O casamento entre o príncipe Harry e atriz norte-americana Meghan Markle é o mais importante na família real britânica desde 2011, ano em que o príncipe William, herdeiro do trono, casou com Kate Middleton. Mas os noivos não são os únicos nervosos com o que pode correr mal na celebração. É que, como manda a tradição com quase cinco séculos, é o arcebispo da Cantuária quem vai presidir à celebração do matrimónio. E este ano é a estreia do arcebispo Justin Welby, eleito em 2013 para o cargo, nos casamentos reais.
“Ao contrário do que aconteceu em alguns casamentos recentes, não posso deixar cair o anel”, disse o arcebispo numa entrevista recente à televisão britânica ITV, admitindo os nervos enquanto prepara os detalhes da celebração, que será transmitida para milhões de espetadores em todo o mundo. Até porque não é suposto que as atenções recaiam no arcebispo: “Temos de nos focar no casal. O dia é deles. No centro disto estão duas pessoas que se apaixonaram, que se comprometeram uma com outra para a vida toda com as palavras mais bonitas e com os pensamentos mais profundos”.
Desta vez, o arcebispo da Cantuária vai dividir a presidência da celebração com outros dois bispos anglicanos: David Conner, deão da capela de São Jorge do Castelo de Windsor, onde decorre o casamento, e Michael Bruce Curry, primaz da Igreja Episcopal dos Estados Unidos da América, o ramo americano da Comunhão Anglicana. Justin Welby celebrará o sacramento do matrimónio, David Conner presidirá à missa e Michael Bruce Curry fará a homilia. “É um sinal bonito que a pregação seja feita por um bispo da Igreja Episcopal dos Estados Unidos”, que mostra a “versatilidade e inclusividade” dos ritos anglicanos, comenta ao Observador D. Jorge Pina Cabral, bispo e líder da Igreja Lusitana, o braço português da Comunhão Anglicana.
Do ponto de vista puramente religioso, as preparações para a celebração já começaram há vários meses. “Fala-se com o casal sobre o que eles querem para o casamento, discute-se isso com o deão de Windsor… É o que se faz habitualmente para os casamentos, mas numa escala infinitamente maior”, resumia Justin Welby na mesma entrevista. Num país como o Reino Unido, em que as tradições associadas à família real são especialmente importantes para a diplomacia do Estado, um casamento real é um momento único de afirmação da soberania, pelo que as celebrações religiosas são também cerimónias de Estado: são planeadas ao detalhe e não há lugar para falhas.
Além disso, o Reino Unido tem o Anglicanismo como religião oficial, ou religião de Estado: a rainha de Inglaterra é simbolicamente a líder da Igreja de Inglaterra, e o arcebispo da Cantuária e outros bispos anglicanos têm lugar permanente na Câmara dos Lordes do Parlamento. Aliás, a própria Meghan Markle, que era protestante, converteu-se ao Anglicanismo e foi batizada em março pelo arcebispo Justin Welby, como forma de preparação para o casamento.
O papel fundamental da tradição anglicana nos assuntos de Estado do Reino Unido aumenta o peso aos ombros do estreante arcebispo Justin Welby, que em 1987 desistiu de uma carreira de sucesso como executivo de uma empresa de exploração de petróleo cotada na bolsa de Londres para se tornar padre — e que em poucos anos se afirmou como estrela em ascensão na hierarquia anglicana, sendo eleito para o mais alto posto do Anglicanismo com apenas 57 anos. Mas a história do arcebispo não se esgota com esta mudança radical de vida. Já depois da eleição, Welby descobriu que era, afinal, filho ilegítimo do antigo secretário particular de Winston Churchill — lançando no pânico no palácio de Lambeth sobre a possibilidade de continuar à frente da Igreja. Agora, ouve rap para enquanto se prepara para o casamento real. Mas o que significa, afinal, ser arcebispo da Cantuária além das habituais celebrações religiosas da família real? E quem é Justin Welby, o homem que vai oficializar a união do príncipe Harry com Meghan Markle?
A sé mais antiga de Inglaterra e o cisma de Henrique VIII
Para compreender a importância da figura do arcebispo da Cantuária é preciso recuar até ao século VI, muito antes ainda da separação entre católicos e anglicanos, quando o território da Inglaterra era ainda dominado pela Igreja Católica Romana. “A Sé da Cantuária é a sé mais antiga da Inglaterra. Provém do século VI, do ano 598. O primeiro arcebispo foi Agostinho e desde então tem havido uma linha de sucessão até ao arcebispo atual, Justin Welby”, explica D. Jorge Pina Cabral.
Santo Agostinho da Cantuária, como ficaria conhecido, nascera em Roma e fora enviado pelo Papa em missão para o território onde hoje se situa o Reino Unido, com o objetivo de evangelizar a região e ali assentar definitivamente o Cristianismo. Lá chegado, fundou a diocese de Cantuária, a primeira sé episcopal da Inglaterra, e durante um milénio aquele território foi católico, com os reis de Inglaterra a reconhecerem a autoridade do Papa.
