O CDS passou as duas últimas semanas sem beliscar diretamente o PSD — limitando-se a dizer que o partido de Rio se tinha deslocado para o centro e centro-esquerda, deixando vazia a ala direita — mas em toda a mensagem política de Nuno Melo e Assunção Cristas esteve o intuito de puxar para si os votos dos descontentes com o antigo parceiro de coligação. Foi assim quando, a meio da campanha, Nuno Melo pôs outra fasquia para além da meta de eleger dois eurodeputados: ficar acima do PCP e do BE, numa disputa entre partidos extremistas e partidos da “moderação”, da “direita democrática”. Também essa meta era um piscar de olho aos eleitores do PSD, já que servia para mostrar quem é que, à direita, “bate” verdadeiramente na “esquerda radical”.
Talvez por isso faça sentido o comentário que saiu da boca de Nuno Melo quando, esta tarde, à chegada da arruada centrista à famosa rua de Santa Catarina, o CDS avistou a mancha laranja do PSD ao fundo: “Agora, é costas com costas”, disse o candidato referindo-se ao PSD. Sendo mais ou menos do que o PSD, a verdade é que Nuno Melo subiu a um pilarete e fez de maestro para mostrar a força do CDS, pelo menos ao nível dos decibéis. E aí, verdade seja dita, o CDS está afinado, grita alto, e faz a festa.
Alto. A arruada no Porto foi melhor do que a de Lisboa e o CDS está em festa mesmo quando está preocupado. Apesar de o trajeto ter sido feito à medida, para não colidir com a arruada do PSD, na rua de Santa Catarina, e, portanto, ter tido mais obstáculos do que seria desejável, o CDS esteve em festa no último dia de campanha. A verdade é que, por mais que os centristas possam estar preocupados com o resultado de domingo, e por mais que implorem aos eleitores da direita para saírem de casa e não contribuírem para a abstenção, Nuno Melo, Mota Soares, Assunção Cristas e os jotas que os acompanham criaram uma imagem de festa, mobilizadora, e esperançada.
Baixo. A manhã começou com um discurso um tanto derrotista de Nuno Melo. Falando aos jornalistas em Penafiel, depois de uma visita a uma empresa de confeção de roupa para homem, o candidato centrista fez um balanço de ombros encolhidos: “Mais não podia ter feito”, “foi uma campanha alegre e mobilizadora”, “estou de consciência tranquila”. Agora, “o povo é que decide”. O mote fez lembrar uma feirante que, na véspera, em Barcelos, tinha prometido que ia rezar pelo CDS. “Reze, reze”, disse na altura o candidato. Que o CDS bem precisa?
Em festa e de sorriso na cara, o CDS não desiste de apelar ao voto para combater o maior “inimigo” que é a abstenção. Vai ser assim até ao último minuto. Na última arruada da campanha, no Porto, Cristas voltou a dizer que a abstenção prejudica a direita porque a esquerda “mobiliza-se melhor” na ida às urnas. Não querendo “culpar” a abstenção por um eventual desaire no domingo, nem querendo “culpar ninguém”, Cristas disse que se limitava a pedir aos eleitores que “pusessem a mão na consciência” e que fossem votar.
É aí que reside a esperança do CDS, que já parece estar a baixar as expectativas. Nuno Melo apostou tudo na campanha contra o Bloco de Esquerda e o PCP, dizendo que a meta mais ambiciosa seria ficar acima destes dois partidos (apesar de as sondagens dizerem o contrário), e Assunção Cristas hoje já se recusou a estabelecer essa meta. “O objetivo do CDS é, no mínimo, duplicar a nossa representação no Parlamento Europeu, foi esse o nosso objetivo desde sempre”, disse em resposta à pergunta sobre se assumiria derrota caso o CDS não ficasse acima do BE e PCP. O objetivo é eleger Mota Soares, portanto. Só esse, não outro. “A partir daí tudo o que vier é ganho, é bem vindo”.
Laurinda Azevedo tem 65 anos e é do Porto. Juntou-se discretamente ao grupo do CDS que começava a reunir-se na Praça dos Leões para a última arruada da campanha. Os tambores rufavam e as bandeiras começavam a ser distribuídas por quem se juntava para dar apoio à comitiva: os candidatos estavam prestes a chegar. Com um saco de uma loja de roupa na mão, Laurinda parecia estar apenas de passagem, mas afinal sabia muito bem que aquele encontro estava marcado porque “um engenheiro” do CDS lhe tinha falado nisso. “Simpatiza” com o CDS, sim, porque conhece umas pessoas, mas não a 100%. A 100% é mais com outro partido: o PAN, confidencia ao Observador. E já que o confidenciou, aproveitamos para perguntar em qual dos dois vai votar no domingo. Por esta altura já Laurinda Azevedo tinha uma bandeira azul e branca na mão e preparava-se para seguir o grupo rua abaixo. Mas, ainda assim, não tem pudor em responder ao Observador, apesar de o voto ser secreto: no domingo, vai mesmo votar no partido Pessoas, Animais e Natureza.
Arruada do CDS no Porto ficou marcada por um momento peculiar: o dono de um café, o “senhor Ribeiro”, ofereceu cervejas a toda a comitiva. “Momento inédito em qualquer campanha”, disse Nuno Melo ao megafone. O Observador percebeu depois que Albertino Ribeiro conhecia Nuno Melo de Famalicão, sendo simpatizante “mas não militante” do CDS.
Último dia de campanha foi passado no distrito do Porto, entre Penafiel e a Póvoa de Varzim, e termina com um jantar a Santa Maria da Feira, distrito de Aveiro. A separá-los estão pouco mais de 17 quilómetros.
Total acumulado desde segunda-feira, dia 13: 4.100 quilómetros.