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Liberais votam este domingo para escolher sucessor de Cotrim. Rui Rocha, Carla Castro e José Cardoso passaram o dia a trocar ataques
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Liberais votam este domingo para escolher sucessor de Cotrim. Rui Rocha, Carla Castro e José Cardoso passaram o dia a trocar ataques

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Liberais votam este domingo para escolher sucessor de Cotrim. Rui Rocha, Carla Castro e José Cardoso passaram o dia a trocar ataques

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Apupos, "carneirada", "ignorantes" e "paus mandados". O dia em que as fraturas na IL ficaram expostas

Na convenção de Lisboa, fações dos liberais entraram em guerra aberta. Foram horas de acusações, discussão virada para dentro e até insultos. Carla Castro foi mais aplaudida mas barómetro pode enganar

Estava quase na hora de jantar quando Tiago Mayan Gonçalves, que foi candidato à Presidência da República e é agora apoiante de Carla Castro, subiu ao palco da convenção da Iniciativa Liberal para discursar. Virou-se para trás e, enquanto fazia agradecimentos, dirigiu-se ao líder cessante do partido, João Cotrim Figueiredo. Os microfones apanharam a resposta sarcástica de Cotrim: “[Agradece] ao Comité Central”. Ficava registado o episódio de fricção entre duas fações em confronto — um dos muitos que mostraram este sábado a tensão que se vive no partido, com fraturas expostas que deixam antever um day after difícil para quem tomar as rédeas a partir deste domingo.

A farpa de Cotrim surgia no seguimento de mais um caso de campanha — Mayan comparou, em entrevista ao Observador, o “paradigma” de liderança de Cotrim ao dos partidos comunistas — e ilustra uma das maiores razões de embate entre os principais adversários: se a lista de Rui Rocha, apoiado por Cotrim, é a solução de continuidade, a equipa de Carla Castro promete trazer rutura e romper com práticas que diz serem muito centralizadas e até “autocráticas” no partido (promessas semelhantes às que também faz o candidato menos conhecido, José Cardoso).

Já na reta final da noite, os candidatos acabariam a protagonizar, eles próprios, uma situação caricata: uma espécie de momento de declarações finais em que se foram sucedendo, várias vezes, em palco, para acrescentar os derradeiros apelos ao voto, com os respetivos apoiantes a fazerem uma espécie de concurso de aplausos no final de cada intervenção.

Foram instantes frenéticos: num espaço de breves minutos, Rui Rocha lamentou as referências a assuntos internos que dominaram a convenção, Carla Castro criticou quem faz “discursos agressivos”, Rui Rocha acabou a responder que os adversários “não sabem como funciona o partido” (e a ser apupado). Pelo meio, José Cardoso criticou ambos sem fazer distinção e o número dois de Carla Castro, Paulo Carmona, rematou o assunto, dirigindo-se à linha oficial do partido: “Aqui não há carneiradas” (mais apupos).

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Mas houve aplausos também. No palco do centro de congressos de Lisboa, a tese de Carla Castro pareceu para já vingar — pelo menos, tendo em conta o medidor amador que se usa habitualmente nos congressos políticos: a quantidade de palmas que cada candidato recebe.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

No palco, a discursar contra “barões e caciques” ou contra sucessões dinásticas, Carla Castro entusiasmou claramente os colegas de partido e ouviu fortes aplausos — mais do que Rui Rocha, que reconheceu erros no percurso de gestão interna da direção cessante (de que ambos fizeram parte) mas prometeu resolvê-los.

No entanto, e por muito que ambos os lados tenham pontuado os discursos com promessas de uma união que parece longínqua, quase todo o resto do tempo foi passado ao ataque, com o partido dividido em trincheiras e lavagens de “roupa suja”.

