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Autárquicas no Porto. A última chamada dos candidatos antes de o dia acabar

Os candidatos à câmara do Porto foram desafiados a fazer a última chamada do dia para o jornalista do Observador que acompanha a comitiva. Afinal, o que pensam os candidatos quando o dia acaba?

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O independente Rui Moreira dorme a sesta antes de cada arruada e, quando chega a casa, senta-se à conversa com a mulher, sem olhar para a televisão. Tiago Barbosa Ribeiro, do PS, começa a jantar num dia e só termina noutro (por ser próximo da meia-noite). Vladimiro Feliz, do PSD, faz uma das chamadas depois de ser desviado para um copo por amigos e membros da JSD. Ilda Figueiredo, da CDU, não dispensa atacar Rui Moreira nem ao cair da noite e o mesmo acontece com Bebiana Cunha do PAN — que não se limita a transformar o “Aqui há Porto” de Moreira num “Aqui há Gato”, como também relaxa com os felinos antes de dormir. Já António Fonseca conta como já estragou as solas dos sapatos e revela como termina cada dia de campanha: a comer iogurte.

Tudo isto faz parte das confissões dos candidatos à câmara municipal do Porto nas últimas chamadas do dia. Os candidatos de partidos com assento parlamentar foram desafiados a atender um telefonema tardio a fechar o dia para o jornalista do Observador que está no terreno. Todos aceitaram o desafio.

[Ouça aqui um resumo das chamadas aos sete principais candidatos:]

“A Última Chamada” dos candidatos ao Porto

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Rui Moreira. As arruadas exigentes fisicamente (ainda mais com fato e gravata) e a preferência por nunca dar o primeiro passo

[Ouça aqui a última chamada durante três dias consecutivos a Rui Moreira:]

Rui Moreira faz campanha sem jornalistas por perto

20 de setembro, segunda-feira. A campanha está na estrada há uma semana e Rui Moreira divide-se entre ações de campanha diárias e o trabalho na câmara. Ao contrário do fim de semana, aparece de fato e gravata e justifica que não pode descurar o trabalho na autarquia. Por isso, faz o esforço de se fazer à estrada com sapatos, mas ao fim do dia dispensa as normais caminhadas. Ficam para depois das eleições.

– Estou. Olá, Inês.
– Boa noite, Rui Moreira, desde há pouco. Hoje uma das ações do dia aconteceu numa das freguesias que quer muito ganhar nestas eleições tendo em conta que está nas mãos do PSD, ao contrário das freguesias no Porto, a freguesia de Paranhos. Qual a importância de conseguir conquistar esta freguesia? Porque é uma das grandes batalhas destas eleições?
– Há várias razões, em primeiro lugar porque das freguesias às quais concorremos é a única em que nunca vencemos. Curiosamente nunca vencemos para a junta de freguesia ainda que tenhamos vencido sempre quer na votação para a câmara municipal, quer para a assembleia municipal.
– Mas consegue arranjar uma justificação para isso?
– De facto aquela junta de freguesia, da forma que ela tem sido gerida por Alberto Machado, ele conseguiu fixar eleitores, conseguiu sempre dizer “votem para a câmara e para a assembleia municipal onde quiserem e para a junta votem em nós”. E o PSD, sabendo que só tinha essa freguesia, faz uma enorme aposta nesta freguesia, nomeadamente ao nível da campanha, com um conjunto de ações muito fortes. Só que desta vez o candidato já não é Alberto Machado, ainda que ele queira fingir que é. Se virem os outdoors e os materiais do PSD ele aparece sempre em primeiro lugar e Miguel Seabra em segundo. Alberto Machado é assim um bocadinho o Putin da junta de freguesia, tanto que pôs lá quem o antecede e o sucede. Curiosamente o candidato à junta de freguesia pelo PSD é o anterior presidente da junta de freguesia de Paranhos.

Neste momento o movimento independente encabeçado por Rui Moreira tem cinco das sete freguesias do Porto. À partida para estas eleições autárquicas o presidente-candidato definiu dois objetivos: conseguir uma dupla maioria no executivo e na assembleia municipal e conquistar Paranhos. Mais do que juntar uma freguesia às cores do movimento, o autarca pretende que haja uma “articulação” entre a câmara e as juntas, o que diz não ter acontecido até então em Paranhos. Diferente é o caso de Campanhã (onde o movimento não apresentou candidato e apoia o socialista Ernesto Santos), onde Moreira admitiu que, apesar de ser uma junta tradicionalmente do PS, tem sido possível uma “articulação em coisas tão importantes como o PDM”. 

– Considera que, tal como pede uma maioria absoluta na assembleia municipal e no executivo, é relevante ter essa tal união de juntas de freguesia para conseguir cumprir todas as promessas para estes últimos quatro anos de Rui Moreira na câmara — se for eleito?
– É relevante, não direi que é dramático. Mas é relevante principalmente para a população de Paranhos que muitas vezes não consegue compreender o porquê de uma determinada estratégia. Olhe, na questão da cultura, uma coisa que me é tão cara. Nós temos um conjunto de programas como o Cultura em Expansão, em que temos ligação às ligações de bairro e levamos a cultura um pouco por todo o Porto e fazemos isto em articulação com as juntas de freguesia, em Paranhos nunca conseguimos encantar a junta de freguesia em colaborar connosco. Tentámos fazer algumas iniciativas, mas nunca houve mobilização por parte da junta porque o PSD/Porto tem uma visão relativamente à cultura não sei se diferente do nosso ou se não tem visão para a cultura.

Da cultura à habitação social, à economia e ao desporto, Rui Moreira dividiu-se dia após dia entre visitas à obra feita (e a mais promessas) e arruadas pelo Porto. Foram muitos quilómetros palmilhados, com uma comitiva que foi aumentando ao longo dos últimos dias da campanha. No dia desta conversa, Rui Moreira esteve exatamente na junta que quer conquistar e que lhe tem escapado nos últimos oito anos. Aliás, o tudo por tudo acontece agora porque o PSD foi obrigado a mudar de candidato e esse é o trunfo dos independentes.

– Tem andado muito pelas ruas nestes últimos dias, dá para medir um pouco o pulso à população, como se costuma dizer, ainda que o barómetro nunca seja 100% fiável quando se está em campanha. O que é que sentiu em Paranhos?
– Senti as pessoas contentes, senti afeto, senti que as pessoas gostam de nos ver, de nos encontrar, que são capazes às vezes de andar 200 ou 300 metros atrás de mim porque ouviram dizer que eu passei e vêm dizer que me queriam falar por causa disto ou daquilo. Umas vezes para agradecer coisas que não têm de agradecer, porque são direitos que as pessoas têm porque finalmente conseguiram uma habitação, seja para dizer que houve uma determinada obra que ainda não está concluída ou que gostariam de uma coisa diferente. Este sentir é bom para mim no pressuposto que continuarei, fico a perceber melhor, ainda que eu ande todos os dias do ano praticamente na rua, mas muitas vezes há sítios onde nós não vamos e quando vou como presidente de câmara as pessoas se calhar acanham-se. Quando estou a fazer campanha tenho a possibilidade de conhecer melhor. Os cidadãos são muito inteligentes e muitas vezes vêm com pequenas sugestões incríveis, muito apropriadas, isso é útil e é uma coisa que gosto muito de fazer.

– Costuma chamar os vereadores e candidatos a vereadores para apontar alguns problemas. É uma tradição que já vem de outras campanhas? Depois acaba por resolver os problemas?
– É, guardarmos essas coisas, exatamente. Por exemplo, a matéria da limpeza urbana ou dos jardins, é uma incumbência que tem estado no meu vice-presidente, no Filipe Araújo. Os parques infantis ou os ringues, é normal chamar o Filipe Araújo porque ele conhece melhor o território e sabe se é possível ou se convém. Se se está a falar em questões da habitação social, chamar o Fernando Paulo e perguntar porque é que se fez isto assim ou assado. Por exemplo, hoje havia moradores que estavam no Carriçal onde tivemos uma grande intervenção que acabou em agosto e uma moradora veio-me dizer “senhor presidente, ainda estão aqui restos de tinta e tudo mais” e o Fernando Paulo explicou-me que a obra ainda não foi vistoriada e, portanto, ainda não está de facto concluída. E isso é útil para perceber por que é que determinada coisa não está bem, porque uma janela não fecha, todas essas coisas são úteis e naturalmente sendo nós os incumbentes temos a vantagem da informação, a desvantagem que temos é que se alguma coisa correr mal as pessoas vão apontar-nos a nós e não aos nossos adversários. 

A postura de Rui Moreira é sempre a mesma. Está na linha da frente, normalmente acompanhado pelo candidato à junta de freguesia em que se encontra e sempre rodeado de vereadores de várias áreas. É o homem que dá a cara, mas poucas vezes é o primeiro a dirigir-se a alguém ou a entrar espontaneamente num café ou numa loja. Normalmente espera que as pessoas venham cumprimentá-lo, acena ao longe, mas quando sente uma abertura tem sempre um aperto de mão ou um abraço pronto. Ao Observador, admitiu que não sente liberdade para invadir a privacidade das pessoas que estão no seu bairro, no seu local de trabalho, na sua casa. Entrou em várias durante a campanha, mas sempre convidado e em locais em que o presidente e o ídolo pareciam confundir-se.

– Costuma seguir na frente da comitiva, mas poucas vezes é o Rui Moreira a aproximar-se das pessoas. Deixa que sejam elas a darem o primeiro passo. É defeito ou feitio?
– Eu acho que nós não nos podemos esquecer que estamos no território das pessoas. Normalmente, muitas vezes, se a pessoa me acena eu vou falar com ela, mas não gosto muito de perturbar as pessoas. Nas nossas campanhas não levamos bombos, não levamos um carro com megafone, tentamos não perturbar a vida das pessoas, não queremos assustar as pessoas. Andar numa arruada para nós não é um ato de exibicionismo, é um passeio que fazemos, em que levamos muitas pessoas, imensas pessoas como levámos hoje, com crianças e tudo mais, mas não queremos ser intrusivos e é por isso também que somos bem recebidos.

– Está ali, dá oportunidade às pessoas de se chegarem até si, mas não quer entrar na privacidade delas?
– Não, mas muitas vezes as pessoas falam comigo e às vezes as pessoas ficam todas paradas enquanto eu estou ali a falar com uma senhora. Ainda hoje estive a falar com várias pessoas e estive ali uns minutos a falar com cada uma delas…

– E pára toda a comitiva.
– A comitiva pára e não se aproxima excessivamente exatamente porque essas pessoas às vezes querem-me contar coisas da sua vida privada e muitas vezes não têm nada a ver com o facto de eu ser presidente de câmara. Nós somos seres humanos, eu sou uma pessoa humana e acho que olhar as pessoas e ouvir as pessoas faz parte do trabalho que eu acho que devo fazer e da forma como procuro cultivar o contacto que temos com as pessoas. Nós que vimos para a política, e não só apenas eu, julgo que todos os outros, temos de gostar das pessoas, se não gostarmos das pessoas estamos na profissão errada.

Aos 65 anos — Rui Moreira até brincou numa visita à Associação Monte Pedral ao dizer que já tinha “entrado para o grupo dos seniores” —, o recandidato independente recusou a ideia de que a energia possa estar a esgotar-se após tantos dias de campanha. São muitas horas de rua, com dias divididos em pelo menos dois momentos de campanha e ainda com a gestão da câmara municipal (que ao contrário do normal agora se faz nas horas vagas). É a adrenalina que lhe alimenta o corpo (e a alma) nos dias mais intensos, mas também precisa de momentos de pausa, principalmente antes dos confrontos importantes. E é na sesta que vai buscar essa força.

– É daqueles que precisa de muitas horas de sono para recuperar ou nem por isso?
– Não, normalmente o que preciso é, de vez em quando, antes de uma arruada, mas também o faço antes de uma entrevista, normalmente fazer uma sesta, dormir assim 20 minutos que me ajudam imenso. Mas tenho por hábito andar muito a pé e, portanto, fisicamente isto não é muito extenuante. Claro que uma pessoa de vez em quando… eu hoje tive de ir à Câmara Municipal do Porto trabalhar, havia coisas para tratar. Ou seja, tenho de ir para a arruada de fato e gravata e tenho de levar sapatos de trabalho, claro que se fosse com uns ténis era mais confortável. Quando faço ao fim de semana uma arruada, ontem por exemplo, andámos e estava com ténis, é mais fácil, custa menos. Com sapatos de trabalho, de atacadores não dá assim muito jeito.

– É difícil juntar a presidência da câmara que ainda está a decorrer com o candidato à câmara?
– Sim, porque a câmara continua a funcionar, a cidade continua a funcionar, a câmara continua a precisar da minha atenção. Não precisa do meu tempo todo, até porque há coisas que neste momento estão interrompidas, mas há muita coisa que tem de ser feita. Ainda hoje tive de assinar um contrato com o IHRU exatamente de transferência de terrenos para a CMP e não posso agora perder esta oportunidade e dizer “isto pode esperar até eu tomar posse”, há coisas que são mesmo urgentes. Há coisas que tenho de fazer, não posso deixar de fazer e também não posso ir lá de ténis, que ninguém compreenderia. E, portanto, tenho de governar a câmara e a minha campanha ao mesmo tempo, ainda que aí seja o meu diretor a dar-me ordens, que eu sou muito obediente.

