(Artigo atualizado ao longo do dia)
A arruada do PS em Coimbra tinha hora marcada para começar, cinco da tarde. No Largo da portagem, logo no início do percurso, um grupo de lesados do BES sabia já que vinham reforços de topo para ajudar Pedro Marques: António Costa, nem mais nem menos. Por isso, posicionaram-se para receber o secretário-geral do PS (e também primeiro-ministro) com um protesto. Mesmo antes de o líder socialista chegar, o ambiente já tinha começado a aquecer quando alguns militantes do partido se aproximaram do grupo de lesados — que não estava identificado enquanto tal sendo que alguns elementos tinham até camisolas e bandeiras do PS — e começaram alguns empurrões entre as duas partes.
Em ambiente de campanha os ânimos tendem a exaltar-se mais do que o costume, sobretudo quando está o chefe de governo presente, porque acabam por juntar-se sempre alguns protestos nacionais. Costa chegou aliás, acompanhado por sete seguranças do corpo de segurança do primeiro-ministro. A acompanhar a arruada estavam também elementos fardados da PSP e pelo menos um não fardado. Questionado pelos jornalistas sobre o aparato, o secretário-geral do PS respondeu apenas: “Tem de perguntar à PSP”.
Quando Costa saiu do carro, alguns dos manifestantes tentaram aproximar-se do primeiro-ministro para falarem da sua situação e rapidamente se instalou a confusão entre os militantes do Partido Socialista e os lesados. A polícia interveio, nessa altura, para afastar os manifestantes da iniciativa socialista que seguiu pela baixa de Coimbra. No vídeo captado pela reportagem do Observador, vê-se uma manifestante de bandeira na mão a ser afastada pelos agentes da PSP e a gritar: “Eu não estou aqui para fazer mal a ninguém, eu sou livre.” Mais à frente vê-se outro grupo de militantes numa discussão com elementos dos lesados do BES, também a ser separados pela polícia. No meio aparece também o diretor de campanha de Pedro Marques, João Azevedo, a aconselhar “calma”.
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Durante a arruada, dois dos elementos daquele grupo ainda conseguiram chegar junto de António Costa para exporem os seus argumentos, mas já sem encontrões. O primeiro-ministro respondeu-lhes com a solução a que aderiram a quase totalidade dos lesados do papel comercial ao fundo de recuperação de créditos nos balcões do Novo Banco. Depois, em declarações aos jornalistas, repetiu que houve “um processo de diálogo entre as associações de lesados do BES, com CMVM e Banco de Portugal e foi encontrada uma solução para 99% dos lesados. Se 99% aceita uma solução que procura mitigar o prejuízo sofrido e houve 1% que decidiu não aceitar, eu respeito. Há outras vias que estão abertas, agora quando 99% já aceitaram, eu diria que é uma maioria relativamente expressiva, é o mínimo que podemos dizer“.
Costa centrou todas as atenções (e reivindicações)
O incidente não chegou, no entanto, para estragar a festa socialista na arruada de Coimbra. António Costa e Pedro Marques seguiram, distribuindo rosas à população pelos lojistas e pessoas que passavam pela baixa de Coimbra. Embora também por causa da presença em força do corpo de segurança, a arruada tenha decorrido sempre de forma mais tensa, com um cordão de pelo menos quatro seguranças sempre muito próximos do primeiro-ministro que cruzava a rua de um lado ao outro, esquecendo-se mesmo que atrás dele ia o candidato do partido às Europeias.
António Costa foi claramente a estrela da ação pelo centro de Coimbra, Pedro Marques acabou remetido para uma posição secundária. A dinâmica foi quase sempre esta: Costa à frente a distribuir rosas às senhoras e a ser procurado para dois dedos de conversa, alguma reivindicação ou simplesmente para uma selfie e Pedro Marques a aparecer depois para apelar ao voto. “Por favor vá votar no dia 26“, dizia às pessoas o cabeça de lista do PS às Europeias.
Pelo caminho apanharam algumas críticas ao Governo: numa rua Costa apanhou professores, enfermeiros e ainda uma senhora com críticas sobre o menino dos olhos deste Governo, o passe único. O professor apareceu logo no início, a seguir aos empurrões dos lesados, para dizer a Costa com ironia que lhe estava “muito agradecido” e logo depois lhe atirar que não ia voltar nele, tal como os seus colegas. Mais adiante, à porta da farmácia, estava Maria da Luz para dizer ao líder socialista que já se tinha queixado à Câmara sobre o preço do transporte alternativo para o ramal da Lousã (o metrobus que Pedro Marques criou, enquanto ministro, por causa da extinção do projeto do metro do Mondego): são 73 euros, queixava-se a senhora a Costa.
O socialista respondia-lhe — e Pedro Marques também — que ainda está a ser negociada com algumas empresas de transporte a entrada no acordo para a redução do preço dos passes. A senhora mantinha a preocupação e António Costa perguntou-lhe onde lhe disseram para se dirigir: “Mandaram-me ir ter consigo”, respondeu Maria da Luz. “Está a ver, não foi ter comigo vim cá eu ter consigo”. E seguiu caminho deixando para trás o seu candidato, mais uma vez, a pedir: “Não se esqueça de ir votar”.
Já quase no fim da rua, Costa chegou junto de uma rapariga que se apresentou como “enfermeira açoriana” e pediu ao líder socialista atenção para o setor. O primeiro-ministro ainda brincou, dizendo que no sábado vai aos Açores: “Quer que leve alguma mensagem para lá?” A resposta saiu pronta: “Quero, que se lembrem dos profissionais de saúde”.
