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A convocação de eleições antecipadas, o sonho de maioria "incontestável" e o anúncio de uma coligação: o day after das eleições espanholas

Apenas 24 horas depois de ir votos, Espanha anuncia eleições antecipadas. O PP já sonha com uma maioria, enquanto o Vox quer alternativa a Sanchéz. Podemos e Sumar querem fechar coligação.

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Foi uma notícia inesperada. Depois de conhecidos os resultados das eleições regionais, que davam um clara vitória ao PP, o chefe do governo espanhol anunciou a realização de uma reunião do Conselho de Ministros “para dissolver o Parlamento e convocar eleições gerais”. Depois de comunicar a decisão ao Rei Felipe VI, Pedro Sánchez falava ao país para assumir “pessoalmente” os resultados das eleições regionais — descritos na imprensa espanhola como uma “derrocada” do PSOE — e sublinhar que os “espanhóis devem ter a palavra para definir o rumo político do país”.

No conselho de ministros desta tarde, a decisão era aceite e as eleições gerais espanholas, inicialmente marcadas para dezembro, eram antecipadas para o domingo de 23 de julho. Face à notícia, fontes do Palácio de Moncloa classificavam como “corajosa” a decisão de Pedro Sánchez, segundo revelaram fontes do RTVE. Mas nem todos olharam para a medida da mesma forma. Isabel Díaz Ayuso, a presidente eleita do PP para a comunidade de Madrid e uma forte crítica do líder espanhol, celebrou a antecipação da votação, que descreveu como um sinal da “rendição”. “O projeto do PSOE está esgotado (…) Sánchez está num beco sem saída”, defendeu em entrevista ao Telemadrid. “Quanto mais rápido, melhor”, sublinhou ainda o líder do PP, Alberto Núñez Feijóo, enquanto o responsável máximo do Vox, Santiago Abascal, descreveu a decisão como “a única notícia positiva” nos últimos quatro anos de governação de Sánchez.

A derrocada socialista e a vitória “excecional” do PP (que precisa do VOX) numas eleições que fortalecem a direita

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Menos de 24 horas depois do fim das eleições regionais, Espanha vê-se a braços com um novo período eleitoral, que arranca já no dia 30 de maio e vai coincidir com a presidência espanhola no Conselho da União Europeia. Os partidos têm agora 54 dias para mobilizar os seus eleitores e pôr a teste os resultados obtidos no passado domingo. No arranque da nova fase, Sánchez vê agora a sua reeleição mais ameaçada que nunca, enquanto o líder do PP se vê reforçado pelos resultados do dia 28, mas consciente de que esta é a prova de fogo.

Calendário das eleições gerais espanholas

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30 de maio: Arranque do período eleitoral.

9 de junho: Fim do prazo para os partidos formarem coligações.

19 de junho: Fim do prazo para os partidos apresentarem as suas listas.

7 de julho: Arranque da campanha eleitoral.

23 de julho: Dia de eleições.

PP sonha com maioria “clara, incontestável e contundente”. Vox pede “alternativa” a Sánchez

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Depois de uma noite eleitoral em festa, PP já sonha com maioria depois das eleições gerais

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“O sanchismo ainda não foi derrotado.” Foi assim que, apesar do efeito da “onda azul” em Espanha, o líder do PP anunciou esta segunda-feira que ainda há trabalho pela frente para se iniciar o prometido “novo ciclo político”. O PP saiu como o grande vencedor das eleições regionais, com 31% das intenções de voto — o que contabiliza mais de sete milhões de votos –, mas sonha já com uma vitória nas gerais, antecipadas por ordem do primeiro-ministro para 23 de julho.

