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Quando a Apple lançou em setembro uma nova versão do sistema operativo iOS (que já vai na décima versão), passou a permitir que as palavras fossem transformadas automaticamente em emojis. Isto porque o novo teclado do iOS 10 identifica as palavras que podem ser substituídas, sugerindo os respetivos emojis. Assim, carro transforma-se em e árvore em . Para os introduzir, é só clicar. Usar emojis nunca foi tão fácil.
Além desta mudança, a Apple mudou o visual de alguns emojis e introduziu cerca de 70 novos modelos, que incluem a bandeira LGBTI, um astronauta, novos desportos e modalidades e a possibilidade de escolher a cor da pele das figuras humanas. Isto veio permitir a criação novas combinações, mais complexas e mais realistas.
Finally, you can add an avocado emoji to your avocado toast @Instagram post! See iOS 10.2's the new emojis: https://t.co/NfLGexGcPM pic.twitter.com/3u6yN2XgOK
— tbooth wireless (@Tboothwireless) November 17, 2016
Esta emojification, como a Apple lhe chamou, justifica-se com a crescente popularidade dos pequenos bonecos, usados por miúdos e graúdos, mas não só. Para Craig Federighi, diretor de software da empresa norte-americana, o mundo está a caminhar em direção a um futuro onde a linguagem será entendida de outra forma e onde as palavras escritas terão cada vez menos importância. “As crianças do futuro não terão nenhuma noção do que é a língua inglesa”, disse durante a apresentação do novo sistema operativo em junho.
A verdade é que o uso cada vez maior dos emojis — que gradualmente têm vindo a substituir a linguagem da internet e expressões como lol ou wtv (acrónimo de “whatever”), tem levantado algumas questões relacionadas com o futuro da linguagem. Há até quem defenda que poderão tornar-se numa nova língua, substituindo a palavra escrita, como parece acreditar Federighi. Mas será mesmo assim? Poderão as crianças vir a esquecer as palavras?
De onde vem a palavra "emoji"?
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O termo tem origem japonesa e é composto pelas palavras 絵 (e), que em português significa “imagem”, e 文字 (moji), “letra”. Um emoji é, literalmente, uma palavra transformada em imagem.
A expressão chegou ao inglês através de um empréstimo linguístico — ou seja, através da sua entrada direta para a língua inglesa. De acordo com o dicionário da Oxford, foi a sua semelhança com a palavra emoticon que fez com que entrasse com facilidade para o vocabulário inglês, tornando-se rapidamente popular entre os falantes.
Para os que estudam a linguagem humana — e mais especificamente a linguagem da internet — a resposta é óbvia: não . Os emojis não são nem nunca poderão vir a ser uma nova forma de comunicação. E mais: ao contrário do que muitas vezes se pensa, não são os mais novos os que mais usam bonecos para comunicar com os amigos.
Todos gostam de emojis (mas as mulheres gostam mais)
Os emojis só se tornaram verdadeiramente populares com a sua implementação no teclado do iPhone em 2011 e, mais tarde, nos smartphones com o sistema operativo Android. Um estudo realizado em 2015 pela Emogi Research Team concluiu que, em apenas quatro anos, o uso dos emojis cresceu 35%, com a sua utilização a alastrar-se às redes sociais (no Instagram, por exemplo, metade das publicações incluem emojis). De tal modo que a linguagem da internet está a ser gradualmente substituída por bonecos. Expressões como lol ou like (em português, “gosto”) estão a desaparecer, dando lugar a e .
Para Neil Cohn, um cientista cognitivo norte-americano que se tem dedicado ao estudo da linguagem visual, isto tem a ver com a “crescente popularidade dos emojis e o seu uso frequente”. “Faz sentido que as pessoas os usem em vez de certas expressões baseadas em texto. No caso do lol, trata-se de um termo que tem na sua base uma emoção — rir. Com o emoji do riso, podemos visualizar essa acção/emoção e, por isso, expressá-la de uma maneira que reflecte melhor aquilo de que se trata”, explicou o cientista ao Observador. “De um modo geral, os emojis operam de uma forma que elabora ou enriquece o texto, da mesma forma que os gestos enriquecem o nosso discurso. Lol funciona da mesma forma e por isso é fácil substituí-lo por um emoji.”
