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“Vocês perguntam: qual é o nosso objetivo? Posso responder-vos numa palavra: vitória.” Foi assim que Winston Churchill se dirigiu aos deputados no seu primeiro discurso como chefe do Governo do Reino Unido, a 13 de maio de 1940, na famosa interpelação em que pediu “sangue, suor e lágrimas” aos britânicos. Dois dias antes, apenas seis horas depois de Neville Chamberlain anunciar a passagem da pasta de primeiro-ministro para Churchill, já o conservador tinha posto em marcha a nova composição do seu Gabinete de Guerra, para enfrentar a ameaça da Alemanha Nazi.
Nas reuniões estratégicas do pequeno grupo estariam presentes o próprio Churchill, que acumulava a chefia do Governo com o ministério da Defesa, o Lorde presidente do Conselho (cargo que viria a dar lugar à pasta dos Assuntos Parlamentares), Neville Chamberlain, o Lorde do Selo Privado (que daria lugar à presidência da Câmara dos Lordes), Clement Attlee, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Lord Halifax, e um ministro sem pasta, Arthur Greenwood. O grupo, que contava com três políticos tory e dois trabalhistas, reunia-se frequentemente nas chamadas War Rooms, os aposentos subterrâneos do Executivo criados nos anos 30 a propósito da ameaça de guerra — que se veio a confirmar. Agora, quase 80 anos depois, há um novo Gabinete de Guerra no Reino Unido, cuja primeira reunião decorreu precisamente esta terça-feira — sem Boris Johnson, que andou em tour pela Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte, mas que se juntou ao segundo encontro, na quinta-feira. O combate, desta vez, chama-se Brexit.
Quem geralmente presidirá às reuniões, contudo, será mesmo o primeiro-ministro, um fã assumido de Churchill (e autor do livro O Fator Churchill, ed. Dom Quixote). A equipa, que se reunirá várias vezes por semana, contará ainda com outros cinco membros: Michael Gove (chanceler do ducado de Lancaster e número dois do Governo), Sajid Javid (ministro das Finanças), Dominic Raab (ministro dos Negócios Estrangeiros), Geoffrey Cox (procurador-geral) e Stephen Barclay (ministro para o Brexit). O ponto de encontro desta vez não será nas War Rooms, que fazem hoje parte de um museu, mas sim na chamada COBRA, o acrónimo para Cabinet Office Room Briefing A (Sala A de Briefing do Governo), onde decorrem os encontros mais importantes entre ministros, sobretudo em situação de crise — uma decisão que, para o editor da BBC Norman Smith, é simbólica e tenciona retratar o Brexit como uma espécie de “missão nacional”.
Oficialmente, o grupo não se chamará “Gabinete de Guerra”, mas sim Comité de Operações Diárias ou XO. Mas o facto de o novo Executivo de Boris Johnson ter decidido criar um organismo específico para conseguir o Brexit, que conta apenas com a presença do primeiro-ministro e de uma mão cheia de outros membros, fez com que a imprensa britânica se apressasse a traçar esse paralelismo — algo que pode bem ter sido intencional. “Johnson tem sido influenciado pela imagem de Churchill toda a vida e adoraria ser visto como uma figura Churchilliana”, resume ao Observador o professor de Ciência Política da Universidade de Sussex Paul Webb. “Portanto, cá está ele a criar o seu ‘Gabinete de Guerra’ que irá conduzir a sua campanha contra a Europa continental. A mim parece-me fátuo, mas é o que temos.”
