O PS governa em cerca de 150 câmaras, está numa posição em que será difícil crescer a nível autárquico e enfrenta um perigo de derrocada, tendo em conta os mais de cinquenta presidentes de Câmara que não pode recandidatar nas eleições de 2025 em virtude da limitação de mandatos. A somar aos riscos associados à natural tendência para a renovação do poder local, ainda existe a “incógnita” Chega, um joker que tanto pode rivalizar com o PS como dividir o eleitorado do PSD. O partido vai preparando a batalha eleitoral que se segue, enquanto aguarda as coordenadas da direção nacional.
Em setembro de 2025, Pedro Nuno Santos enfrentará o terceiro processo eleitoral como secretário-geral do partido, porventura aquele que pode ter maior impacto na sua liderança. No partido recorda-se que em 1985 o PS “foi salvo pela implantação autárquica” que tinha (antes do grande desaire sofrido nessas eleições) e que caso contrário tinha-lhe acontecido o que acabou por acontecer ao PRD“, numa referência à ascensão e queda do partido patrocinado por Ramalho Eanes. Nesse ano, o PRD conseguiu eleger 45 deputados e o PS não foi além dos 57; dois anos depois, na primeira maioria absoluta de Cavaco Silva, o PRD foi praticamente varrido do mapa e os socialistas, embora fragilizados, aguentaram-se.
O ano de 2025 trará vários focos de combate — mais um Orçamento do Estado e a preparação para as eleições presidenciais, por exemplo — mas, para o PS, é claro que “a prioridade tem de ser as autárquicas“. “O caminho na oposição pode ser longo e convém ir distribuindo quadros [por funções executivas]”, argumenta-se.
O contrário seria perder o ritmo tanto na gestão pública, como a frente política. A conclusão prática deste raciocínio é simples: muitos dos candidatos às próximas eleições autárquicas virão do anterior executivo liderado por António Costa, como são os casos de Ana Abrunhosa, Manuel Pizarro ou mesmo Mariana Vieira da Silva — apontados como candidatos às autarquias de Coimbra, Porto e Lisboa, respetivamente.
Apesar de as autárquicas serem, assumidamente, uma grande prioridade, o PS ainda tem tudo por definir. Não só candidatos, mas também objetivos estratégicos e metas eleitorais. As estruturas locais receberam ainda poucas orientações da direção nacional e a convenção autárquica deverá ocorrer apenas no início do próximo ano. Por agora, sabe-se que que os candidatos que quiserem continuar em funções terão apoio para isso. E pouco mais.
De acordo com vários dirigentes do PS ouvidos pelo Observador, vão sendo identificadas algumas oportunidades e riscos por todo o país e vão-se fazendo contas ao impacto que esta eleição pode trazer a nível nacional. A ambição passa por manter da liderança da Associação Nacional de Municípios (que lidera desde 2013) e da ANAFRE, o que significa voltar a ser a força política com mais câmaras e freguesias. E também tentar atacar as capitais de distrito que não tem do seu lado, com foco maior em Lisboa, Porto, Braga e Coimbra.
Proteger Pedro Nuno e a fé no pântano
“Não ganhar nada em capitais de distrito, perder a ANMP e perder a ANAFRE” seria uma “hecatombe“, diz um dos socialistas contactados pelo Observador. “Um desastre”, acrescenta. Mas o cenário mais pessimista é afastado por todos os socialistas ouvidos pelo Observador, que sugerem que o PS até “tem uma folga” para acautelar algumas perdas eventualmente compensadas “por capitais de distrito” e “cidades mais populosas”. A confirmar-se, sugere fonte socialista, “isso pode ser o início de um novo ciclo político”.
Outro dirigente do partido alinha nesta análise e acredita que o PS, mesmo tendo sido relegado para a oposição, está menos pressionado do que parece. Desde que, e esta não é uma questão de somenos importância, possa encontrar nas conquistas de capitais de distrito, sobretudo Porto ou Lisboa, uma almofada para amortecer outras perdas pelo país. “Se ganhar quatro grandes, o PS resolve o problema de potenciais perdas. Lisboa ou Porto seriam suficientes para encobrirem até perdas substanciais”, sintetiza a mesma fonte.
