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A Covid-19 suspected patient, Jewish child from Manipur
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Os doentes Covid-19 podem apresentar baixos níveis de oxigénio no sangue

Naveen Sharma/SOPA Images/LightRocket via Gett

Os doentes Covid-19 podem apresentar baixos níveis de oxigénio no sangue

Naveen Sharma/SOPA Images/LightRocket via Gett

A variante Delta e os seus riscos. 9 razões para estarmos atentos

Os dados do Reino Unido e da Índia mostram que a variante Delta pode transmitir-se mais rapidamente, levar a mais internamentos — incluindo entre as crianças — e ser mais resistente às vacinas.

A forma como a variante Delta (originária da Índia) se disseminou em Inglaterra no espaço de um mês deixa pouca margem para duvidar que se pode tornar dominante noutras regiões do mundo. O diretor regional da Europa para a Organização Mundial de Saúde prevê que o velho continente possa ser um desses casos. Nos Estados Unidos, a classificação como variante de preocupação anunciada, esta terça-feira, pelo Centro de Controlo e Prevenção da Doença também mostra que há motivos para um olhar mais atento sobre o aumento do número de casos.

“A nova variante de preocupação, Delta, que mostra um aumento da transmissibilidade e alguma capacidade de se escapar ao sistema imunitário, está prestes a estabelecer-se na região [europeia], apesar de muitas pessoas vulneráveis acima dos 60 anos continuarem por proteger”, disse Hans Henri Kluge, em conferência de imprensa. Neste momento, 55% dos adultos europeus receberam a primeira dose de vacina e mais de 32% foram totalmente vacinados.

Já estivémos neste ponto”, alertou o diretor regional, referindo-se ao que aconteceu no verão passado.

O Reino Unido tem capacidade para identificar as variantes em cerca de 50% dos casos positivos registados no país, o que lhes permite ter uma imagem mais ou menos fiel do que se passa a nível nacional. Já Portugal tem uma taxa de sequenciação genética (leitura dos genes do vírus) consideravelmente menor e assume que dizer que 4% dos casos são da variante indiana pode ser uma imagem muito subvalorizada, uma vez que a transmissão já acontece na comunidade e não apenas a partir de pessoas com um histórico de viagem.

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Com uma elevada taxa de vacinação e com o historial de duas variantes que em pouco tempo tomaram conta do país, o Reino Unido serve de exemplo aos riscos que podem correr outros países que não consigam controlar a disseminação da variante Delta. Eric Feigl-Ding, epidemiologista e economista da Saúde, tem alertado em várias publicações no Twitter para os riscos desta variante: mais transmissível, associada a um aumento dos internamentos e contra a qual as vacinas são menos eficazes.

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Variante transmite-se mais rapidamente entre as famílias

Em Inglaterra, como em Portugal, grande parte dos casos de infeção têm origem dentro do próprio agregado familiar ou das pessoas com quem se convive em proximidade — incluindo os casos da nova variante de preocupação. As habitações tornam-se, assim, um cenário de risco tanto para as pessoas que moram juntas como para a comunidade de forma geral, porque as crianças que são infetadas em casa levam o vírus para a escola ou os adultos levam o vírus para o trabalho.

Para melhorar a resposta à pandemia, a autoridade de saúde inglesa (PHE, Public Health England) avaliou o risco de as pessoas infetadas com a variante Delta (com origem na Índia) infetarem duas ou mais pessoas dentro de casa e comparou-o com o risco de isso acontecer com pessoas infetadas com a variante Alpha (com origem em Kent, Reino Unido), que dominava os casos de infeção no país.

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“De forma geral, verificámos um aumento da transmissão da infeção [em 64%], em contexto doméstico, associada à variante B.1.617.2 [indiana] quando comparada com a B.1.1.7 [britânica]. Estes resultados mostram que os agregados familiares são cenários importantes para a rápida transmissão da linhagem B.1.617.2”, concluem os autores do relatório do PHE.

Tornou-se a variante dominante em pouco tempo

Quando se diz que a presença da variante Delta, em Inglaterra, subiu a pique, não é só uma figura exagerada, é o que mostram claramente os gráficos. A variante indiana foi detetada pela primeira vez em março, foi classificada como variante de preocupação no início de maio e um mês depois representa mais de 90% dos novos casos de infeção com SARS-CoV-2 em Inglaterra. A variante indiana dominou, completamente, a disseminação da variante Alpha, predominante no país.

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PHE

As estimativas indicam que a variante Delta será 40 a 80% mais transmissível do que a variante Alpha e levaram a que Inglaterra tivesse de adiar o desconfinamento que tinha previsto iniciar a 21 de junho. Não só o número de casos cresceu 45,5% na última semana, como os internamentos aumentaram em 15% e as mortes cresceram quase 12% nesse período, segundo os dados do PHE.

