Vencedores

Rui Rio

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Se alguém ainda tinha dúvidas — e uns, como Luís Montenegro e Hugo Soares, pelos vistos tinham — elas dissiparam-se este fim de semana de forma clara e definitiva: o PSD é, agora, o partido de Rui Rio. E a sua estratégia é clara: disputar votos ao centro, tirando os eleitores moderados ao PS; deixar os votantes de direita para CDS, Iniciativa Liberal e Chega; e, depois das eleições, colocar-se à frente dessa geringonça não socialista. Além disso, que já se sabia, Rio insistiu no discurso final com um pedido de pactos de regime com o PS para reformar o sistema político e a justiça. É mais do menos? Sim, é — mas a verdade é que, mesmo com a pesada derrota nas legislativas, os militantes do PSD acabam de reeleger Rui Rio. E ele nunca escondeu ao que vinha.

André Coelho Lima

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André quem? Provavelmente, fora do PSD e do mundo da política pouca gente o conhece a não ser que esteja num raio de 100 quilómetros da estátua de Afonso Henriques. Coelho Lima só é deputado desde outubro, só chegou a um cargo de direção nacional (e ainda assim como vogal) há dois anos e como político acumula derrotas autárquicas na sua terra: Guimarães. Apesar de tudo isto, esteve sempre ao lado de Rui Rio e, pela lealdade ao líder, foi recompensado. Qual conquistador, há meio ano começou a conquistar terreno a sul: primeiro foi eleito no Parlamento — onde chegou após ser cabeça de lista em Braga –, apesar de inexperiente foi logo falado para líder parlamentar e chega agora à São Caetano como vice-presidente. O cerco a Lisboa deu resultados.

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Paulo Rangel

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Nas vésperas do Congresso já circulava por todo o lado a informação de que era muito provável que Rui Rio voltasse a querer Paulo Rangel no Conselho Nacional. E assim foi. Não é que o eurodeputado precisasse desse lugar, porque se não entrasse naquele órgão pela via direta do líder do partido tinha assento na mesma, por inerência, na qualidade de eurodeputado. Mas foi um sinal político de Rio que, mesmo depois do desaire eleitoral das europeias, não deixa cair o eurodeputado. A lista de Rio, encabeçada por Rangel, foi vencedora (com 249 votos e 21 conselheiros eleitos), apesar de as listas dos críticos também terem tido uma boa prestação e prepararem-se para dar luta no parlamento do partido. Rangel sai do Congresso com pose de peso pesado do partido, tendo feito um dos discursos mais aplaudidos da noite de sábado, com críticas a Costa, recados sobre a necessidade de referendar a eutanásia e um presságio galvanizador para Rio: será primeiro-ministro “mais cedo do que tarde”. O Congresso aplaudiu.

Paulo Colaço

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Paulo Colaço estava confiante que à décima seria de vez. E foi. Com um trabalho de formiga junto dos delegados, o novo presidente do Conselho de Jurisdição Nacional (CJN) teve pela primeira vez a recompensa da coerência. Colaço tinha apoiado Rui Rio nas últimas diretas, mas quando, como membro do CJN, discordou juridicamente da interpretação do líder na tentativa de impeachment ao líder, foi colocado de lado. Paulo Mota Pinto ignorou-o e, perante a falta de apoio de Nunes Liberato, demitiu-se. Desde então afastou-se de Rio e, já durante o Congresso, foi destratado e atirado para as calendas pelo presidente da Mesa, falando só às duas da manhã. Foi vítima de bullying político no sábado à noite, para ser o mais ovacionado (e com aclamação) no domingo à hora de almoço.

Vencidos

Elina Fraga

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No último congresso, há dois anos, ouviram-se vaias quando o seu nome foi anunciado como uma das novas vice-presidentes do PSD. Rui Rio terá percebido aí que tinha feito um colossal erro de casting ao escolher para a direção a ex-bastonária da Ordem dos Advogados que anos antes tinha apresentado uma queixa-crime contra todos os ministros do Governo de Passos Coelho.

A partir daí, Fraga pouco mais foi que figurante, quase sempre em silêncio ao longo dos últimos dois anos, quase sempre afastada dos olhares públicos. À sua maneira, Rio recusou ceder e nunca a substituiu durante o mandato, embora tenha escolhido outra porta-voz para a área da justiça, Mónica Quintela. Neste congresso, essa era das poucas certezas à partida: Elina Fraga terminaria sem glória uma curta e discreta passagem pela política e, de facto, foi mandada embora com o sempre cordial “foi a seu pedido”. Para o seu lugar, o líder do PSD escolheu outra mulher, Isaura Morais. Recém-chegada ao Parlamento, a ex-presidente da Câmara de Rio Maior é pouco conhecida e isso tem uma vantagem óbvia, em comparação: não tem anti-corpos.

