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RODRIGO MENDES/OBSERVADOR

RODRIGO MENDES/OBSERVADOR

As notas dos debates desta terça-feira, que acabaram com ataques de candidatos terroristas entre André Ventura e Mariana Mortágua?

No debate mais extremado do ponto de vista ideológico, houve acusações de ambos terem terroristas ao seu lado. Ventura lembrou o caso Robles, Mortágua falou dos financiadores do Chega.

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O debate entre Mariana Mortágua entre André Ventura começou com uma primeira divergência sobre a proposta do Chega para a reintrodução dos vistos gold, “uma porta aberta para a corrupção”, segundo o Bloco, crítica que Ventura considerou “uma ideia pseudo-comunista ”. Mas foi quando se falou do alojamento local que tudo aqueceu, com acusações de entre ambos de terem elementos ligados ao terrorismo nas listas.

André Ventura lembrou os interesses imobiliários que levaram Ricardo Robles a sair do Bloco e não deixou passar o facto de o Bloco ter Gobern Lopes, antigo dirigente das FP-25, como candidato a uma junta de freguesia do Barreiro nas últimas autárquicas. Mariana Mortágua contrapôs com os financiadores do Chega e lembrou que o partido de Ventura tem “como número 2 um dirigente da principal organização terrorista em Portugal, que fez 600 atentados e foi responsável pela morte do Padre Max”,  numa referência a Diogo Pacheco Amorim.

Offshores, corrupção, imigração e ideologia de género foram outras questões a separá-los num debate aceso, em que Mariana Mortágua acabou a explicar a história da avó: assustou-se com subida da renda quando teria 80 anos.

Paulo Raimundo e Rui Tavares tinham começado o primeiro debate deste dia de Carnaval a falar de Pedro Nuno Santos, ou, mais em concreto, de uma possível geringonça com um governo minoritário do PS. O secretário-geral do PCP deixou, uma vez mais, tudo em aberto, falando primeiro nos conteúdos prioritários. Já o porta-voz do Livre aproveitou para responder ao apelo do voto útil de Pedro Nuno Santos, lembrando que “votar no PS às vezes nem para implementar as ideias do PS serve”.

A guerra na Ucrânia e as posições sobre a UE dividiram-nos, mas o secretário-geral do PCP e o porta-voz do Livre mostraram-se depois de acordo sobre o direito à greve dos polícias, ainda que Rui Tavares tenha contestadi a proposta do Chega que admite a sua filiação partidária.

Nesta quarta-feira de cinzas, e também dia dos namorados, há dose tripla de debates. Às 18h15, na RTP3, vão estar frente a frente Rui Tavares (Livre) e Inês Sousa Real (PAN) e, depois, à noite, Pedro Nuno Santos (PS) debate com André Ventura (Chega) às 21h00 na TVI e Rui Rocha (IL) com Paulo Raimundo às 22h00 na RTP1. Pode ver o calendário completo de todos os debates neste gráfico.

Quem ganhou cada um dos debates? Ao longo destes dias, um painel de avaliadores do Observador vai dar nota de 1 a 10 a cada um dos candidatos por cada um dos frente-a-frente. E explicar porquê. A soma vai surgindo a cada dia, no gráfico inicial.

André Ventura (Chega)-Mariana Mortágua (Bloco)

Alexandra Machado — Um debate para as bolhas próprias e para as redes sociais. Aposto que a rede X em Portugal teve um pico durante este debate (com novamente mais de meia hora, o que só aconteceu na RTP e ambos com Ventura na discussão) que resumo como “quem acusa é quem é”. E, por isso, as notas baixas deste debate em que os intervenientes estavam mais preocupados em atacar-se mutuamente e veio tudo à tona — avó de Mortágua, Robles, terrorismo, salários pelos comentários na SIC, financiamentos partidários. Ou seja, estiveram num ringue de luta livre (mas ambos num nível de iniciantes). Na realidade não esperava outra coisa, ainda que por brevíssimos segundos tenha ficado espantada pela promessa de Ventura de não interromper mais Mortágua senão daquela vez. Uma promessa não cumprida… Mortágua e Ventura utilizaram sempre a mesma tática e bateram sempre, em quase 40 minutos, nos mesmos argumentos. Nada de novo. Nada que não se esperasse. Ventura afasta-se cada vez mais do poder. Mortágua nisso tem razão.

Filomena Martins — Com cada um a falar para cada lado, a coisa até estava a correr bem e com menos gritaria do que se imaginaria — ninguém esperava seguramente conquistar votos a ninguém, já todos sabem que não iam concordar em praticamente nada. Mas depois chegou a questão do alojamento local e, com a passadeira estendida, Ventura não deixou passar o caso Robles. Mortágua foi a jogo e defendeu-se com os financiadores do Chega (que são públicos), até os decibéis rebentarem a escala num tema inesperado: afinal quem tem mais terroristas ao lado? O Bloco, que já teve nas listas autárquicas um candidato condenado por pertencer às FP-25, ou o Chega, que tem Pacheco Amorim, membro das MDLP, como nº. 2, mas nunca acusado. Passado o bate boca mais que normal e esperado, nada de surpreendente no pingue-pongue de ataques mútuos, a não ser Mariana Mortágua explicar — só agora? de novo? — a questão da avó, com idade e tudo, e garantindo “eu não minto”. Um risco?