Ao mesmo tempo, os socialistas esforçam-se por afastar a ideia de que um eventual mau resultado pode vir a afetar a direção de Pedro Nuno Santos. Ao contrário, acreditam, quem está mais pressionado é mesmo Luís Montenegro. “Se Pedro Nuno Santos fosse primeiro-ministro, exigia-se mais. A leitura será sempre mais para o Governo”, considera um elemento do PS ouvido pelo Observador.
“Ter sempre o líder em causa quando está na oposição é uma tradição no PSD; mas não é no PS”, avisa outro socialista, ao mesmo tempo que vai garantindo não existir qualquer “adversário interno” em condições de fazer frente ao líder socialista. “Quem vai estar mais exposto é o líder do Governo”, diz mais um dirigente socialista que afasta eventuais turbulências internas. “O pântano pode vir a acontecer. Um bom resultado do PS será mau para o Governo”, assegura-se no PS.
Apesar de tudo, nem todos estão tão otimistas sobre uma eventual derrota de Luís Montenegro nessas autárquicas ou que as eleições sejam um claro cartão amarelo ao Governo, como aconteceu com António Guterres em 2001 e deu origem ao traumático “pântano” do PS. Existe quem acredite que “as mudanças não vão ser suficientes” para isso e que “nenhum dos dois grandes partidos vai tirar grandes dividendos”.
Recorde-se que estas autárquicas vão acontecer na antecâmara da discussão do Orçamento do Estado para 2026. Nessa altura, por limitações constitucionais, o Presidente da República estará impedido de dissolver a Assembleia da República e de convocar eleições antecipadas. Afastado um cenário de crise política, o PS está livre para chumbar o Orçamento do Estado. Um eventual bom resultado nas autárquicas pode ser um grande incentivo político para Pedro Nuno Santos infligir um golpe a Luís Montenegro.
Ainda assim, a herança deixada por António Costa a Pedro Nuno Santos é de peso. São 148 câmaras lideradas pelo PS, com o partido a ter especial relevo nos distritos do Porto. Faro e Santarém (12 câmaras em cada um) e tem nove distritos onde tem metade ou mais dos concelhos: Beja, Castelo Branco, Coimbra, Faro, Lisboa, Porto, Santarém Viana do Castelo e Vila Real. E o mesmo acontece nos Açores.
Os dois maiores riscos que os socialistas vão apontando são as mudanças obrigatórias em virtude da limitação de mandatos e também a “incógnita” Chega — que é como a esmagadora maioria dos dirigentes com quem o Observador falou descreve o efeito que o partido de André Ventura pode ter nas próximas autárquicas. Depois existem os riscos e elementos a contornar de sempre, como guerras internas locais e os casos de justiça, por exemplo. Tudo isto conta para o que poderá ser a jogada decisiva de Pedro Nuno Santos para tentar fragilizar Luís Montenegro e devolver o PS ao poder.
Zona Norte. Porto no topo da lista de desejos
No distrito do Porto, o PS domina com 12 câmaras (em 18) da sua cor (uma delas, Felgueiras, numa lista conjunta com o Livre) e 130 juntas de freguesia. A fasquia é difícil de superar e as atenções para estas autárquicas estão, assim, focadas nas câmaras que onde o partido é poder mas em fim de ciclo, com autarcas já no terceiro mandato: Gondomar, Lousada, Paços de Ferreira, Valongo e Vila Nova de Gaia.
Entre estas, o risco maior é Paços de Ferreira, um concelho tradicionalmente de direita — a julgar pelos resultados em eleições nacionais — e onde conquistou a Câmara em 2013 com o independente Humberto Brito, que entretanto já é militante do partido. A sua saída é vista como desafiante numa autárquicas em que os socialistas não querem dar o flanco.
Já quanto a oportunidades a explorar no distrito, o PS olha sobretudo para a Trofa e Amarante, conservando uma modesta esperança também para a Maia. No caso das duas primeiras, a ambição de reconquistas baseia-se na saída dos presidentes dos últimos 12 anos, sendo que no caso da Trofa o social-democrata Sérgio Humberto já saiu antecipadamente, quando foi eleito eurodeputado. Mas o sucessor é visto no PS como alguém que “não gera consenso”, o que o PS pretende agora explorar com Amadeu Dias, que se candidata pela terceira vez, tendo, por isso mesmo, já trabalho feito junto dos eleitores que quer roubar ao PSD.