Na sede do PP, em Madrid, Alberto Núñez Feijóo mostrou-se “satisfeito” por o resultado da votação de domingo ter levado a uma decisão de antecipar as eleições e defendeu: “Quanto mais rápido, melhor”, apesar de ver aqui um esforço de Pedro Sánchez para que os resultados das eleições de domingo passem despercebidos. “Estamos apenas a começar. Ontem os eleitores votaram esmagadoramente no meu partido, mas o sanchismo ainda não foi derrotado. Espanha é chamada a fazê-lo daqui a 54 dias, altura em que terá de expressar claramente o caminho que quer que a nossa nação siga nos próximos quatro anos”, sublinhou esta segunda-feira. Foi neste momento que aproveitou para pedir uma “maioria clara, uma maioria incontestável e uma maioria contundente para iniciar o novo ciclo político”, no que parece um apelo para que os eleitores concedam um resultado amplo que permita uma governação sem ser necessário o apoio do Vox — algo que se verificou nas eleições regionais.

A derrocada socialista e a vitória “excecional” do PP (que precisa do VOX) numas eleições que fortalecem a direita

Se é verdade que a prova para o PP são agora as eleições gerais, é importante lembrar que a campanha vai coincidir com as negociações de alianças para governar as comunidades autónomas e municípios em Espanha, nas quais os Populares dependem do Vox. E são várias. É o caso das comunidades autónomas de Aragão, Baleares, Cantábria, Comunidade Valenciana, La Rioja e Múrcia, nas quais necessita do apoio da direita radical para governar. O mesmo cenário se repete na Estremadura, onde o PSOE ficou em primeiro lugar, mas sem maioria absoluta, o que permite criar uma coligação entre as duas forças de direita.

O PP tem consciência de que o Vox pretende iniciar uma negociação nacional. Mas isto  não é do interessa de Feijóo, que não se quer ver prejudicado com acordos que possam afetar a proposta de um PP moderado com que quer apresentar-se às eleições gerais. No entanto, o partido crê agora que se abriu um capítulo distinto com a antecipação da ida às urnas e vai tentar adiar as negociações com a direita radical para depois da votação, revelaram ao El País fontes da direção do partido. Para isso, Feijóo necessita de ganhar tempo e insiste para já que seja a lista mais votada a governar — abordagem que o beneficia, visto que o PP venceu na maioria das regiões espanholas –, refere o mesmo jornal.

Ouça aqui o episódio do podcast “A História do Dia” sobre as eleições em Espanha.

Porque caiu o Governo em Espanha e o que se segue?

Para já, Feijóo disse que ainda não se começaram a discutir os acordos e deu a entender que vão remeter a negociação das alianças para as lideranças das comunidades e municípios. “Amanhã [esta terça-feira] teremos uma reunião da direção nacional, na qual vamos analisar os resultados. A partir dessa análise bruta, é preciso olhar com mais atenção para as comunidades e municípios. Cabe às comunidades autónomas fazer esta análise. Vamos respeitar os poderes de cada um e a realidade que emerge das urnas”, afirmou durante a conferência de imprensa.

Por seu lado, o Vox já desafiou o PP a construir uma alternativa forte a Sánchez, a partir dos municípios e regiões em que os dois partidos conseguiram garantir uma presença. Na primeira conferência de imprensa após serem conhecidos os resultados das votações de domingo, Santiago Abascal confirmou que já se estabeleceram alguns contactos entre as duas forças políticas — o próprio Feijóo reconheceu ter recebido uma chamada do homólogo para o felicitar pelos resultados — e admitiu que os representantes do partido vão receber instruções para colaborar com o PP.

"Há um partido que ganhou em muitas comunidades e municípios, mas que não tem uma maioria para governar e deve, por isso, escolher se quer aliar-se a nós ou seguir outro caminho"
Santiago Abascal, líder do Vox

“Vamos pedir-lhes que falem com os candidatos do PP para ver o que é que pensam, porque são muito distintos uns dos outros”, explicou esta segunda-feira, admitindo que alguns estarão dispostos a aliar-se ao PSOE. Para já, deixou uma garantia: enquanto uma força partidária nacional, “haverá uma posição nacional”. Sobre novos contactos com Feijóo, Abascal remeteu para os próximos dias. “Somos obrigados a fazê-lo e vamos cumprir as nossas obrigações”, vincou.

