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RODRIGO MENDES/OBSERVADOR

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Debates. As notas para os seis protagonistas desta terça-feira: entre estreias e repetentes, quem esteve melhor?

Paulo Raimundo e Inês Sousa Real; Luís Montenegro e Mariana Mortágua; André Ventura e Rui Rocha. Houve confrontos ideológicos, debates mais e menos aguerridos, palavras duras e até se falou de Putin.

O dia triplo de debates terminou com Rui Rocha a dizer que um voto no Chega é um voto para perpetuar os socialistas no poder, já que “André Ventura foi incapaz de se comprometer” em viabilizar um governo minoritário do PSD/IL. E André Ventura em constantes provocações, com frases como “já percebi que a IL está doidinha para se meter na cama com o PSD”, algo que o líder da IL recusou. Pelo meio houve imigração, idosos e TAP.

Antes,  Luís Montenegro e Mariana Mortágua estrearam-se na maratona de debates televisivos divergindo em tudo: saúde, habitação, salários e impostos. Nada os aproxima ideologicamente e isso ficou bem claro no frente a frente em que o líder do PSD (e da AD) e a do Bloco começaram por discutir soluções para o SNS (com grande troca de argumentos sobre o sector privado e as PPP), passaram depois para o tema da habitação (com as rendas controladas em foco que chegaram a envolver Putin), também sem nunca concordarem, e acabaram a falar de rendimentos e impostos, igualmente em desacordo.

Paulo Raimundo e Inês Sousa Real tinham sido os primeiros a estar frente a frente neste segundo dia de debates. O secretário-geral do PCP fez a sua estreia, enquanto a líder do PAN, depois do acalorado embate com André Ventura. Discordaram sobre a legalização do lobbying, ambiente versus agricultura e no recurso aos privados na saúde.

Quem ganhou cada um dos debates? Ao longo destes dias — o último é dia 23, pode ver aqui o calendário completo —, um painel de avaliadores do Observador vai dar nota a cada um dos candidatos por cada um dos frentes a frente. E explicar porquê. A soma vai surgindo a cada dia, no gráfico inicial.

André Ventura (Chega)-Rui Rocha (IL)

Alexandra Machado — André Ventura consegue fazer um looping na montanha russa e ficar no mesmo sítio. Consegue ser socialista, consegue ser liberal, consegue ser social-democrata, mas mantendo-se no final populista. Tudo em todo o lado ao mesmo tempo é o que se pode dizer do líder do Chega neste debate com Rui Rocha no qual ainda começou por dizer que tem muitos pontos em comum com a IL. Mas foi essencialmente populista. O plano de Ventura para aumentar as pensões não é viável mas o líder do Chega não quer saber, quer apenas falar ao eleitorado, sem tração à realidade. Rui Rocha, por seu turno, mostrou ainda falta de preparação e (até) pouca ambição, mas esteve melhor neste segundo debate, um pouco mais combativo (ainda falta caminho, mas está a aprender). Ventura até começou o debate a tentar ser mais cordial mas deixou-se levar – sem novidades.

Ana Sanlez — Rui Rocha demorou quase dez minutos a tirar André Ventura do sério, o que só por si já é de louvar. A certa altura, o líder da IL pareceu assustado com a possibilidade de estar “de acordo com muita coisa” com o líder do Chega, nomeadamente enquanto o tema foi a carga fiscal, e decidiu avivar o debate chamando “socialista” a Ventura, comparando-o até a Pedro Nuno Santos. Resultou. O debate entrou no campo das “aldrabices” e das “bandalheiras” e ficaram claras as diferenças entre ambos. Ventura regressou ao seu estilo, falando (gritando) de tudo sem explicar nada. Rui Rocha tentou, com médio sucesso, desmontar o que chamou de “demagogia”.

