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epa09114968 A view of the deserted St. Peter's Square during Easter Sunday Mass behind closed doors in St. Peter's Basilica due to the Coronavirus (COVID-19) pandemic emergency, at the Vatican, 04 April 2021. Easter Sunday is the one of the highest religious holidays observed by Christians all over the world, commemorating the resurrection of Jesus Christ. Italy is spending Easter in lockdown after the government made the whole nation a COVID-19 'red zone' from 03 April to Easter Monday in order to prevent social interaction fuelling contagion with the pandemic coronavirus.  EPA/ANGELO CARCONI
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Os bispos portugueses vão estar em Roma entre 20 e 24 de maio

ANGELO CARCONI/EPA

Os bispos portugueses vão estar em Roma entre 20 e 24 de maio

ANGELO CARCONI/EPA

Bispos portugueses vão a Roma para encontro com Papa e responsáveis do Vaticano. Abusos de menores e JMJ são temas incontornáveis

A visita "ad limina" é uma obrigação dos bispos católicos a cada cinco anos (embora a última tenha acontecido há nove). Bispos portugueses vão estar cinco dias em Roma para uma série de reuniões.

Nove anos depois da última visita ad limina, os bispos católicos portugueses voltam no final deste mês ao Vaticano para um encontro de cinco dias com o Papa Francisco e com os principais responsáveis da Igreja Católica a nível global. Os bispos portugueses vão estar em Roma entre os dias 20 e 24 de maio para uma série de reuniões durante as quais vão apresentar a realidade da Igreja em Portugal e recolher orientações e indicações dos responsáveis do Vaticano.

“É um tempo de escuta e diálogo, dos bispos com o Santo Padre e com os organismos da Cúria Romana”, explicou esta quinta-feira o padre Manuel Barbosa, porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa, durante um encontro com os jornalistas em Lisboa no qual foi revelado o programa completo da visita. Nesse encontro, o sacerdote confirmou que temas como a crise dos abusos sexuais de menores no contexto da Igreja e a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) que aconteceu no ano passado em Lisboa serão dois dos temas incontornáveis dos encontros no Vaticano.

A visita ad limina é uma obrigação dos bispos católicos de todo o mundo e deve acontecer a cada cinco anos. A última visita deste género dos bispos portugueses aconteceu em 2015, já com o Papa Francisco. A visita seguinte deveria, em circunstâncias normais, ter acontecido em 2020. Contudo, a pandemia da Covid-19 obrigou ao adiamento da visita para 2023. Depois, os bispos portugueses pediram um novo adiamento da visita, para 2024, de modo a não acontecer antes da JMJ. Seria “quase impossível” organizar a visita durante a reta final dos preparativos do evento, explicou Manuel Barbosa.

O nome da visita é uma abreviatura da expressão latina “Ad Limina Apostolorum“, ou seja, à “entrada” ou ao “limiar” das basílicas dos apóstolos. Na origem desta expressão está a obrigação canónica dos bispos de peregrinarem periodicamente até às basílicas de São Pedro e São Paulo, no Vaticano, para venerarem os túmulos daqueles dois primeiros apóstolos e para se apresentarem ao Papa, que é o sucessor de São Pedro.

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José Ornelas (ao centro) é o atual presidente da Conferência Episcopal Portuguesa

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

“Esta tradição salutar é uma graça de Deus que nos dá oportunidade de estar junto à Sé de Pedro, como um voltar às fontes e às inspirações originais em tudo aquilo que significam esses locais“, diz uma pequena nota distribuída aos jornalistas pelos bispos. “A presença nos locais históricos ajuda-nos a estar ainda mais unidos ao espírito inicial.”

Os bispos explicam ainda que a visita ad limina é, no seu cerne, uma “demonstração de afeto e de obediência ao sucessor de Pedro num reconhecimento visível da sua universal jurisdição sobre toda a orbe católica, dentro de uma peregrinação dos bispos a Roma e com um encontro pessoal com o Santo Padre”. Simultaneamente, o Papa “demonstra afeto e solicitude para com todas as dioceses do mundo, dando-lhes conselhos e orientações”.

Abusos de menores e JMJ serão temas incontornáveis

Respondendo aos jornalistas sobre o programa da visita ad limina, o padre Manuel Barbosa disse não poder “adiantar” detalhes sobre quais os temas que vão estar em cima da mesa nas reuniões entre os bispos portugueses, o Papa Francisco e os responsáveis dos vários dicastérios (a palavra usada para os vários departamentos da Santa Sé, como se fossem os diferentes ministérios do governo da Igreja global).