Para o linguista norte-americano Tyler Schnoebelen, cuja tese de doutoramento foi dedicada aos emojis, existe um outro motivo que explica o declínio da linguagem da internet. “Os emojis acrescentam interesse visual ao texto. Podemos fazê-lo com maiúsculas, com *** ou com sublinhados, mas os emojis dão cor”, explicou ao Observador.
Gostos à parte, uma coisa parece ser certa — quase todos parecem gostar de emojis. Os números são impressionantes: de acordo com o estudo da Emogi Research Team, 92% dos utilizadores da internet usam emojis. As mulheres são as que mais recorrem aos bonequinhos amarelos e, ao contrário do que geralmente se pensa, não são os jovens os que mais os usam, mas sim os adultos com idades compreendidas entre os 25 e os 29 anos. E porquê? Porque são uma forma fácil de transmitir uma ou um , o motivo que levou Shiegetaka Kurita a criá-los há quase duas décadas.
Foi a grande popularidade dos emojis que levou os Dicionários Oxford a escolherem em 2015 para palavra do ano um pequeno smile amarelo com lágrimas (de alegria) nos olhos. Ou seja: . Apesar de justificada, a escolha criou um grande burburinho. A indignação de uns foi-se ao choque de outros à medida que iam tentando perceber como é que a “palavra” que melhor definia 2015 era um boneco amarelo sem graça. Porém, para os Dicionários Oxford, não havia nenhum motivo para estranhar.
Naquele ano, a lista final de candidatos a “Palavra do Ano” incluíam termos bem mais sérios como sharing economy (“economia partilhada”), refugee (“refugiado”), Ad Block (sim, aquele programa que bloqueia anúncios na internet), dark web ou Brexit. Porém, a escolha da Oxford acabou por recair sobre o emoji. Porquê? Porque para a editora, , era a “palavra” que “melhor definia o ethos, o estado de espírito e as preocupações de 2015”.
Para justificar a escolha, a editora britânica apresentou também os dados recolhidos pela empresa SwiftKey, que indicavam que era o emoji mais popular daquele ano no Reino Unido (20%) e nos Estados Unidos da América (17%) , seguido de . De acordo com a empresa, a sua utilização cresceu 9% face a 2014. Nada mau para um pequeno boneco “feio”, como lhe chamou Scott F. Fahlman, criador do smile.
Bonecos que dançam, livros e conferências. A febre dos emojis
Com o crescimento dos entusiastas dos emojis vieram as iniciativas e projetos criados em torno deles. Atualmente, há de tudo e para todos os gostos (e necessidades), incluindo um vibrador em forma de com o adequado nome de Emojibator. (A empresa que comercializa o objeto, tem ainda para venda t-shirts a condizer, com frases sugestivas como “Go F*ck Yorself. Literally”). Uma das ações mais recentes foi a Emojicon.
No passado dia 4 de novembro, cerca de 400 pessoas reuniram-se em São Francisco, perto das sedes da Uber, do Pinterest e do Airbnb, vestidas de emoji para a primeira edição da Emojicon, um evento dedicado “a todas as coisas emoji”. Linguistas, designers e membros do Unicode Consortium — um grupo de representantes das principais empresas tecnológicas responsáveis por decidir o que é que entra nos smartphones e por aprovar os novos emojis –, passearam por entre balões em forma de emoji, comida em forma de e até fornecedores do Emojibator.