Luís Montenegro

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É uma ilusão muito comum em políticos derrotados: Luís Montenegro teve 47% nas eleições internas e, naquela zona do cérebro onde se juntam o desespero e a fantasia, convenceu-se que é dono, senhor e mestre desses votos. Com o absurdo desejo de guardar estes 47% do partido num congelador para uso futuro, Luís Montenegro decidiu manter a contestação a Rio apesar de, num tempo recorde, ter sofrido duas pesadas derrotas contra o líder. Neste fim de semana, primeiro organizou um almoço à porta fechada com largas dezenas de apoiantes, num restaurante a escassos três quilómetros do Congresso, como se estivesse a organizar as tropas para um assalto ao castelo. Depois, fez avançar o fiel Hugo Soares, que se entregou ao supremo sacrifício de ouvir os primeiros assobios. No fim, avançou ele mesmo e fez o pleno: ouviu apupos, ouviu gritos da assistência — como “Uhhh” e “Chega!” —, ouviu o presidente do Congresso a exigir-lhe que se despachasse e, no final, ouviu ainda uma música por cima da sua voz, como aqueles vencedores dos Óscares que não acabam os agradecimentos no tempo combinado. Montenegro é um homem que conhece bem o partido mas, neste Congresso, não percebeu nada do que se passa no partido. Estava pronto para a guerra, quando a maioria só queria, finalmente, a paz.

Hugo Soares

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Num Congresso que seria sempre difícil para os críticos, o papel que coube a Hugo Soares era particularmente ingrato. Não tendo sido ele o principal rosto da oposição interna a Rio, foi sempre uma espécie de porta-voz não oficial (para além de braço direito de Montenegro). E quando Montenegro praticamente se remeteu ao silêncio nas declarações aos jornalistas, era Soares quem falava em nome dos críticos derrotados, depois das primárias e de dois anos de oposição que não deram frutos. Não era o rosto, mas era a voz. E, no palco do Congresso, o homem que chegou a ser líder parlamentar do PSD ouviu a maior vaia de todas quando repetiu o argumentário de que está na altura de os sociais-democratas deixarem de ser “socialistas de segunda”. “Música para os meus ouvidos”, disse Hugo Soares. É um trunfo, este de saber tirar o melhor de um momento mau. Foi isso que fez também há meses, quando disse sentir-se medalhado assim que se soube que o seu nome tinha sido o único a ser vetado por Rio para as legislativas. Ainda assim, uma derrota é uma derrota. O sabor amargo pode disfarçar-se, mas demora a passar.

Miguel Pinto Luz

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O candidato que ficou em terceiro lugar nas eleições internas chegou ao Congresso com três objetivos. O primeiro foi mostrar uma medalha: lembrou que teve a coragem de ir a jogo (“Fui lá, estive lá, disse presente”), ao contrário dos “senadores” que ficaram na “reserva”. O segundo objetivo de Miguel Pinto Luz foi mostrar uma folha de bom comportamento: ao contrário dos homens de Montenegro, aceitou a vitória de Rio e garantiu que não quer “guerras”, apesar de exigir ao líder a meta impossível de vencer as autárquicas. O terceiro objetivo foi registar uma marca: pediu ao líder que dê oportunidade a “novas caras” e apresentou-se, mais uma vez, como o “futuro”. Mas, para conseguir ser o “futuro”, convinha que Miguel Pinto Luz conseguisse, pelo menos, manter o partido acordado. Acontece, porém, que, enquanto estava a discursar, os militantes comportaram-se como se alguém tivesse dissolvido um ansiolítico na água que era servida aos congressistas.

Fernando Negrão

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Há quem tenha nascido para acumular maus resultados. Fernando Negrão é um desses casos e já deve estar habituado a figurar nas listas de derrotados. Afinal, estamos a falar do homem que foi candidato Lisboa nas intercalares de 2007 e perdeu por muitos. Antes, tinha sido candidato à Câmara de Setúbal e perdeu. Foi candidato a Presidente da Assembleia da República contra Ferro Rodrigues e perdeu. E até as vitórias souberam a derrota, como quando foi eleito para a liderança da bancada parlamentar do PSD com apenas 35 votos a favor em 88 votantes. Era o tempo da guerra fria entre os deputados afetos a Passos e o então novo líder do PSD, Rui Rio. Negrão deu o corpo às balas e o agora presidente do partido quis compensá-lo dando-lhe o primeiro lugar na lista ao “tribunal” do PSD. Foi a votos. Voltou a perder. E desta vez parece ter perdido mal: não subiu ao palco e abandonou o Congresso sem sequer ter tomado posse.