Apesar das ordens que recebe, a liderança está-lhe no sangue (“por natureza tem de ser“) e apesar de ser a direção de campanha a tratar de quase tudo, Rui Moreira dá um “input maior” na cultura, a área que sempre apadrinhou. E no dia-a-dia, Rui Moreira não abdica de fazer uma vida normal. A campanha agora não o permite, mas contou ao Observador durante uma arruada que, além de andar muito a pé no Porto mesmo durante a semana, gosta de fazer caminhadas. “O meu médico disse-me que o melhor desporto para mim é fazer caminhadas.” Rui Moreira cumpre e sempre que pode veste-se a rigor para se fazer à estrada. 

– Contou-me há pouco que caminhava muitas vezes pela cidade do Porto, que basicamente o seu meio de transporte é a pé. Nestas duas semanas não é preciso praticar desporto, a caminhada chega?
– Ai, esta caminhada chega, chega. Quer dizer, muitas vezes ando a pé no centro do Porto, na baixa e tudo mais e ando neste ritmo, mas também procuro sempre que possível fazer caminhadas em passo acelerado e com a vestimenta adequada e essas não consigo fazer durante o tempo de campanha.

– Ficam adiadas?
– Ficam adiadas, mas isto é exigente do ponto de vista físico, mas acho que estou em boa forma física, aguento e percebo que às vezes canso as pessoas que vêm atrás de mim quando subitamente acelero o passo. Mas com um metro e noventa tenho de me lembrar que andam atrás pessoas que dão passadas mais curtas.
– Só antes de terminar, o despertador para amanhã já tem hora marcada?
– O despertador para amanhã tem hora marcada para as 7h15.

– É sempre assim?
– Normalmente não preciso do despertador para acordar entre as 7h00 e as 7h30, confesso-lhe que durante a campanha tenho posto o despertador do meu telemóvel porque, parecendo que não, uma pessoa começa a ficar mais cansada e não dá para correr grandes riscos.
– Não lhe roubo mais tempo, até para que possa descansar, até amanhã.

Os adversários que são amigos, a sesta antes do debate e a água das Pedras antes de ir para a cama

21 de setembro, terça-feira. É o dia anterior ao penúltimo debate da campanha eleitoral. Desta vez não são 11 candidatos devido à seleção que foi feita, mas a preparação para o embate é a mesma: uma sesta. Quando o telefone toca, Rui Moreira ainda estava na rua. Longe dos microfones, aproveitou para jantar depois da arruada no centro histórico, mas continuou em modo de campanha.

– Estou?
– Estou. Olá, boa noite, Rui Moreira.
– Boa noite, Inês.
– Mais um dia de campanha, mais uma chamada. Como é que se sente hoje, já por casa a esta hora?
– Não, olhe, estou aqui no passeio Alegre ainda a fazer campanha eleitoral, a encontrar pessoas.

– Continuou a fazer campanha depois da arruada?
– Continuei. Pelo meio jantei ainda, que era necessário.
– Dispensa os jornalistas nessas ações mais intimistas, gosta de as fazer?
– Não é uma questão de dispensar os jornalistas, também quero poupar os jornalistas (risos) porque são muitas horas de contacto e às vezes também precisamos de ouvir as pessoas e com os jornalistas às vezes as pessoas sentem-se um pouco inibidas de falar, o que é compreensível, e depois a coisa fica um bocadinho plástica e eu também gosto de aproveitar estas ocasiões para falar com as pessoas e portanto ando aqui, ainda por cima está uma noite fantástica no Porto, uma noite tropical e ando aqui no passeio alegre. Vim tomar um café e ando a passear.

Nas ruas do Porto, Rui Moreira é o “senhor presidente”. Muitas das pessoas que o procuram só querem dar uma palavra ao autarca, trocar dois dedos de conversa, agradecer. No dia da visita ao bairro Rainha Dona Leonor uma das residentes tinha um altar em cima do frigorífico e entre várias fotografias de familiares estava o panfleto de Rui Moreira. “Rezo por ele”, admitia a portuense. Mas nem só de elogios é feita a campanha, os problemas, dos mais pequenos aos maiores, são reportados ao autarca, não se tratasse de umas autárquicas. Há queixas de humidade, de piso escorregadio, de dificuldade em mudar de casa e quando a resposta não existe, o autarca procura quem tem por perto, os vereadores de cada área. São muitas horas e dias de contacto com a população e há um pouco de tudo.

– O cansaço já pesa um bocadinho a esta hora da noite?
– O cansaço vai pesar no dia vinte e… nós depois temos aqueles dois dias de reflexão que a gente não percebe muito bem para que é, para descansar um bocado para a noite de 26, mas até lá adrenalina serve e ajuda-nos a fazer das tripas coração, como se diz na cidade do Porto.
– No dia a seguir às eleições vai precisar de umas férias quase, mas vai ser preciso começar a trabalhar?
– Não vou poder porque está marcada logo uma assembleia municipal para o dia 27 e vai ser um bocadinho difícil, mas depois hei-de tirar uns dias.

– E nestes dias, quando chega a casa, vê notícias ou já está cansado e opta por ver uma série ou assim?
– Não, não. Quando chego a casa sento-me com a minha mulher, com os meus filhos, de vez em quando os meus netos ainda lá aparecem para dizer “olá, avô”, hoje já é um bocado tarde, mas não vejo televisão. Depois o que acontece é que o meu diretor de campanha faz-me um resumo da matéria dada. No dia seguinte de manhã acordo às sete da manhã e passo a primeira meia hora… eles no fundo fazem um resumo daquilo que me interessa ver e que é mais relevante. Mas não vejo notícias, até porque aquilo que aconteceu nos últimos dias e que acontece sempre é que só se fala dos partidos políticos, dos líderes dos partidos políticos. Eu não tenho nenhum líder, normalmente o que se passa se ligo a televisão e vejo as notícias estão-me a dizer onde é que os líderes nacionais andam a fazer campanha e isso, como compreende, não me interessa particularmente.

A comitiva que rodeia Rui Moreira é o suporte do presidente, muitas caras repetem-se a cada ação de campanha e o núcleo forte não mexe. Quando chega aos locais está tudo montado e pronto a arrancar. E no final, Rui Moreira não termina uma arruada sem dois pormenores: um agradecimento a todos os que estiveram presentes e a data e hora da próxima, para não perder a oportunidade de recordar todos os que ali estão. “Aqui há Porto”, grita no final da curta declaração.

– Teve hoje provavelmente a maior arruada da campanha no centro histórico do Porto…
– Até à próxima, até à próxima (risos).

– À medida que o dia das eleições se aproxima sente os nervos a aumentar?
– Não, hoje quando cheguei à Ribeira fiquei muito emocionado porque a Ribeira é sempre um sítio muito especial. O meu avô tinha um escritório na Mouzinho da Silveira, a minha avó ao sábado metia-me no elétrico e o meu avô ia-me buscar para almoçar comigo e conheço a Ribeira há muitos anos. Mas a Ribeira é muito exigente e há muito aquela ideia de que já não há pessoas da Ribeira a viver na Ribeira.

– Hoje percebeu o contrário?
– A Inês andou comigo e percebeu o contrário. Percebeu que este projeto que temos de convidar as pessoas que eram originárias dali voltar para a habitação social que estamos a reabilitar, são casas como as de todos os outros, percebo que isto começa a ter impacto. Confesso que hoje quando comecei a ver pessoas das janelas a acenar e aplaudir e tal…

– Sentiu um aperto no coração?
– Senti, senti, senti. Nós somos humanos. Quando pensamos que há oito anos ia lá e as pessoas lembravam-se de mim, mas havia pouca gente e tal. Uma pessoa ouve sempre o esvaziamento e agora começa a ver que virado para o clube da Ribeira há casas que são da câmara e que agora foram reabilitadas e voltaram para lá pessoas que estavam, por exemplo, no Aleixo e que vêm para as janelas espontaneamente aplaudir, compreende que isso me causa, pronto, sentimos as emoções. E uma pessoa fica assim um bocadinho embargadas. Embargada é a palavra certa para isto.

Na quarta-feira, Rui Moreira tinha um debate com os partidos que têm lugar na assembleia municipal, depois de já ter tido um debate a 11 (o número de candidatos à câmara do Porto) e na noite anterior não mostrou estar nervoso. Na última chamada do dia explicou que os números são algo que faz questão de não errar, mas não tem uma estratégia afinada para se preparar para este tipo de confrontos. Mas uma coisa é certa, antes é preciso dormir uma sesta.

– Amanhã tem o penúltimo debate desta campanha como é que se prepara para estes momentos?
– Respeitando a agenda da comunicação social, é terrível nos três últimos dias de campanha ter três debates. Não era muito aquilo que me apetecia. Até porque os debates, legitimamente, são 10 contra um. Como é que me preparo? Normalmente antes de ir para o debate durmo meia hora, tento recordar alguns dos aspetos fundamentais e vou para os debates sabendo que esta é a lógica que está instituída.

– Mas, é presidente de câmara, é recandidato, isso de ser 10 contra um, um bocadinho o alvo a abater neste tipo de confrontos políticos. Isso motiva-o ou não gosta de estar nessa posição?
– Tenho pena, muitas vezes, [porque] ouço muito poucas ideias e às vezes faz-se ali um retrato da cidade que me custa a ouvir. Acho normal que cada um dos candidatos apresente e acho normal que considere e acredite que consegue fazer melhor, acho que às vezes desvalorizam aquilo que é a cidade, não é aquilo que eu fiz. Dizer que a cidade está parada, estagnada, que está uma porcaria, que tudo corre mal, que antigamente é que era bom, isso faz-me impressão. Mas depois estou naqueles debates e penso “isto até me dá jeito porque as pessoas não gostam, ninguém gosta que digam mal do que é nosso, não é?

– Deixe-me só voltar um bocadinho atrás, como é que se prepara para esses embates?
– Aquilo que tento ler são alguns números e algumas das coisas porque é muito difícil nos debates andarmos a remexer em papéis. Tenho muito cuidado relativamente aos números que invoco. Uma pessoa também nunca sabe porque o debate depende muito do moderador, depende muito das perguntas que são feitas, depende muito de coisas que a gente não sabe. Como eu sou navegador, gosto de fazer vela desde miúdo, é um bocado como perceber que vou entrar em água que não conheço. A gente não faz ideia a pergunta, não faz ideia o que vai surgir.

– É um desafio?
– É mas ao mesmo tempo é um desafio que encaro com tranquilidade. Eu penso sempre, quando ouço os meus adversários a falar e a dizer coisas que, às vezes, não são verdade ou que são tendenciosas, penso sempre que esse é o papel deles e pronto, não levo isso a mal. O importante nestas coisas é uma pessoa não se zangar porque ao fim ao cabo somos todos pessoas. Eu tenho… há três dos candidatos que correrem contra mim tenho por quem eu tenho estima e consideração pessoal e sei que eles estão ali, também terão por mim mas têm de fazer aquele papel. Mas no fim a gente dá um abraço, sai dali e no dia seguinte há mais. 

– Podemos saber quem são, já agora?
– Olhe, eu sou amigo do Vladimiro Feliz, sempre que chego… aliás, quem vai aos debates sabe que conheço a mulher, conheço o filho, temos amigos comuns. Convidei-o na altura a trabalhar comigo, tenho muita estima pessoal e consideração por ele. O Tiago Barbosa Ribeiro é uma pessoa que é amiga do meu filho e, por exemplo quando eu ia a Lisboa porque o meu filho lá vivia, de vez em quando íamos beber um copo os três. E pela Ilda Figueiredo desenvolvi ao longo dos últimos 20 anos que a conheço uma enorme estima. Os outros não conheço bem, devo dizer que o candidato do Bloco, o Sérgio, parece uma pessoa… e sei com quem ele trabalha, o perfil de vida, são tudo pessoas estimáveis. Os outros conheço pior, não tenho com eles essa relação.

Na terça-feira, depois de Vladimiro Feliz ter anunciado que a CNE tinha dado razão ao PSD relativamente ao “teor propagandista” das cartas o executivo enviou aos pais e encarregados de educação, Rui Moreira atirou-se ao candidato social-democrata com o facto de o PSD preferir fazer “queixinhas” enquanto o movimento que representa “prefere fazer campanha”. Mas não se ficou por ali e garantiu que estava disponível até para ser vereador da Cultura de Feliz.

– Hoje disse que não se importava de ser vereador com o pelouro da Cultura de Vladimiro Feliz. É um cenário um bocadinho improvável mas propunha-se mesmo a esse desafio?
– Aquilo que eu não queria no caso de Vladimiro Feliz ganhar as eleições e ficar subjugado à sua liderança partidária é que o Porto voltasse a ter 12 anos de deserto cultura. Portanto, aquilo que eu disse é mesmo sentido. Eu não vejo na lista dele ninguém que tenha qualquer apetência ou preparação para assumir a pasta da Cultura e se ele, porventura, me convidasse para isso e me garantisse autonomia e recursos financeiros eu era capaz de o fazer. Não parece um cenário muito provável, mas não teria nenhum problema em fazê-lo. Até porque quando eu fiz o meu primeiro mandato eu era presidente de câmara e o Paulo Cunha e Silva era meu vereador da Cultura e nós muitas vezes durante esse primeiro mandato, antes dele morrer, admitimos a possibilidade de trocarmos de posição, de o Paulo ser o recandidato no segundo mandato e eu assumir a pasta da Cultura que era aquela que eu gosto mais. Não foi nenhuma bravata, não é isso.