Pedro Jorge Castro — Rui Rocha muito melhor do que na estreia na véspera, contra um adversário mais temível, mais experiente e mais perigoso. Não perdeu a compostura, o que é difícil, disfarçou melhor os nervos e encostou Ventura às cordas, desmontando a demagogia e acusando-o de ser um Pedronunista socialista do pior. O líder do Chega ficou bastante abaixo do que se poderia prever. Fugiu ostensivamente a explicar como ia taxar a economia paralela. E vitimizou-se a insinuar que estava a debater contra dois (num golpe baixo contra a excelente Rosa Oliveira Pinto). André Ventura entrou no debate a tentar mostrar moderação, mas acabou novamente na lama: a acusar a IL de estar “doidinha para se meter na cama com o PSD”; a usar chavões do Bloco; a medir percentagens nas sondagens; a chamar frouxo ao adversário; e a dizer que lhe deu uma coça — quando estivemos surpreendentemente mais perto de assistir ao contrário.

Miguel Santos Carrapatoso — Debate muito competente de Rui Rocha, que conseguiu deixar André Ventura a tentar justificar o injustificável: o facto de não ter dinheiro para pagar o bilhete de “carrossel” em que quer transformar o país. Aumentar pensões, salários, complementos, subsídios, reduzir todos os impostos e ultrapassar a esquerda pela esquerda tem uma factura – e André Ventura, que se quer afirmar como candidato a primeiro-ministro, continua sem a apresentar. O líder do Chega, que tentou começar o debate como um moderado, porque precisa de o fazer para crescer eleitoralmente, acabou a queixar-se da árbitra, a gritar “bandalheira”, a falar de “frouxidão” e a dizer que deu uma “coça” ao presidente da IL — argumentos sublimes, portanto. Ventura, cujo talento para performance televisiva não deve ser subvalorizado, queria esmagar o adversário dos “4%” das sondagens, como tantas vezes repetiu. Não conseguiu, embora tenha estado sólido junto dos tifosi do Chega. Rui Rocha, que tem desesperadamente de crescer para ser relevante à direita, superou as expectativas. E ganhou o debate.

Ricardo Conceição — A TAP deu asas a Rui Rocha e o líder da Iniciativa Liberal conseguiu pilotar, apesar da forte turbulência causada por André Ventura. Rocha colou o líder do Chega aos socialistas e desmontou parte das promessas daquele partido. Rui Rocha terá aprendido com os erros do primeiro debate e dominou de forma mais eficaz o nervosismo. Ventura viu-se obrigado a recorrer a palavras como “bandalheira” e a frases como “A IL está doidinha para se meter na cama com o PSD” para tentar recuperar. Ventura começou calmo, mas perdeu o pé. E no final, Rui Rocha conseguiu até marcar no truque do “assine lá o papelinho” ao desafiar Ventura a viabilizar um entendimento AD-IL. O líder do Chega não perdeu votos junto dos seus, resta saber se Rui Rocha conseguiu ganhar algum. Pelo menos, venceu o debate.

Luís Montenegro (AD)-Mariana Mortágua (Bloco)

Ana Sanlez — Afinal é possível que um debate entre dois candidatos com visões completamente opostas seja claro, esclarecedor e não ensurdecedor. Num debate dominado pela saúde e a habitação, ambos conseguiram apresentar as suas visões sobre os temas sem grandes atropelos e isso, nos dias que correm, já não é mau. Mortágua foi mais forte na habitação mas Montenegro sobrepôs-se na saúde e depois nos salários. Foi clara a estratégia de Montenegro de colar o Bloco ao PS, tanto à geringonça do passado como aos “sonhos” de Mariana Mortágua de ser ministra de um governo de Pedro Nuno Santos. Pode ser que resulte. O melhor debate até agora.

Filomena Martins — Quando o primeiro ataque de Mariana Mortágua a Luís Montenegro foi dizer que a AD não apresentou o programa eleitoral antes do debate com o Bloco, já entrou a perder. Quando decidiu enumerar as propostas bloquistas que todos já conhecemos e que não lhe garantem nenhum novo eleitor, tornou-se um aborrecimento; quando quis torturar as auditorias do Tribunal de Contas sobre as PPP, só revelando uma das partes, para dizerem apenas o que lhe interessa, mostrou falta de seriedade. Mas o pior estava para vir. O que passou pela cabeça de Mariana Mortágua para, quando até estava a dominar o tema da habitação, invocar Putin (sobre o alojamento local no Porto e o PSD)? Perante isto, a Montenegro bastou virar o jogo a seu favor quando foi preciso, não dizer nada quando não lhe interessava e colar o Bloco ao passado no que o governo socialista teve de pior: chamou-lhe cúmplice de seis anos de geringonça, co-responsável pela pior performance do SNS e pelo meio colou o Bloco a Pedro Nuno Santos, o seu maior alvo. E disparou as flechas.