Tudo mudaria mil anos depois, concretamente em 1534, 17 anos depois de Martinho Lutero publicar as suas 95 teses e dar início à Reforma que resultaria no aparecimento das igrejas protestantes. “A separação ocorreu em 1534, quando Henrique VIII renunciou à autoridade espiritual do Papa. Geralmente, diz-se que o fez motivado pela recusa do Papa em aceitar um novo casamento, mas a verdade é que naquele tempo já havia todo um movimento de reforma da Igreja. A Reforma Protestante no continente europeu já tinha começado e havia um movimento para a reforma da própria estrutura da Igreja”, destaca o bispo português, sublinhando que o Anglicanismo representa hoje uma via média entre a tradição católica e o Protestantismo.
Apesar de não ter sido o único motivo para a renúncia à autoridade do Papa, a verdade é que a gota de água no braço de ferro entre Henrique VIII e o Vaticano foi a recusa do Papa Clemente VII em autorizar a nulidade do matrimónio do rei de Inglaterra com Catarina de Aragão. O casal não tinha tido filhos masculinos e o rei queria casar com Ana Bolena, uma das damas da corte, para garantir que teria um herdeiro para o trono. Não tendo tido a autorização, Henrique VIII renunciou à autoridade papal e separou os católicos ingleses da Igreja Católica Romana, assumindo-se como governador supremo da Igreja de Inglaterra e reclamando o título de defensor da fé, pertencente ao Papa.
Já nesta altura, o arcebispo da Cantuária — que era a mais importante figura da Igreja Católica em Inglaterra devido à antiguidade da sua sé episcopal — teve um papel crucial. Thomas Cranmer, então arcebispo da Cantuária, oficializou o divórcio e tornou-se no primeiro líder religioso da recém-reformada Igreja de Inglaterra, respondendo perante a autoridade divina do rei em vez da do Papa.
“A Igreja definiu-se por aceitar a autoridade do rei enquanto supremo governador da Igreja. Mas, acima de tudo, a grande reforma foi uma reforma litúrgica”, destaca D. Jorge Pina Cabral. “Procurou-se que houvesse uma liturgia que assumisse a língua inglesa como língua da Igreja e da prática ritual, em vez do latim, e ao mesmo tempo houve uma simplificação dos ritos litúrgicos, de forma a integrar o povo da nação na vida da Igreja. A grande reforma do Anglicanismo é de natureza litúrgica, rompendo com uma liturgia medieval católica romana que estava longe do crer e do sentir da população”, acrescenta o bispo português.
Ainda assim, apesar de a Igreja de Inglaterra se ter afirmado “como Igreja autónoma, desligada do poder espiritual e temporal de Roma”, manteve “a tradição antiga da Igreja” católica. “Daí dizermos que é uma via média entre o Catolicismo romano e o Protestantismo”, destaca D. Jorge Pina Cabral.
Se antes da separação o arcebispo da Cantuária já era o clérigo mais importante da Igreja Católica em Inglaterra, depois da autonomização da Igreja de Inglaterra face à Igreja Católica Romana o seu papel tornou-se ainda mais importante — sobretudo porque o monarca, apesar de se manter como governador supremo da Igreja de Inglaterra e como defensor da fé, passou a desempenhar um papel cada vez mais simbólico.
Rapidamente, a doutrina da Igreja Anglicana — como também era conhecida a Igreja de Inglaterra — extravasou as fronteiras do Reino Unido para dar origem à Comunhão Anglicana. “Importa distinguir duas coisas. Uma coisa é a Igreja de Inglaterra, que é a igreja mãe do Anglicanismo. No caso da Igreja de Inglaterra, o arcebispo da Cantuária é o primaz e a rainha de Inglaterra é a governadora suprema e defensora da fé, um cargo simbólico. Outra coisa é a Comunhão Anglicana, que é um conjunto de 38 províncias com 85 milhões de membros em todo o mundo”, explica D. Jorge Pina Cabral.
A Comunhão Anglicana é composta por igrejas nacionais — no caso de Portugal, trata-se da Igreja Lusitana, com 5 mil membros e 15 paróquias — que são autónomas, mas que estão em comunhão com o arcebispo da Cantuária, líder espiritual de todos os anglicanos. “As igrejas nacionais estão em ligação com a Sé de Cantuária. Reconhecem no arcebispo um líder espiritual. É uma autoridade espiritual, mas não é uma autoridade jurídica. Por isso, cada igreja é autónoma e independente, podendo legislar e tomar posições de acordo com a sua própria cultura e missão local”, explica o bispo português. Já a Rainha de Inglaterra é governadora suprema e defensora da fé da Igreja de Inglaterra, hoje apenas uma das muitas que compõem a Comunhão Anglicana.