– Não lhe roubo muito mais tempo nessa campanha intimista, vou-lhe só perguntar qual é a última coisa que vai fazer antes de se deitar.
– Provavelmente vou beber muita água porque apesar de já ter bebido uma garrafa de água das Pedras daquelas grandes estou cheio de sede. Durante estas arruadas nós não conseguimos beber água, eu sou transplantado e tenho de beber muita água. E portanto vou beber um litro de água das Pedras.

A cerca sanitária do Porto aos populismos e as paixões para reavivar daqui a quatro anos

22 de setembro, quarta-feira. Faltam dois dias para a campanha eleitoral ter fim e quatro dias para as eleições. As sondagens dão uma maioria absoluta a Rui Moreira para aquele que será o seu terceiro e último mandato como presidente da Câmara Municipal do Porto. Mas o sentimento de alívio ainda não existe. Não se respira fundo. O movimento independente do Porto não confia nas sondagens devido ao historial dos últimos anos e, por isso, até ser permitido não tiram o pé do acelerador. 

– Estou?
– Boa noite, Rui Moreira.
– Olá, Inês.

– É a nossa última chamada. Estamos a quatro dias das eleições, foi conhecida uma sondagem que lhe volta a dar maioria absoluta. Já se sente confortável o suficiente em relação a domingo ou ainda não chega?
– Não, não chega. As sondagens no Porto são sempre muito enganadoras, são sempre muito assustadoras. Ganhei duas eleições em que as sondagens me davam na primeira a perder por milhas de distância, na segunda empatada e, portanto, com todo o respeito pelas empresas de sondagens, sei que os portuenses mudam de opinião, há muitas pessoas que ainda não decidiram. Portanto até à última hora vamos cerrar os dentes e tentar apelar ao voto. Quero que as pessoas vão votar, que acreditem no nosso projeto, mas não, não me sinto nada confortável.

Ninguém fala de sondagens, ninguém faz futurismos, mas na última chamada com o Observador, Rui Moreira levantou o véu a algumas preocupações, entre elas os populismos (que acredita não terem lugar no Porto), mas considera que se as sondagens tiverem certas PS e PSD “vão ter de refletir” após as eleições. E mais não diz para “não dar pistas aos adversários”. Contudo, deixa uma dica: dizer mal da cidade do Porto não é um bom presságio para vencer eleições.

– Ainda assim deixe-me fazer uma pergunta. Esta sondagem releva que o PS poderá vir a descer vários pontos percentuais, o PSD tem menos 15%. Preocupa-lhe o futuro da cidade em termos políticos com este cenário nos maiores partidos?
– Não, preocupava-me o futuro da cidade se visse que havia uma transferência de votos para movimentos populistas, extremistas, não havendo isso confesso que não me preocupa muito. Se calhar esses partidos na noite das eleições vão ter de refletir sobre por que é que não falaram em propostas para a cidade e preferiram criar um conceito de uma cidade que acho que os portuenses não sentem. 

– E, já agora, preocupa-o que fiquem exatamente as mesmas forças políticas no executivo? Como é que olha para o facto de o BE, do PAN e do Chega não conseguirem eleger no Porto?
– Não sei se não vou conseguir eleger, não tenho…

– Com base nestas sondagens, mas falou aí nos populismos. Acha que o Porto tem uma cerca sanitária a este tipo de partidos?
– Acho que sim porque no Porto, e andou comigo na campanha, percebeu que há pessoas da comunidade cigana que fazem campanha connosco, nós não fazemos essas diferenças, não há essas tensões. Mas isso não é mérito do presidente da câmara, é um mérito da cidade portuense que é muito inclusiva, se calhar é por nos chamarmos porto, por sermos uma cidade de acolhimento em que as pessoas chegavam e partiam…

Durante a conversa houve ainda tempo para falar sobre o futuro que ninguém quer descortinar. Há quem diga que o movimento é de um homem só e que quando Rui Moreira não puder mais ser presidente da câmara será o fim. O próprio não concorda e, mesmo sem arriscar nomes, está certo de que há tenha vontade de dar continuidade ao trabalho feito e que essas pessoas estão à espera do tempo certo para aparecer.

– Voltando aqui à política, tem uma vasta equipa, algumas pessoas acompanham-no há muitos anos, alguém está preparado para lhe seguir as pisadas quando quiser dedicar-se a essas tais outras paixões?
– Ai eu acho que sim. Eu encontro quer naqueles que estão no executivo, quer naqueles que estão na assembleia municipal quer outras pessoas que vão aparecendo aqui e ali e que cada vez mais se empenham na cidadania, não faltam pessoas. A política é uma coisa bonita, uma coisa que nos deve interessar…

– Não está preocupado com isso?
– Não, há muita gente que acha que o meu projeto é unipessoal, é porque não conhecem o Porto. Não tem nada de unipessoal, não começou como unipessoal, começou como uma coligação de amigos que se conheciam bem e pensavam coisas diferentes ou soluções diferentes sobre a mesma coisa, perdi alguns já pelo caminho, mas há muita gente cheia de vontade de protagonismo que esperam o seu tempo e no tempo certo aparecerão. Mas se amanhã os partidos voltarem a olhar para a cidade do Porto de maneira diferente, não fizerem discursos como têm feito muito centrados naquilo que é a política nacional também daí não vem mal ao mundo. 

– Sente que o trabalho está feito?
– Não, não sinto nada que o trabalho está feito, acho é que nós quebrámos o mito da invencibilidade dos dois principais partidos há oito anos e há quatro anos, ao voltarmos a ser eleitos, conseguimos provar que as pessoas estavam satisfeitas com a quebra do mito e agora espero que no dia 26 isso tenha continuidade e cresça.
– Nesse dia, quando souber os resultados quem quer ter ao seu lado?
– Quero ter as pessoas que me acompanharam neste tempo todo, a minha família, os meus amigos, os portuenses.

– E a quem é que vai que não esteja lá?
– Eu espero que todos possam estar, se a minha mãe não puder estar por qualquer razão ligarei à minha mãe, tenho a certeza que de resto as pessoas vão estar comigo e vou aguardar calmamente. E.  depois haverá uma ou outra pessoa que lá não está por uma razão ou outra que vou ligar, vou ligar à viúva do Miguel Veiga que foi dos meus grandes inspiradores. E depois terei de recordar quem não está e pensar naqueles que também me inspiraram, desde o meu pai a Francisco Sá Carneiro, ao Miguel Veiga. Nestas coisas é um bocado como no Natal ou na passagem de ano, nestes momentos pensamos sempre quem gostávamos que estivesse ali por qualquer razão.

E sobre o futuro, só uma certeza: voltar a viver paixões. Quando Rui Moreira acabar o último mandato como presidente da câmara do Porto estará pronto para regressar à vida que tinha antes, com uma atenção especial à família e àquilo que deixou de conseguir fazer da mesma forma desde que assumiu os comandos da autarquia. Apontado muitas vezes como o próximo presidente do clube do coração, Rui Moreira não diz que sim nem que não, só que Pinto da Costa está cada vez mais jovem.

– Deixe-me voltar um bocadinho ao futurismo. Está prestes a ser reeleito presidente da Câmara do Porto pela última vez. Tem alguma ideia do que pode ser o futuro daqui a quatro anos?
– Eu quando sair, se tiver condições para acabar o meu mandato porque Deus é que sabe, nessa altura terei 69 anos e terei o direito à minha reforma, a estar com os meus netos, com os meus filhos, com os meus irmãos, espero que a minha mãe ainda esteja viva, quero voltar a ler, quero voltar a tirar fotografias, quero poder viajar, quero no fundo mergulhar mais na cidade do que o que posso como presidente de câmara em que, de alguma maneira, estou sempre em funções. Portanto, isso não me aflige particularmente. Tenho imensas coisas que me apetece fazer.

– O futebol é uma possibilidade, o FC Porto do seu coração?
– O FC Porto é sempre uma paixão, é sempre uma coisa que gosto muito mas repito: daqui a quatro anos, com 69 anos, ninguém espera que eu vá jogar futebol, que eu seja treinador e provavelmente também ninguém espera que eu seja dirigente. 

– Pode ser presidente…
Não, mas eu espero que daqui a quatro anos o meu amigo Jorge Nuno Pinto da Costa esteja em grande forma. Cada vez que o encontro o vejo mais jovem e em melhor forma. É uma coisa que não me preocupa, agora vou continuar sempre a gostar de futebol. Não é nenhuma fraqueza gostar de futebol.

(Rui Oliveira/Observador)

Tiago Barbosa Ribeiro. Duas semanas com poucas horas de sono e as manhãs nos dias de debate sem agenda

[Ouça aqui a última chamada durante dois dias consecutivos a Tiago Barbosa Ribeiro:]

“Só a partir de sábado pensamos em descanso”

20 de setembro, segunda-feira. No primeiro dia útil da segunda semana de campanha a caravana de Barbosa Ribeiro começou com um almoço na típica tasca A Badalhoca, onde trocou alguns minutos de conversa com a Dona Lurdinhas. A proprietária do restaurante que apoia a freguesia onde vive e os mais necessitados que por ali passam. Aos jornalistas confessa que é incapaz de negar ajuda a quem pede. Com 74 anos, a boavisteira Maria de Lurdes Guedes partilha alguns momentos mais atribulados da relação com os portistas no restaurante e arranca várias gargalhadas ao portista Barbosa Ribeiro.

– Estou?
– Olá boa noite
– Boa noite, Rita Penela, do Observador. Estamos curiosos, já que hoje começa a segunda semana de campanha, queria saber como correu a primeira semana de campanha oficial. Já sei que me vai dizer que está há muito tempo na rua, mas como correu a primeira semana?
– A primeira semana?
– Sim, a primeira semana de campanha oficial.
– A primeira semana foi uma semana bastante importante e de crescimento na intensidade da candidatura como é suposto numa campanha eleitoral. Temos feito um conjunto de ações diversificadas de contacto com a população abrangendo diferentes freguesias da cidade, diferentes setores da cidade e diferentes preocupações procurando dar corpo a todas elas. Na área da habitação, na área da mobilidade, economia, segurança e muitas outras que temos vindo a destacar. Também foi uma semana importante pela presença de dirigentes do Partido Socialista na campanha eleitoral do Porto, destacados dirigentes socialistas nomeadamente Pedro Nuno Santos, Marta Temido, Duarte Cordeiro, Eduardo Pinheiro e muitos outros que têm vindo a participar na candidatura e a mostrar o seu apoio, o reforço ao nosso projeto na cidade do Porto, ficamos muito satisfeitos por isso.

Numa campanha que só saiu à rua para contactar com as pessoas já no final da primeira semana, tendo reservado os primeiros dias para contactos mais direcionados em áreas específicas, Barbosa Ribeiro diz que não tem nada contra arruadas, mas considera que é um ambiente que não ajuda a esclarecer a população. 

– A nível de ações de campanha, ao contrário de outros candidatos que vão multiplicando as arruadas, tem feito contactos mais cirúrgicos em vários pontos da cidade como dizia, não é fã das tradicionais arruadas?
– Peço desculpa, não percebi a pergunta. Se puder repetir…
– Se não é fã, se não gosta propriamente de arruadas
– Sou. Aliás, já fiz antes da semana oficial da campanha. Estou de facto há muitas semanas em campanha e já fiz várias arruadas, das que está a designar como mais tradicionais incluindo a de Santa Catarina. Já fiz essa arruada que teve alguma cobertura mediática também e foi uma arruada bastante produtiva naquilo que foi a auscultação dos comerciantes, das pessoas, com várias críticas dirigidas à câmara municipal. Temos vindo a multiplicar outras arruadas, fizemos uma caminhada, não designamos como arruada, no domingo de manhã, na zona da Foz e temos vindo a fazer outras noutros pontos da cidade. Dito isto, as tradicionais arruadas que identifica são arruadas que dificultam um pouco aquele que é a identidade que quero para esta campanha também. Ouvir as pessoas e falar com elas sem passarmos por elas, como muitas vezes acontece nas arruadas e, portanto, tenho multiplicado muitas iniciativas ao longo dos dias, todos os dias, ouvindo as pessoas, estando na rua sempre com elas e estando sempre com elementos da candidatura, mas sem esse contexto de arruada tradicional. Temos ido a zonas residenciais, bairros sociais, agrupamentos habitacionais, zonas comerciais.

O presidente da distrital do PS/Porto Manuel Pizarro tem sido presença frequente na campanha do socialista depois de vários dirigentes do PS e Barbosa Ribeiro está consciente do valor para a cidade de Pizarro e tem realizado várias ações com essa companhia.