Discussões quase sempre sobre o partido e quase nunca sobre o país; acusações sobre ligações familiares e distribuição de cargos; críticas aos “paus mandados” que seguem a linha da continuidade (palavra de Carla Castro) ou aos “ignorantes” que querem romper com ela (Bruno Horta Soares dixit); ouviu-se de tudo um pouco no palco do centro de congressos, incluindo apupos, com os eventuais planos para fazer oposição ou para mudar o país a ficarem para segundo plano.

Nestas contas entra também José Cardoso, o candidato menos conhecido e menos premiado pelo palmómetro do congresso, mas que se apresentou como uma espécie de terceira via e também não se conteve nos ataques aos colegas de partido que, disse, fizeram uma campanha com “sangue” e passaram a assemelhar-se a “arroz de cabidela” — ou aos partidos tradicionais de que a IL tanto quer distanciar-se.

As infindáveis trocas de acusações acabariam por nem sequer se cingir só ao palco da convenção: aos microfones do Observador, os candidatos e apoiantes de uma fação ou outra continuariam os ajustes de contas, acusando-se de falta de honestidade e “hombridade” e falando num processo de sucessão “inquinado” desde o início.

Contas feitas, a IL mostrou-se partida, intervenção após intervenção, entrevista após entrevista, e com muitas feridas por sarar. E Carla Castro pareceu sair vencedora no medidor dos aplausos — mas, com uma convenção em que parte dos participantes está online e não no espaço físico do congresso, a contagem de apoios tem uma dificuldade redobrada.

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Roupa suja, caridade e “delírios”

Na verdade, o confronto de fações começou mesmo antes do início da ordem de trabalhos propriamente dita: ainda os participantes discutiam pontos prévios, como a proposta (chumbada) de uma segunda volta na eleição, e no palco já se ouviam críticas ao “lavar de roupa suja” e aos dois minutos (mais tarde, reduzidos para metade) que cada participante tinha para discursar, um “ato de caridade inferior aos 125 euros do PS” e uma proposta “incendiária”, nas palavras de Valter Neves Ferreira.

O ambiente não melhorou. Aliás, só piorou. À despedida, Cotrim Figueiredo ainda falou do país, deixando críticas ao PS de Fernando Medina e Pedro Nuno Santos e prometendo uma oposição que irritará António Costa; mas no final dirigir-se ia aos críticos para rebater, uma por uma, as acusações “injustas” que ouviu durante a campanha.

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Respondeu a Mayan, por causa da farpa do Comité Central, uma acusação que considerou um “delírio”; a Carla Castro, que sugeriu que a sua liderança foi autocrática, insinuando que a candidata se move por “objetivos pessoais”; e a todos os que consideraram o seu consulado “centralizador” e internamente pouco democrático, rebatendo as afirmações e reconhecendo com “humildade” que também cometeu erros — mas que repetiria o percurso que fez até aqui.

Ao Observador, foi ainda mais longe: Cotrim acabou por concretizar mais as críticas à adversária principal, confessando que lhe apeteceu “perguntar quando é que começou a achar que eu tinha uma gestão autocrática”: “Devia ter tido a hombridade de me dizer o que pensava. Não gostei”. Para Mayan, outra crítica sobre a frase do Comité Central: “Já que está à minha frente que diga o mesmo”.

Rocha vs Castro (e Cardoso contra todos)

Cotrim e Rui Rocha passariam a tarde a ouvir acusações a tocarem exatamente nos mesmos pontos — com apoiantes a rebatê-los, e com cada um dos lados a fazê-lo de forma cada vez mais exaltada. Desde logo, Inês Rosete, membro da lista B ao Conselho Nacional (que integra apoiantes de Carla Castro), lançou à convenção uma questão incómoda, referindo que haverá 25 pessoas com ligações familiares a “ocupar” cargos do partido — uma acusação classificada como “passivo-agressiva” e “torpe”, minutos depois, pelo porta-voz da Comissão Executiva, António Costa Amaral, que sentenciaria: “Todas as pessoas que estão na IL estão por mérito”.

