2019
Previsões insólitas, mas não impossíveis
Esta é a 11ª edição anual das “Outrageous Predictions” publicada pela equipa liderada por Steen Jakobsen, “chief investment officer” do influente banco dinamarquês Saxo Bank. Não se trata de previsões oficiais do Saxo mas, sim, de hipóteses que “caso acontecessem, enviariam ondas de choque por todas as economias”.
HUGO AMARAL/OBSERVADOR
2019
Steen Jakobsen lidera a equipa que faz o estudo
O CIO do Saxo é um dos rostos mais bem conhecidos da finança europeia, com presenças regulares nos principais canais televisivos, como a Bloomberg e a CNBC. Veio a Lisboa em outubro e deu mais uma entrevista ao Observador, onde defendeu que “Portugal devia ter vergonha de não ser um país de topo mundial”.
EDGAR CAETANO/OBSERVADOR
2019
Mais uma vez, Saxo acertou no rumo da “bitcoin”
Se em 2017 as “Outrageous Predictions” tinham acertado na hipótese de a “bitcoin” e outras criptomoedas terem um ano fulgurante, em antecipação a 2018 o relatório apostava que vinha aí a ruína. E veio mesmo: a moeda tocou os $16.665 em janeiro, mas caiu quase 70% — para $5.300. Aqui estão as previsões para 2019.
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Trump para o líder da Fed: “Estás despedido”
“Num mundo que tem Trump como presidente dos EUA, os acontecimentos insólitos são algo que faz parte do dia-a-dia”, mas um dos maiores riscos para as bolsas é que Trump use a sua famosa frase “You’re Fired” (“estás despedido”) contra o presidente do banco central que ele próprio nomeou: Jerome Powell.
SHAWN THEW/EPA
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Trump para o líder da Fed: “Estás despedido”
Na campanha presidencial, Trump criticou a Fed por manter os juros demasiado baixos (para favorecer os democratas) mas, uma vez eleito (e depois do afastamento de Yellen), Trump passou a dizer-se “muito dececionado” com o ritmo – demasiado rápido, na sua opinião – com que a Fed tem vindo a subir as taxas de juro.
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Trump para o líder da Fed: “Estás despedido”
Se a Fed continuar a subir os juros e houver um período de instabilidade na bolsa, um “irado presidente Trump poderá afastar Powell e nomear, para o seu lugar, Neel Kashkari”, visto como um dos maiores defensores dos juros baixos dentro da Fed e que ajudaria Trump a financiar os planos de investimento público.
MICHAEL REYNOLDS/EPA
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General Electric falida… e Netflix fica em apuros
O fim das taxas de juro zero já tem abalado uma das maiores empresas industriais dos EUA, a “gigante” General Electric, que está a sentir na pele os juros mais altos quando tenta renovar a dívida antiga. O Saxo teme que a empresa possa pedir proteção contra credores e “passar à História”.
URS FLUEELER/EPA
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General Electric falida… e Netflix fica em apuros
A confirmar-se, “esse evento enviaria ondas de choque por todos os mercados de dívida”, avisa o Saxo. Subitamente, os investidores podem começar a olhar com outros olhos para as empresas que operam com elevados níveis de endividamento, com a promessa de lucros ainda maiores no futuro. Um exemplo? A Netflix.
Ethan Miller/Getty Images
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General Electric falida… e Netflix fica em apuros
“Os custos de financiamento duplicam, travando a produção de conteúdos e esventrando a ação”, receia um analista do Saxo, em alusão à Netflix. Pode gerar-se uma “reação negativa em cadeia” nas bolsas, potencialmente desencadeando o que o analista arrisca que poderá ficar na História como uma “terça-feira negra”.
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Órfã de Merkel, Alemanha em recessão (e a indústria auto não ajuda)
Tudo indica que Merkel não irá tentar um novo mandato como chanceler alemã, “o que irá criar uma luta pelo poder na política alemã numa altura em que o país precisa de estabilidade e de encetar uma transformação enorme” na economia, que está a precisar de uma boa dose de modernização para continuar competitiva.
HAYOUNG JEON/EPA
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Órfã de Merkel, Alemanha em recessão (e a indústria auto não ajuda)
A “jóia da coroa” da economia alemã – o fabrico de automóveis – é um dos setores onde a Alemanha está, diz o Saxo, a ficar para trás de outros produtores, como os chineses, em matérias como a conversão para os veículos elétricos e a utilização de “big data” para integrar novas tecnologias no automóvel do futuro.