– Desculpe interromper. Uma das presenças frequentes tem sido Manuel Pizarro, que hoje inclusivamente ainda rouco fez questão de estar simbolicamente no almoço.
– Exatamente…
– Que peso é que tem esta presença frequente de Manuel Pizarro?
– Tem um peso muito importante por várias razões. Primeiro porque o Manuel Pizarro é presidente da Federação Distrital do Porto do Partido Socialista, porque foi o nosso último candidato à câmara e exerceu o mandato de vereador, ainda é o primeiro vereador do Partido Socialista na oposição autárquica e depois porque é um portuense. Alguém que sendo cidadão do Porto e eleitor do Porto também tem uma presença própria na cidade desse ponto de vista e não apenas como dirigente socialista nem como militante socialista, mas também como eleitor socialista. Sendo simultaneamente presidente da Federação Distrital do Porto tem um peso importante e próprio. É alguém que, fruto do trabalho que fez ao longo dos últimos anos, mais nas áreas sociais e nas áreas da habitação é alguém que é muito reconhecido nessas zonas da cidade e alguém que é sempre um gosto ter connosco e é um amigo meu que está acima de tudo a participar na campanha. Fico sempre muito satisfeito de o ver na campanha eleitoral.
– Uma campanha que tem sido exigente. Dizia há pouco que estava a sair ainda de uma entrevista e que ainda não teria jantado.
– Ainda não jantei e não almocei grande coisa, também.
– Tem sido uma campanha exigente?
– São as campanhas. Temos sempre que nos preparar para esta fase das campanhas é um pouco mais atípica porque tivemos numa primeira fase constrangimentos mais sérios da pandemia e portanto foram sendo levantados e estamos agora numa fase de crescimento total da intensidade da campanha, mas que já estou habituado. Já fiz muitas campanhas no Porto, apesar de ser jovem como muitas vezes é referido. Já fiz várias campanhas no Porto, já tive responsabilidades máximas na última campanha autárquica no Porto, estive na penúltima campanha, fui diretor de campanha no circuito eleitoral do Porto nas eleições legislativas e, portanto, conheço muito bem o Porto e conseguimos compatibilizar. É por causa disso também que coloco uma agenda muito cheia porque quero mesmo ir a todo o lado. Começo muito cedo, acabo muito tarde e procuro responder a todas as solicitações. Hoje tal como nas outras campanhas é a vontade e a multiplicação, se quisermos, de podcasts, de entrevistas, associações e instituições que nos querem também entrevistar, muitas vezes em áreas temáticas. Para dar um exemplo, terminei há pouco, cerca das 22 horas, uma entrevista gravada para ser distribuída nas redes sociais dessa associação sobre temáticas ambientais muito específicas da cidade do Porto. Desde que consiga encaixar na agenda nunca gosto de deixar as pessoas sem resposta. Não especificamente em campanha eleitoral, mas em campanha as solicitações aumentam um pouco mais.
– O que significa dormir poucas horas, é isso?
– Ai isso é inevitável. (risos) Estou aqui com um défice de sono que vou ter de recuperar depois da campanha, espero eu.
– Amanhã a primeira ação oficial, enviada aos jornalistas, é às 12h30. A que horas é que vai tocar o despertador do candidato Tiago Barbosa Ribeiro?
– O despertador toca por volta das 7h30 porque essa é a primeira iniciativa digamos pública, mas há outras iniciativas e sobretudo organização da campanha que também é exigente. Temos reuniões de campanha, de organização de campanha, logística, preparação de elementos, de alguns encontros e conversas que existem e não são públicas, de agenda privada que também tenho e que tenho mantido desde sempre. A partir do momento em que arranco com a agenda pública é, normalmente, até ao final do dia e procuro concentrar dessa forma.
– Vou deixá-lo jantar então, para depois poder descansar.
– Muito bem.
– Obrigada e até amanhã.
– Muito obrigado, uma boa noite e até amanhã.
– Bom descanso.

21 de setembro, terça-feira. Tiago Barbosa Ribeiro continua a alargar as ações de campanha até tarde, com alguma dificuldade em cumprir os horários marcados. Já se fala na “meia hora socialista” dentro da comitiva que o acompanha. Quarta-feira foi dia de debate e, como habitual, Barbosa Ribeiro deixará a manhã livre para poder rever números e preparar-se para os momentos de confronto com os adversários.

– Estou.
– Olá boa noite, como está?
– Viva, boa noite. Desculpe a hora, isto não anda fácil. Estava a acabar de jantar só agora.

– Só agora? Já acaba de jantar no dia seguinte.
– Já acabei de jantar no dia seguinte porque também já comecei quase o dia seguinte (risos). Isto não anda fácil, mas pronto.

– Portanto as horas [de descanso] não foram recuperadas de ontem para hoje.
– Ai não foram não, isto agravou. Vamos tendo um passivo diário, mas pronto. Cá estamos.

– E correu o dia?
– Foi um bom dia, creio que acompanharam. Foi um dia intenso, tivemos da parte da manhã no bairro do Leal, que não é bairro nenhum. É um terreno onde identificamos no centro do Porto a possibilidade de construção de muitos imóveis para arrendamento acessível e, portanto, neste momento estão lá um conjunto de imóveis completamente em ruínas e pessoas que ocuparam casas e vivem em condições verdadeiramente inaceitáveis sem água, sem luz, sem qualquer condição de dignidade, salubridade ou habitabilidade em pleno centro do Porto escondidos por trás de uns muros. Tivemos uma boa arruada, um contacto com a população, mais comerciantes — era esse o foco. Tivemos um contacto popular na zona do bairro rainha Dona Leonor, concretizado pelo PS quando teve responsabilidades nesta área. Andámos ali naquela zona entre Lordelo e Foz e ainda fomos para o Salgueiros, o histórico clube onde tive uma reunião que só acabou já perto das 10 horas da noite. Em todo o lado onde andámos houve uma recetividade e apoio.

Conhecedor de alguns casos sociais mais difíceis na cidade, Barbosa Ribeiro mostra à comitiva de jornalistas que o têm acompanhado fotografias no telemóvel de um dos muros no bairro do Leal antes daquela visita em campanha eleitoral. “Aqui é a vergonha do Porto”, lia-se numa parede agora pintada a verde. Irónico, fala em “coincidências” com a agenda de campanha eleitoral, já que o muro foi pintado dias antes. E é este acompanhamento que o candidato socialista se esforça por mostrar: “O PS não vem cá só em campanha eleitoral”.

– Numa dessas ações, aliás, houve um momento bastante mais emotivo. Como se lida com essas situações que não se controlam e estão relacionadas com as emoções de quem se junta a vós ou que a caravana vai abordando?
– Neste caso, creio que está a referir-se a uma senhora da parte da manhã.

– Certo.
– Veio ter connosco e a certa altura começou a chorar por causa da situação em que vive. Há situações mais complicadas em que ficamos nós próprios emocionados e sensibilizados e tentamos sempre ajudar e perceber. Ando sempre com o meu telemóvel que é o meu bloco de notas e vou sempre anotando os números das pessoas, os problemas, contactos e esforço-me por tentar sempre encaminhar e dar uma resposta. Muitas vezes as pessoas não sabem bem a quem se dirigir ou precisam apenas de ter algum follow-up das suas situações ou ter uma palavra de estímulo. Seja o que for, neste caso era um contexto específico de uma pessoa que tinha reabilitado ali uma casa e que tem vindo a sofrer muito com a situação social e económica que ali existe e está muito pressionada e quer sair daquela zona. Tentamos ajudar e dar o estímulo, essa pessoa em concreto dizia que sempre pensou abster-se até começar a ouvir as nossas propostas e disse que graças a isso decidiu votar, mudando a sua decisão, e vai votar no PS. Também são momentos que nos deixam algum conforto e reconhecimento pelo que temos vindo a fazer. 

No dia em que é conhecida uma sondagem que o mantém abaixo dos 20%, Barbosa Ribeiro recusa a ideia de desmoralização e nota o crescimento que as sondagens lhe têm atribuído ao longo do tempo. Do outro lado, Rui Moreira vem a cair, o que o socialista considera ser um bom indicador.

– Falando nas votações, hoje foi conhecida uma sondagem que lhe dá um resultado de 17%, desmotiva-o para estes últimos dias? Que impacto têm estas sondagens ao longo da campanha?
– Nenhum mesmo. Sei que diz-se isso sempre e quando instigam um político a comentar sondagens seja para um lado seja para o outro creio que acabarão todos por dizer o mesmo, mas isto é dos dois lados. Não temos qualquer tipo de mobilização ou desmobilização em função das sondagens. Se formos vendo em função daquilo que tem sido a evolução das sondagens é verdade que os resultados são os que foram hoje conhecidos nessa sondagem em concreto, mas demonstram duas coisas: um crescimento progressivo mas constante por parte do PS pelo menos face às últimas três sondagens que foram conhecidas e demonstra uma descida também constante por parte de Rui Moreira. Pode ser sempre visto pelos dois lados, mas não estamos especialmente preocupados com as sondagens. Temos agora três dias em que estamos de manhã à noite com grande motivação e não temos qualquer tipo de mobilização ou desmobilização em função das sondagens. Cá estamos para continuar o nosso trabalho com toda a determinação como temos feito até aqui.

– Deixe-me só voltar um pouco atrás. Falou há pouco na questão do seu telefone ser um grande apoio e o bloco onde tira notas, hoje uma das pessoas com quem se cruzou referiu que já tinha recebido uma mensagem sua ou de um número associado a si. É o Tiago que envia as mensagens ou tem uma equipa que o ajuda nessa parte também de contacto posterior?
– Não, não. Inteiramente eu. É o meu telemóvel, gosto de fazer isso porque fico com os contactos  das pessoas. Vou anotando, sei mais ou menos. Apesar de tudo ao fim de algum tempo já são algumas dezenas, para não dizer centenas, seguramente, de pessoas com quem fui contactando ao final das últimas semanas e anoto no meu iPhone, passo a publicidade, nas notas. Para cada caso vou anotando onde é que estou, faço os meus códigos digamos assim e depois, efetivamente, respondo às pessoas. Não anoto as situações só por anotar. Foi curioso que hoje quando estávamos a descer a avenida Fernão de Magalhães uma senhora disse-me que tinha recebido uma mensagem minha. Confesso que nem estava a perceber o que ela me estava a dizer, porque não estávamos na zona onde isso tinha inicialmente acontecido. Disse-me que me tinha conhecido há duas ou três semanas e que eu tinha ficado com o contacto dela para resolver uma situação e lá o fiz (risos). Ela veio agradecer.

– Como é que arranja tempo, isto porque tem constatado que a agenda é cheia e que as horas para dormir são poucas…
– Olhe muitas vezes e isto pode parecer ironia, mas não é… Hoje perdi quase 1h30 do meu dia em deslocações pelo Porto. Hoje esteve absolutamente infernal até pus nas redes sociais uma fotografia do estado do Porto. Passei, de facto, bastante tempo em deslocações. Aproveito desde logo nessas deslocações para ir respondendo às pessoas e procurar dar seguimento. Muitos casos são casos de apoio social, ou necessidade de apoio social. São comerciantes que não receberam o nosso programa por exemplo relativamente ao comércio e que pedem para enviar e eu gosto muito de fazer isso de forma personalizada. É do meu telemóvel mesmo, a campanha acaba mas a relação com as pessoas não e gosto desta forma de me relacionar com as pessoas. Houve outra pessoa, esta mesmo hoje de manhã que se emocionou que me disse que já lhe tinha respondido a um e-mail. Acho que se vai vendo pelo tipo de campanha que tenho feito que é um bocado a forma como gosto de estar, colocar-me próximo das pessoas, nos problemas das pessoas. Às vezes é possível resolver, outras não, mas mandar uma mensagem ou um conforto não custa mesmo nada e é com muito gosto que o faço.

– Amanhã há novo debate ao início da tarde, já está preparado ou ainda vai demorar mais algum tempo esta noite a preparar-se para o debate?
– Os debates têm que ser adaptados em função do meio de transmissão. Uma coisa é o debate televisivo em que é importante ter elementos gráficos para apresentar de forma mais visível, amanhã isso não se adequa. Embora haja uma transmissão ou alguns vídeos para online não é bem o enquadramento, digamos assim. Esta última semana teremos mais dois debates, amanhã e na quinta-feira. São mais dois debates, creio eu, de síntese de tudo aquilo que tem vindo a ser feito e, portanto, acho que as diferentes estratégias já foram sendo mais ou menos apresentadas. Não estando propriamente a fazer uma autoavaliação, acho que os debates têm corrido bem à nossa candidatura, acho que temos passado bem a nossa mensagem portanto acho que é manter a estratégia. Não há nenhuma preparação específica a não ser ter a manhã livre para números, rever papéis e ver algumas anotações para o debate. É isso que farei amanhã de manhã.

– Com a manhã livre o despertador volta a tocar amanhã às 7h ou há alguma compensação das horas por dormir?
– Não (risos). Não há especial compensação nesta fase, o tempo tem mesmo que ser todo aproveitado. Nestes três dias que faltam a partir de amanhã não há grande tempo. A partir de sábado a agenda fica eventualmente um pouco mais leve, espero eu e teremos tempo para descansar. Nesta fase ainda não é possível. Amanhã temos mais um dia muito pesado com muitas iniciativas, muita agenda, creio que já a tem também. Vai ser, literalmente, de manhã à noite. À noite estarei também com o Fernando Gomes na apresentação da comissão de honra e uma série de iniciativas que vão decorrer durante a tarde depois do debate e, portanto, cá estamos para continuar o trabalho.

– Vou deixá-lo descansar então. Até amanhã, bom descanso.
– Até amanhã e obrigado. Com licença.

(Rui Oliveira/Observador)

Vladimiro Feliz. A agenda preenchida com 17 horas na rua, a companhia de Rio e a energia para mais

[Ouça aqui a última chamada durante três dias consecutivos a Vladimiro Feliz:]

“O único partido a subir nas sondagens é o PSD”

20 de setembro, segunda-feira: No arranque da segunda semana de campanha, Vladimiro Feliz não poupou esforços e teve provavelmente o dia mais longo no leque de candidatos. Antes das 8h já estava na rua, na zona mais oriental da cidade, e só atendeu o telefone a caminho de casa, em plena Foz Velha, já depois da meia noite.

