António Costa, atual presidente da Câmara de Lisboa, disse que está “disponível para tudo”, incluindo para disputar a liderança do PS a António José Seguro.
Foi depois de uma cerimónia em homenagem a Maria José Nogueira Pinto, numa praça de Lisboa com vários ministros e membros da coligação de direita, que Costa falou com os jornalistas e deu a novidade: depois de dizer que recebeu muitos telefonemas desde domingo, quando o PS teve uma vitória tímida nas europeias, Costa concluiu isto:
“A maioria dos socialistas e muitos cidadãos acham que posso” protagonizar “uma mudança no país. “Estou disponível para assumir a responsabilidade de liderar essa mudança”, disse esta manhã.
Para Costa, o país “precisa de uma alternativa sólida, estável”. Pelo que “seria imperdoável se não estivesse disponível”.
Minutos antes, mostrando que muito já estava a ser preparado nos bastidores, uma autodesignada “Plataforma Independente de Apoio” a Costa lançava-se no twitter. Depois do anúncio, à saída da primeira notícia, a do Observador, surgia o anúncio:
https://twitter.com/CapacitarPT/status/471258912717824000
Para já, António Costa tem ainda um problema a resolver: para disputar a liderança precisa que Seguro aceite marcar diretas e um congresso extra, o que só deveria acontecer em 2016. Por isso, Costa diz que vai “avaliar a melhor forma” de concretizar o desafio público que acaba de fazer. E por isso marcou uma reunião, que tornou pública, com Seguro – que se realizará no Largo do Rato.
Críticos de Seguro exultam
Logo após o anúncio de António Costa, dois dos conhecidos críticos de Seguro mostravam toda a sua satisfação, em declarações ao Observador: “Já tardava”, disse José Lello. É um “candidato de luxo” e o “PS não pode dar-se ao luxo de desperdiçar esta hipótese de escolha”, disparou João Tiago Silveira, seu secretário de Estado no Governo anterior. Com um objetivo já na cabeça: “António Costa tem todas as capacidades para ser o próximo primeiro-ministro, de Governo de maioria absoluta que o país precisa”.
Pedro Nuno Santos, deputado e presidente da federação de Aveiro, diz que “o país precisa de um Governo liderado pelo PS e de um PS apoiado por uma larga maioria de portugueses. Isso só se conseguirá com uma liderança e um programa mobilizador – e não foi isso que tivemos nos últimos tempos”.
Segundo duas fontes contactadas pelo Observador, Costa espera ter uma onda de apoios internos nestas 24 horas para forçar Seguro a convocar um congresso e eleições internas. “Já há pessoas a mudar de lado”, disse um dos socialistas mais próximos de Costa.
O soarista Vítor Ramalho, por seu lado, saúda o anúncio de Costa, defendendo que o PS “tem que conseguir uma maioria muito confortável nas próximas legislativas”.
“O Partido Socialista é um partido estruturante da democracia portuguesa e não pode funcionar com centralismo democrático. É sempre salutar haver debate de ideias e pessoas que se disponibilizam e António Costa disponibilizou-se num quadro muito complicado”, afirmou ao Observador.
Ramalho alerta para a proliferação de pequenos partidos nas eleições europeias e o reforço da sua votação que “pode comprometer” a formação de um futuro Governo. “É preciso refletir sobre isto”, pediu.
Capoulas diz que os socialistas não se podem ficar
“Foi um ato corajoso de Costa e era esperado da minha parte”, afirmou ao Observador o ex-ministro da Agricultura e ex-eurodeputado, Capoulas Santos. “Os socialistas conscientes e responsáveis não podem conformar-se com este resultado. O PS tem que corresponder aos anseios do país”, afirmou o homem que foi afastado por Seguro das listas ao Parlamento Europeu. E acrescenta: “Costa é a resposta adequada que o PS precisa, mas, mais importante, a que os portugueses precisam. Estou com ele desde a primeira hora”.
assis defende seguro, direção acusa costa de “esquizofrenia”
Quem já veio defender Seguro foi Francisco Assis, o cabeça-de-listas às eleições europeias e o vencedor das eleições, que afirmou à TSF respeitar a decisão de António Costa, acrescentando que não vê “razões” para os socialistas avançarem com a “substituição da liderança” do partido.
Além de Assis, ao Observador, o dirigente do PS, Álvaro Beleza, depois do anúncio diz que a decisão de António Costa
“é um bocado esquizofrénica, uma vez que parece que na política contam mais as análises políticas do que os resultados”.
O dirigente diz que “não se percebe” como é que o presidente da Câmara de Lisboa num dia “diz que a campanha foi muito bem dirigida, que a lista era muito boa e que o partido esteve unido e no dia a seguir põe tudo em causa. E que eu saiba nem foi o líder do partido o cabeça-de-lista”, disse, referindo-se ao facto de ser Francisco Assis, que não era da ala de Seguro. Já ontem, o dirigente do PS, tinha dito ao Observador que era uma “deslealdade” que alguém pusesse em causa a liderança de Seguro.
Na mesma linha, o também secretário-nacional Eurico Brilhante, disse à SicNotícias não perceber este “movimento fora de tempo” que “ficará para os anais da história” por ter sido constituído depois de uma vitória eleitoral à “direita toda unida”, frisou.
Antes mesmo de saber da intenção de António Costa, a presidente do partido Maria de Belém Roseira dizia que o que era importante era salientar a “vitória estrondosa” do PS e desvalorizou as críticas vindas dos próprios socialistas como António Costa: “Com certeza que não está em causa [a liderança de António José Seguro]. Uma pessoa ganha e põe-se em causa?”, questionou.
Segundo apurou o Observador, o anúncio de Costa apanhou desprevenida a direção socialista.
De manhã, já com o nervosismo em alta, havia quem na direção socialista acusassse os dirigentes mais próximos de Costa de não se terem “esforçado” na campanha para as europeias. E dando exemplos concretos: Aveiro, federação liderada por Pedro Nuno Santos (que já deu apoio a Costa), foi o distrito onde o PS ganhou em menos municípios; no concelho do Porto, a cargo de Manuel Pizarro, o PS “teve um resultado abaixo da média nacional”; e até Setúbal servia de exemplo nos cálculos dos ‘seguristas’, porque o PS teve agora melhor resultado neste distrito do que há cinco anos, quando a federação era liderada por Vítor Ramalho.
Outra fonte da direção manifestava, ao início da tarde, dúvidas de que Costa entre realmente na disputa – recordando que há um ano, Costa entrou e saiu da corrida à liderança com “a mesma pressa”. “Mas se houver luta, o PS vai ficar todo dividido. É a melhor forma de Passos Coelho e Paulo Portas se rirem”.