Pedro Jorge Castro — Empataram em papéis em cima da mesa, como se fossem balas prontas a disparar. Mariana Mortágua desferiu golpes duros, quando sublinhou a repulsa causada pelo Chega (com quem ninguém quer falar); quando pôs números nas borlas fiscais a grandes empresas; e quando insistiu nos interesses dos financiadores do Chega com ligações à TAP e aos CTT, deixando André Ventura sem resposta à altura. Ficou tão atrapalhado que foi buscar os terroristas das FP-25 que integraram listas do Bloco e levou em troca com a insinuação de ligações do seu vice, Diogo Pacheco Amorim, ao terrorismo do MDLP (que nunca foram comprovadas). Mortágua continua a passar momentos infelizes quando se fala da avó, já não há maneira de sair bem da utilização dessa história. No resto, foi eficaz a reivindicar o tempo, a impor-se e a apontar truques de Ventura. Ou seja, teve os seus próprios truques. Ventura gabou-se de que Mortágua o segue no Instagram — e arrisca-se a perder seguidores que não estão para ser nomeados desta forma.

Miguel Pinheiro — Em certo sentido, este debate era o mais fácil para os líderes do BE e do Chega: só precisavam de berrar muito um com o outro e de se intimidarem muito um ao outro. Não havia votos novos a ganhar, mas havia uma militância a contentar. Mariana Mortágua é a figura política que mais incomoda os eleitores do Chega; e André Ventura é a figura política que mais incomoda os eleitores do Bloco. Por isso, cada um deles precisava de mostrar que era capaz de enfrentar o adversário. Isso, fizeram. Mas não se pode dizer que tenha sido o momento mais alto da democracia portuguesa.

Miguel Santos Carrapatoso — Este debate servia, acima de tudo, para que os dois adversários provassem aos respetivos adeptos que conseguiam embaraçar, vergar e esmagar o outro. Não seria de esperar, por isso, uma enorme qualidade argumentativa. Nesse aspeto, que não deve ser desconsiderado, Mariana Mortágua e André Ventura estiveram à altura, na medida em que andaram a trocar cromos sobre terroristas nos partidos, financiadores e as figuras pouco recomendáveis que vão andando pelo Bloco e pelo Chega. Na prova de luta livre, os sucessivos “acalme-se” de Mortágua para Ventura terão entusiasmado os que torciam pela coordenadora bloquista e irritado os apoiantes de Ventura, que, de tanto repetir a fórmula, vai parecendo cada vez mais cansado. Mortágua superiorizou-se na forma, mas marcaram ambos pontos. Agora, nas raras vezes em que o debate foi sobre propostas, os dois mostraram fragilidades, em particular o líder do Chega. Ventura, que às segundas, quartas e sextas quer salvar os pobres e descamisados de todo o país, não conseguiu explicar como é que quer combater o “sistema” e continua a defender os vistos gold, como é que quer combater a corrupção (e ir buscar os tais 20 mil milhões de euros que fariam de Portugal a nova Suécia) sem ir atrás das offshore, e como é que quer proteger as vítimas de violência doméstica cortando-lhes os apoios. Mortágua, por sua vez, continua com dificuldades em explicar o que fazer com o problema da habitação para lá de penalizar os investidores privados e, neste debate, não conseguiu explicar como quer responder aos desafios da imigração para lá de umas frases de bonito efeito mas sem aplicabilidade prática. Tudo somado, a vitória plena pertenceu a Luís Montenegro, que ouviu a coordenadora bloquista a sublinhar que nem o PSD se quer sentar com Ventura. Um belíssimo endorsement.

Paulo Raimundo (PCP)-Rui Tavares (Livre)

Alexandra Machado — Era um debate com a balança inclinada para o lado esquerdo. Sabia-se que as divergências seriam, em particular, sobre União Europeia e Ucrânia. E assim foi. A divergência respeitosa, como apelidou Rui Tavares que ainda conseguiu tirar a Paulo Raimundo um “todos eles, naturalmente, todos os que agridem” quando disse que os invasores têm de recuar para que haja uma solução de paz, pensando na Rússia em relação à Ucrânia. Rui Tavares utilizou toda a sua bagagem de história para deixar Raimundo em “ko” quer na questão da Ucrânia, quer na questão da União Europeia que acabou por ser um tema pouco explorado face às posições do PCP dúbias sobre a posição do partido na permanência de Portugal no bloco. Rui Tavares aproveitou este debate para também dar um golpe em Pedro Nuno Santos que apelou ao voto útil no PS. Tavares respondeu: “Votar no PS às vezes nem para implementar as ideias do PS serve”. E ainda deu um golpe ao Chega sobre a proposta de permitir filiação partidária das forças de segurança e de natureza militar como a GNR: “Só interessa quem quer tornar instável o estado de direito”.