Por enquanto, a boa notícia, parece ser que a taxa de mortalidade nos 28 dias depois de ter sido confirmada a infeção com SARS-CoV-2 continua baixa para a variante Delta (0,1%), de acordo com o relatório da autoridade de saúde pública. Mas o mesmo relatório lembra que a mortalidade é um indicador que chega com umas semanas de atraso e que muitos dos casos de infeção com a variante indiana ainda estão dentro do período dos 28 dias.

Nova variante pode causar doença mais grave

Dados preliminares em Inglaterra, mas também na Escócia — os dois países do Reino Unido com mais casos da variante Delta —, mostram que a probabilidade de procurar as urgências ou o risco de internamento devido à Covid-19 é maior com a variante indiana do que com a variante britânica nos 14 dias que se seguem à confirmação da infeção com um teste positivo.

Também na China, sobretudo na zona de Guangzhou onde a nova variante causou um surto, os médicos receiam que a doença Covid-19 seja mais grave e que surja mais rapidamente. O médico Guan Xiangdong, diretor dos cuidados intensivos da Universidade Sun Yat-sen, explicou, citado pelo jornal The New York Times, que 10 a 12% dos doentes Covid-19 de Guangzhou apresentam doença grave, quando na primeira vaga a proporção de internamentos foi de 2 a 3%, 5 a 8% ou 8 a 10%, em algumas áreas.

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A primeira dose da vacina tem eficácia reduzida

A vacina da Pfizer/BioNTech consegue reduzir, em 95%, o risco de uma pessoa vacinada desenvolver sintomas depois da infeção com SARS-CoV-2 e será ainda mais eficaz no que diz respeito à prevenção da doença grave, do internamento e morte por Covid-19. No entanto, a vacina parece ser menos eficaz a proteger da variante Delta do que da variante Alpha ou da variante inicial que deu origem às vacinas.

Enquanto a primeira dose (das vacinas da Pfizer/BioNTech e Oxford/AstraZeneca) conseguiu reduzir para metade o risco de as pessoas vacinadas desenvolverem sintomas causados pela variante Alpha, no caso da Delta, o risco de ter sintomas só diminuiu 33,5%. A segunda dose, usada para reforçar a resposta do sistema imunitário contra o coronavírus, também apresentou diferenças, mas menores, entre as duas variantes: uma eficácia de 80,8% para a variante Delta e de 88,4% para a variante Alpha, segundo os dados publicados na plataforma de pré-publicação medRxiv.

“Têm surgido provas de que as variantes — nomeadamente a variante Delta — diminuem a força do escudo protetor fornecido pelas vacinas, especialmente quando a vacinação ainda não está completa. É, portanto, crucial que o maior número possível de cidadãos seja vacinado contra a Covid-19, e que seja totalmente vacinado o mais rapidamente possível”, disse Stella Kyriakides, comissária europeia para a Saúde.

Em relação aos internamentos, o Financial Times mostrou que a eficácia continua alta: 70% para quem recebeu uma dose e 95% para quem recebeu as duas doses. A grande diferença está na idade de quem procura assistência médica nos hospitais: sobretudo as pessoas entre os 18 e os 64 anos, cuja cobertura vacinal é menor do que a das pessoas acima dos 64 anos.

Mas uma dose da vacina será sempre melhor do que nenhuma. A BBC destacou, por exemplo, que quase dois terços das pessoas infetadas com a variante Delta e mais de metade das que morreram com esta infeção, não tinham tomado qualquer dose da vacina contra a Covid-19.

“Vacinem, vacinem, vacinem: esta é a minha mensagem hoje.”
Stella Kyriakides, comissária europeia para a Saúde

A necessidade de acelerar a vacinação

Os dados divulgados pela PHE reforçam a necessidade de administrar duas doses e esse foi outro dos motivos que levou a Inglaterra a adiar o início do desconfinamento. Apesar de ser um dos países com maior taxa de vacinação no mundo, o Reino Unido tem pouco mais de metade das pessoas completamente vacinadas (56,9%) e 79,2% já tomaram, pelo menos, a primeira dose da vacina, segundo dados de 13 de junho.

O que o governo britânico quer é ter todas as pessoas vulneráveis ou com mais de 50 anos totalmente vacinadas até ao final de julho. Para acelerar o processo, foi reduzido o intervalo entre as duas doses de 12 para oito semanas. A Irlanda do Norte também reduziu para oito semanas o intervalo entre as doses para prevenir o impacto que possa vir a ter com o aumento do número de casos da variante indiana, noticiou a BBC.

A China, por sua vez, enquanto tenta resolver o surto de Guangzhou, aumentou a capacidade de produção e distribuição das vacinas porque quer administrar mil milhões de doses até ao final desta semana e planeia ter 40% da população vacinada até ao final do mês, noticiou o jornal The Guardian. A grande dúvida agora reside no facto de não se saber se as vacinas chinesas, nomeadamente aquelas feitas com base no vírus atenuado, serão eficazes contra a nova variante.

