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Paulo Raimundo e João Oliveira participaram em desfile e comício da JCP
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Paulo Raimundo e João Oliveira participaram em desfile e comício da JCP

LUSA

Paulo Raimundo e João Oliveira participaram em desfile e comício da JCP

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As injustiças no programa Erasmus como parte de um problema maior: CDU recorre aos jovens para apelar ao euroceticismo

João Oliveira pede mais sentido crítico aos jovens, numa altura em que a esmagadora maioria já só conhece uma realidade inserida na União Europeia. Para a CDU, não tem de ser assim.

“Os jovens estão fartos”, garante Paulo Raimundo, “fartos de serem enganados com promessas atrás de promessas, que nunca são cumpridas. E respondem com a sua forma própria, com os meios e a criatividade que têm o seu alcance”. Depois de um desfile organizado pela Juventude Comunista Portuguesa, que começou na Praia da Saúde, em Setúbal, e percorreu a Avenida Luísa Todi, o secretário-geral comunista discursa perante uma plateia de cerca de 100 jovens. Minutos depois da frase de Raimundo, acabam por exemplificar exatamente o que foi dito.

Procuro, procuro, abril no meu futuro“, canta a plateia, obrigando Paulo Raimundo a parar o discurso, espantado. “Quando dizia que é extraordinária a criatividade, aqui está um bom exemplo”, solta. Já no fim do discurso, e encerrada a iniciativa, são os meios de que o líder do PCP falava que entram em ação. Usando potes de fumo e lançando confetti, todos distribuídos num saco de plástico enquanto decorria a ação, a JCP termina o evento em festa, dançando ao som da música que toca bem alto nas colunas. Podiam tratar-se dos festejos dos adeptos de um clube de futebol depois de um vitória épica, mas é na verdade a maneira da juventude do partido sinalizar a revolta com as condições em que vivem e que enfrentam para o futuro.

Quer seja direcionada para o governo ou para as instituições europeias, essa revolta existe e vai-se notando em todas as ações em que têm participado os jovens ao longo da campanha. São eles que dinamizam as arruadas e os desfiles, que usam os megafones e os cartazes para chamar a atenção das pessoas nas ruas. Por isso mesmo, a tarde do sétimo dia de campanha foi-lhes dedicada, com discursos direcionados para os problemas que vivem hoje os jovens adultos — assolados por uma perspetiva de futuro assente em baixos salários e precariedade — quer estejam a entrar para a faculdade ou já a entrar no mundo do trabalho. “Vocês sabem melhor do que ninguém o que leva a juventude a emigrar”, sublinha Paulo Raimundo. “Não é porque se pode circular pela Europa fora. Os jovens emigram porque o que falta cá é o salário, os direitos, a estabilidade, o acesso à habitação, o presente e o futuro que cada um procura”.

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Também João Oliveira aponta neste sentido, apontando o dedo à União Europeia. Nomeadamente, ao programa Erasmus, que permite aos estudantes universitários de vários países passarem um semestre a estudar noutros países, através de acordos internacionais entre faculdades.

“Quando nos dizem que um dos grandes benefícios é termos o programa Erasmus, vale a pena perguntar se não há outros países fora da União Europeia que têm também o programa”, lembra. E de facto há. A Noruega, Islândia e o Liechtenstein fazem parte dos destinos elegíveis, enquanto membros da Associação Europeia de Comércio Livre e do Espaço Económico Europeu. Além destes, também a Macedónia do Norte, Turquia e Sérvia são nesta altura candidatos a aderir ao programa. Mas nem é para aí que vão as críticas de João Oliveira. Vão, isso sim, para um problema mais abrangente, tanto a nível externo como interno: as desigualdades.

Nesse sentido, o candidato deixa 3 perguntas: primeiro, “quantos jovens não conseguem chegar hoje ao ensino superior, quanto mais ao programa Erasmus?”; depois, “quantos jovens hoje, mesmo chegando ao ensino superior, não podem aproveitar o programa?”; por último, “quantos jovens hoje, mesmo aproveitando Erasmus, tendo contacto com outras culturas e outros, chegados a Portugal não conseguem sair de casa dos pais?”