Já em Amarante, também em mudança de ciclo depois de 12 anos de PSD, os socialistas esperam que possa virar para o seu lado agora, fundando essa expectativa no comportamento do partido no concelho nas últimas eleições nacionais. Há ainda a Maia, onde a aliança PSD/CDS está no poder, mas o PS está atento: o presidente António Silva Tiago não se afirmou de uma votação para a outra (entre 2017 e 2021), mas os socialistas também sabem que o terreno é difícil, tendo apenas uma freguesia do seu lado.
Quanto à cidade Porto, é um desejo antigo do PS e que desta vez pode ter uma oportunidade, ainda que seja sempre um concelho sociologicamente adverso. O PS ganhou a Câmara em 1976, mas só voltou a consegui-la anos depois, em 1989, com Fernando Gomes, aproveitando um desentendimento à direita. Desta vez pode voltar a acontecer, tendo em conta as divisões que já existem dentro do Movimento de Rui Moreira e ainda um candidato que avançará pelo PSD.
O PS é um dos partidos mais afectados pela limitação de mandatos nestas autárquicas, com mais de 50 presidentes de saída, mas no distrito de Braga só uma Câmara está nessas condições: Guimarães. A estratégia seguida para tentar estancar riscos foi escolher cedo — logo em agosto — o substituto de Domingos Bragança e aplacar divisões internas. Mal se apresentou como candidato, Ricardo Costa disse logo ter escolhido para número dois o atual vereador da Cultura, Paulo Lopes Silva, que tinha sido o seu principal adversário nas eleições internas.
No distrito, o PSD tem três câmaras em fim de ciclo e o PS tem esperança de poder vir a entrar pelo menos em duas que já foram suas: Amares e a capital de distrito, Braga — embora aqui as sempre fortes divergências na estrutura distrital do partido sejam fragilidades a explorar pelos adversários. Depois também aposta em Celorico de Basto e Vila Nova de Famalicão. E porquê? Para explorar as divisões internas no PSD.
No caso de Celorico de Basto é uma ambição alta, tendo em conta que se trata de um município onde o PSD tem consecutivas maiorias absolutas. Ainda assim, o PS está a olhar para uma dissidência que existe entre o atual presidente, José Peixoto Lima, e o seu antecessor (que esteve 12 anos em funções). Já quanto a Famalicão, os socialistas tentam perceber se a divisão entre o presidente e uma das suas vices pode ser vantajosa para o seu lado, já que Sofia Fernandes se candidatou contra Mário Passos (presidente da Câmara) e venceu a liderança da concelhia do PSD. Uma ferida de que o PS espera poder tirar proveitos autárquicos.
No distrito de Aveiro, o ponto de maior risco para o PS é a Câmara de Espinho onde o socialista Miguel Reis renunciou ao mandato de presidente depois de ter sido detido no âmbito da operação Vórtex, ficando em prisão domiciliária (entretanto levantada) que está a investigar a aceleração de projetos de empreendimentos na Câmara em troca de contrapartidas. Mas o processo também tocou no PSD, com o anterior presidente da autarquia, Joaquim Pinto Moreira, a ser acusado de corrupção passiva agravada, tráfico de influências e violação das regras urbanísticas. O caso baralha quaisquer contas que se façam para o concelho de onde é natural o primeiro-ministro.
Quanto a oportunidades, o PS espreita com atenção para Estarreja e Ovar, ambas câmaras onde se fecha um ciclo, uma imposição da limitação de mandatos, embora em Ovar o PSD já tenha antecipado a questão. O presidente Salvador Malheiro não levou o terceiro e último mandato até ao fim e saiu antes para se candidatar a deputado à Assembleia da República. No PS admite-se, no entanto, que Malheiro “valia mais do que o partido” localmente e espera-se que isso possa abrir agora uma oportunidade ao candidato socialista Emanuel Oliveira.
Em legislativas, o PSD tem uma expressão que em tempos idos já lhe valeu o nome eleitoral de Cavaquistão, mas, em autárquicas, o PS tem conseguido manter alguns concelhos (10 em 24) do distrito de Viseu. Nestas autárquicas metade deles estão em fim de ciclo e, por isso mesmo, representam um risco maior. Entre esses o maior problema apontado localmente é Resende, onde o partido está no poder há 24 anos e a esse natural desgaste se junta agora instabilidade entre o actual presidente e a estrutura política do PS. Entre as oportunidades, os socialistas colocam Tabuaço e Tondela.