“Preso por ter secretário-geral e preso por não ter”
No final da arruada, Pedro Marques garantia que “a campanha está mesmo a correr bem, naturalmente não estão resolvidos todos os problemas do país, como na Europa”. Mas o cabeça de lista do PS garante que se sente bem recebido por todo o país somos “na justa medida em que as pessoas reconhecem que há bons resultados em Portugal e há uma boa alternativa para a Europa. O cabeça de lista do PS às Europeias diz que “quanto mais o tempo passa mais confiante” fica porque não está, como diz, a “fazer uma campanha de disparates, de dizer coisas, de inventar coisas, estamos a fazer uma campanha a discutir emprego, a discutir o interior, os apoios europeus e as pessoas reconhecem isso”.
Ainda atacou Paulo Rangel por acusa das referências do social-democrata à postura do PS na altura da polémica com Jeroen Dijsselbloem e em como não teriam defendido Portugal. “É absolutamente extraordinário, agora já não é só dizerem coisas, é inventarem coisas”, disse o candidato do PS. “A campanha do PSD, quanto pior as coisas lhe correm, mais inventam”, disse garantindo que o Governo interveio.
A arruada foi o ponto forte deste dia, em que António Costa voltou a aparecer para “dar uma mãozinha” como “militante”, disse aos jornalistas: “Sempre que seja preciso vir dar cá uma mãozinha eu estou cá como militante”. Pedro Marques, questionado sobre a sombra que Costa fazia a uma campanha disse que “é um bocadinho como aquela história do preso por ter cão e preso por não ter. Aqui é preso por ter secretário-geral e preso por não ter. Se não tem secretário-geral é porque anda a fazer campanha sozinho, se tem secretário-geral é porque o secretário-geral veio. Não valorizo nada disso. É claro que os líderes dos partidos estão envolvidos sempre que podem , mas aqui está o PS”, garantiu.
A “magia do João” e a digitalização na Europa num almoço rápido em Lisboa
Antes de tudo isto, o dia de campanha começou de forma bem mais calma, e a vários quilómetros de distância. Quando Pedro Marques apareceu no Jardim de Inverno do Teatro São Luiz, em Lisboa, o buffet de sanduíches, wraps e molhos em recipientes recicláveis eram a principal atração. “Não comem nada?”, era a questão recorrente do cabeça de lista aos vários empreendedores que se encontravam por lá. Para dar o exemplo, pouco tempo depois, já andava o candidato de wrap e sumo na mão. Comida rápida, e 20 minutos depois: “Vamos começar?”.
Marques arranjou o colarinho da camisa, tirou o casaco e dirigiu-se para a parte da frente da sala onde estava instalado um palco para falar. Mas não chegou a subir e preferiu abrir o debate ainda na zona da mesas. Entre empreendedores de startups, começou com uma homenagem a João Vasconcelos, antigo secretário de Estado da Indústria e o primeiro diretor da Startup Lisboa que morreu em março deste ano. “Este evento começou com um almoço com o João há três meses”, revelou.
“Para muitos de nós, para muitos de vós foi uma referência nesta capacidade de ligar o ecossistema dos empreendedores com a política pública”, explicou o socialista. Nas suas palavras, esta foi “a magia do João”: “Conseguiu ligar pessoas que normalmente estavam mais habituados àquela ideia de ‘leave me alone’ e depois percebemos todos juntos que conseguíamos fazer mais, que conseguíamos de facto aproximar o ecossistema do empreendedorismo”.
E depois avançou para o tema escolhido para esta manhã rápida em Lisboa: a digitalização e o lugar da Europa nesta área, sobretudo quando Estados Unidos e China têm vindo a exercer a liderança. “Onde é que a Europa quer estar?” questionou para, de seguida, dar duas hipóteses: “Assumir um papel de liderança mundial, ou, pelo contrário, tornar-se seguidora dos Estados Unidos e China”. Esta foi, aliás, uma das questões mais colocadas nas intervenções dos fundadores de startups presentes, uma vez que vários consideram que um dos principais problemas reside no facto de o empreendedorismo na Europa, ao contrário dos EUA e da China, não ser uniformizado, mas sim obedecer a legislação diferente em cada nação. É, segundo um dos empreendedores, a falta do pensamento de uma “Europa como uma marca”.
Mas se o candidato socialista elegeu esta como uma questão fundamental para o futuro da Europa, não deixou de alertar para a necessidade de se fazer uma “digitalização inclusiva”: “É um desafio muito grande promover essa digitalização mas, ao mesmo tempo, fazê-lo num modo inclusivo”, rematou, destacando ainda o “buzz” do empreendedorismo e um “ecossistema vibrante” em Portugal.
Sendo este evento um debate, Pedro Marques ouviu depois os fundadores de startups a discutir problemas como a falta de investimento e as dificuldades que uma empresa sofre logo no início da sua atividade. A meio da conversa, o socialista pareceu satisfeito: “Esta conversa está mesmo a valer a pena. Vamos beber isto tudo e levar para Bruxelas”, garantiu.
No almoço em Lisboa, Pedro Marques esteve acompanhado por outros elementos da lista, como Maria Manuela Leitão Marques (número dois) e Margarida Marques (número quatro), e também pela secretária-geral adjunta do PS, Ana Catarina Mendes.O candidato e a restante comitiva do PS seguiram depois para Coimbra, onde está agendada uma arruada.