At the first-ever Emojicon, smiling poop was everywhere #tech #emojicon https://t.co/S9Qw1T3m28 pic.twitter.com/PUl3k5yrXz
— MARK (@MarkLNoel) November 12, 2016
O evento foi criado por Jennifer 8. Lee, antiga jornalista do New York Times e fundadora da startup Plympton. Lee, uma entusiasta dos emojis, envolveu-se no ano passado num longo processo para tentar incorporar nos smartphones um emoji em forma de wonton, uma das suas comidas favoritas. Porque é que havia e , e não havia um wonton? Lee não conseguia perceber. O processo demorou 18 meses e a ex-jornalista chegou à conclusão de que quem era responsável pela aprovação dos novos emojis eram “engenheiros com 50 e 60 anos que são muito bons a trabalhar com código, mas que não estão necessariamente qualificados para tomar decisões em relação a uma linguagem global, dinâmica e visual“, como referiu ao New York Times.
Foi por isso que Lee decidiu criar a Emojination, uma organização sem fins-lucrativos, e também a Emojicon — quer trazer os emojis para perto das pessoas que os usam. Tyler Schnoebelen, que esteve presente no evento, garantiu ao Observador que este não se tratou apenas de “uma forma ótima de celebrar os emoji“. “Na verdade, foi um evento sobre diversidade: o objetivo foi discutir formas de representar de forma mais eficaz um novo emoji e de desenhar os que já existem, de forma a que não sejam sexistas, racistas ou de alguma forma problemáticos.”
Outro projeto recente é o que está a ser desenvolvido pelo programador canadiano Charlie Clark e a designer neo-zelandesa Danni Fisher, criadores do Emoji Party, uma “experiência audiovisual e interativa com emoji” (ou, por outras palavras: um site onde é possível ver emojis a dançar ao som de música techno).
Em junho de 2016, os dois decidiram prestar uma nova homenagem aos pequenos bonecos amarelos. “Vamos juntar uma data de artistas e pedir que cada um interprete um emoji e compilá-los num livro bonito”, pensaram na altura. Assim nasceu o Emoji Book, um projeto que pretende reunir em livro a interpretação de diferentes artistas do seu emoji favorito.
O motivo é óbvio: “os emojis estão por todo o lado” e são tão populares que “70% das pessoas diz que expressam os seus sentimentos de forma mais exata do que as palavras”. “Usamo-los para escrever mensagens, nos nossos emails. [O cantor e rapper canadiano] Drake tatuou as mãos do emoji a rezar no braço”, apontaram Charlie e Danni. “Podemos encomendar uma pizza do Domino’s mandando-lhes uma mensagem com um . Acho que os emojis são tão populares porque tornam a comunicação mais fácil.”
Foi por isso que a ideia do Emoji Book surgiu de forma tão natural. “Ficámos tão contentes com a ideia que falamos com alguns amigos para ver se teriam interesse em participar. Mandámos um pacote de dez emojis e pedimos-lhes para escolherem um. Pedimos-lhes para interpretarem o emoji como quisessem, utilizando o meio que os inspirasse”, contaram ao Observador.
O resultado não podia ter sido melhor e, desde então, o número de participações não parou de aumentar. Atualmente, contam com 123 obras artísticas — ilustrações, pinturas, peças 3D, esculturas de barro e até comida –, que podem ser consultadas no site do projeto. As favoritas de Charlie são aquelas “utilizam objetos físicos para recriar emojis“, como a de Hannah Rand, uma diretora de arte de São Francisco que utilizou para criar um padrão colorido. Pei Liew, um design gráfico da Califórnia, transformou o num cone de gelado a derreter, e Paige Money, uma animadora e designer sediada em Nova Iorque, fez do um ovo estrelado.
Para que o Emoji Book se torne uma realidade, Charlie e Danni vão lançar em janeiro de 2017 uma campanha de angariação de fundos. A data de lançamento estava inicialmente marcada para setembro de 2016, mas os dois viram-se obrigados a adiá-la. “As coisas demoraram muito mais tempo do que antecipamos e decidimos que, uma vez que não podíamos enviar o livro a tempo do Natal, devíamos esperar e começar a campanha em 2017.”
A língua do futuro?
Já muito foi dito sobre os emojis. Uns acreditam que é uma nova e entusiasmante forma de linguagem, outros acusam-nos de estarem a matar a linguagem tal como a conhecemos. Há até quem defenda que, no futuro, se podem vir a tornar numa nova língua. Mas será que isso poderá mesmo vir a acontecer? As opiniões dividem-se, mas Neil Cohn não parece convencido por esta teoria.