A primeira porque está na situação da socialista Resende, mas ao contrário, com o PSD há muito no poder. A segunda Câmara porque a presidente que está em funções não foi eleita, ficou no lugar de José António Jesus que renunciou depois de o Tribunal da Relação de Coimbra ter confirmado a perda de mandato num caso de apropriação de dinheiro público, ao ter recebido pagamentos indevidos por deslocações em viaturas próprias. Para manter acesa a esperança do PS neste concelho também contribuiu o facto de em 2021 ter ficado a apenas 244 votos do PSD.
Em Viana do Castelo, o objetivo socialista é manter as seis das dez câmaras do distrito, a começar pelas duas onde os presidentes em funções estão de saída, Melgaço e Paredes de Coura — onde a transição será garantida, em princípio, através dos respectivos vices-presidentes. Já quanto a hipóteses de crescimento, a ambição é mais reservada. O PSD tem apenas um presidente que tem de sair, o de Arcos de Valdevez, mas o concelho é um bastião social-democrata, pelo que o PS terá dificuldades em mudar isso.
No distrito de Vila Real, os socialistas têm metade das câmaras e têm razões para estar mais preocupados com Montalegre onde o presidente Orlando Alves foi detido em outubro passado, bem como o vice-presidente da Câmara — em causa estão procedimentos de contratação pública. É uma situação bicuda e não é o único caso judicial a afectar o partido no distrito, já que recentemente também a Câmara de Peso da Régua foi alvo de buscas. Dois tropeções que abalam socialistas e aos quais se junta a frágil situação em Sabrosa, outro concelho que lidera embora com tantos vereadores como o movimento independente.
Bragança é dos poucos distrito onde o PS não tem autarcas em limitação de mandatos, já o seu principal adversário, o PSD, é maioritário nas câmaras que domina no distrito e empenhou-se em resolver rapidamente os problemas da mesma natureza, para travar eventuais intenções socialistas de lhe poder roubar terrirórios. Aconteceu em Bragança, Torre de Moncorvo e no Vimioso.
Zona Centro. Tentar apagar trauma de Lisboa, não perder Sintra e reconquistar Coimbra
No distrito de Lisboa, o PS vive dias indefinidos, sem ter um líder na Federação depois da saída de Ricardo Leão (tendo eleições marcadas para 10 de janeiro), mas é aqui que concentra três desafios de peso. O primeiro é a reconquista de Lisboa, depois do trauma de 2021 em que Fernando Medina foi derrotado por Carlos Moedas, embora ainda não se saiba com quem o fará — Mariana Vieira da Silva é a possibilidade mais forte. A reconquista da capital não é objetivo único, com os socialistas a olharem com atenção para Sintra e Cascais, pela mesma razão: o fim de ciclo.
Em Sintra, os 12 anos limite do independente eleito pelo PS Basílio Horta chegam ao fim e nas últimas autárquicas já soou um alarme, quando a lista perdeu a maioria absoluta que detinha desde o mandato anterior. Os socialistas perderam mais de 10 mil votos no segundo concelho mais populoso do país e, entretanto, as últimas legislativas voltaram a mostrar o partido em perda. Além disso, nessas mesmas eleições, o Chega mostrou um crescimento acentuado — teve mais 27 mil votos do que nas eleições anteriores. Por tudo isto, Sintra entra na lista das preocupações socialistas.
Já Cascais representa uma oportunidade para o partido que sonha em aproveitar o fim de ciclo de Carlos Carreiras para tirar ao PSD um concelho onde é poder há 23 anos (desde António Capucho em 2001). Sendo certo que nas últimas autárquicas a coligação PSD/CDS reforçou a maioria absoluta na Câmara.
Mais difícil ainda será Mafra, onde o PSD tentou já antecipar a situação de limitação de mandatos, ao colocar Hélder Sousa na lista das Europeias e preparando já a sucessão na Câmara. A hegemonia do PSD tem sido crescente e até subiu de votação nas últimas eleições, as primeiras em que o Chega se candidatou à Câmara entrando diretamente para o lugar de terceira força, logo a seguir ao PS que perdeu votos.