Os sintomas são ligeiramente diferentes

A febre continua a ser um dos sintomas mais comuns da infeção com a variante Delta, mas é cada vez menos frequente que as pessoas apresentem perda de olfato ou paladar — dois sinais que identificavam, quase sem dúvidas, a infeção com coronavírus. Estes dois sintomas não ocupam agora sequer a lista dos 10 sintomas mais frequentes no Reino Unido, noticiou a BBC. Dores de cabeça, dores de garganta e corrimento no nariz são neste momento os sintomas mais comuns num país dominado pela variante indiana.

A maior parte das pessoas que tomaram apenas uma dose da vacina, no Reino Unido, têm entre 30 e 50 anos, e correm o risco de assumir que, com estes sintomas, estão com uma constipação sazonal, mais ou menos chata. Uma situação que poderá levar a que não procurem ser testadas para o SARS-CoV-2 nem evitem o contágio de terceiros.

Mais casos sintomáticos entre as crianças

As infeções nas crianças e o papel que estas desempenham na transmissão comunitária tem sido dos temas menos consensuais da pandemia, com vários especialistas, incluindo Eric Feigl-Ding, a alertarem que se devia prestar mais atenção ao que acontece com os mais novos e aos pequenos sinais que vão surgindo — como o aumento dos casos nas crianças, entre os sete e os 11 anos no Reino Unido.

Na província de Guangdong (China), a maior parte dos casos de infeção têm acontecido entre os mais velhos e os mais novos: 30% acima dos 60 anos e 13% abaixo dos 14 anos, segundo as autoridades de saúde locais, citadas pelo Global Times.

Em Singapura, o ministro da Saúde disse que a variante indiana parece estar a afetar mais as crianças e, por isso, adotaram um sistema diferente: sempre que são detetados casos na comunidade que envolve a escola, as crianças passam para o ensino à distância por uns dias e todas as crianças e adultos da escola são testados.

Durante a segunda vaga na Índia, os médicos reportaram mais casos sintomáticos entre crianças e adolescentes, com febres de longa duração e infeções gastrointestinais graves — apesar de a percentagem de casos de infeção entre os mais novos ser equivalente (cerca de 10% nas duas vagas). Os casos a que os pediatras têm assistido na segunda vaga requerem cuidados mais intensos e invasivos do que na primeira vaga, reportou o Hindustan Times.

Com ou sem sintomas, graves ou ligeiros, há outra preocupação que cresce no caso das crianças: os efeitos de longo prazo, tal como acontece nos adultos. Um levantamento do Gabinete Nacional de Estatística britânico (ONS) registou que 13% das crianças abaixo dos 11 anos e 15% entre os 12 e os 16 anos apresentaram, pelo menos, um sintoma nas cinco semanas após uma infeção confirmada com o SARS-CoV-2.

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As mutações da variante Delta

Uma mutação adicional na variante Delta, a K417N, motivou que o Reino Unido tirasse Portugal da lista verde para os viajantes, mas a variante indiana tem um arsenal completo de mutações que lhe permitem ser mais bem sucedida, quer a atacar o organismo, quer a disseminar-se. Entre elas, uma mutação que confere à proteína spike, aquela que se liga às células humanas, um formato mais bem adaptado para realizar a ligação e posterior invasão das células.

Oito respostas sobre a K417N, a mutação do Nepal que afinal já existia e que sozinha não muda grande coisa

A variante conta assim com as mutações: D614G, associada a um aumento a transmissibilidade; L452R, também associada ao aumento da transmissibilidade e à redução da neutralização pelos anticorpos; P681R, que poderá também afetar a capacidade de entrada nas células humanas (mas ainda precisa de ser mais bem estudada); e a N501Y, que ficou conhecida por estar presente nas variantes Alpha, Beta (da África do Sul) e Gamma (de Manaus, Brasil).

As faixas etárias mais jovens não estão imunizadas

Israel enfrentou a pior vaga de casos em janeiro, apesar de já ter a campanha de vacinação em curso, e culpa a variante Alpha por isso. O encerramento das fronteiras para não residentes foi uma das medidas adotadas e que se mantém em vigor em certa medida, reportou o jornal The Guardian. Assim, apesar de já ter registado casos no país, Israel mantém a variante indiana (e a pandemia em geral) controlada.

O facto de o país ter uma grande parte da população vacinada com as duas doses, incluindo entre os grupos etários mais novos, também terá ajudado a manter a transmissão do vírus sob controlo, evitando cadeias de transmissão entre os adultos jovens e permitindo aliviar as medidas restritivas impostas à população.

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