– Estou?
– Boa noite, Vladimiro, daqui Maria Martinho, do Observador. Parece-me pelo som que está no carro a caminho de casa.
– Sim…

– Está com a voz cansada. Como correu o dia hoje?
– Hoje foi um dia duro. Começou em Campanhã às 7h30 com uma viagem de autocarro para conhecer a falta de oferta de autocarros na zona Oriental, mas também o congestionamento dos autocarros naquela zona, provocado pela falta de oferta, mas também pela greve que está a decorrer nestes dias. Os autocarros vão completamente cheios e restringem muito a vida social e familiar dos portuenses, vimos pessoas a viajar como sardinha em lata, parecendo que ali a Covid-19 está de férias ou em quarentena.

– E terminou agora, às 22h30, com outra ação de rua, certo?
– Sim, terminámos com uma visita ao Bairro da Mouteira e da Pasteleira, onde olhámos para os fenómenos de toxicodependência e de insegurança naquelas zonas. Muitos portuenses estão a recorrer a soluções de segurança privada para proteger o espaço público e as suas residências e há um conjunto de toxicodependentes que deambulam pelas ruas sem qualquer tipo de resposta social. Ao fim de oito anos aquela população continua sem respostas, a sala de consumo assistido que estava prevista para aquela zona é ainda uma utopia e não acredito que aconteça até ao dia das eleições como foi já várias vezes prometido pelo atual presidente da câmara.

O candidato do PSD ao Porto esteve ao lado Rui Rio, líder do partido, no domingo, onde conduziu um clássico e anunciou o regresso do Circuito da Boavista, caso ganhe as eleições, mas também na segunda-feira, numa viagem de três horas no autocarro de campanha, apelidado de “Marlene”. Durante a tarde percorreram juntos várias artérias da cidade e se Rui Rio deixou recados a António Costa, Vladimiro Feliz lançou farpas a Rui Moreira, a quem rejeitaria um chapéu mesmo num dia de muito sol.

– Ter Rui Rio a acompanhá-lo na campanha durante os últimos dois dias, facilita o seu trabalho?
– Sim, Rui Rio tem um legado inquestionável na cidade que é preciso recordar, seja naquilo que foi a coesão social na cidade, a reabilitação da baixa, melhoria na mobilidade, algo que se foi perdendo ao longo do tempo, mas também a dinâmica que aconteceu a nível nacional, com os grandes eventos, com os conteúdos de animação e também com o reforço da atratividade na cidade, que em termos de investimento, quer em termos de turismo, ou qualidade de vida para os portuenses. É sempre bom, ter alguém que deixou esta obra na cidade.

– E com Rio na campanha o alvo passa a ser António Costa ou continua a ser Rui Moreira?
– O alvo é conjunto porque temos visto que o dr. António Costa tem deixado o candidato do PS muito sozinho nesta luta, quando faz questão de estar em algumas iniciativas com Rui Moreira, naquele período de pré campanha, teve agora apenas um mero almoço com Tiago Barbosa Ribeiro e não dá importância devida aquilo que o Porto merece, segundo aquilo que os portuenses entendem. O alvo é Rui Moreira,  mas Moreira com a mochila de partidos traz com ele, a IL e o CDS, O movimento Nos Cidadãos e o Movimento Partido da Terra e obviamente o apoio do PS nacional e do primeiro-ministro.

– No autocarro de campanha, confidenciou-me hoje que já tinha ganho uma cor  com o sol que se faz sentir na cidade, aceitaria um chapéu que a comitiva de Rui Moreira tem distribuído em campanha gratuitamente?
– Eu tenho bons chapéus e bonitos, mas nunca escondo aquilo que sou e portanto, como tenho uma falta de cabelo evidente, não a vou esconder com chapéu, protejo-me do sol com protetor solar e sou sempre aquilo que sou, não tenho nada artificial.

A agenda de Vladimiro Feliz tem sido bastante recheada, entre arruadas e visitas a bairros sociais, mas o candidato garante ter energia para mais.

– Tem tido uma agenda bastante preenchida nos últimos dias, está cansado, o que é natural, mas tem energia para mais?
– Sempre. Sou antes quebrar que torcer e até sexta-feira podem contar com tudo aquilo que tenho para dar, como disse, vou fazer das tripas coração pelo Porto e dia 26 quando ganharmos, o Porto terá com toda a certeza uma nova energia, como tenho dito, rui Moreira é passado, nós somos futuro. Ele procura visibilidade, nós estamos preocupados com a cidade.

– A que horas é que tocará o seu despertador amanhã?
– Por volta das 6h45, porque às 8h estarei numa iniciativa na zona do Marquês.

– Vemo-nos lá, bom descanso.
– Boa noite, obrigado.

O trânsito caótico capaz de cancelar ações na rua e uma sondagem que não desmoraliza

21 de setembro, terça-feira: O dia na estrada voltou a prolongar-se pela noite dentro, com uma ação junto ao Teatro Nacional de S. João, na Batalha, para conhecer mais de perto o fenómeno das pessoas em situação de sem abrigo na cidade.

– Estou?
– Vladimiro, boa noite.
– Boa noite!

– Está novamente a caminho de casa?
– Sim, costuma apanhar-me assim todos os dias…

– Hoje o dia também acabou tarde?
– Os meus dias têm sido assim, com praticamente 17 horas em campanha, mas desta vez terminou com uma ronda pelo centro da cidade para conhecermos mais de perto a questão dos sem abrigo. O dia começou de manhã cedo, num contacto com a população naquela zona, depois fizemos uma ação de rua em Santa Catarina, onde tivemos a oportunidade também de continuar este processo de proximidade. À tarde estivemos numa instituição que trabalha a área de cuidados formais e informais, nomeadamente as práticas mais orientadas para o envelhecimento ativo. Tivemos também nos bairros do Viso e de Ramalde e depois experienciámos o caos de mobilidade que o Porto enfrenta nos dias de hoje, em que num período pandémico é já completamente caótico. Ficámos por várias vezes retidos no trânsito, tivemos que anular inclusive uma ação de rua porque o Porto ao final do dia estava complemente parado, mais uma vez.

O tema do trânsito e da mobilidade tem sido caro ao candidato do PSD, que já teve que recorrer à boleia de uma mota para chegar a horas a um debate televisivo e até já foi obrigado a cancelar arruadas por ficar retido no trânsito. Num dos cartazes mais famosos de Vladimiro Feliz pode ler-se: “Mais tempo em casa, menos tempo no trânsito”.

– Já percebi que o tema do trânsito o aborrece bastante, se for eleito o que pretende mudar nesta matéria?
– Para quem muitas vezes se desloca trabalho – casa e casa – trabalho, perde duas a três horas por dia dentro do carro ou em transportes públicos. É preciso encontrar formas de combater esta situação. A primeira passa por articular políticas metropolitanas, o Porto perdeu influência metropolitana e não se consegue articular com os municípios que mais alimentam a cidade, têm de existir políticas consistentes que permitam tirar carros da cidade. A questão da A41 tem de ser trabalhada com o Estado central e ser revista a conceção para desviar o tráfego Norte-Sul e Sul-Norte, nomeadamente os automóveis pesados. O Dr. Rui Moreira, juntamente com o seu parceiro António Costa, idealizaram uma linha de metro bus para a Avenida Marechal Gomes da Costa, uma solução que nada tem a ver com o território e com aquilo que as pessoas precisam. Vai suprimir uma faixa em cada sentido, e vai criar ainda mais caos numa zona que já em hora de ponta é completamente caótica. Estas políticas têm de ser pensadas, projetadas e priorizadas para que assim que haja bazucas ou metralhadores não se tenha que correr atrás do prejuízo e se façam coisas com pés e cabeça.

Depois de se conhecer sondagem que dá o terceiro lugar ao PSD, com 14% dos votos, mais quatro pontos percentuais do que há quatro anos, o candidato social democrata desvaloriza os números e mantém a confiança numa noite de domingo no Porto surpreendente.

– Saiu uma sondagem para o Porto esta noite que lhe dá o terceiro lugar, com 14%. Como vê estes números?
– O único partido a crescer nas sondagens é o PSD e relembro que esta sondagem foi feita no início da campanha. Não sou de comentar sondagens, mas tenho de comparar sondagens, e o que se nota nesta é que o Dr. Rui Moreira está a decrescer e o PSD a crescer. Até domingo, o Porto vai-nos dar mais uma grande surpresa porque é isso que sentimos na rua.

– A que horas tocará o seu despertador amanhã?
– Um pouco mais tarde, porque comecei por volta das 8h30.

– Obrigada, bom regresso a casa.
– Boa noite, até amanhã!

A ambição por Paranhos, a comparação com a agenda de Rui Moreira e o brinde ao final do dia

22 de setembro, quarta-feira: O antepenúltimo dia de campanha do PSD no Porto começou no bairro de Aldoar, a ouvir queixas de moradores, e terminou com uma surpresa da comitiva social democrata que arrancou Vladimiro Feliz de casa para ir beber um copo, uma espécie de empurrão para os últimos dias na estrada. Perto das 23h30, o candidato já estava de regresso a casa.

– Estou?
Boa noite, Vladimiro.
– Boa noite, Maria, como vai?

– Tudo bem, obrigada. Já percebi que o dia terminou mais cedo que o habitual e não está no carro.
– Hoje estou em casa, acabei de chegar. Foi um dia preenchido, um pouco menos porque tivemos um debate e houve alguma contenção nas ações. Começámos o dia no bairro de Aldoar e falamos com a população, percebemos que o trabalho que deixámos na recuperação do edificado nos bairros sociais pouco ou nada evoluiu e até regrediu, até porque muita gente se queixava que as obras trouxeram novos problemas dentro das residências. Depois numa ação de rua em Paranhos tivemos o privilégio de contar com a presença do Domingos Paciência que nos ajudou no remate final para a nossa vitória no domingo. Acabámos com uma reunião no Clube dos Fenianos, na baixa do Porto, e quando pensei que vinha para casa para preparar o dia de amanhã, tive uma surpresa de alguns amigos e elementos da JSD que me desafiaram para beber um copo aqui ao pé de casa. Foi uma forma de me darem aquela energia final.

– Uma espécie de festejo antecipado?
– Diria mais um boost final para os dias de campanha que ainda nos restam, uma forma de me darem força para esta reta final.

Vladimiro Feliz visitou Paranhos esta tarde, algo que voltará a fazer na sexta-feira, com Paulo Rangel no último dia de campanha. A repetição do local na sua agenda tem uma justificação, trata-se da maior freguesia do Porto, aquela que Rui Moreira quer roubar ao PSD que a detém desde 2001. Segundo o candidato, mantê-la não irá saber a vitória, pois Feliz não acusa pressão e ambiciosa mesmo chegar a presidente.

– Vamos falar precisamente de Paranhos, onde esteve hoje. É a maior freguesia do Porto e também aquela que Rui Moreira quer roubar ao PSD. Mantê-la será uma vitória?
– Não, vitória é ganhar a câmara e ganhar mais freguesias. Essa obsessão do Dr. Rui Moreira por Paranhos é curiosa, ele tem um fetiche com o PSD que ainda não compreendemos, já quem é Campanhã fez uma aliança com o Partido Socialista. Vai ter azar porque vai perder Paranhos e vai perder mais juntas de freguesias na cidade, não tenho duvidas nenhumas. Se há campanha que tem uma dinâmica de vitória, alegria e felicidade é a nossa e por isso é que temos visto a campanha de Rui Moreira a vir atrás de nós, quer nos locais, quer nas mensagens ou na forma.
– Que outras juntas de freguesia gostaria de conquistar, quais seriam as mais importantes para o PSD?
– Todas, o Porto é único e não tenho preferências. Sinto que temos tido muito empenho dos nossos candidatos às juntas e muito bom feedback das populações. O nosso projeto é único, tem a marca do PSD que muito nos orgulhamos, temos legado na cidade e trabalho feito.

– Domingo está cada vez mais próximo, a pressão e o nervosismo aumentam?
– Zero. A minha pressão é apenas e só com os portuenses. Quero construir uma cidade melhor, é essa a minha ambição, foi por isso congelei a minha vida profissional. Estou aqui de corpo e alma.

– Já sei que o dia começa cedo amanhã, quantas horas prevê dormir hoje?
– Nunca dormirei mais de sete horas.

– É o habitual?
– Sim, durmo seis a sete horas normalmente. A questão é que hoje em dia estou a fazer 17 horas de campanha e portanto preciso de recarregar baterias, mas a energia que sinto nas ruas é algo que me motiva muito. Sinto uma energia redobrada para enfrentar os próximo dias e para ganhar o Porto no domingo.
– Obrigada, bom descanso.
– Obrigado, Maria. Boa noite.

(Rui Oliveira/Observador)

Ilda Figueiredo. A vereadora que procura chamar os portuenses pelo nome

[Ouça aqui a última chamada durante dois dias consecutivos a Ilda Figueiredo:]

Ilda Figueiredo preocupada com maioria de Moreira

21 de setembro, terça-feira: Para a candidata que soma largos anos de experiência na vereação da autarquia sobram poucos segredos. Já (quase) todos sabem que tem um gabinete aberto e disponível à segunda-feira à tarde na autarquia, conhece os problemas dos bairros sociais de memória e sabe exatamente o que quer. Ilda Figueiredo não se deixa intimidar pela falta de público e assume a liderança das ações. Seja no passo firme nos contactos porta a porta ou com o microfone na mão nas praças dos bairros sabe exatamente o que apontar em cada local.