Ainda assim, o sacerdote confirmou que um dos temas centrais será, necessariamente, a última Jornada Mundial da Juventude, que ocorreu em Lisboa em agosto de 2023 com a presença do Papa Francisco e de cerca de 1,5 milhões de jovens católicos de todo o mundo. Aliás, a visita acontece justamente “no seguimento desse grande acontecimento“, sustentou Manuel Barbosa.

O porta-voz dos bispos portugueses foi também questionado sobre se o tema dos abusos sexuais de menores também estaria presente na visita, uma vez que foi um dos principais assuntos a marcar a atualidade da Igreja Católica em Portugal desde a última deslocação dos bispos a Roma. Manuel Barbosa assegurou que “é um tema que vai ser abordado”, uma vez que “é um tema incontornável e não podia ser de outro modo“.

Depois de 2015, esta será a segunda visita "ad limina" dos bispos portugueses com o Papa Francisco

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

O sacerdote foi também questionado sobre o facto de o programa detalhado da visita não incluir uma reunião com a Pontifícia Comissão para a Proteção de Menores, o organismo máximo do Vaticano para supervisionar a luta contra os abusos de menores. Contudo, com a reforma da Cúria Romana implementada em 2022 pelo Papa Francisco, aquele organismo passou a estar sob jurisdição direta do Dicastério para a Doutrina da Fé. Por isso, explicou Manuel Barbosa, o tema deverá ser abordado não só na reunião dos bispos com esse dicastério (21 de maio às 10h30), mas também no encontro com o Dicastério para os Bispos (21 de maio às 8h45).

Desde a última visita ad limina dos bispos portugueses, a crise dos abusos sexuais de menores intensificou-se no país: em 2018, o Papa Francisco convocou os bispos de todo o mundo a Roma para uma cimeira sobre a proteção de menores, que aconteceu em fevereiro de 2019; na sequência dessa cimeira, foram implementadas novas regras internas e criadas, em todas as dioceses, comissões de proteção de menores; em 2021, os bispos portugueses anunciaram a criação de uma comissão independente para estudar a realidade dos abusos desde a década de 1950 até à atualidade; o relatório final da comissão, apresentado no início de 2023, revelou uma estimativa de pelo menos 4.815 vítimas de abusos no período estudado; já em 2024, os bispos portugueses anunciaram o lançamento de um programa de atribuição de reparações financeiras às vítimas.

Abusos na Igreja. Número de vítimas que pedem compensação financeira aumenta 50% depois de bispos anunciarem reparações

Além destes dois temas incontornáveis, deverá também estar em cima da mesa o Sínodo dos Bispos atualmente em curso — iniciativa de auscultação dos católicos de todo o mundo que terá o seu encerramento formal em outubro deste ano.

O programa da visita é, nas palavras do padre Manuel Barbosa, “muito apertado”. Enquanto a última visita ad limina foi de oito dias, esta será de apenas quatro dias e meio, o que obriga à condensação dos compromissos. O encontro arranca logo na manhã do dia 20 de maio, com um encontro com a Secretaria Geral do Sínodo. Segue-se a visita ao Dicastério para os Institutos da Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica e ainda ao Dicastério para a Evangelização. No final do primeiro dia, os bispos portugueses celebram uma missa na basília de São Paulo, em Roma.

O segundo dia inclui encontros com os Dicastérios para os Bispos, para a Doutrina da Fé e para os Leigos, Família e Vida (aquele que tutela a JMJ), bem como com a Secretaria de Estado do Vaticano. No final desse dia, os bispos celebram uma missa na Igreja de Santo António dos Portugueses, e ainda jantam na embaixada de Portugal junto da Santa Sé.

O terceiro dia inclui encontros com os Dicastérios para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, para a Cultura e Educação, para o Clero e para a Comunicação. Este será um dos dias de destaque, já que os bispos portugueses se vão reunir com o único dicastério da Santa Sé liderado por um português: o cardeal José Tolentino Mendonça, que é prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação.

O penúltimo dia inclui ainda encontros com os Dicastérios para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, para a Evangelização e para as Causas dos Santos, bem como um encontro com os responsáveis do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica (o órgão máximo da justiça eclesiástica). Para a manhã do último dia está agendada uma missa na Basílica de São Pedro, presidida pelo bispo José Ornelas (presidente da CEP), e finalmente a audiência com o Papa Francisco.

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