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Órfã de Merkel, Alemanha em recessão (e a indústria auto não ajuda)
Mas os problemas da economia alemã vão muito além da falta de modernização. “2019 será o ano em que o movimento anti-globalização atingirá o auge”, ou seja, é o fim desta e de outras tendências que têm beneficiado a Alemanha desde os anos 80. “Vemos uma recessão a chegar, talvez no terceiro trimestre de 2019”.
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Apple e Tesla dão, finalmente, o nó em 2019?
Esta é uma ideia antiga, um casamento que há anos parece fazer tanto sentido que… ainda não aconteceu. Mas 2019 pode ser o ano, diz o Saxo, porque é cada vez mais claro que a Apple não pode continuar a contar com os smartphones para crescer. E está a perder-se a aura de inovação que havia no tempo de Steve Jobs.
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Apple e Tesla dão, finalmente, o nó em 2019?
“Steve Jobs sempre disse que uma empresa deve apostar sem medos, para evitar a complacência e a irrelevância”, lembra o Saxo. Por outro lado, a Apple está sentada em cima de um “monte de dinheiro” de 237 mil milhões de dólares. Por uma fração disso, a Apple pode ter acesso aos “sonhos mais arrojados” de Elon Musk.
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Apple e Tesla dão, finalmente, o nó em 2019?
Musk teve um ano difícil. O pior momento veio quando escreveu no Twitter que tinha “assegurado financiamento” para tirar a Tesla da bolsa, um “tweet” que o meteu em sarilhos com a justiça. Mas a Apple poderá pagar 520 dólares/ação – um prémio de 40% face ao valor atual e mais 100 dólares do que o “tweet” indicava.
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Europa anuncia, finalmente, um “júbilo” na dívida
O discurso oficial na Europa é que “a crise terminou”, mas 2019 pode ser o ano em que todos vão perceber até que ponto esse otimismo se deveu à acumulação de dívida e aos controversos programas de intervenção pelos bancos centrais, designadamente pelo BCE, que está lentamente a retirar os estímulos.
JULIEN WARNAND/EPA
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Europa anuncia, finalmente, um “júbilo” na dívida
Com a intervenção menor (embora não nula) do BCE, os “níveis insustentáveis de dívida pública”, a “revolta populista”, o crescimento mais fraco e o impasse em Itália, os responsáveis europeus vão ver o contágio a começar a chamuscar a França e, aí, vão perceber que “a UE está à beira do abismo”.
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Europa anuncia, finalmente, um “júbilo” na dívida
A solução inevitável, diz o Saxo, é um grande perdão de dívida e o início de uma nova era marcada pela mutualização parcial da dívida, uma revisão dos pressupostos do Plano de Estabilidade e Crescimento e a introdução de uma nova regra em que os primeiros 3% de défice público são mutualizados já a partir de 2020.
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Corbyn primeiro-ministro. E a libra vai por aí abaixo
Theresa May vai perder “a última das suas nove vidas”, com o chumbo do acordo com Bruxelas. Resultado: eleições antecipadas a poucas semanas do prazo para a saída da UE – 29 de março (que deverá ser adiado, diz o Saxo). Com o partido conservador dividido ao meio, trabalhistas terão “vitória retumbante”.
STEPHANIE LECOCQ/EPA
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Corbyn primeiro-ministro. E a libra vai por aí abaixo
O veterano parlamentar Jeremy Corbyn torna-se primeiro-ministro, com um programa de nacionalizações e de aumento de impostos sobre os mais ricos. Um rendimento básico universal deverá ser outra das propostas que farão o défice disparar para 5% do PIB, a inflação acelerar e o investimento empresarial estagnar.
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Corbyn primeiro-ministro. E a libra vai por aí abaixo
Quanto ao Brexit, o processo fica suspenso, até nova ordem, admite o Saxo. “Os estrangeiros abastados vão fugir, levando a sua riqueza com eles”, o que vai contribuir para levar a libra esterlina até à paridade em relação ao dólar (hoje vale 1,28), pela primeira vez na História, e para valer menos do que o euro.
WILL OLIVER/EPA
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“Bolha” imobiliária na Austrália rebenta de forma “catastrófica”
Noutro país de língua inglesa, 2019 arrisca, também, ser um ano caótico: a Austrália. O Saxo Bank receia que no próximo ano a “bolha” imobiliária, alimentada por acumulação de dívida, rebente de forma “catastrófica”. Os preços das casas subiram mais de 6.500% desde 1961 e não corrigiram com a crise global.