Santarém é dos distritos onde o PS tem mais câmaras e é também aquele onde conta com mais autarcas em limitação de mandatos. São sete, nas 12 câmaras que detém: Almeirim, Chamusca, Coruche, Entroncamento, Salvaterra de Magos, Torres Novas e Vila Nova da Barquinha. No caso de Tomar, que também estava neste lote, tentou resolver a questão há um ano, substituindo à presidente limitada, Anabela Freitas, por Hugo Cristóvão.
“Quando há alterações naturalmente há riscos superiores“, diz o presidente da federação distrital ao Observador. Mas ao mesmo tempo adverte que isso é igual para o PSD e para a CDU que, entre os dois, têm três câmaras na mesma situação. E na capital de distrito, Santarém, a saída antecipada do autarca dos últimos 11 anos, Ricardo Gonçalves (para liderar o Instituto Português do Desporto e Juventude), não deixou de fazer sonhar o PS com a conquista da Câmara — ainda não há candidato escolhido, mas ” a convicção é na vitória”, diz Hugo Costa.
O mesmo para as três câmaras onde o ciclo de 12 anos chega ao fim para os presidentes do PSD, como é o caso de Sardoal mas também Mação, onde “o PSD e poder desde o 25 de abril e há naturalmente desgaste”, acredita o socialista. Em Benavente, concelho comunista desde os anos 70, o deputado alerta para o facto de “o PS normalmente ganhar as eleições nacionais”, “estando a CDU em perda”.
No distrito de Coimbra, a principal aposta socialista é mesmo recuperar a capital de distrito e a intenção é avançar com Ana Abrunhosa, a ex-ministra da Coesão. Além disso, o PS também parte com expectativas elevadas sobre os concelhos de Góis e Mira — nesta última câmara, o autarca do PSD estava em limitação de mandatos e acabou por sair antes: Raúl Almeida é o novo presidente da Agência Regional de Promoção Turística do Centro.
Mas o PS também tem câmaras a mudar obrigatoriamente de mãos — aliás, Coimbra é o distrito onde os socialistas enfrentam um maior número de situações de limitação de mandato, tendo em conta o universo (são seis em nove). A ordem para o PS no distrito começar a tratar do processo autárquico veio ainda de António Costa, acautelando potenciais problemas.
E eles existem, sobretudo em Miranda do Corvo, Soure (lista que perdeu a concelhia vai avançar com candidatura independente à Câmara) e Vila Nova de Poiares (onde o PS distrital retirou confiança política a presidente de junta eleito pelo PS que vai avançar com lista independente à Câmara).
Em Leiria, os socialistas têm apenas um presidente com saída certa que é em Figueiró dos Vinhos, embora na Nazaré também tenha neste momento um presidente não eleito (Manuel Sequeira) que foi quem substituiu Walter Chicharro quando este saiu para se candidatar à Assembleia da República.
Quanto a oportunidades, num distrito onde o PSD não tem ninguém em fim de ciclo, os socialistas estão atentos a outros dados, como por exemplo ao comportamento dos independentes que governam em Pedrógão Grande e em Peniche (aqui com acordo com o PS).
Interior. Segurar a frente socialista
Em Portalegre, a expectativa é de que o PS não venha a correr riscos em nenhuma das suas seis câmaras (Campo Maior, Crato, Gavião, Nisa, Ponte de Sôr, Sousel) e que possa focar sobretudo em aproveitar a limitação de mandatos para lançar uma ofensiva sobre os comunistas. A CDU tem Avis e Monforte, ambas com presidentes de Câmara a fechar ciclos, e os socialistas veem aí possibilidades de tentar conquistar o poder.
O PS também aponta armas a dois concelhos liderados pelo PSD, na tentativa de explorar fragilidades locais. Em Marvão, o autarca eleito pelo PSD, Luís Vitorino, foi condenado a três anos de prisão, com pena suspensa, e a perda de mandato por um crime de corrupção passiva. E em Alter do Chão, os socialistas têm a ambição de uma reconquista do concelho perdido nas últimas autárquicas.