A estratégia política do novo habitante de Downing Street é mesmo a de partir para o problema do Brexit como quem parte para a guerra. “Ações em tempo real, prazos, responsabilização, tudo isso estará nos ecrãs em cada reunião e as atas serão disponibilizadas de imediato a seguir”, resumiu uma fonte deste Governo, sobre a ação do XO, à televisão britânica iTV. E, a par do “Gabinete de Guerra” de Boris, haverá ainda outro grupo seleto, o Comité de Estratégia de Saída ou XS, que também se reunirá duas vezes por semana para colocar o plano de saída em marcha. Os sinais, contudo, apontam para uma guerra que pode vir a ser bem diferente da de um Brexit imediato, com ou sem acordo. Uma equipa recheada de Brexiteers, a escolha do estratega máximo da campanha pela saída para conselheiro e um orçamento generoso para o Brexit e para outras áreas sugerem aos analistas uma coisa: Boris Johnson está a preparar-se como quem se prepara para uma campanha eleitoral. Na arena da política britânica, o Brexit bem pode ser prioritário, mas talvez haja mesmo eleições antecipadas antes de qualquer decisão final.
Boris faz reset ao Governo: maioria de ministros são favoráveis a um hard Brexit
A remodelação de ministros feita por Boris Johnson fez correr tinta. Os jornais usaram termos como “carnificina” e “massacre” para se referirem às demissões de vários ministros contra um hard Brexit e afastamento de outros tantos. Nos cargos-chave, ficaram eurocéticos conhecidos: o ministro para o Brexit, Stephen Barclay, e o ex-ministro do Ambiente, Michael Gove, tiveram direito a permanecer no Executivo, por exemplo, enquanto que outros, como o novo ministro dos Negócios Estrangeiros, Dominic Raab, e a responsável por questões legais, Nikki da Costa, foram trazidos de volta ao Governo, depois de se terem demitido em protesto contra o que consideraram ser cedências de Theresa May a Bruxelas.
“Há alguns Remainers e apoiantes de um Brexit soft no Governo”, aponta o professor Webb para se referir a ministros como Amber Rudd (Trabalho) ou Matt Hancock (Saúde) que, contudo, têm pastas menos relevantes no dossiê Brexit. “Mas não há dúvida de que a tendência geral do Governo virou para uma estratégia de no deal”, reconhece.
Já Alan Wager, professor da King’s College, não hesita em ser mais taxativo: “Isto não foi apenas uma remodelação da equipa de topo por parte de Boris Johnson; isto foi um botão de reset”, declara ao Observador. “Os políticos e conselheiros que foram responsáveis pela campanha do Vote Leave [no referendo de] 2016 estão a controlar o espetáculo.”
São vários os rostos da campanha pela saída que estão agora em posições de destaque. É o caso de Lee Cain, ex-diretor de comunicação para rádio e televisão da Vote Leave que agora se torna diretor de comunicação do número 10 de Downing Street. E também de Matthew Elliott (ex-diretor executivo da Vote Leave que agora entra no ministério das Finanças), de Oliver Lewis (ex-diretor de pesquisa da campanha que agora será conselheiro operacional para o Brexit) e de Rob Oxley (ex-diretor de Media da Vote Leave que será agora assessor de imprensa do próprio primeiro-ministro).
Mas o maior sinal de que Boris Johnson está a encarar o novo desafio como quem encarou a campanha de 2016 é o facto de ter trazido para o Governo um nome incontornável quando se fala de estrategas eleitorais vencedores no Reino Unido: Dominic Cummings, o diretor de campanha que é considerado o cérebro da Vote Leave, cuja prestação em 2016 lhe valeu o papel de protagonista no telefilme The Uncivil War, interpretado por Benedict Cumberbatch.
Johnson, Farage ou Cummings. O que é feito das caras do Brexit?
O cérebro da campanha de 2016 entra em Downing Street: “É o primeiro chefe de quem tenho medo”
A entrada de Dominic Cummings no número 10 aconteceu na passada quarta-feira, juntamente com o primeiro-ministro e outros membros do Executivo. Enquanto Boris Johnson se desdobrava em apertos de mão, uma figura solitária e careca, de t-shirt cinzenta, tirava notas no seu telemóvel. Era nada mais nada menos do que o homem a quem David Cameron chamou em tempos um “psicopata de carreira”, que regressou ao centro do poder britânico, agora para ocupar o influente cargo de conselheiro principal do primeiro-ministro.