– Estou?
– Estou sim.
– Sim, quem fala?
– Olá, boa noite. Rita Penela, do Observador. Como está?
– Olá, viva, boa noite. Já vou atendê-la, vou só mudar do sítio onde estava.
– Com certeza.
– Pronto, já podemos falar.
– Esta que é a última chamada do dia, gostava de saber como está, como foi o dia nesta campanha com uma agenda tão preenchida. Já está no tempo de repouso ou ainda está a trabalhar em alguma coisa relacionada com a campanha?
– Estou a fazer aqui o levantamento da atividade desenvolvida hoje para poder falar consigo (risos).
– E como é que avalia o dia de hoje?
– Muito positivo porque pude estar em cinco iniciativas, todas bastante importantes. Cada uma a seu modo e que permitiram, não só um contacto com a população, com trabalhadores mas também com o movimento associativo e, por isso, digamos que alguns dos aspetos centrais da nossa intervenção também estiveram presentes hoje na campanha eleitoral. 

A CDU mantém-se fiel ao eleitorado e às causas que dão garantia do voto sem tropeções. Ilda Figueiredo já ultrapassou os 70 anos, assumiu durante a campanha eleitoral que esta seria a última candidatura, e na estrada continua a olhar ao pormenor das causas, sejam elas a falta de sanitários ou a conta da eletricidade num bairro onde o sistema de iluminação por painéis solares teima em não funcionar.

– É uma das candidatas que tem a agenda mais preenchida, com mais ações diariamente. Ainda falta tocar alguma das áreas essenciais para a CDU nesta campanha?
– Creio que já tratámos todas as áreas na campanha eleitoral, mas isso não significa que não estejamos ainda com possibilidade de contactos com mais associações, com mais problemas e também com a população. O nosso objetivo central é ouvir a população sobre os seus problemas e é também poder informar das propostas que defendemos para a resolução destes em diálogo permanente como é nosso timbre, como foi ao longo dos quatro anos do mandato e como esperamos que continue a ser no próximo mandato.
– Qual é a área que é mais difícil ou que é mais exigente para a CDU tocar?
– De um modo geral contactamos com relativa facilidade as diversas áreas da cidade e também temos sempre uma resposta positiva dos diversos agentes. Ainda
hoje como pudemos ver na visita à Sé desde o mercado São Sebastião, que está completamente abandonado e nem a câmara municipal nem a junta de freguesia levaram a cabo as propostas que fizemos de remodelação do mercado, é uma tristeza ver o abandono a que foi votado. As vendedoras queixaram-se disso como se queixaram do encerramento dos sanitários quer na zona da Sé, quer junto também ao seminário. Dizem os próprios comerciantes e moradores que é um escândalo para o próprio turismo. Igualmente ver a tristeza que é para os moradores da zona e um escândalo para nós manter encerradas várias casas que foram recuperadas. Quer os que não foram reabilitados, quer outros que foram reabilitados há alguns anos prontos a ser usados mas fechados é um escândalo que o município mantenha esta situação numa zona histórica classificada como património da humanidade e em que os moradores se sentem abandonados, com toda a razão.

O pedido de votos em jeito de alerta contra a maioria absoluta de Rui Moreira é o chamado voto útil que Ilda Figueiredo tentou capitalizar nos vários dias da segunda semana de campanha.

– Nos últimos dias nos contactos que temos acompanhado tem alertado para a hipótese da maioria absoluta de Rui Moreira. Acha perigoso que um último mandato de Rui Moreira seja feito com base nesta maioria absoluta?
Claro que acho perigoso. Quando estivemos na empresa municipal de águas do Porto tivemos oportunidade de ouvir os trabalhadores a queixarem-se da forma como está a ser gerida aquela casa onde foram postos em causa direitos fundamentais dos trabalhadores como o direito da sua organização gerir a cantina. Mais de 150 assinaram um abaixo-assinado que eu própria tive oportunidade de levar à câmara e Rui Moreira esteve contra a aplicação a estes trabalhadores desse suplemento que a empresa não aplica. Simultaneamente aumentou a fatura da água e saneamento para os cidadãos do Porto apesar de a ERSAR ter dito que não era necessário fazê-lo e, no entanto, aumentaram com o voto contra da CDU tudo isto. Com uma maioria absoluta percebe-se o que Rui Moreira pretende: continuar a pôr em causa direitos fundamentais dos trabalhadores e munícipes da cidade. Conseguimos, aliado à luta dos trabalhadores que na empresa águas do Porto fossem aplicadas as 35 horas de trabalho semanal, mas noutras empresas municipais isso ainda não aconteceu e ainda mantêm as 40 horas. Esta multiplicação também de empresas municipais com os pequenos poderes que aí se instalam e que depois gerem como lhes apetece, cada um a seu modo, e sempre contra os trabalhadores e munícipes, estas empresas só configura que se Rui Moreira tiver maioria absoluta a situação tenderá a agravar-se.

– Amanhã é dia de debate. Neste momento há ainda espaço para preparação? Como é que se prepara uma candidata com ‘know how’ da autarquia para mais um debate?
– Como bem disse, o conhecimento que tenho dos problemas da cidade, das suas instituições e organizações permite-me estar com todo o à vontade na preparação de mais um debate, aliás, um amanhã e outro na quinta-feira, sobre a cidade. Quero debater estes temas, estas questões e outras e levar a voz das populações, instituições e associações para esses debates tentando que haja uma maior sensibilidade para os seus problemas e para a resolução que se impõe sendo certo que da parte da CDU a luta vai continuar até ao dia 26 e depois do dia 26 e das eleições também.
– Que expectativas tem para esta reta final da campanha oficial?
– Vamos continuar este debate, este contacto com as populações e com as instituições da cidade como é o nosso hábito, não só na campanha mais ao longo de todo o mandato e as populações e as instituições sabem-no.
– Obrigada pelo seu tempo e espero que tenha uma boa noite de descanso
– Muito obrigada também.
– Até amanhã
– Até amanhã, adeus. Boa noite.

Bebiana Cunha. Desmentir os gráficos de Moreira e interagir com os gatos na chegada a casa

[Ouça aqui a última chamada durante três dias consecutivos a Bebiana Cunha:]

“Às vezes Rui Moreira só conta parte da história”

20 de setembro, segunda-feira: A candidata do PAN tem feito uma campanha variada e quase para todos os gostos. Ora está presencialmente em reuniões com moradores, em passeios de bicicletas ou em visitas a canis, ora se apresenta via online, em debates e conferências através das redes sociais. Esta segunda-feira o dia derrapou devido aos últimos ensaios para uma ação de teatro de rua interventivo, e só depois das 23h é que conseguiu atender ao telefone.

– Estou? 
– Bebiana, boa noite.
– Olá, boa noite.

– Como correu o dia? Já percebi que derrapou. Porquê?
– Bem, quem anda pelas ruas do Porto está sempre a falar com as pessoas e acaba por demorar mais do que o previsto, até porque vamos parando para conversar e isso leva o seu tempo. Acabámos agora de preparação da ação do dia de amanhã, em que vamos fazer uma pequena intervenção de rua teatral com atores.

– O tem sentido nessa interação com as pessoas na rua?
– Tem sido muito positiva, um feedback muito bom, as pessoas reconhecem que o PAN tem uma visão para a cidade muito importante e atualizada, que dá resposta às preocupações e aos grandes desafios que enfrentamos neste momento. Desde os problemas ambientais aos sociais e económicos, é bom ouvirmos que vão votar no PAN no dia 26.

Bebiana Cunha aproveitou uma ação de campanha online para desmentir algumas informações partilhadas pelo executivo de Rui Moreira. Acusa-o de não ser fidedigno e transparente e até alterou o nome do seu movimento, de “Aqui há Porto” para “Aqui há Gato”.

– Começou o dia com uma ação peculiar em que na sede do partido desmentiu sete gráficos divulgados pelo movimento de Rui Moreira, trocando mesmo o nome “Aqui há Porto” para “Aqui há gato”.
– Nós entendemos que a informação que chega às pessoas por parte do executivo municipal deveria ser não só imparcial, mas também o mais transparente possível. Num espírito de serviço público, entendemos que era fundamental chamar a atenção para aquela que tem sido uma comunicação de Rui Moreira, onde muitas vezes só conta uma parte da história. Pegamos em sete exemplos, demos um título a cada um dos gráficos e tentámos mostrar porque é que estava incompleto ou errado. É fundamental fazer este tipo de ações para promover um debate sobre assuntos e, acima de tudo, exigir por parte do executivo uma maior transparência e fidedignidade na informação veiculada.

– Nesta campanha já andou de bicicleta, já visitou um canil e já reuniu com vários moradores de bairros e zonas da cidade. O que é que ainda lhe falta fazer?
– Temos energia para dar e vender e estamos bastante motivados. Amanhã, por exemplo, além destas intervenções na rua através do teatro, onde vamos abordar alguns assuntos que continuam a ser problemáticos, mobilidade, vamos estar junto ao rio Douro a discutir algumas políticas em relação ao próprio rio e que ainda ninguém abordou.

– A que horas acorda amanhã?
– Neste momento ainda estou no espaço PAN, vou agora para casa. Vou interagir um pouco com os meus gatos e depois irei descansar. Penso que por volta das 8h estarei a pé.

– Bom descanso, então.
– Obrigada, igualmente.

Um rio Douro esquecido, as sondagens e a vontade de eleger um vereador

21 de setembro, terça-feira: O cansaço já se faz sentir, mas Bebiana Cunha continua confiante e motivada. Diz abraçar temas que os outros não valorizam, como o rio Douro, protagonista de um debate público que teve ao fim da tarde no Jardim do Calém. De regresso a casa, e já depois do jantar, falou com o Observador perto das 23h30.

– Estou?
– Bebiana? Daqui Maria Martinho, do Observador. Como está?
– Tudo bem, obrigada.

– Como correu este dia? Muito cansada?
– Foi um dia longo que terminou ao fim da tarde com uma ação junto ao rio Douro.

– Já me falou desse debate ontem. Que importância teve?
– Convocámos a população local e também todos os atores que têm feito intervenção no rio Douro no sentido de se pronunciarem e perceber o acolhimento das propostas do PAN. Seja a questão da travessão fluvial em barco elétrico entre o Porto e Gaia, mas também a questão do estuário do Douro que tem ficado na gaveta, era fundamental que o município do Porto reivindicasse esta zona como uma área sensível, o que permitia fazer um caminho ao nível da fiscalização das descargas que são feitas e uma maior exigência nas águas tratadas pelas nossas Etars.

Os números das sondagens não assustam a candidata do PAN ao Porto que prefere basear-se no feedback que tem sentido nas ruas. Depois de um almoço-entrevista num restaurante vegan, na baixa da cidade, Bebiana Cunha falou de quase tudo. Das suas opções alimentares às discussões com a líder do partido, passando pelo fenómeno das gaivotas na cidade e, claro, as farpas habituais a Rui Moreira. Ainda assim, fica sempre algo por dizer.

– Tenho de lhe perguntar sobre a sondagem que saiu hoje para o Porto que dá 3% para o PAN no próximo domingo, o mesmo número que o Chega. Como vê este resultado?
– As sondagens são importantes, mas a verdadeira sondagem decorrerá nas urnas. Não deixa de ser importante referir que a primeira sondagem dava um resultado ao PAN de 1,7%, as restantes têm sempre mostrado um crescimento do partido e acreditamos que até domingo que esse crescimento será substancial, a julgar pelo feedback que temos recebido nas ruas. Claramente há uma vontade de ter uma representante do PAN na vereação da cidade e uma ampliação nas pessoas que temos na assembleia municipal, continuaremos até sexta-feira a passar a nossa mensagem. Domingo cá estaremos para assumir as responsabilidades que as pessoas do Porto entenderem dar ao PAN.

– Almoçámos juntas hoje, conversámos sobre vários temas. Ficou alguma coisa por dizer?
– Antes de mais, dizer que foi um agradável almoço, onde pudemos abordar alguns temas para a cidade, fica sempre muito por dizer. Há a clara necessidade de termos alguém no executivo municipal que esteja verdadeiramente comprometido com uma visão de cidade em que as pessoas importam e são fundamentais para a decisão política.

– Sei que amanhã tem um debate, vou deixá-la descansar. A que horas tocará o seu despertador?
– Ainda não o coloquei, mas conto acordar perto das 8h.

– Bom descanso, boa noite.
– Obrigada, boa noite.

A ciclovia onde quase ia morrendo e a resistência ao cansaço e ao stress

22 de setembro, quarta-feira: O dia da candidata do PAN foi variado e preenchido, mas mesmo assim terminou mais cedo do que o previsto, garantindo uma “boa noite de sono”. A manhã foi para preparar o penúltimo debate com os seus adversários, seguiu-se um passeio de bicicleta (elétrica) para lembrar o Dia Europeu sem Carros e à noite um debate sobre as políticas necessárias para apoiar a comunidade LGBTI+. Depois das 23h, ainda não tinha colocado o despertador.