Pedro Jorge Castro — O líder da AD mostrou que quem vence estes debates não é quem é mais obediente a responder às perguntas; é quem mostra que consegue dominar uma sala sem se descontrolar. Nisto, só teve aquele deslize de perguntar se podia interromper, que lhe saiu mal, claro. No resto, ficou acima do esperado, a impor-se, a dizer o que queria, a co-responsabilizar a adversária pelo estado do país, a deixar passar poucos ataques e a responder com apartes. Mariana Mortágua, que costuma ser tão assertiva e fatal, não está habituada a ser confrontada desta forma e deu o flanco, chegando ao ponto de fazer queixinhas pela contagem do tempo das interrupções. Nas rendas, foi buscar o exemplo da avó inquilina a receber cartas do senhorio, talvez não fosse preciso.

Ricardo Conceição — O melhor debate até agora, mas eficaz apenas para o eleitorado já conquistado. Mortágua, sempre acutilante, foi muito competente nas frases estudadas e preparadas ao pormenor. Porém, Luís Montenegro foi capaz de desfazer os argumentos da líder do Bloco de Esquerda assentes numa bravata anti-privados com contra-ataques certeiros. O líder do PSD esteve quase sempre melhor e mais natural durante todo o debate e falou diretamente ao centro-direita ao colar em várias ocasiões o Bloco de Esquerda ao PS, Mariana Mortágua a Pedro Nuno Santos. Montenegro foi eficaz na forma e no conteúdo, Mortágua ficou-se pela forma.

Sara Antunes de Oliveira — Como é que Vladimir Putin aparece no meio de um debate entre Bloco de Esquerda e PSD sobre os problemas da habituação em Portugal? Ou é milagre ou é “magia” — palavra que saltou da boca de Pedro Nuno Santos, no debate com Rui Rocha, para a de Luís Montenegro, no debate com Mariana Mortágua. A opção c) talvez seja mais adequada: é uma patetice de que a líder do Bloco de Esquerda não precisava, ainda para mais no tema da habitação, onde conseguiu ser mais incisiva do que o presidente do PSD. O segredo do desempenho de cada um estará mesmo no passado: a habitação não é um problema tão circunscrito aos últimos anos, e isso implica também governos à direita; a saúde agravou-se seriamente com medidas tomadas por governos socialistas apoiados pelo Bloco. Mariana Mortágua não conseguiu esconder o desconforto, insistiu na ideia de que o PS não fez o que o BE queria, mas não explicou como é que um novo governo socialista iria agora mudar de ideias. Pior, dobrou os factos para caberem na narrativa: na verdade, são vários os pareceres do Tribunal de Contas que destacam a eficiência financeira e qualidade clínica das PPP na Saúde. A Montenegro bastou a ignorar os temais mais difíceis e aproveitar todo o espaço para debitar propostas da AD.

Paulo Raimundo (PCP)-Inês Sousa Real (PAN)

Alexandra Machado — Sem surpresas, o debate entre o estreante Paulo Raimundo e Inês Sousa Real foi cordial (em alguns momentos monótono). E com as posições de sempre, de um lado e do outro sem, esquivando-se, ambos, ao confronto direto. Um debate marcadamente ideológico por parte de Raimundo que defendeu o Estado em tudo ou mesmo só o Estado. Já Inês Sousa Real, já se percebeu, vai desfiar todas as propostas que conseguiu fazer passar no Parlamento – a estratégia que usou com Ventura manteve com Raimundo. Estar no Parlamento como deputada única ajudará a líder do PAN a mostrar à vontade em muitos temas (neste debate em particular não houve um único que não soubesse do que fala). Raimundo pode não ter essa vantagem, mas como a solução para o PCP é sempre a mesma – o Estado – não deverá ser difícil para o líder do PCP passar a sua posição também em qualquer assunto. Na luta por terem presença no Parlamento, ambos realçam os resultados que tiveram nas regiões autónomas.