Dois dias depois, Cummings teve a primeira reunião com a sua equipa em Downing Street — e a estreia chegou com estrondo. Desta vez não trazia t-shirt, mas sim uma camisa branca enrugada e uns ténis pretos. Não se pense, contudo, que o estilo descontraído é sinal de menos seriedade no trabalho: “O Dom está a gerir o espetáculo. Na prática, é ele o chefe de gabinete [do primeiro-ministro]”, resumiu uma fonte de Downing Street à Politico Playbook, a newsletter do Politico especializada em assuntos britânicos. Não admira que, como revela o Times, Cummings se tenha instalado no lugar mais perto do gabinete do primeiro-ministro, habitualmente ocupado pelo chefe de gabinete. Oficialmente, o antigo conselheiro de Boris na Câmara de Londres, Eddie Lister, é quem ocupa esse cargo.
Nessa primeira reunião, Cummings terá deixado claro que as coisas irão mudar. De acordo com o BuzzFeed, o antigo diretor de campanha explicou que os chamados “conselheiros especiais”, vulgarmente conhecidos por SpAds, deixarão de reportar aos respetivos ministros e passarão a ser geridos diretamente por Dominic Cummings. “Tudo está diferente. Conseguimos sentir que o controlo está no centro e houve uma alteração completa de ritmo. Ninguém está a brincar”, declarou uma fonte de Downing Street ao Playbook. “É o primeiro chefe de quem tenho medo”, acrescentou o mesmo funcionário.
https://www.youtube.com/watch?v=3U9PtoH5bsM
Não é para menos, se tivermos em conta que Cummings é conhecido pelas suas ideias radicais de reforma do funcionalismo público, nomeadamente entre o grupo de funcionários que trabalham para o Governo e que ocupam esses cargos por carreira e não por nomeação política. O Brexit, disse em tempos Cummings ao jornalista Tim Shipman, autor do livro All Out War: The Full Story of How Brexit Sank Britain’s Political Class (sem edição em português, pode ser traduzido por Guerra Aberta: A História Completa de Como o Brexit Afundou a Classe Política Britânica), “irá forçar as pessoas a pensar nestas matérias em vez de ficarem no estupor de morte cerebral em que se encontram há 20 anos, com Whitehall [rua dos ministérios em Londres] a concentrar-se apenas em ir à próxima reunião em Bruxelas”.
Essa perceção de desilusão com o funcionalismo público e com o funcionamento do poder governativo formou-se muito graças ao período em que Cummings trabalhou como conselheiro de Michael Gove, à altura ministro da Educação. “Toda a gente pensa que, a certa altura, como aconteceria num filme de James Bond, se abre uma porta e é aí que estão as pessoas realmente boas. Essa porta não existe”, lamentou-se o conselheiro após se demitir, em 2014.
A escolha de um operativo implacável como Cummings agrada a alguns, como a Henry Newman, diretor do think tank Open Europe conhecido pelas posições mais eurocéticas do que pró-europeias e antigo colega de Cummings no ministério de Gove: “Ele divide opiniões, mas é um pragmático”, declarou à BBC. “É muito analítico, reúne uma boa equipa à sua volta, decide o que vai fazer e tenta consegui-lo de forma muito determinada.”
Essa determinação, contudo, é também sinónimo de implacabilidade para alguns. Não faltam críticos de Cummings, quer na oposição, quer nas fileiras internas dos tories. A ex-conservadora e atual deputada independente Sarah Wollaston recordou que o ex-diretor de campanha da Vote Leave foi sancionado pelo Parlamento depois de ter recusado prestar declarações a uma comissão parlamentar, a propósito das suspeitas de financiamento da Vote Leave, chamando à sua nomeação um “erro de julgamento extraordinário”.