Para o líder do Vox, este ainda não era o dia para fazer exigências ou ultimatos ao PP, mas sim para assumir uma atitude de “mão estendida”. “Há um partido que ganhou em muitas comunidades e municípios, mas que não tem uma maioria para governar e deve, por isso, escolher se quer aliar-se a nós ou seguir outro caminho”, sublinhou, citado pelo El País. A Feijóo, deixou um pedido de”responsabilidade” e “respeito” pelos eleitores do Vox, que se fez acompanhar de um aviso: “Não vamos aceitar qualquer tipo de chantagem.”

Não faltou também uma palavra sobre a dissolução do Parlamento e a antecipação das eleições gerais espanholas, que descreveu como a “única notícia positiva” que Pedro Sánchez deu ao país em quatro anos marcados por “mentiras”. Aproveitou o momento para recordar que o próprio Vox já tinha impulsionado uma moção de censura em março para convocar eleições antecipadas e crê que, ainda que sejam só em julho, “quanto mais cedo for possível fazer o Parlamento parecer-se com a sociedade espanhola, melhor para todos”.

O líder do Vox descreveu esta como uma oportunidade para “encerrar uma das etapas mais negras da história de Espanha”. Acrescentou que ao longo dos últimos quatro anos o governo “pôs em xeque a unidade nacional, a harmonia entre os espanhóis, propagando o ódio e o confronto com leis totalitárias e absolutamente infames” e se dedicou a “beneficiar todo o tipo de corruptos, golpistas, terroristas, violadores e pedófilos”.

Eleições antecipadas levam Podemos e Sumar a procurar acordo em 10 dias

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Líder do Unidas Podemos, Ione Belarra, revelou negociações com o Sumar, liderada por Yolanda Díaz

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A decisão de Pedro Sánchez de antecipar as eleições gerais para julho aumentou a pressão sobre o Unidas Podemos, que com as votações de domingo ficou fora de muitos parlamentos autónomos e municípios, mas também sobre o Sumar, uma força política criada recentemente e liderada por Yolanda Díaz. Nesse sentido, foi anunciado que as duas forças políticas estão a trabalhar para concorrer num acordo de coligação às eleições gerais. Mas há um senão. Segundo a lei eleitoral, os dois partidos veem-se obrigados a chegar a um acordo no espaço de dez dias, caso queiram apresentar-se em conjunto às eleições gerais de 23 de julho, explica a RTVE.

Yolanda Díaz: a mulher que encanta a esquerda espanhola e que quer ser a primeira Presidente do país

Durante a manhã, a secretária-geral do Podemos, Ione Belarra, revelou que o partido já deu início às conversações para um acordo de coligação com a plataforma Sumar. “A nossa formação trabalha para dar à cidadania progressista a notícia que há muito aguarda. Para que este espaço político se apresente unido nas eleições e saiamos a ganhar. Não apenas com um governo de coligação, mas também a governar com mais força”, afirmou a também ministra de Direitos Sociais do governo de Sánchez.

No domingo, a força partidária de esquerda desapareceu praticamente da cena política nacional, deixando de integrar várias coligações alargadas com o PSOE, à exceção de Navarra, e ficando sem representação na autarquia de Madrid e de Valência. Face a estes resultados, Belarra insistiu durante a sua intervenção desta manhã na tónica da “unidade”.

Ainda no Podemos, o ex-secretário geral, Pablo Iglesias, descreveu o resultado de domingo como “um desastre” e apontou a “divisão” como uma das causas do fracasso nas ida às urnas. “O espaço político da esquerda não se pode permitir a divisões”, afirmou, apoiando uma coligação composta pelo Podemos e o Sumar.

As declarações de Belarra e Iglesias chegavam depois de a líder do Sumar e ex-membro do Unidas Podemos, Yolanda Díaz, já ter assumido de frente o “desafio” de vencer as eleições gerais espanholas. “A mensagem de ontem à noite foi muito clara: há que fazer as coisas de outra maneira, sem distrações. A partir deste momento estamos a trabalhar para vencer as eleições do próximo 23 de julho“, escreveu na conta oficial de Twitter. Yolanda Díaz, que ocupa também o cargo de ministra do Trabalho, prometeu que têm um projeto para dar respostas aos desafios sociais, ecológicos e económicos e deixou uma mensagem direta ao líder do PP. “Frente à Espanha negra de Feijóo saíamos a ganhar”, sublinhou.