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“Bolha” imobiliária na Austrália rebenta de forma “catastrófica”
“Em 2019, fecham-se as cortinas nos excessos cometidos no financiamento da compra de propriedades”, antecipa o Saxo Bank, receando que a torneira do crédito se aperte e seja ativado o ciclo vicioso de menos crédito -> menos atividade económica -> menos receita fiscal. Os preços das casas podem cair cerca de 50%.
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“Bolha” imobiliária na Austrália rebenta de forma “catastrófica”
Nesse cenário, uma recessão é quase uma certeza – e será a primeira em 27 anos. Os bancos vão dar por si carregados de crédito malparado e ativos sobrevalorizados. O resultado prático é que, para salvar a estabilidade financeira, o governo e o banco central vão ter de intervir para salvar os “gigantes” bancários.
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O Sol, fonte de toda a vida, causa o caos na Terra
Todos os riscos anteriores podem, contudo, parecer de mínima importância quando comparados com o caos global que pode verificar-se se o planeta Terra não voltar a “ter a sorte que teve no verão de 2012”, quando evitou, por pouco, uma das perigosas erupções solares.
NASA/SDO/HANDOUT/EPA
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O Sol, fonte de toda a vida, causa o caos na Terra
São conhecidas como “Ejeções de Massa Coronal” (ou CME, na sigla anglo-saxónica), e são grandes erupções de gás ionizado a alta temperatura. Sim, porque “toda a vida que existe na Terra deve-se à energia solar mas o Sol não é sempre uma bola serena e benévola de hidrogénio em chamas”, afirma um analista do Saxo.
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O Sol, fonte de toda a vida, causa o caos na Terra
“Em 2019, quando se deverá iniciar o 25º ciclo solar, a Terra pode não voltar a ter a mesma sorte e uma tempestade solar pode atingir o hemisfério ocidental, lançando um caos inédito nas viagens em terra e no ar”, teme o Saxo. Um estudo encomendado pelo Lloyds calcula os custos em mais de dois biliões.
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Caos climático leva a criação de Imposto Global sobre os Transportes
Mesmo que a Astronomia não nos pregue uma partida tão grave, a Meteorologia poderá dar-nos razões suficientes para ter um ano marcado por incerteza grave, sobretudo porque poderá acelerar os consensos políticos no sentido de lançar um imposto global nos transportes.
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Caos climático leva a criação de Imposto Global sobre os Transportes
“Mais um ano de clima instável, com a Europa a sofrer com mais um verão extremamente quente” pode colocar os políticos sob pressão para reduzir os benefícios fiscais que são dados ao setor dos transportes e aumentar as tarifas associadas à pegada carbónica, o que fará subir os preços do transporte aéreo e naval.
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Caos climático leva a criação de Imposto Global sobre os Transportes
A China e os EUA têm resistido a agravar as taxas sobre o transporte aéreo, mas “a China pode mudar de posição, com base numa maior prioridade dada ao combate contra a poluição”. Já os EUA, de forma “relutante”, acabarão por juntar-se a esta iniciativa, complicando muito a vida do setor do turismo e do transporte.
WU HONG/EPA
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PIB deixa de ser “fetiche”. Produtividade torna-se rei
2019 será o ano em que os governos e organismos mundiais vão abandonar o “fetiche” que tem sido a leitura do Produto Interno Bruto (PIB) enquanto referência primordial para definir toda a política económica. E tudo pode começar, diz o Saxo, nos encontros de primavera do FMI e do Banco Mundial.
MADE NAGI/EPA
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PIB deixa de ser “fetiche”. Produtividade torna-se rei
Os economistas-chefes do FMI e do Banco Mundial podem tomar uma decisão inesperada mas com implicações vastíssimas: deixar de medir o PIB, por ser um indicador que não representa adequadamente o progresso civilizacional e outros fatores, como a proteção do meio-ambiente e da vida familiar.
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PIB deixa de ser “fetiche”. Produtividade torna-se rei
Nesse contexto, passará a ser “rei” o tantas vezes incompreendido conceito de “produtividade”, que mede a riqueza produzida por cada trabalhador, por hora trabalhada. A História económica mostra que esse é o grande propulsor de melhoria de qualidade de vida nas sociedades e da felicidade, a prazo.