https://twitter.com/sarahwollaston/status/1153948971871670272
Dentro do próprio Partido Conservador, membros eurocéticos mais antigos, como o ex-líder Iain Duncan Smith, o veterano Bill Cash ou o brexiteer Owen Paterson, não terão gostado da nomeação. A notícia é avançada pelo Guardian, que cita uma fonte que garante que os três deputados terão ficado “furiosos” com a escolha de uma figura tão individualista como Cummings. O diferendo com Duncan Smith, esse, vem de trás: em tempos, o estratega político trabalhou para o ex-líder dos tories, mas demitiu-se, chamando-lhe publicamente “incompetente” num artigo de jornal. E os problemas de Cummings com alguns dos conservadores mais eurocéticos também não são novos: no início de 2016, a imprensa britânica deu conta de uma tentativa liderada pelo deputado Bernard Jenkin de afastar Cummings da liderança da campanha Vote Leave, que acabou por falhar.
Como se explica então que um operativo político com tantos anti-corpos seja escolhido por Boris para um lugar de tanto destaque dentro da maquinaria de Downing Street? Por uma razão simples: porque ele é eficaz. E em que é que Cummings é mais eficaz? Em campanha eleitoral, claro está. “Ele está ali para preparar a estratégia de uma campanha implacável para novas eleições”, garante Paul Webb. Alan Wager também não tem dúvidas: “Dominic Cummings é, acima de tudo, um organizador político e um operativo de campanha. Isto mostra que a administração Johnson está a tentar vender a hipótese de um no deal ao país, numa nova eleição.” Com um bónus: com Dominic Cummings a trabalhar para o Governo, não há hipótese de ser contratado por Nigel Farage e pelo seu Partido do Brexit, como aponta o Observer.
Boosterism, a estratégia anti-austeridade de Boris para o Brexit (e não só)
Para além de uma nova equipa pró-Brexit e de um “Gabinete de Guerra” pronto a enfrentar esse combate, o novo Governo tem-se desdobrado numa série de anúncios. Os paralelismos com Churchill repetem-se, com o Telegraph a noticiar que Downing Street se prepara para gastar mais de 100 milhões de libras na maior campanha publicitária pública desde a II Guerra Mundial, a fim de preparar os cidadãos britânicos para a possibilidade de uma saída sem acordo.
Mas o Executivo também tem deixado claro que está pronto a abrir os cordões à bolsa noutras áreas e a distanciar-se do legado de austeridade levado a cabo por David Cameron e os seus ministros. Para o Brexit, será disponibilizado “financiamento extra significativo”, de acordo com o novo ministro das Finanças. E não haverá dinheiro só para essa pasta: vários jornais garantem que milhões de libras serão injetadas no Serviço Nacional de Saúde até ao final do próximo ano, com Dominic Cummings (quem mais?) a ter já abordado o assunto com o responsável do SNS em Inglaterra, segundo conta o The Sun.
É aquilo a que Boris Johnson terá chamado de “boosterism”, uma palavra que vem de boost (estímulo em inglês) e que representa a política que quer ver aplicada no novo Orçamento deste outono, segundo revelaram fontes do Executivo a múltiplas publicações. A estratégia passa pela combinação de reforço do investimento público com a descida de impostos, esperando que tal ajude a estimular a economia. “Isto, conjugado com uma campanha publicitária pelo Brexit, parece mesmo que se estão a preparar para uma eleição lá para setembro, outubro ou novembro”, comenta o professor Paul Webb com o Observador.
Oficialmente, a linha do Governo é a de que está a trabalhar para conseguir o Brexit, seja de que forma for. Daí a decisão de criar este “Gabinete de Guerra”, para passar uma imagem de “tudo ou nada” e esperar, assim, influenciar os negociadores europeus e os cidadãos britânicos. Seja através de um novo acordo, seja através de uma saída sem acordo, o Reino Unido estará fora da União Europeia a 31 de outubro, garantem. E não será Londres a dar nenhum passo para alterar isto, na esperança de que tal force a UE a implorar para negociar. É por isso que Boris se tem limitado a telefonemas com Jean-Claude Juncker, Angela Merkel, Emmanuel Macron e Leo Varadkar e tem evitado encontros pessoais. Quaisquer reuniões com o presidente da Comissão Europeia ou os chefes de Governo de Alemanha, França e Irlanda só acontecerão se estes o pedirem, garante a nova equipa governativa.