“Penso que a noção de que os emojis estão a desafiar de alguma forma a linguagem escrita é ridícula. A linguagem escrita não vai a lado nenhum”, afirmou. “Mas acho que os emojis se estão a tornar num acessório que complementa a linguagem escrita. Isto é perfeitamente natural, uma vez que a comunicação humana combina modalidades de expressão diferentes. Gesticulamos quando falamos, combinamos desenhos com palavras, como na banda desenhada e nos anúncios e… Em toda a parte.”
Tyler Schnoebelen parece estar de acordo. “Existe quase sempre um grupo de pessoas que prevêm a morte de uma língua. Mas as línguas mudam, isso é universal. A verdadeira morte é uma coisa terrível, mas isso acontece porque não existem pessoas, crianças, que falem a língua, geralmente por força do colonialismo, da globalização ou da opressão”, explicou. “Dito isto, não é muito provável que os emojis se tornem numa forma de linguagem. Eles ajudam-nos a expressar-nos quando as pessoas não conseguem ver a nossa cara ou ouvir as nossas vozes.”
Para Cohn, os emojis não têm (e provavelmente nunca terão) uma das principais características da linguagem — flexibilidade. “Como são digitais, sinais de uma expressão só, os emojis não funcionam da mesma forma que a linguagem visual” das bandas desenhadas, por exemplo. “Não têm partes que possam ser facilmente combinadas e não podem formar um cenário maior (não podemos pôr um emoji de uma pessoa dentro de um emoji de uma praia). Têm de ser usados dentro de uma sequência textual que não é natural num sistema gráfico. Os sistemas gráficos não precisam de uma sequência linear de uma pessoa e de uma praia para dizer que uma pessoa está numa praia — os sistemas gráficos mostram visualmente a pessoa dentro da praia.”
Apesar de os emojis não seguirem a sequência natural de um sistema gráfico, existem “regras que os utilizadores foram criando e que ditam a forma como os emojis devem ser utilizados. De acordo com Tyler Schnoebelen, existem mesmo “padrões precisos”. “A maioria das pessoas usa apenas um ou dois emojis de cada vez (quando usam vários, geralmente estão apenas a repetir um emoji”. Como em , porque um coração raramente vem sozinho. Por outro lado, quando surgem dois ou mais emojis diferentes, eles respeitam sempre a lógica da imagem e da ação no tempo e no espaço. Uma sequência simples como nunca apareceria , por exemplo, porque não faria sentido. Além disso, “as pessoas tendem a colocar caras antes de outras coisas”, como mostram estes exemplos da iniciativa #EmojiABook, que convidava os utilizadores do Twitter a transformarem títulos de livros conhecidos em emojis:
https://twitter.com/jrobertlennon/status/786199874370936833
https://twitter.com/manjulastokes/status/786190316978081792
????of a ???????????????? by Arthur Miller #EmojiaBook
— B&N Alpharetta (@BN_Alpharetta) July 18, 2016
Neil Cohn acredita que isto tem a ver com o simples facto de os emojis serem um sistema de comunicação. “É assim que os padrões se formam em todos os sistemas e, defendo, que isso é um resultado da sua adaptação à forma como os nossos cérebros processam a informação. Penso que as ‘regras’ usadas dependem parcialmente do nível da estrutura.” No caso dos emojis, não significa porém que os princípios usados tenham sido criados especificamente para eles. “Podem ser regras básicas cognitivas — princípios que já existem e que estão a ser adaptados para os emojis. Estamos a fazer alguns estudos para perceber isso”, adiantou o cientista.
Mas não é só a flexibilidade que falta aos pequenos bonecos coloridos. Uma das características fundamentais da língua é a sua capacidade de criação. Porque uma língua nunca está estagnada — está constantemente a mudar, a reinventar-se. Mas, com os emojis, isso não é possível, porque os falantes só podem usar as imagens que têm à sua disposição e não têm como criar novos emojis consoante as suas necessidades, como Jennifer 8. Lee gostava que acontecesse.
