“Um ataque destes não podia ficar sem resposta.” Vladimir Putin não escondeu a frustração com o facto de a ponte de Kerch — que liga a Crimeia à Rússia — ter sido parcialmente destruída pelas forças ucranianas. Na manhã desta segunda-feira, o chefe de Estado acusou a Ucrânia de ser um “Estado terrorista”, que se equiparou às “formações terroristas internacionais, aos grupos mais odiosos”.
Ao mesmo tempo, assumiu a retaliação: “Com base numa proposta do Ministério da Defesa, foram desencadeados ataques massivos com armas de alta precisão conduzidos a alvos do setor energético, militar e de comunicações”, revelou, antes de se reunir com os ministros no Conselho de Segurança e depois de o comité de investigação ligado a Moscovo ter reportado que a “Ucrânia levou a cabo um ataque terrorista destinado a atingir infraestruturas civis da Rússia”.
Após o anúncio daquilo que acabou por ser uma vingança, Putin elevou o tom e deixou novas ameaças: novos ataques semelhantes terão “uma resposta muito dura e intensa”. “Se estes ataques continuarem, serão na mesma intensidade”, garantiu.
Do outro lado, o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmytro Kubela, rejeitou a ideia de que Vladimir Putin tenha sido “provocado” por aquilo que aconteceu com a ponte de Kerch: “A Rússia atacou constantemente a Ucrânia com mísseis antes da ponte”. Na sua conta pessoal no Twitter, o chefe da diplomacia de Kiev preferiu apontar para a tese de que o Presidente russo “está desesperado por causa das derrotas no campo de batalha e usa os mísseis para tentar mudar a direção da guerra a seu favor”.
No, Putin was not “provoked” to unleash missile terror by “Crimea Bridge”. Russia had been constantly hitting Ukraine with missiles before the bridge, too. Putin is desperate because of battlefield defeats and uses missile terror to try to change the pace of war in his favor 1/2
— Dmytro Kuleba (@DmytroKuleba) October 10, 2022
Durante a manhã, várias cidades ucranianas estiveram sob ataque: Kiev, Lviv, Dnipro, Zhytomyr, Zaporíjia e Mykolaiv. No total, de acordo com a Ucrânia, a Rússia disparou 83 mísseis, 43 dos quais acabaram por ser intercetados pelos sistemas de defesa aérea. Além disso, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, indicou que alguns dos drones usados eram kamizake e tinham origem iraniana.
Os ataques a Kiev, que não já não era alvo dos mísseis russos desde o final de junho, foram os de maior escala. Os bombardeamentos ocorreram em zonas residenciais e numa hora de grande movimento de pessoas, sobretudo tendo em conta que os residentes gozavam já de numa aparente normalidade pré-guerra. De acordo com as autoridades ucranianas, pelo menos dez pessoas morreram e 60 ficaram feridas.
Noutro ato de retaliação em resposta ao que aconteceu na Crimeia, a Rússia tentou destruir a Ponte de Vidro, localizada no centro da capital ucraniana. O míssil, contudo, falhou o alvo e acabou por não danificar a infraestrutura, que se manteve intacta.
Pathetic Russians attack on the glass bridge in Kyiv. They missed. The bridge is standing. Cannot say the same about Crimean Bridge pic.twitter.com/0KmsLv3EXP
— Alexander Khrebet (@AlexKhrebet) October 10, 2022
Minutos depois dos ataques, o Presidente da Ucrânia recomendou que os residentes das cidades atacadas “não deixassem os abrigos”. Aproveitando também para condenar a Rússia, Volodymyr Zelensky afirmou que “no dia 229 de guerra, [os russos] estão a tentar destruir [os ucranianos] e tirá-los da face da Terra”. “Estão a destruir as pessoas que estão a dormir em casa em Zaporíjia. A matar pessoas que vão trabalhar em Dnipro e Kiev.”
A RIA, agência de notícias russa, avançou que perto do gabinete do chefe de Estado ucraniano tinha caído um míssil, informação que nunca foi confirmada pela Ucrânia. Mais tarde (e talvez para desfazer as dúvidas), Volodymyr Zelensky divulgou um vídeo, em que admitiu que a manhã estava “a ser difícil”, já que a Ucrânia estava a “lidar com terroristas”.
Nesse vídeo, o chefe de Estado da Ucrânia garantiu que a Rússia tinha dois alvos. O primeiro seriam instalações relacionadas com o setor energético em todo o país: “Eles querem criar o pânico e o caos. Querem destruir o nosso sistema elétrico.” Adicionalmente, Zelensky apontou que o outro dos alvos das forças russas eram “as pessoas”. “O timing e estes alvos foram especialmente escolhidos para causar o máximo de dano possível”, denunciou.
A surpresa de Lukashenko (que diz que Zelensky quer invadir a Bielorrússia)
No rescaldo dos ataques à Ucrânia, surgiu uma novidade da parte do Presidente bielorrusso. Alexander Lukashenko divulgou que chegara a acordo com o seu homólogo russo para criar uma força conjunta militar com a Rússia. “Devido ao agravamento da situação nas fronteiras ocidentais da União, concordámos em destacar um agrupamento regional da Federação Russa e da República da Bielorrússia.”
“Devo informar-vos de que a formação deste grupo já começou. Está a decorrer há, penso eu, dois dias. Dei uma ordem para começar a formar este grupo”, afirmou o líder bielorrusso, que também sinalizou que a Rússia participará na força conjunta com apenas cerca de mil efetivos, porque “já tem problemas suficientes”. “Por favor, preparem-se para acolher estas pessoas em breve e acomodá-las onde for necessário, de acordo com o nosso plano”, ordenou aos responsáveis pela Defesa do país.
Na origem desta nova força militar está a alegada convicção de Alexander Lukashenko de que a Ucrânia se prepara para atacar a Bielorrússia: “Será idêntico ao que aconteceu na ponte da Crimeia”.
“A minha resposta foi simples: diga a Zelensky e aos outros insanos que a Ponte da Crimeia será o fim da linha para eles se tocarem num único metro do nosso território com as suas mãos sujas”, ameaçou o chefe de Estado bielorrusso, citado pela agência de notícias Belta, destacando também que a NATO se prepara para o mesmo objetivo.