Do lado dos críticos da direção, os ataques seguiram as mesmas linhas principais: a linha oficial do partido não se pôs “nos sapatos” dos membros de base, atacou Catarina Maia, criticando a pouca autonomia dos núcleos locais; Ricardo Neves acusou a lista L, de Rui Rocha, de querer “controlar tudo”; Vítor Soares rejeitou “sucessões dinásticas”; e Gastão Taveira acusou Cotrim de escolher os deputados a dedo sem ter em conta as escolhas locais.

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Tudo isto depois de a própria Carla Castro ter lançado algumas das mais ferozes acusações à liderança de Cotrim e ao seu candidato preferido, recusando que o partido possa aceitar que lhe digam “quem é o presidente” e que seja dominado por “barões e caciques”, um déjà vu em relação ao congresso que deu a liderança do CDS a Francisco Rodrigues dos Santos — na altura, vingou uma revolta das bases contra a corrente de Paulo Portas e o poder instalado. Ao Observador, a candidata considerou que o processo de sucessão está mesmo “inquinado desde o início”.

Entretanto, também o seu número dois, Paulo Carmona, prometera não “ostracizar liberais”, mas com muitas críticas à mistura à falta de democracia interna na era Cotrim. Contas feitas: queixas de centralização do poder e de uma sucessão combinada entre Cotrim e Rui Rocha, num partido que nunca tinha vivido uma disputa de poder.

Jogo de duas caras e o arroz que azedou

Do outro lado, caberia ao deputado Bernardo Blanco fazer uma das defesas mais acérrimas — e aplaudidas — de Rui Rocha, acusando Carla Castro de nem sequer ter incluído ideias para o país na sua moção — uma das principais críticas à candidata, a par de se querer desvincular de uma direção (e respetivas decisões) que integrou. “Para as medidas serem questionadas é preciso haver medidas”, ironizou, chegando a comparar Castro aos socialistas: “Como é que 400 coisas são a prioridade de alguém? Isto é o que o PS fez com o PRR”.

Bruno Horta Soares, que foi candidato pelo partido à Câmara de Lisboa, apontou culpas à campanha rival por fazer “jogo sujo de duas caras” e entrar no plano da fulanização. E, ainda do lado de Rocha, Nuno Santos Fernandes criticou Castro por ter caído numa “necessidade de se diferenciar” da direção que integrou, procurando “críticas e divergências completamente artificiais”.

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Depois de ter ouvido José Cardoso a comparar a disputa entre os outros dois rivais a “arroz de cabidela”, o liberal rematou: “Entre arroz de marisco da Rocha, com provas dadas, ou arroz que azedou, sei o que escolho”. Por essa hora, o clima estava tenso e José Cardoso, que ao Observador disse ter-se sentido “o adulto na sala” neste processo, até já tinha prometido “nunca” votar em políticos como os seus dois rivais, pedindo ao partido que se deixasse de comportar com uma “start up política”.

Continuavam as metáforas com pratos de arroz e os ataques acesos. Ainda houve quem, como o militante Artur Pais, subisse ao palco só para pedir ao partido que não se dividisse em fações, “tornando impossível o objetivo partilhado” de chegar ao poder. O líder parlamentar, Rodrigo Saraiva, fez outra tentativa, pedindo a quem ganhar o partido que o “trate bem”.

Sem efeito: neste primeiro dia de convenção, as várias fações mostraram-se irredutíveis, por muito que uma voz ou outra (incluindo de Cotrim) fosse recordando que os inimigos da IL estão “fora”, e não dentro, do partido. “Crescer nunca é fácil”, como resumia um participante, já a noite ia longa. “Sinto que nem estou zangada o suficiente para estar neste púlpito”, acrescentava outra. Resta calcular qual será a dimensão dos danos destas dores de crescimento, quando, este domingo, se souber quem é o sucessor ou sucessora de Cotrim, com a difícil missão de unir os liberais como primeira tarefa.

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