As críticas de João Oliveira não se direcionam propriamente ao programa em si, mas sim para as condições de acesso. Condições essas, que pela sua análise, pintam o retrato da grande diferença de oportunidades que existe para os jovens, tanto entre Portugal e os países mais ricos da Europa, como dentro da própria sociedade portuguesa.

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“Temos hoje em Portugal as mesmas possibilidades de aproveitamento do desenvolvimento científico e tecnológico na nossa produção nacional para garantir que os jovens mais qualidades encontrem aqui perspetivas de vida?”, pergunta, continuando a elencar uma série de questões sobre as condições que o país está a dar aos jovens. “Temos hoje condições de democratização no acesso à cultura, ao desporto e à habitação que têm outros países mais fortes? Não temos”, conclui.

“Nem na comparação com os outros países, nem dentro do nosso país, comparando jovens que têm origens sociais e económicas diferentes”. Depois, o diagnóstico final: “Boa parte dessas injustiças chegam-nos pela mão da União Europeia. João Oliveira acusa Bruxelas de impedir o investimento nos serviços públicos na saúde, na educação e na habitação, além de condicionar o mesmo investimento nos transportes, na mobilidade, na cultura e no desporto. “O que nos estão a dizer é que tudo isso deixa de ser direito e passa a ser mercadoria, e tem acesso a essa mercadoria quem tem dinheiro para a pagar. Isto não é uma sociedade em que os jovens têm condições de igualdade”.

Face ao olhar atento dos jovens na plateia, que vão gritando e aplaudindo o discurso, o cabeça-de-lista comunista pede mais sentido crítico em relação à realidade em que sempre viveram. “Uma grande parte dos nossos jovens hoje já só conhecem um Portugal integrado na União Europeia”, comenta. “Parece que isso é tão natural como a nossa sede, que faz parte da nossa vida e dali só vêm coisas boas”. Mas para a CDU, nada tem de ser assim, e pode haver vida para além de Bruxelas — desde que os jovens comecem a questionar a necessidade da UE.

Também o tema da guerra merece a atenção do candidato — momento recorrente nos comícios dos comunistas durante a campanha eleitoral — e mais uma vez com direito a resposta efusiva da JCP. João Oliveira convoca os jovens a usarem a própria voz na luta pela paz: “É a juventude a primeira vítima da guerra”, garante. “E num momento em que há pressão para a militarização, a política da confrontação, da corrida aos armamentos, é preciso dizer não à guerra e sim à paz”. A mensagem relativa a esta questão costuma ser praticamente idêntica nos discursos dos comunistas, quer seja o cabeça-de-lista a falar, quer seja o secretário-geral. Por isso, há de novo uma referência ao “futuro dos filhos e netos” dos portugueses, que a CDU quer impedir de repetirem o “passado dos pais e avós que foram empurrados para a Guerra Colonial”.

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Durante a iniciativa, há ainda tempo para criticar o Governo de Luís Montenegro — que até criou um Ministério dedicado a esta faixa etária — pelas medidas apresentadas para resolver os problemas dos jovens, que passam por mexidas no IRS e reforço ao alojamento estudantil, entre muitas outras. Para Paulo Raimundo, se se “espremerem” as medidas e forem retirados “os adjetivos e os estrangeirismos”, pouco sobra.

“Redução de impostos para jovens que são uma minoria, que ganham acima da média do conjunto dos trabalhadores em Portugal; mais dinheiro público como garantia aos bancos; mais transferências do dinheiro de todos nós para o negócio dos grupos privados, seja para as rendas no próprio alogamento estudantil”, critica Raimundo. “Anúncios, medidas, intenções, ilusões — é isto que temos do nosso Governo”. Para o secretário-geral, o executivo “abana muito mas anda pouco” ao serviço dos jovens. A apenas uma semana das eleições, é também esse abanão que a CDU procura, mas a nível eleitoral, esperando que a mobilização da juventude partidária sirva para chegar à cabeça de todos, independentemente da idade.

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