“Já existem sistemas gráficos que são como ‘línguas virtuais’ e que são muito mais complexos do que os emojis algum dia serão”, defendeu Cohn. “Estes sistemas são naturais, não foram criados e desenvolvidos artificialmente pelos seus utilizadores. Em contraste, os emojis são um vocabulário extremamente limitado desenhado por um órgão regulador — não pelos utilizadores — e são ítens extremamente constrangidos”. Porém, o norte-americano não descarta a possibilidade de os emojis serem úteis para a comunicação. Mas atenção: “Não são, nem nunca, serão uma língua”.
O início da história. O smiley de Scott F. Fahlman
Antes de os terem tomado conta do , era normal ver no final de uma mensagem um simples :-) ou :-(. Isso são tempos que já lá vão, mas estes emoticons (expresões faciais criadas a partir do teclado do computador ou telemóvel) estão na origem dos emojis. Os primeiros foram criados em 1982 pelo norte-americano Scott F. Fahlman, professor de ciência computacional na Universidade de Carnegie Mellon, na Pennsylvania, para colmatar uma falha na comunicação digital.
“Na altura, tínhamos uma espécie de rede social. Podíamos enviar mensagens para um fórum online a que toda a gente tinha acesso”, contou Fahlman, que trabalha na área da inteligência artificial, ao Observador em 2015. “Tínhamos diferentes fóruns, uns para assuntos sérios e um para discussão. No de discussão costumávamos ter ‘guerras acesas’ — ou seja, alguém dizia qualquer coisa a brincar e outra pessoa levava a mensagem a sério e ficava ofendida.”
Farto de discussões que nada tinham a ver “com o debate original”, Fahlman percebeu que era preciso arranjar uma forma de deixar bem claro qual era o tom da conversa. “Alguém deu a ideia de colocarmos um asterisco no “assunto” da mensagem, mas isso não era muito óbvio. E eu pensei que seria fantástico se pudéssemos pôr um pequeno smiley ou qualquer coisa do género.” A cara sorridente foi criada quase instantaneamente — “com um travessão e o parêntesis”.
O smiley tornou-se rapidamente popular entre os estudantes de Carnegie Mellon. Ele e o seu equivalente triste, o :-(. Como a universidade mantinha contacto com outros estabelecimentos de ensino norte-americanos, o :-) e o :-( chegaram “à costa oeste” em apenas “duas semanas”. Quando a internet começou a ficar acessível fora do circuito universitário, a criação do professor de ciência computacional espalhou-se pelos quatro cantos do mundo.
“As pessoas viam os smiley e pensavam ‘isto é fixe’, e começavam a usá-los também. Podíamos ver a sua utilização a crescer sempre que um novo grupo se juntava à rede. Depois juntou-se a Rússia e a China e, por fim, o resto do mundo”, num fenómeno que só se viria a repetir com a criação dos emojis nos anos 90. Apesar das semelhanças, Fahlman evita qualquer comparação entre estes e a sua invenção. “Acho que os gráficos — aqueles círculos amarelos sorridentes e tristes — são um bocado feios”, disse ao Observador. “Acho que são feios e que não são muito criativos. Simplesmente não gosto muito deles. Mas é óbvio que são aquilo que o mundo escolheu usar.”
O nascimento dos emojis
Os primeiros emojis foram criados pelo japonês Shiegetaka Kurita, em meados dos anos 90, como resposta a uma dificuldade de comunicação — tal como o smiley de Fahlman. Numa altura em que o email ia ganhando, a pouco e pouco, mais adeptos, os entraves impostos pela língua japonesa dificultavam a adesão em massa ao novo meio de comunicação. No Japão, as cartas são por norma longas e formais, e tirar palavras do contexto pode criar algumas confusões. “Se alguém disser apenas Wakarimashita, não sabes se estão a dizê-lo de uma forma calorosa e positiva ou negativa. Não sabes o que está na cabeça de quem escreveu a palavra”, exemplificou Kurita ao site The Verge, em 2013.
