Dias depois de a Alemanha ter comemorado os 25 anos da sua reunificação, Angela Merkel e François Hollande vão ao Parlamento Europeu em conjunto reafirmar o seu empenho no projeto europeu. Espera-se que falem sobre o futuro da união, sobre o desenvolvimento da união económica e monetária – ponto onde os dois países discordam e têm de afinar bússolas -, não conseguindo fugir à questão dos refugiados e da reintrodução de fronteiras no Espaço Schengen. À sua espera, no hemiciclo, têm o Parlamento Europeu mais eurocético de sempre.
Marine Le Pen já prometeu ser “dura”. A eurodeputada que conseguiu reunir forças de extrema-direita suficientes para formar um grupo político, terá 2m30 para confrontar Hollande e Merkel – e também a ideia de um Europa unida – e prometeu no Le Figaro usar o seu tempo da melhor maneira possível. “Eu vou dizer-lhes o que penso da política deles e o tom será duro porque as suas responsabilidades são pesadas”, disse a líder da Frente Nacional ao jornal francês, defendendo que o seu grupo político é o único que no Parlamento Europeu de opõe à política de Merkel e Hollande.
Os dois líderes europeus responderam positivamente ao convite do presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, e prometem durante a manhã de quarta-feira revisitar o encontro simbólico entre Helmut Kohl e François Miterrand em novembro de 1989, pouco depois da queda do muro de Berlim. Um encontro histórico em Estrasburgo, que volta agora a acontecer, mas com temáticas diferentes. Se por um lado, tal como na altura, é importante para a França e para a Alemanha reafirmarem o seu compromisso europeu, há ainda a necessidade de mostrar uma frente unida depois da crise financeira que assolou a Europa e no meio da crise humanitária dos refugiados. Discursos começam às 15h de Estrasburgo, 14h de Lisboa.
Entre os temas abordadas por Merkel e Hollande estará também o futuro da União Económica e Monetária e aqui os dois países têm pontos de vista muito diferentes. Enquanto França é favorável a uma maior integração económica, propondo a criação de um mecanismo de transferências entre os países mais pobres e mais ricos da zona euro que potencie a convergência, ou seja, a criação de um verdadeira orçamento europeu entre os países da zona euro. Em Londres, Macron, ministro da Economia, aproveitou para enviar alguns recados à Alemanha. “Não podemos dizer que somos Europa forte e estamos prontos para a globalização e ao mesmo tempo afirmar que só por cima do meu cadáver é que há uma união de transferências ou uma reforma do meu país”, disse então Macron, segundo relata o Financial Times.
Mas Merkel e o seu executivo não se deixam seduzir por este conversa. Para a chanceler, o mais importante é manter a estabilidade da zona euro e melhorar ao máximo os instrumentos encontrados durante a crise para controlar os orçamentos dos vários membros da zona euro. A Alemanha é também contrária à finalização da união bancária, nomeadamente à constituição do esquema de garantias de depósitos. Em cima da mesa está o relatório dos cinco presidentes que prevê não só a conclusão da união bancária, mas um avanço considerável na união económica e monetária, com ações calendarizadas até 2025.