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É o maior ataque alguma vez movido por forças pró-palestinianas a Israel. Só no primeiro dia da ofensiva do Hamas, este sábado, morreram mais cidadãos israelitas de uma só vez do que em qualquer outro dia do histórico conflito. Por outro lado, a retaliação foi dura e, em menos de 24 horas, os ataques à Faixa de Gaza já tinham provocado um número de mortes muito próximo às sofridas pelos israelitas.
E o conflito continuou a escalar. Ao terceiro dia de uma nova guerra israelo-palestiniana, mais de 800 israelitas e quase 700 palestinianos morreram e há milhares de feridos de ambos os lados. Há também 150 reféns israelitas em Gaza.
Para além disso, o conflito ameaça alastrar-se a locais como a Cisjordânia (atualmente controlada em parte pela Autoridade Palestiniana) e o Líbano (cujo sul é controlado pelo Hezbollah).
O Observador preparou alguns mapas para ajudar a entender o que aconteceu aos longos destes dias numa pequena região que não chega sequer aos 30 mil quilómetros quadrados no total — uma área correspondente à do Alentejo.
Os rockets sobre o centro de Israel e os confrontos a pé no sul. O mapa do ataque do Hamas
Tudo começou por volta das 6h30 da manhã de sábado, quando o Hamas disparou uma série de rockets para várias pontos no centro e sul de Israel, incluindo as cidades de Tel Aviv e Jerusalém, atingindo um hospital na cidade de Ashkelon.
O Hamas diz ter disparado cinco mil rockets só nos primeiros 20 minutos da ofensiva. Israel desmente esse número e diz que terão sido disparados 2.200 rockets nas primeiras seis horas. Mas o The Times ajuda a explicar a escala desta ofensiva, oferecendo a seguinte comparação: durante a guerra de 2014, que durou 50 dias, o Hamas disparou ao todo quatro mil rockets.
Com o foco em Israel colocado na resposta aos ataques vindos do ar, militantes do Hamas derrubaram as cercas que separam a Faixa de Gaza de Israel e entraram no território israelita, a partir das 7h30 da manhã. “Foi um ataque combinado, fizeram-no em simultâneo”, admitiu o major Nir Dinar, do exército israelita. “Pelos vídeos conseguimos ver que cortaram a cerca, o que é surpreendente porque é uma cerca muito forte e isto nunca tinha acontecido, foi surpreendente. Em alguns locais, usaram explosivos improvisados.” Ao mesmo tempo, alguns combatentes islâmicos entraram em Israel usando parapentes e outros vieram pelo mar até à costa.
Com a fronteira aberta em vários pontos, os primeiros a entrar foram um grupo composto por oito carrinhas de caixa aberta e sete motas, acompanhados de dezenas de militantes a pé. Espalharam-se por várias aldeias, vilas e cidades perto da fronteira com Gaza — 22 no total — e atacaram três bases militares. Pelo caminho, mataram vários soldados e civis e raptaram dezenas de pessoas. A cidade de Sderot e o kibbutz de Kfar Azza foram dos locais onde se deram os ataques mais violentos.
Ao longo da manhã, mais militantes do Hamas continuaram a atravessar a fronteira de Gaza e a juntar-se aos ataques. As localidades mais afetadas eram na sua maioria kibbutz, comunidades agrícolas sionistas. No kibbutz Be’eri, por exemplo, 50 pessoas foram feitas reféns na cantina, onde estiveram sete horas até serem libertadas pelas forças armadas de Israel. Os militares israelitas iam entretanto retomando o controlo de algumas das localidades ocupadas.
Como Israel retaliou a meio do dia com ataques sobre a Faixa de Gaza, o Hamas reforçou os seus ataques com rockets. Foram lançados mísseis sobre Tel Aviv por volta das 8h00 da noite, alguns deles atingindo diretamente edifícios residenciais.
Os confrontos em algumas zonas ocupadas arrastaram-se ao longo da noite. Por volta das 5h00 da madrugada de domingo, o Hamas ainda controlava a esquadra da polícia de Sderot, por exemplo. 30 polícias já tinham morrido nos combates.
Lentamente, Israel foi derrotando os militantes do Hamas no terreno. Na manhã de segunda-feira, ainda havia confrontos em seis localidades no sul de Israel. Às 11h30, as IDF confirmaram já ter “retomado o controlo” sobre o seu território. Admitiam, porém, que ainda houvesse “invasores” no terreno.
As bombas largadas numa pequena fatia de território cheio de gente. A retaliação de Israel sobre Gaza
O ataque do Hamas decorria há cerca de quatro horas quando Israel ripostou. Por volta das 10h45 de sábado, os primeiros caças israelitas dispararam sobre a Faixa de Gaza.