Castelo Branco é um distrito onde o PS tem uma implantação significativa, liderando em oito das 11 câmaras. Mas vai enfrentar os riscos de um ciclo de mudança, com cinco dos presidentes de Câmara (Belmonte, Covilhã, Idanha-a-Nova, Penamacor e Vila Velha de Rodão) a não poderem recandidatar-se. No distrito esta situação também se verifica no PSD que tem dois dos três presidentes que tem nas mesmas condições. Um cenário que faz com que o PS mantenha a ambição de poder crescer, nomeadamente nessas duas Câmaras social-democratas: Fundão e Vila de Rei.
Na Guarda, o PS tem implantação reduzida, gerindo apenas três das 14 câmaras: Fornos de Algodres, Seia e Trancoso — as duas últimas têm presidentes de saída. O potencial de crescimento existe, com o PS a olhar sobretudo para os sítios onde o PSD (que tem oito câmaras do distrito nas mãos) tem de mudar de presidente obrigatoriamente: Pinhel e Gouveia estão, por isso mesmo, na mira socialista.
Zona Sul. A luta com o Chega e a ofensiva sobre os comunistas
Faro é o distrito mais socialista já que o partido tem 12 das 16 câmaras. Cinco delas têm socialistas em fim de ciclo, mas há mais duas onde estão presidentes não eleitos. O de Portimão substituiu, em abril, a autarca que já não podia recandidatar-se (Isilda Gomes) e que saiu antecipadamente para se candidatar ao Parlamento Europeu e em Alcoutim o PS também tentou jogar por antecipação, com o presidente já com 11 anos de funções a sair para a administração da ALGAR, que faz a recolha e tratamento de resíduos na região.
No Algarve a pergunta de um milhão é qual será o comportamento do Chega que, nas legislativas deste ano, foi o partido mais votado na região. No PS espera-se que “as pessoas tenham um comportamento diferente nas autárquicas, em que o voto é mais personalizado e o Chega tem uma implantação muito fraca e tem candidatos com menor notoriedade”, refere um dirigente. Mas é uma incógnita, já que muitos dos eleitores do Chega nas últimas legislativas parecem ter vindo diretamente da abstenção.
Esta é a parte imprevisível em que o PS vai ter de esperar para abrir o melão e ver o que vale, já quanto ao que pode fazer para crescer num distrito onde o tecto já está pouco acima da cabeça, as apostas vão para as câmaras onde os adversários estão em fim de ciclo: Castro Marim (PSD) e em Silves (CDU).
No distrito de Setúbal, Montijo é a câmara socialista que representa maior risco já que não só chegou ao fim de um ciclo (a presidente em funções era a número dois do presidente que saiu para a empresa de resíduos sólidos AMARSUL), como o PS local vive momentos de divisão.
A socialista Catarina Marcelino avançou com uma candidatura à concelhia do Montijo contra Emanuel Costa — que entretanto desistiu mas que chegou a contar, entre os seus apoiantes, com Fernando Caria, o socialista que estava à frente da Junta da União das Freguesias de Montijo e Afonsoeiro há 11 anos. Depois da vitória de Marcelino, esta outra ala do PS local (liderada por Caria) acabou por desfiliar-se do partido e Caria vai avançar com uma candidatura independente à Câmara. Uma divisão do espaço do PS que terá custos e coloca em risco a liderança da autarquia.
Por outro lado, o PS tenta olhar para o copo meio cheio de câmaras em que a CDU chega agora o limite de 12 anos seguidos em funções: Alcácer do Sal, Grândola, Palmela, Seixal e Santiago do Cacém. Isto além do problema que os comunistas enfrentam em Setúbal com o regresso de Maria das Dores Meira (que foi presidente daquela Câmara por 15 anos — assumiu em 2006, após a demissão de Carlos de Sousa), mas agora contra a CDU (partido de que se desfiliou).
Os socialistas fazem contas não só aos potenciais ganhos dessa divisão, mas também à entrada do Chega na disputa de votos nestas autárquicas (nas legislativas o partido mais que duplicou o número de votantes no concelho). É uma capital de distrito onde os comunistas reinam há mais de 20 anos e em que os socialistas acreditam poder agora virar a longa história, até porque nas últimas autárquicas já conseguiram roubar a maioria absoluta à CDU.
Não é o único bastião comunista onde têm esperanças. No Seixal o PS está a apostar na reconfiguração do concelho, com o projeto do Arco Ribeirinho Sul, e nos efeitos que isso está já a ter na população do concelho para conseguir destronar a CDU. Por outro lado, é proibido perder Barreiro, Alcochete e Almada, os três concelhos que varreu da lista comunista em 2017 e que mantém desde então.