O que são "kaomoji"?
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Kaomoji são emoticons criados a partir dos teclados dos computadores ou dos telemóveis. Tornaram-se muito populares no Japão durante os anos 90, numa altura em que os pagers — chamados “campainhas de bolso” pelos japoneses — eram muito utilizados.
O termo kaomoji é a junção das palavras japonesas kao, que significa “cara”, e moji, “caracter”. Eis alguns exemplos:
¯\_(ツ)_/¯
(^-^)
(^-^✿)
Kurita, que trabalhava para a operadora japonesa Docomo, pensou que o melhor seria arranjar uma forma de ajudar a dar contexto às conversas, facilitando assim a troca de emails. “Pensámos que se tivéssemos algo como um emoji podíamos criar caras”, contou ao Verge. A ideia não lhe era de todo estranha. O japonês foi um dos responsáveis pela incorporação de um coração nos pagers — um meio de comunicação então muito popular no Japão — da Docomo. A experiência tinha corrido bem e Kurita achou que “seria possível” desenvolver a ideia e criar outros símbolos sem grandes dificuldades.
No Japão, já havia o hábito de trocar kaomoji (um tipo de emoticons mais elaborado), mas Shiegetaka Kurita queria uma solução mais simples e prática. Foi assim que, inspirado pela manga, pelos caracteres chineses e pelos sinais de trânsito, criou 176 símbolos (de 12 pixeis e a preto e branco) que expressavam de forma imediata pensamentos e emoções. Foram estas pequenas imagens que se tornaram na base de todos os emojis que lhes seguiram.
“Não podíamos simplesmente desenhar o que queríamos porque havia restrições técnicas”, contou Kurita ao The Guardian. “Os primeiros emojis a cores só apareceram em 1999, quando outras companhias de telemóveis do Japão começaram a desenhar as suas próprias versões, como as caras amarelas que vemos hoje.”
hey cool RT @Wireless_Watch Museum of Modern Art acquires original set of 176 emoji by Shigetaka Kurita https://t.co/pzMhWxfgNH
— Tomi T Ahonen Moved to Post, Spoutible & Mastodon (@tomiahonen) November 18, 2016
À semelhança do que aconteceu com Scott Fahlman, Kurita nunca pensou que a sua criação se tornasse tão popular. “Inicialmente, estávamos apenas a desenhar para o mercado japonês. Nunca pensei que o emoji se fosse espalhar e tornar-se popular internacionalmente. Estou surpreendido que se tenham espalhado pelo mundo inteiro”, disse ao Guardian. “São universais e, por isso, são ferramentas de comunicação úteis que transcendem a linguagem.”
Poderá Abraham Lincoln ser o pai dos emojis? Há quem diga que sim
Apesar de os emoticons se terem tornado populares nos anos 90, há quem acredite que são bem anteriores. Em 2009, a Proquest, uma empresa norte-americana de arquivos digitais, anunciou ter encontrado um smile numa transcrição de 1862 de um discurso de Abraham Lincoln.
A descoberta aconteceu em 2004, quando uma equipa da Proquest estava a trabalhar com edições antigas de jornais norte-americanos, como o The Los Angeles Times, The Wall Strett Journal ou o The Washington Post. Num artigo do The New York Times, de 7 de agosto de 1862, que incluía uma transcrição de um discurso do presidente Lincoln no Capitólio podia ler-se numa nas linhas: “não existe precedente para vocês estarem aqui (aplausos e risos ;)”.
Para a equipa, era óbvio: era um smile que ali estava. Ao The New York Times, Bryan Benilous, que trabalha para a Proquest, disse que a equipa sentiu que o ponto e vírgula estava ali para dar ênfase à palavra “risos” e que se travava de um emoticon. Os especialistas contactados pelo jornal não deram grande importância ao achado, defendendo tratar-se apenas de um erro de impressão. Os leitores do New York Times também não pareceram convencidos com as explicações de Benilous e da restante equipa. “Não sei o que é que vocês veem, mas a mim parece-me a Virgem Maria”, escreveu Gary R. nos comentários.