverão ser, assinala o FMI, um dos pontos fortes da economia global nos próximos anos. Mas, no mundo desenvolvido, “as perspetivas de crescimento continuam limitadas, refletindo uma combinação de investimento em queda, demografia desfavorável e baixo crescimento da produtividade“.
Soluções? Para a Europa, o FMI diz que “os países com margem para estímulos orçamentais, como a Alemanha, devem usar essa margem para o investimento público, especialmente em infraestruturas de qualidade”. Para o resto da Europa, as reformas dependem de caso para caso, mas o ênfase geral deve estar sobre o aumento da participação no mercado de trabalho e a flexibilização nesse setor e a redução dos stocks de dívida antiga (pública e privada). Esta é uma das principais preocupações do FMI em relação a Portugal, como notámos neste texto.