No Alentejo, o crescimento do Chega tem assustado as forças políticas dominantes, mas também alimenta esperança para as autárquicas para partidos que esperam conseguir destronar concelhos que os comunistas dominam há anos.
Em Beja, as câmaras dividem-se entre CDU e PS — que tem dez das 14. A ambição socialista passa por manter o que tem, sabendo de antemão que o Chega representa um risco real sobretudo em Beja e Moura. Por outro lado, o partido de André Ventura também pode crescer em Serpa, onde é a CDU que está no poder desde sempre e onde o PS considera poder haver agora condições para ganhar.
Serpa e Vidigueira são as duas principais apostas para a reconquista, já que em Serpa não só há a questão do Chega como também há a saída do actual presidente, João Rocha. Na Vidigueira, o PS quer tentar explorar a turbulência interna de uma Câmara onde há queixas de assédio moral e psicológico pelas chefias da autarquia, denunciadas pelo Sindicato dos Trabalhadores da Administração Pública (SINTAP) que chegou a promover uma ação de protesto em frente à Câmara em julho passado.
Já em Évora, o PS tem 6 de 15 câmaras e é dos poucos distritos onde não tem nenhum autarca a ter de sair obrigatoriamente do cargo. No partido fala-se numa aposta forte para a câmara de Évora que é comunista, com os socialistas animados pela queda em votos que a CDU teve nas últimas autárquicas e que deixou comunistas, socialistas e sociais-democratas empatados em número de vereadores no município (dois para cada). Mas o distrito é um dos territórios onde o Chega ganhou peso nas últimas legislativas, sendo um elemento a considerar nas contas que os restantes partidos estão a fazer para as próximas autárquicas.
Ilhas. Crescer na Madeira, manter nos Açores
Na Madeira, o principal objetivo socialista é tentar recuperar a Câmara do Funchal, que chegou a conseguir tirar ao PSD em 2019 mas que voltou a perder nas últimas autárquicas. Tenciona avançar com o mesmo candidato que levou a votos em 2021, Miguel Silva Gouveia, e que perdeu a Câmara para Pedro Calado, do PSD.
Ora, Calado está no centro do caso de justiça que levou à sua detenção por suspeitas de corrupção e à constituição de Miguel Albuquerque, presidente do Governo Regional, como arguido, tendo renunciado ao cargo na Câmara. Os socialistas julgam poder tirar proveito da confusão instalada e que se estendeu ao Governo da Região — pode voltar a haver legislativas regionais ainda antes das autárquicas.
Na região, o PS tem apenas três câmaras, duas das quais (Machico e Porto Moniz) em limitação de mandatos, mas os socialistas estão convencidos de que não vão perder nenhuma delas. Por outro lado, esperam poder explorar este mesmo flanco da limitação que atinge os seus adversários: PSD e JPP.
O partido de Élvio Sousa domina em Santa Cruz, mas o presidente da Câmara está de saída e a sucessão está a gerar divisões internas, com vários possíveis candidatos já alinhados, todos militantes do partido: Élia Ascensão, Milton Teixeira e Paulo Alves. Também no Porto Santo, do PSD, os socialistas querem explorar a divisão interna, onde o presidente da Câmara, Nuno Batista, propôs a extinção do cargo de delegado do Governo Regional no Porto Santo, ocupado pelo também social-democrata Roberto Silva.
Também em Câmara de Lobos, PSD, há uma crise interna que os socialistas estão apostados em explorar para fazer vingar a sua posição no concelho . Ainda que cientes de que se trata de um bastião social-democrata, os socialistas querem tirar proveito de uma guerra interna que opõe o atual presidente de Câmara a um dos presidentes de junta no concelho que é do PSD mas quer o seu lugar.
Nos Açores o PS tem nove de 19 câmaras que quer manter, mas teme problemas em duas muito concretas onde há mudança de ciclo: Lages das Flores e Vila Franca do Campo. Mas tem a expectativa de poder ganhar a Madalena, onde o PSD enfrenta a mesma lei que impôs um limite de três mandatos consecutivos aos autarcas. Também tem ambição de crescer na Praia da Vitória e em Santa Cruz da Graciosa, ambas dominadas pelo PSD.