Helena Matos — Paulo Raimundo recuperou a velha técnica marxista de a cada pergunta iludir a resposta argumentando que “essa não é a questão fundamental” e fulanizando sempre o odioso dos problemas num grupo. Agora o PCP aponta ao que designa como ditadura da grande distribuição. O problema é que no fundamental o vocabulário e a sintaxe do PCP não são deste tempo. Já Inês Sousa Real mal vê um microfone repete que o PAN é o partido da oposição com mais propostas aprovadas no parlamento. Disto conclui Inês Sousa Real que tal aconteceu porque as propostas do PAN são excelentes e não porque o PS usou o PAN e a sua autocrática líder para simular diálogo com a oposição. Ao ouvi-la quase somos levados a acreditar que o PS governou sob orientação do PAN. Há megalomanias mais mansas mas certamente menos repetitivas. Não debateram (nem era esse o objectivo) o estreante Paulo Raimundo, que se arrisca a ser o gestor do declínio do PCP, nem a matraqueante Inês Sousa Real, que talvez se dê bem com os animais mas que já se deu melhor com as pessoas-eleitores (e com as do seu próprio partido que hoje mesmo foi abandonado pelo seu antigo líder). Foram ali trocar umas ideias sobre uns assuntos.

Miguel Pinheiro — Paulo Raimundo aterrou no estúdio da RTP, para o primeiro debate da sua carreira como líder do PCP, vindo diretamente de Marte — só pode. Ou “não conhecia ao pormenor” um tema; ou achava que não há um problema de falta de médicos em Portugal; ou acreditava que a melhor forma de baixar os preços de pesticidas era transformar o Estado num “centro de compras” para os agricultores. Do outro lado, Inês Sousa Real limitou-se a mostrar que vive no planeta Terra, o que, convenhamos, é curto.

Miguel Santos Carrapatoso — A ideia de que não há uma segunda oportunidade para causar uma primeira boa impressão não é uma fatalidade, mas não anda muito longe disso. Paulo Raimundo estreava-se em debates e havia a expectativa de perceber se conseguia ou não estar à altura dos elogios que lhe fazem no PCP. Não esteve. Desautorizou camaradas de partido no bate-boca sobre o lobbying, desperdiçou a oportunidade de mostrar as diferenças em relação ao PAN na defesa do mundo rural e não conseguiu mostrar com clareza aquilo que o partido defende para a Saúde. Suceder a Jerónimo de Sousa nunca seria uma tarefa fácil; mas Paulo Raimundo precisa de fazer muito mais se quiser sobreviver politicamente à temporada de debates. Hoje, foi um dia perdido. Inês Sousa Real, mesmo afónica e lesionada num ombro, não tendo sido brilhante (longe disso), fez o suficiente para parecer muito mais convincente e preparada do que Raimundo.

Ricardo Conceição — Apesar de estar de braço ao peito e rouca, Inês Sousa Real venceu sem problemas o frente a frente com o PCP. Paulo Raimundo apresentou-se confuso, incapaz de apresentar uma proposta, limitando-se a repetir as ideias de sempre. Foram discutidos temas como lobby, a agricultura, a saúde, a situação política e o secretário-geral dos comunistas nem um remate enquadrado com a baliza conseguiu. Sempre que tentou chutar, a bola acabou por cair nos papões de sempre, a saber: “A grande distribuição”, “as negociatas” das privatizações e “o privado” na Saúde. Por seu lado, a líder do PAN (mesmo lesionada) conseguiu apresentar propostas e ainda desferir um golpe ao acusar o oponente de ter chumbado “a lei de bases do clima”. Inês Sousa Real pode desfilar frases estudadas sem contraditório por parte de Paulo Raimundo, que se mostrou nervoso. Este poderá ter sido o debate mais fácil para Sousa Real e resta saber o que irá acontecer nos próximos ao secretário-geral do PCP. Se nada mudar, arrisca-se a sofrer goleadas.

Pode ver aqui as notas do primeiro dia de debates.

As notas dos debates. Pedro Nuno Santos ou Rui Rocha, André Ventura ou Inês Sousa Real: quem foi o melhor na estreia?

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