O tempo está a contar e Unidas Podemos e Sumar têm agora até ao dia 9 de junho para concluir o acordo de coligação. Já as listas eleitorais terão de estar prontas até 19 de junho.

Eleições gerais coincidem com presidência espanhola do Conselho da UE

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As eleições gerais espanholas vão coincidir com o período da presidência espanhola na Conselho da UE

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Com a alteração do calendário eleitoral, anunciada por Pedro Sánchez, as eleições gerais passam a coincidir com a presidência espanhola do Conselho da União Europeia. O ciclo liderado por Espanha na UE tem início no dia 1 de julho — apenas 22 dias antes da ida às urnas — e terminará a 31 de dezembro.

A presidência espanhola no Conselho da UE não corresponde a uma presidência do governo e, por isso, não depende da cores políticas que o compõem. No plano europeu, estão em causa duas funções principais: planear e presidir as reuniões do Conselho e das suas instâncias preparatórias. “A Presidência assegura o bom andamento dos debates e a correta aplicação do Regulamento Interno e dos métodos de trabalho do Conselho”, pode ler-se no site da UE. Apesar de o ciclo espanhol poder coincidir com o período eleitoral nacional, uma primeira consequência que salta à vista é que, com a dissolução do Parlamento, está suspensa a aprovação das prioridades da Espanha para os seis meses na presidência europeia.

O anúncio parece não ter perturbado o gabinete da presidência espanhola do Conselho da UE, em Madrid, nem a Representação Permanente de Espanha junto da UE, em Bruxelas. A agência de notícias espanhola EFE adianta, citando fontes diplomáticas, que o “trabalho” prossegue e que o “compromisso” se mantém com as funções que estes gabinetes têm atribuídas. No mesmo sentido, o Alto Representante para a Política Externa da UE mostrou-se tranquilo com a alteração e desvalorizou o facto de as eleições coincidirem com a presidência semestral espanhola. “Não creio que será um problema. Estamos habituados a que estas coisas aconteçam”, afirmou Joseph Borrell em declarações aos jornalistas.

Na frente diplomática, as opiniões dividem-se. À RTVE, fontes do bloco comunitário relatam que alguns diplomatas receiam que a situação ofusque o ciclo liderado por Espanha na UE. O receio é que o foco esteja completamente voltado para as eleições e que a presidência da UE seja posta de lado. Alguns diplomatas destacam a possível eleição de um novo chefe de governo como um fator que pode turvar as prioridades espanholas, apesar de considerarem que a presidência na UE vai funcionar independentemente do governo eleito no dia 23 de julho.

Outros diplomatas, porém, veem na antecipação das eleições um cenário positivo, sublinhando que para uma presidência europeia estável é necessário também um governo nacional estável.

O que pode sair prejudicado é a campanha eleitoral de Pedro Sánchez, que com o início da presidência espanhola da UE soma mais compromissos para cumprir. O primeiro desde já no dia 13 de julho, em que deverá marcar presença no Parlamento Europeu, em Estrasburgo, após a participação na cimeira da NATO em Vilnius (11-12 de julho). No mesmo mês estará também no dia 17 na cimeira EU-CELAC.

O caso espanhol não é o único. O exemplo mais recente é o de França. Em plena presidência do Conselho da UE, os franceses foram a votos para as eleições presidenciais de abril de 2022, que deram a Emmanuel Macron um novo mandato. Este ano, a situação de eleições volta a repetir-se com Espanha e deverá acontecer novamente em 2024 com a Bélgica (ainda que, neste caso, o calendário eleitoral apenas belisque a reta final da presidência do Conselho da UE). Os belgas assumem a pasta europeia entre os meses de janeiro e junho e no dia 9 de junho vão às urnas para eleger representantes locais e federais.

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