– Olá Maria, boa noite!
– Boa noite Bebiana. Como correu o dia hoje, penso que acabou ligeiramente mais cedo…
– Acabou dez minutos mais cedo do que o previsto, o que é sempre uma boa notícia. Correu bem, foi preenchido, tive um debate, estivemos na rua com as pessoas a propósito do Dia Europeu Sem Carros, no âmbito da Semana Europeia da Mobilidade, à qual mais uma vez o município do Porto não aderiu com qualquer iniciativa, o que lamentamos. Terminámos o dia discutir as politicas ao nível dos direitos humanos, nomeadamente para a comunidade LGBTI+. Fica claro o enorme caminho que ainda falta fazer nesta matéria no Porto, que tem escolhido manter a cidade no conservadorismo e no cinzento, em vez de aderir às cores da comunidade e dar mais visibilidade a estas pessoas. Defendemos a criação de um gabinete de apoio a estas pessoas e gostaríamos muito que se chamasse ‘Gilberta Salce Júnior’, por fruto da morta hedionda há 15 anos desta transsexual no Porto. Nenhum executivo lhe prestou a devida homenagem, é altura da cidade dar esse passo e ter outras respostas, como um plano municipal de apoio ao emprego, em especial das pessoas trans, mais discriminadas no acesso ao emprego.

– Confidenciou-me numa ação de campanha que não anda de bicicleta na cidade tanto quanto gostaria. Porquê?
– Temos um problema no planeamento dos eixos clicáveis na cidade, eles não estão interligados, não são seguros e têm erros que precisam de ser corrigidos. Ainda na semana passada mais uma pessoa que se deslocava de bicicleta foi atropelada na Avenida da Boavista na ciclovia que tem estado ocupada por carros. Além da ausência de fiscalização, há também uma ausência de sensibilização e educação. Esse trabalho tem de ser feito com as pessoas que usam que bicicleta, porque se não incorre-se no erro de construir eixos como o da Prelada, onde a última vez que o utilizei quase que ia morrendo, porque a ciclovia termina numa estrada onde passam automóveis a elevada velocidade. O executivo municipal já devia ter tirado da gaveta o plano municipal para a mobilidade urbana, infelizmente ainda há muito caminho a fazer.

Bebiana Cunha confessa ser uma pessoa “tranquila por natureza” e talvez por isso seja capaz de lidar bem com o stress e o cansaço. A poucos dias de terminar a campanha, garante ter energia para “mais uma jornada” na estrada.

– Domingo está cada vez mais próximo, a pressão ou o nervosismo aumentam à medida que os dias vão passando?
– Sou uma pessoa tranquila por natureza, lido bastante bem com a pressão e com o stress. Aquilo que vai aumentando, fruto de poucas horas de sono, é mesmo o cansaço, não o nervosismo. Até ao lavar os cestos é vindima, portanto até sexta-feira continuaremos na rua a falar com as pessoas.

– Quantas horas irá dormir hoje?
– Irei dormir entre sete a oito horas, por isso, posso dizer que irei ter uma boa noite de sono.

– É isso que desejo. Obrigada.
– Obrigada, boa noite.

(Rui Oliveira/Observador)

Sérgio Aires. O candidato das causas sociais que continua a acreditar num lugar na vereação

[Ouça aqui a última chamada durante três dias consecutivos a Sérgio Aires]

BE no Porto quer ser “estorvo” para Rui Moreira

22 de setembro, quarta-feira. Sérgio Aires é o candidato discreto, paciente e atento. O Bloco fez a campanha maioritariamente para dentro de portas, reunindo com instituições e apostando pouco em momentos de contacto com a população. Ainda assim, o partido está confiante na eleição de um vereador pela primeira vez na câmara municipal.

-Sim?
– Estou, sim. Boa noite, Rita Penela do jornal Observador.
– Boa noite.
– Como está? Tudo bem?
– Tudo bem, sim.
– Já a preparar o final de dia?
– Rigorosamente a terminar uma conferência online da ILGA Portugal e, pronto, terminei agora (risos).
– E como correu esta quarta-feira? Que balanço faz do dia Europeu sem Carros?
– Como seria de esperar, este final de campanha é muito intenso. As coisas acumulam-se, mas na nossa opinião correu bem. Fizemos esse trabalho também de assinalar uma data que é muito importante, particularmente no que diz respeito à mobilidade e não só. Também as questões do clima e fizemos um roteiro por Massarelos, continuando na zona da Foz velha. À noite tive esta conferência da ILGA Portugal, acho que não me estou a esquecer de nada, mas isto são as atividades em que eu estive presente (risos). Há outras atividades da campanha em que eu não estive.

Ao Observador o candidato lembra os constrangimentos que a pandemia ainda provoca e o “desconforto” de quem foi sendo abordado pela pequena caravana bloquista. Sérgio Aires contou aqui e ali com a presença de dirigentes do Bloco, mas está longe de ter conseguido uma campanha de massas. Não é essa a função do BE no Porto e isso parece estar claro para Sérgio Aires que recorda ao longo dos dias a necessidade de uma “oposição” que vá além do tempo de campanha eleitoral.

– Estamos já na reta final, a dois dias, do final da campanha, como tem corrido ao BE que quer muito conseguir entrar na vereação da autarquia esta campanha eleitoral?
– Na nossa opinião bem, com todas as dificuldades ainda inerentes àquilo que é uma saída da pandemia que estamos a fazer e que de resto tivemos bastantes cuidados nesse aspeto também porque não consideramos que fosse boa ideia e nem sequer as pessoas de alguma maneira se sentiam muito confortáveis com uma saída para as ruas de forma muito normal.
– Mas ainda notou algum condicionamento pós-pandemia? Nota isso ainda no contacto?
– Sim, sim. Até a entrar nalguns sítios. Quando íamos a entrar as pessoas pediam ‘por favor não entrem mais de duas pessoas’. É normal. Foi por isso mesmo que começámos a ter mais cuidado do que até aí. Mas dito isso, mais recentemente até porque começa a falar-se de desconfinamento total e as pessoas começam a ser um bocadinho mais relaxadas, tem havido mais adesão e as pessoas começam a vir mais ter connosco. Tem corrido bem, estamos a fazer aquilo que já estávamos há bastante tempo. Em termos de pré-campanha já estamos a trabalhar desde maio, não foi agora, nestas duas semanas, que fizemos campanha, estamos a fazer campanha formalmente neste período de forma mais intensa, mas tudo o que foi ouvir as pessoas, estar com associações, com cidadãos e cidadãs desta cidade fizemos neste tempo todo.
– Ainda assim, a sondagem que foi publicada ontem continua a não dar um resultado ao Bloco que espera de um lugar na vereação. É daqueles que não liga muito a sondagens ou tem algum peso e desmoraliza para estes últimos dias?
– Desmoralizar não desmoraliza de certeza, sondagens naturalmente haverá para todos os gostos, já tivemos várias em tempos diferentes. As sondagens são um indicador, sempre importante. Não desvalorizo sondagens, mau era já que sou sociólogo (risos). Não podia nunca fazer uma coisa dessas, mas faço uma leitura diferente daquilo que são os números ali apresentados e também de alguma maneira a margem de manobra que aquela sondagem apresenta. Há muita incerteza ainda nos resultados daquela sondagem e, portanto, nem desmoraliza absolutamente nada porque estamos a fazer aquilo que acreditamos e continuamos a acreditar porque no contacto com as pessoas temos sentido que há muitas pessoas descontentes. Já descrevi isso no comício que fizemos. Há um certo contentamento descontente dos cidadãos da cidade. Contentamento no sentido que se sentem orgulhosos de algumas coisas que se passam na cidade — ou eles pensam que se passam na cidade — do ponto de vista da visibilidade da cidade externamente, na área do turismo. Mas depois um descontentamento muito grande com aquilo que é a sua vida e que todo este movimento não traz para sua vida. Estamos confiantes que na hora do voto as pessoas percebam que há possibilidade de haver uma alternativa e que a entrada de um vereador no Executivo municipal poderia fazer essa diferença. É na base disso que queremos ainda acreditar e acreditamos que é possível chegar ao objetivo que tínhamos determinado.

Numa quarta-feira onde era mandatório não usar o carro, Sérgio Aires levou a comitiva e os jornalistas num passeio de elétrico desde o Carmo até ao museu do Carro Elétrico para mostrar que os meios de transporte suaves no Porto são “só para inglês ver” e ainda se riu quando um dos membros da comitiva perguntou se os 3,50 euros de bilhete serviam para ida e volta. Afinal, os preços dos transportes ainda surpreendem bloquistas a meio da campanha eleitoral. 

– Essa falta de oposição traduz-se num ultimo mandato de Rui Moreira como se tivesse conseguido uma maioria absoluta, aquilo que agora temem? Aliás, a candidata da CDU tem alertado para esse perigo.
– Sim, de alguma maneira hoje no debate que tivemos no Jornal de Notícias Rui Moreira não podia ser mais transparente. Disse que queria a maioria absoluta, que estava muito satisfeito porque a sondagem assim o apontava e porque considera que a pouquíssima oposição que houve, seja na Assembleia Municipal, seja no Executivo mesmo assim estorvou aquilo que seria a sua ação o que a nós nos preocupa ainda mais. A sua ação já foi muito unipessoal e muito centrada naquilo que é a visão dele na cidade e no seu Executivo. Preocupa-nos que possa ficar ainda mais à vontade e com a via verde completa para fazer de facto exclusivamente aquilo que entende quando no seu comportamento não só de ouvir os outros partidos e aquilo que é a representação democrática nos órgãos municipais, mas também da própria sociedade civil de que esteve totalmente alheada e à qual o executivo de Rui Moreira não prestou atenção.

Em alguns momentos da campanha Sérgio Aires admite que teve de parar para explicar o que acontece no próximo dia 26 e de que eleições se tratam. Lamenta que a data tenha sido “a primeira possível” e considera que quem sai a perder é a democracia.

Falando de expectativas, agora que faltam dois dias de campanha, que expectativas é que ainda traz e o que é que ainda falta fazer na campanha eleitoral do BE?
– No fundo não falta nada, falta só continuar a fazer o que estamos a fazer que é conversar com as pessoas, sobretudo com algumas pessoas que têm menos informação. É importante dar-lhe este dado, não sei se os outros candidatos lhe dizem isto, mas estamos a sentir muita desinformação. Encontramos muitas pessoas que não sabem que vai haver eleições, que nem sabiam que já era este domingo. Não sabem sequer que eleições são. Diria que o primeiro contacto que tenho com as pessoas, olhos nos olhos, é para explicar o que estou ali a fazer. As pessoas nem sequer sabem que vai haver eleições. Não estou a falar de três ou quatro. Estou a falar de muitas pessoas que encontramos, particularmente nos bairros da cidade, nos bairros sociais, em que as pessoas não têm ideia nenhuma que vai haver eleições. A partir do momento em que percebem que sim começamos a conversar, mas até temos esse problema o que me faz temer muita abstenção que não seria bom para nada. Nem para a democracia nem para os resultados que possamos esperar.
– Sendo esta a última chamada do dia deixe-me perguntar-lhe a que horas tocará o despertador amanhã do candidato à câmara municipal e quantas horas de sono tem previstas para esta noite.
– Já estou na fase em que não preciso de despertador. Aos 52 anos a gente já não precisa de despertador (risos), acorda automaticamente. Estou a acordar automaticamente mais ou menos às 7 horas da manhã para ver tudo o que se passou até porque temos de prestar muito cuidado e atenção também àquilo que a comunicação vai dizendo e o que os outros candidatos vão fazendo. Há todo um período de início da manhã, muito cedinho, em que me dedico a ver o que se passou e depois sair para a rua e começar a trabalhar. E termino bastante tarde.
– Era isso que ia perguntar, têm sido duas semanas exigentes desse ponto de vista do cansaço acumulado?
– Não sei se isto soa bem ou mal, mas não foram duas semanas.
– Certo, estamos a falar da campanha oficial.
– Nestas duas semanas mais intensas, naturalmente, porque há muito mais para trás. Olhe, um pormenor. O facto de as pessoas não saberem que havia eleições e as eleições serem nesta data, que ainda é muito cedo, as férias foram agora. As pessoas estão a chegar, a escola está a começar agora, enfim, uma data de coisas a acontecer ao mesmo tempo fez com que muitas solicitações que nós recebemos para dialogar com associações, empresas, com pessoas, surgissem agora à última da hora. Aliás, intensificou bastante o trabalho por causa disso. Muitas das coisas que estamos a fazer já as queríamos ter feito há mais tempo, mas não foi possível porque não havia essa disponibilidade e agora sim. Repare, o debate da ILGA foi agora, podia perfeitamente ter sido há muito mais tempo, mas é agora que as organizações também estão a organizar coisas.
– Esta data prejudica, de alguma forma, a própria eleição é isso?
– Sim. Se fosse um bocadinho mais tarde como aliás tem acontecido noutras eleições autárquicas, poderia ajudar um bocadinho a termos mais tempo. Houve a pandemia, as pessoas foram de férias, as que puderam naturalmente, e procuraram finalmente descansar e sair para a rua e viver um bocadinho o que não puderam viver durante tanto tempo. Este tema está agora a cair-lhes, como eu digo, na sopa. Ligam a televisão e sim, agora começam a perceber que vai haver umas eleições. Para o cidadão comum basta saber no sábado à noite que há eleições para ir votar no domingo, agora para quem quer ter uma participação ativa e muitas associações querem falar connosco, conhecer os nossos programas, saber as nossas opiniões sobre tantas coisas, tem sido muito mais intenso por causa da data. Foi a primeira data possível a escolhida, diria que se fosse um bocadinho mais tarde tinha ajudado um pouquinho a termos mais tempo todos. Isto não se passa com o Bloco de Esquerda seguramente, passa-se com todos os partidos.
– Vou deixá-lo então descansar, já que amanhã acordará naturalmente sem despertador. Uma boa noite, bom descanso.
– Muito obrigado, boa noite. Obrigado

(Rui Oliveira/Observador)

António Fonseca. Dorme tão pouco como Marcelo e estragou uma solas na campanha

[Ouça aqui a última chamada durante dois dias consecutivos a António Fonseca]

Candidato do CH ajudou Moreira a ficar conhecido

20 de setembro, segunda-feira. António Fonseca está a cumprir os últimos dias como presidente da junta de freguesia do centro histórico, mas no sangue corre-lhe a política local. Talvez por isso tenha optado por uma campanha simples, baseada na boa forma física (que levou a caminhar muitos quilómetros), nos flyers e no passa-palavra. O dia da primeira conversa com o Observador foi apenas mais um como todos os outros da campanha do candidato do Chega.