Na verdade, continua D. Jorge Pina Cabral, “na Igreja de Inglaterra os assuntos de natureza espiritual e de natureza prática são orientados pelos bispos e pelos dois arcebispos, de York e da Cantuária, que conduzem o sínodo geral, onde são tomadas todas as decisões”. Já “a rainha, embora ainda mantenha o título que vem do tempo de Henrique VIII, tem um papel de cariz simbólico”, explica o bispo português, acrescentando que “é a Rainha quem nomeia os bispos, arcebispos e deãos das catedrais, mas apenas formalmente, uma vez que nomeia quem a Igreja lhe propõe”.
Enquanto líder espiritual dos anglicanos de todo o mundo e, sobretudo, da Igreja de Inglaterra, a igreja oficial do Estado britânico, o arcebispo da Cantuária tem responsabilidades acrescidas no que toca à vida espiritual da família real. “Quem preside aos casamentos da família real é sempre o arcebispo da Cantuária, precisamente porque é a primeira figura da Igreja de Estado do Reino Unido”, explica D. Jorge Pina Cabral. Foi assim no casamento da Rainha Isabel II com o príncipe Philip, que foi presidido pelo arcebispo Geoffrey Fisher; no do príncipe Carlos com a princesa Diana, presidido por Robert Runcie; e também no do príncipe William com Kate Middleton, presidido por Rowan Williams. E será assim agora com Harry e Meghan Markle, com a responsabilidade a recair nas mãos do estreante Justin Welby.
Justin Welby: da exploração de petróleo aos altares
Em 1987, Justin Welby já levava uma carreira de 11 anos como executivo na exploração de petróleo. Naquela altura, o empresário londrino era tesoureiro da Enterprise Oil, uma empresa britânica que explorava petróleo no Mar do Norte e no Golfo do México. Formado em Eton e no Trinity College de Cambridge, escolas de topo onde estuda a classe alta do Reino Unido, Welby recebia um salário superior a 100 mil libras por ano quando tomou a principal decisão da sua vida: abandonar a carreira empresarial e ingressar no seminário.
Anos antes, uma tragédia familiar tinha aproximado o empresário da fé: a morte da sua filha Johanna num acidente de viação, em França, com apenas sete meses de idade, em 1983. “Foi um tempo muito negro para a minha mulher, Caroline, e para mim próprio, mas, estranhamente, aproximou-nos de Deus”, explicou Welby numa entrevista ao jornal britânico The Journal em 2011, ano em que foi nomeado bispo.
A tragédia levou-o a tornar-se num membro ativo de uma conhecida comunidade evangélica em Londres, onde se afirmou como líder religioso — apesar de ainda ser leigo –, ao mesmo tempo que se mantinha como tesoureiro do grupo Enterprise Oil. “Após cinco anos na Enterprise, ficou claro que eu teria de me focar ou numa carreira ou na [igreja de] Holy Trinity Brompton, onde estava a trabalhar, em South Kensington, Londres”, lembrava Welby na mesma entrevista. Escolheu a vida eclesiástica e trocou o salário de um empresário de sucesso pelo humilde rendimento dos sacerdotes. Depois de três anos de formação em Durham, foi ordenado diácono em 1992 e presbítero em 1993.
A decisão foi tomada em família, garantiu Welby, sublinhando que só o conseguiu fazer com o apoio da sua mulher, Caroline. “A indústria do petróleo era muito divertida, com pessoas espetaculares, e ocasionalmente sinto falta dela. Era bem pago, mas nós não temos padrões de vida muito altos”, disse o atual arcebispo da Cantuária na mesma entrevista, onde assegurou que “tomar decisões na indústria do petróleo é bem mais fácil do que na Igreja”.
Apesar de ter sido ordenado já com 36 anos depois de uma vida profissional noutra área, Justin Welby rapidamente se tornou numa espécie de estrela em ascensão dentro da hierarquia anglicana. Em 2002, foi nomeado cónego da Catedral de Coventry, templo do qual viria a ser vice-deão. Em 2007, foi escolhido para deão da Catedral de Liverpool e em 2011, com 55 anos, nomeado bispo de Durham — um dos cinco bispos com assento permanente na Câmara dos Lordes. Mas nem chegou a estar dois anos naquela cátedra britânica: em 2013 foi escolhido para arcebispo da Cantuária e tornou-se no rosto visível do Anglicanismo.