Três horas depois, Israel confirmava ter atingido 21 edifícios ao longo de toda a Faixa de Gaza — da cidade de Gaza a Rafah, passando por outros pontos como Khan Younis. Em causa, dizem, estão edifícios que albergam operacionais do Hamas. Os responsáveis palestinianos, porém, dizem que foram atingidas casas, uma mesquita e até um hospital. Os Médicos Sem Fronteiras confirmariam entretanto que, ao todo, foram atingidos dois hospitais.
A distinção entre edifícios usados para fins militares e edifícios puramente civis é difícil de fazer na Faixa de Gaza. Por um lado, é um território com uma área muito pequena: 41 quilómetros de comprimento por apenas 10 de largura. São 365 quilómetros quadrados de área, um valor ligeiramente superior ao do concelho de Sintra em Portugal (310 quilómetros quadrados). Por outro, os elementos militares do Hamas estão integrados com a população.
Todos os ataques militares a Gaza tornam-se particularmente letais pelo facto de ser um território densamente povoado — cerca de cinco mil pessoas por quilómetro quadrado, em contraste com 400 pessoas por quilómetro quadrado em Israel.
Para além disso, a maioria das pessoas não tem autorização para sair do território. Israel retirou-se de Gaza em 2005 e, desde o ano seguinte, o local passou a ser controlado pelo Hamas, que venceu eleições naquele território. Como resultado, Israel decidiu impor um bloqueio, controlando entradas e saídas de bens e pessoas da Faixa de Gaza. O país invoca a necessidade de supervisionar a entrada de armamento no território e o movimento de pessoas que possam auxiliar o Hamas.
O bloqueio é também imposto pelo Egipto, o outro país que faz fronteira com Gaza e que vê com desconfiança o Hamas. Como consequência, a população do território enfrenta graves dificuldades económicas — 80% está dependente de ajuda das Nações Unidas para sobreviver, por exemplo. E, na prática, a maioria não consegue sair, mesmo que queira. Há apenas uma passagem por onde podem transitar os que têm autorização para sair de Gaza em direção a Israel (em Erez) e uma a ligar Gaza ao Egipto (Rafah).
Ao longo de sábado, domingo e esta segunda-feira, os ataques aéreos a Gaza continuaram. A Torre da Palestina, um edifício de 11 andares, colapsou por completo. E esta segunda-feira Israel anunciou que o bloqueio económico se tornou num cerco: para além do corte da eletricidade, agora não pode entrar no território comida, combustíveis, nem água.
A Cisjordânia a leste e o Líbano a norte. O risco de o conflito alastrar
Inicialmente, os conflitos pareciam estar contidos no território de Israel e da Faixa de Gaza. Mas, num território como este, o risco de contágio a regiões como a Cisjordânia e o Líbano, por exemplo, é sempre real.
Precisamente por isso, a ONU anunciou que iria deslocar “capacetes azuis” para a fronteira com o Líbano logo na noite de sábado. Mas as Nações Unidas não conseguiram evitar as primeiras escaramuças. Na tarde de domingo, registaram-se logo disparos de rockets do sul do Líbano — controlado pelo grupo islâmico Hezbollah — contra três postos militares israelitas perto das Quintas de Sheeba. Os israelitas responderam com disparos de artilharia.
Esta segunda-feira, a situação escalou. As IDF anunciaram que se registou uma “infiltração” de homens armados no norte de Israel que, em retaliação, enviou helicópteros de combate que atingiram vários alvos, entre eles um posto de observação do Hezbollah. Mais tarde, a “infiltração” foi reivindicada pelo grupo palestiniano Jihad Islâmica, que tem colaborado com o Hamas em Gaza. Mas os ataques israelitas terão matado quatro membros do Hezbollah e, horas depois, o grupo anunciava ter disparado rockets para o norte de Israel em resposta. Podemos, por isso, estar perante a abertura de uma segunda frente de guerra. Afinal, no passado, já houve várias guerras entre Israel e o Líbano, a mais recente em 2006.
Na Cisjordânia a situação é igualmente precária. O outro território palestiniano para além de Gaza não é controlado pelo Hamas. Parte dele é totalmente gerido pela Autoridade Palestiniana (atualmente controlada pelo partido histórico de Yasser Arafat, a Fatah), outra parte por Israel e um terceiro setor é gerido em conjunto. Há meses que a situação na Cisjordânia tem estado particularmente tensa, com inúmeros casos de violência registados em colonatos e campos de refugiados, por exemplo.
Com a crescente popularidade do Hamas entre alguns palestinianos, e os ataques de Israel a Gaza, há sempre o risco de a violência se agravar também na Cisjordânia — e até em Jerusalém Oriental, controlada por Israel, mas de maioria árabe. Desde o início do ataque do Hamas, este sábado, pelo menos 17 pessoas já morreram na Cisjordânia, a maioria em confrontos com as forças israelitas, segundo dados da Autoridade Palestiniana.
Na noite desta segunda-feira, surgiu um sinal de como a situação pode tornar-se ainda mais explosiva: as autoridades israelitas anunciaram que existia uma suspeita de “infiltração” no colonato de Einav, na Cisjordânia. A situação pode por isso agravar-se.