– Estou.
– Estou. Boa noite, António Fonseca. Inês André Figueiredo, do Observador.
– Muito bem, boa noite.
– Começava por lhe perguntar o que é que andou a fazer hoje durante o dia?
– Ora bem, hoje durante o dia posso-lhe dizer que de manhã estive a trabalhar na junta e durante a tarde estivemos a fazer uma campanha desde o Bom Sucesso até praticamente à Pasteleira. Fizemos uma grande caminhada, abordámos as pessoas, fizemos a distribuição dos flyers, tivemos alguma exposição, fomos bem recebidos, fomos a alguns bairros também, andámos na zona de Bessa Leite e acabou às 20h00. Foi uma tarde muito produtiva. De manhã continuo a trabalhar na junta porque acho que não devemos abandonar as responsabilidades que temos até ao fim do mandato e à tarde estive a fazer isso tudo com a minha equipa.

– Tem palmilhado muitos quilómetros pelas ruas do Porto desde que começou esta campanha, sente necessidade de se fazer conhecer principalmente nas zonas fora do centro histórico, tendo em conta que era presidente de junta nessa junta de freguesia?
– Acho que talvez por já andar aqui há uns aninhos, sou surpreendido porque em muitas zonas que não têm nada a ver com o centro histórico eu sou conhecido, reconhecem-me. Às vezes até fazem essa abordagem. Necessidade tem de haver sempre, eu posso considerar-me que não sou um desconhecido, sou uma pessoa que, mesmo a comunicação social há cerca de 20 anos tem feito alguns trabalhos comigo quer como dirigente associativo quer como autarca. Acho que não sou assim tão desconhecido. Tudo o que se faz no centro histórico tem a pesada de todos os habitantes da cidade de todas as freguesias, as pessoas trabalham na Baixa, ou vêm à Baixa, ou vão à Boavista. Se calhar, dos autarcas, tirando que alguns já fizeram parte de vereações e tudo e desde abril para cá têm grandes outdoors e uma máquina de marketing bastante forte e talvez até eficaz para dar a conhecer a pessoa, acho que essa parte a mim não tem sido negativo.

Durante a toda a campanha eleitoral António Fonseca fugiu do confronto de ideias sobre o Chega ao escudar-se no facto de ser independente. Há vários anos na política, e depois de oito anos à frente da junta de freguesia do centro histórico do Porto, o candidato à câmara da Invicta já fez parte de listas do PSD, representou o movimento de Rui Moreira e abraça agora um novo desafio no partido de André Ventura. Os anos que passou na política focam-se no local em que é presidente de junta e, se por um lado isso o torna ‘famoso’ nessa zona, também leva a que muitas pessoas não o conheçam no resto da cidade.

– O centro histórico é o território onde é mais forte, houve muita gente noutras zonas da cidade que não o conhecia. Sente que estas vitórias [na junta] em 2013 e em 2017 aconteceram por estar ligado a Rui Moreira ou pelo seu nome, já que é independente?
– Quem acompanhou a campanha de Rui Moreira em 2013, que eu andava por todo o lado, toda a gente dizia “olha o Fonseca, o senhor dos bares e não sei o quê”, ou seja, notei que fui muito conhecido, talvez por isso mesmo também os candidatos me convidavam sempre. Aliás, como aconteceu em 2009. Eu acho que de uma certa forma abri muitas portas para o Rui Moreira, fui uma alavanca na campanha de Rui Moreira. Foi um conjunto de pessoas, foi uma campanha genuína, onde todos andavam no terreno, onde todos galgavam o território independente de alguns obstáculos que encontrávamos. Aliás, foi a campanha mais bonita que se fez até agora. Foi pena que o manifesto que esteve subjacente a essa campanha não tenha sido cumprido.
– Essa é uma das grandes questões que tem levantado na rua. Este ano decidiu trocar o movimento de Rui Moreira pelo Chega, para se candidatar à câmara municipal e não à junta de freguesia do centro histórico, onde ainda podia recandidatar-se para mais um mandato. Está tranquilo com esta decisão?
– Estou por duas razões, primeiro eu gosto de desafios, não sou muito de coisas fáceis e não sou de estar confortável no sofá, eu quando vou para casa não é para dormir, gosto de ter alguma dinâmica, faz parte da minha natureza. Se me pergunta se pessoalmente beneficio alguma coisa, não, até pelo contrário, mas gosto e é a minha forma de estar. Enquanto tiver saúde, me for permitido e as pessoas me elegerem seja em que situação for. Quando aceitei ser candidato pelo Rui Moreira em 2013 eu era autarca do PSD e as pessoas comentavam “oh, António, vais passar de cavalo para burro?” E eu até disse “desculpa lá, o cavalo já está muito grande, já não anda, o burro pelo menos está novo e com a pica toda, vamos lá ver se anda”. Não sou um indivíduo de carreirismo político e a prova é que nunca fui filiado em nenhum partido político, nunca me ofereci para ser candidato, sou sempre procurado para ser candidato.

– Já aconteceu muitas vezes durante a campanha ser confrontado por esta mudança para o Chega e acaba por se defender dizendo que é independente, principalmente quando há confrontos de ideias na rua sobre o Chega. Porque é que tem a necessidade de frisar tantas vezes que é independente quando escolheu candidatar-se à câmara municipal pelo Chega?
– Da mesma forma quando em 2009 fui candidato pelo PSD também disse que era independente. Ou seja, no fundo isto já vem detrás. Eu sempre disse que era independente. Além do mais, em 2017, na candidatura de Rui Moreira já aparecia muita gente que não era independente, os chamados falsos independentes que vinham dos outros partidos e eu mesmo na campanha dizia que era independente. E a prova é que em 2017 Rui Moreira não colocou outdoors, não colocou nada e fui para o terreno dizer que era independente, que era o verdadeiro independente, ao contrário de outros que eram os chamados desertores de outros partidos. Verdadeira independência é eu ser candidato pelo Chega e dizer ao André Ventura que aceito a candidatura, mas que o programa para a câmara do Porto tem de ser para cobrir as necessidades do concelho. E André Ventura disse “claro, António, faz o programa que achas necessário para aí” e a prova é que fizemos o nosso programa, mandámos para ele e ele subscreveu o nosso programa. O Chega tem algumas bandeiras que eu defendo muito bem, que é a questão da corrupção, da segurança, das creches.

A contagem aos quilómetros que António Fonseca percorreu desde o início da campanha eleitoral já se perdeu. O candidato à câmara é dos primeiros a chegar, espera pela curta comitiva — muitas vezes composta por duas ou três pessoas — e começa sem hora de fim. Sabe mais ou menos os locais em que tem de passar e vai definindo o caminho à medida que anda. Sempre a passo apressado, Fonseca entra nas lojas, aborda quem está no café, trava quem vai na rua. O lema é chegar ao máximo pessoas possível, até porque é muito conhecido no centro histórico, mas não tanto noutras zonas da cidade.

– A sua campanha tem-se baseado muito em ações de rua, nesta última semana vai apostar um bocadinho em iniciativas diferentes ou vai manter o mesmo registo?
– Eu continuo a ter uma necessidade de levar a mensagem às pessoas e para isso eu tenho de ir ao encontro delas. Arranjar estratégias de show off apenas para a fotografia, para a comunicação social e não chegarmos à população… para nós é importante a comunicação social, mas é importante termos o contacto directo. Obviamente que de um momento para o outro pode surgir uma situação de termos de fazer uma operação de marketing, se ela surgir, mas vou-me debruçar sobretudo no contacto com a população porque tenho de passar a mensagem e provavelmente fazer alguns esclarecimentos.

– E para amanhã, o seu despertador já tem hora marcada?
– Já há muitos anos, já pareço o Marcelo, que só durmo quatro ou cinco horas no máximo. Nestes dias estou a dormir três horas mais ou menos. Nem que venha para casa cedo não adormeço logo, não é que esteja a pensar na campanha, estou a ver filmes ou estou a ler…

– É muita adrenalina?
– É, enquanto ela houver eu gosto dela. Já que não posso com esta idade praticar desportos radicais, um desporto radical é praticar a política agora.
– Mas os quilómetros que tem andado têm dado para fazer o exercício diário?
– A média dos quilómetros é entre os 15 e os 18 por dia. Já rompi as primeiras solas de sapato.
– Tinha dito que esses sapatos eram só para a campanha, teve de mudar as solas… ou comprou uns sapatos novos?
– Eu já tinha uns sapatos novos mas tinha usado nos últimos dias os que me deram sorte em 2009, 2013 e 2017. Só que desta vez a sola era nova e em menos de três semanas já se gastou.

– Mas vai meter umas solas novas nestes sapatos? É por superstição ou vai trocar de sapatos?
– Todos nós somos supersticiosos, quem diz o contrário não acredito, mas se me pergunta se sou supersticioso, sim, sou. Raramente passo por baixo de um andaime.

O dia acaba com um iogurte

21 de setembro, terça-feira. A estratégia é sempre a mesma. As ações de rua de António Fonseca são sempre iguais desde o primeiro dia: distribuição de flyers. “Bom dia, sou o António Fonseca, candidato à câmara, sou este aqui”, diz a apontar para a imagem que traz na mão. O candidato do Chega considera que essa é a única forma de se dar a conhecer à população, o falar cara a cara, entregar as ideias para a cidade em papel. Mas a verdade é que foi o único candidato que não fez nenhuma ação de campanha sem ser a distribuição de panfletos, mesmo quando começaram a sair as sondagens que o deixam fora da vereação. Na noite de terça-feira já estava a descansar quando lhe ligámos, mas ainda havia pormenores a rever.

– Boa noite, António Fonseca.
– Boa noite. Então?

– Como foi o dia hoje, está muito cansado?
– Foram para aí 20 quilómetros.

– A estratégia de entregar flyers mão em mão mantém-se?
– Mantenho. Nós estivemos em bairros que são considerados por muita gente problemáticos e depois de falarmos com as pessoas, aos poucos começaram a compreender a nossa mensagem e isso para nós é fundamental. Acho que este porta a porta, o contar das espingardas, passo a expressão, é fundamental até para esclarecer, muitas vezes confundem-se as linhas programáticas do nacional com o local.

Na última chamada de quarta-feira, candidato do Chega lamentou-se pelo facto de não ter sido convidado para os dois últimos debates da campanha eleitoral — em que o critério foi a presença dos partidos que têm assento na assembleia municipal. António Fonseca não entende e prefere nem sequer ver um debate que não inclui todos os candidatos. Ciente de que tem muito que trabalhar, admitiu até que prefere dedicar-se ao trabalho na rua a conhecer os argumentos discutidos no debate, mesmo antes do mesmo acontecer.

– Amanhã é dia de debate mas António Fonseca não irá participar…
– Não fui convidado.

– O que é que vai fazer enquanto estiver a dar o debate, vai vê-lo?
– Não, não sei a que horas é o debate…

– Às 14h30.
– Não, não vou, vou trabalhar. 

– Tem uma ação de campanha marcada para essa hora.
– Sim, já tenho campanha marcada. Acho que um debate que só convidam os partidos que estão com assento na assembleia esquecem-se que estou com assento na assembleia, governo 1/3 da cidade, acho que deviam ter a mesma política que teve a RTP, a TVI, a SIC. Acho que prestam um mau serviço a todos nós.

António Fonseca já tinha contado ao Observador que dormia pouco, até se comparou com Marcelo Rebelo de Sousa, mas recordou na última chamada que além de se deitar tarde, quando ainda não havia tanto fluxo de notícias online, só se deitava depois de ir buscar os jornais às quatro da madrugada às bombas de gasolina. Hoje consegue fazer o mesmo sem se levantar do sofá, mas nem por isso descansa muito tempo antes. Prefere a adrenalina ao conforto e até a descansar está a rever pormenores da campanha.

– Ontem disse-me que não era pessoa de gostar de estar no sofá sem fazer nada. Nestes dias de campanha quando chega a casa não lhe apetece descansar um pouco, apenas ficar a ver televisão ou a ler um livro?
– Olhe, cheguei a casa agora, comi qualquer coisa, sentei-me no sofá, pus os pés em cima da mesa e estou mesmo a descansar.

– Vê notícias ou prefere ver outras coisas?
– Prefiro desligar um pouco, só estou a rever uns apontamentos de algumas coisas que falaram hoje.

– Já sei que dorme poucas horas, vou deixá-lo descansar, mas não o quero deixar ir sem lhe perguntar qual é a última coisa que vai fazer antes de se deitar.
– A última coisa que faço antes de me deitar é comer um iogurte. Ainda vou dar uma vista de olhos nos jornais, ver algumas notícias online, só vou para a cama lá para as duas ou três da manhã. 

(Rui Oliveira/Observador)

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