Enquanto líder espiritual de 85 milhões de fiéis por todo o mundo, Justin Welby viu-se a braços com alguns dos grandes desafios do Cristianismo no século XXI, como a admissão de mulheres no clero ou a forma de encarar a homossexualidade. Como explica o bispo português D. Jorge Pina Cabral, “um dos fatores que distinguem o Anglicanismo do Catolicismo, além do não reconhecimento da autoridade papal ou dos dogmas relativos a Nossa Senhora, é a forma como encaramos a estrutura eclesial, que tem uma participação muito mais ativa dos leigos nas estruturas de decisão e que por isso permite que haja um debate muito mais alargado sobre temas como o papel das mulheres ou a integração das minorias”.
“Atualmente, no Anglicanismo, é permitida a participação das mulheres em todos os ministérios da Igreja, incluindo o acesso aos três graus da ordenação. Por isso, já existem neste momento mulheres bispos”, explica o bispo português. Pode dizer-se ordenação de mulheres no terceiro grau da Ordem é já resultado do trabalho de Justin Welby, um grande defensor da ordenação de mulheres. Em novembro de 2014, o Sínodo Geral aprovou a legislação que permite às mulheres serem ordenadas bispos. No final do ano passado, aliás, os uma mulher foi escolhida para o lugar de bispo de Londres, a terceira figura na hierarquia anglicana depois dos arcebispos da Cantuária e de York.
Anglicanos escolhem uma mulher para bispa de Londres, a terceira figura da hierarquia
Já no que toca ao casamento homossexual, outro dos grandes debates atuais entre os anglicanos, o consenso parece ser mais difícil de alcançar. Justin Welby é contra e o assunto tem dividido a hierarquia anglicana entre as fações mais conservadoras e as mais liberais. “Há igrejas nacionais que já permitem, na sua prática, o casamento entre homossexuais”, assegura D. Jorge Pina Cabral. Não é o caso de Portugal — apesar de a Igreja Lusitana estar “atenta ao debate” — nem de Inglaterra.
O teste de ADN e o rap para a preparação do casamento
A vida de Justin Welby já tinha sofrido reviravoltas suficientes quando, em 2016, o jornal britânico The Telegraph descobriu que o pai do arcebispo podia, afinal, não ser Gavin Welby, um vendedor de uísque filho de um emigrante judeu que tinha sido casado durante um curto período de tempo com a sua mãe, Jane. Tudo indicava, segundo documentos que aquele jornal havia obtido, que o verdadeiro pai de Justin Welby era, na verdade, Anthony Montague Browne — o último secretário pessoal de Winston Churchill.
O jornal apresentou a documentação ao arcebispo e Justin Welby decidiu fazer um teste de ADN. Uma amostra de saliva do líder anglicano foi comparada com cabelos de Anthony Montague Browne encontrados numa escova que lhe pertencera e o resultado deixou pouca margem para dúvidas: 99,9779% de probabilidade de serem pai e filho. Uma “completa surpresa”, disse Welby ao The Telegraph depois da confirmação.
A mãe de Justin Welby confirmaria, depois, que antes do casamento com Gavin Welby tinha tido um caso com Browne, mas nunca tinha suspeitado de que o pai do arcebispo pudesse ser o antigo secretário de Churchill. Welby negou qualquer “crise existencial” ou “ressentimento” contra a família. “A minha identidade está fundada em quem eu sou em Cristo”, sublinhou o arcebispo.
A verdadeira crise aconteceu na hierarquia anglicana. Durante séculos, a Igreja proibiu todos os homens nascidos de forma ilegítima (ou seja, fora de um casamento religioso) de serem arcebispos. Ora, a mãe de Welby não era casada pela Igreja com o antigo secretário de Churchill — e o arcebispo era, afinal, filho ilegítimo. A cúpula anglicana teve de rever todo o código canónico da Igreja de Inglaterra para confirmar se Welby podia ou não continuar à frente da sé da Cantuária. O que valeu ao arcebispo foi uma discreta reforma legislativa feita na década de 50, que acabou com essa proibição.
“É a vida. Uma vida que muitas pessoas têm. Alguém me disse recentemente: ‘Acabei de descobrir que tenho uma meia-irmã, porque o meu pai teve um caso há 50 anos’. Não é pouco habitual. Provavelmente, houve arcebispos anteriores na mesma posição, mas que não o sabiam”, contou Justin Welby numa entrevista ao jornal britânico The Guardian.
Agora, garantir que tudo corre bem no casamento de Harry e Meghan é apenas mais um desafio. “Cometi um par de erros desajeitados nos últimos dois casamentos em que estive envolvido, e penso que este não vai ser provavelmente um bom momento para fazer um hat-trick”, comentou o arcebispo à BBC, explicando que além do medo de deixar cair os anéis, receia também trocar a ordem dos votos. Para se mentalizar para a tarefa, o arcebispo tem recorrido a uma ajuda invulgar: o rap. Mais precisamente, à música do rapper britânico Stormzy “Blinded by Your Grace”. Justin Welby assegura que a letra, repleta de referências religiosas, “resume, de certa maneira” o trabalho que tem pela frente.