Filomena Martins — Rui Tavares teve a inteligência para se livrar do abraço de urso que lhe deu Pedro Nuno Santos, com o apelo ao voto útil no PS como único caminho para ver as propostas do Livre viabilizadas. “Votar no PS às vezes nem para implementar as ideias do PS serve, como se viu com esta maioria absoluta que ao fim de dois anos foi ao charco”, atirou sem piedade, depois de Paulo Raimundo já ter mostrado disponibilidade para um acordo e até ter lembrado o papel do PCP em 2015. Depois, foi simpático com o secretário-geral dos comunistas na questão da Ucrânia: em vez de o esmagar, optou pelo papel de historiador pela lhe explicar o óbvio. Um debate respeitoso entre amigos, ainda assim para Raimundo que os últimos, mas se alguém conquistou pontos junto ao eleitorado foi Rui Tavares. Para quem viu os vídeos que Ricardo Araújo Pereira foi buscar ao baú da RTP, de Paulo Raimundo no Filho da Cornélia, perguntará onde andará o rapaz criativo e com pontaria que ganhou aquele saudoso concurso?

Helena Matos — Rui Tavares ganhou não tanto pelo que disse mas sim pelo que não disse. O líder do Livre tinha dois objectivos neste debate. O primeiro era promover uma imagem de diálogo e unidade entre a esquerda da esquerda do PS e desse modo poder argumentar que o PS só não faz alianças à esquerda (PCP incluído) se não quiser. O segundo roubar eleitores ao PCP. O Livre tem apenas um deputado. Habitualmente acha-se que os potenciais eleitores deste partido estão no BE, no PS mas, segundo se viu e ouviu neste debate, Rui Tavares alargou ao PCP a sua buscar por novos eleitores: logo demarcou-se de Raimundo no tema da Ucrânia mas logo estendeu pontes ao PCP ao dizer-se contra todos os imperialismos, nomeadamente o americano de que por sinal depende o sucesso da mesma Ucrânia que Rui Tavares diz defender. Como é óbvio o agradecido Paulo Raimundo não podia confrontar o aparentemente conciliador Rui Tavares com esta e outras contradições limitando-se a responder ao pivot “Essa não é a questão central” a propósito de tudo e de nada. A propósito de questão central não ficou claro, pelo menos para mim, em que se demarcam PCP e Livre do Chega na questão central das forças de segurança. Mas essa não era a questão central.

Miguel Pinheiro — Paulo Raimundo e Rui Tavares estão de acordo em muitas coisas. E, incrivelmente, até estão de acordo quando não estão de acordo. A dada altura, o líder do Livre falou sobre as diferenças de opinião que “discutimos respeitosamente”. Minutos depois, o líder do PCP concordou: “Respeitosamente, e bem”. Como sempre acontece nos debates à esquerda com o PCP, as únicas divergências significativas foram em relação à Ucrânia e à União Europeia. De resto, Dupond e Dupont. Eu diria mesmo mais: Dupont e Dupond.

Ricardo Conceição — Unidos na condenação do apelo ao voto útil no PS ou no direito à greve dos polícias e separados pelo anacronismo de visões de um mundo que não existe. Rui Tavares é combativo, educado e consegue explicar bem as suas ideias de uma esquerda “ecológica” e percebe que Portugal não sobrevive sem a União Europeia. Sem nunca hostilizar Paulo Raimundo, que muitas vezes sorriu e anuiu com o oponente, o co-porta-voz do Livre (sim, Teresa Mota é a co-líder do partido) não caiu na história da Carochinha do PCP em relação à Ucrânia. A CDU insiste numa solução para a guerra que estenderia o tapete vermelho a Putin e é incapaz de apresentar um argumento coerente sobre como combater o imperialismo russo. Paulo Raimundo não se liberta da cassete habitual e defende que lançar pombas contra as bombas de Vladimir Putin é a forma de conseguir a paz. Este poderá ter sido o melhor debate para Paulo Raimundo até aqui. Beneficiou e muito da simpatia do oponente, que, no entanto, lhe terá conseguido retirar votos. Paulo Raimundo quer construir convergências assentes em velhas ideias, Rui Tavares reinventa a esquerda e as suas causas.

Pode ver aqui as notas do debate desta segunda-feira.

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Pode ver aqui as notas dos debates da primeira semana: segunda-feiraterça-feiraquarta-feiraquinta-feira, sexta-feirasábado e domingo.

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