A corda vai sendo esticada, com o Reino Unido a acenar com o fantasma de uma saída sem acordo, na esperança de que isso faça tremer os europeus: “Os líderes da UE têm dito, até agora, que não irão mudar de atitude”, declarou Michael Gove esta semana. “Esperamos que eles mudem de ideias, mas iremos operar assumindo que não o irão fazer”. Já o primeiro-ministro, por seu turno, vai pondo água na fervura, protagonizando este número no arame que é a política: “Não estamos a apontar para um Brexit no deal, de todo”, disse a seguir a Gove. “Há uma grande margem para conseguir um novo acordo e um acordo melhor.”
O problema é que, da parte de Bruxelas, a resposta tem sido clara: um novo acordo está fora de questão. Portanto, a não ser que Boris Johnson consiga ser brilhante neste jogo de assustar os europeus ou algo aconteça entretanto, a probabilidade de um no deal é elevada. E é por isso que, para o professor Alan Wager, tudo não passa de bluff político: “O Reino Unido, no ponto em que está, não seria capaz de lidar com os efeitos de um no deal. Os novos contratados, por exemplo, não entrariam ao serviço antes de 31 de outubro, porque os novos contratos ainda não teriam sido processados. Muitos pequenos negócios estarão provavelmente ainda menos preparados nessa altura, já que, em outubro, devido à proximidade do Natal, é mais difícil lidar com a disrupção do que era em março.”
Paul Webb discorda: “Há muita gente no Partido Conservador, incluindo dentro do Governo, que veria com bons olhos um no deal”, afirma. “Pode haver um elemento de bluff aqui, mas acho mesmo que o Governo está preparado para que o Reino Unido saia da União Europeia sem acordo, sejam quais forem as consequências.” Só que nada é assim tão simples: com um Parlamento que já votou duas vezes contra essa hipótese e uma maioria parlamentar que não vai além de dois ou três deputados de diferença face à oposição, a possibilidade de surgir uma moção de censura à última hora não pode ser excluída. Ou, por outras palavras, antes de o Brexit acontecer, o Reino Unido pode mesmo ter de ir às urnas.
Tories em alta, Farage tímido e Corbyn impopular. Sondagens podem dar força à convocação de eleições antecipadas
Sabendo disto, e somando a esta possibilidade os fatores já anunciados, ganha força a teoria de que Boris Johnson pode estar a preparar-se para governar em campanha eleitoral e antecipar eleições antes do final de outubro, para conseguir um mandato reforçado para uma saída sem acordo. “Ele pode bem estar a pensar em convocar eleições”, admitiu claramente o deputado conservador Dominic Grieve. “Mas isso seria altamente divisivo e de alto risco.”
É claro que uma jogada destas pode sempre correr mal, razão pela qual Boris Johnson, com a provável ajuda de Dominic Cummings, estará a medir e a calcular todos os cenários a cada momento, com cautela. É já sabido que o Brexit é o tema mais imprevisível da política europeia e que fazer previsões dá, muitas vezes, mau resultado. “Com o eleitorado cada vez mais fragmentado e os eleitores mais voláteis do que nunca, é impossível saber como decorreria essa campanha”, alertou o professor Robert Ford, da Universidade de Manchester, destacando o Brexit Party de Nigel Farage e a subida recente dos Liberais Democratas. Eleições antecipadas, diz, seriam “um salto de fé”.
Mas o risco é algo a que Boris Johnson está habituado, ou não tivesse sido ele o homem que, inesperadamente, decidiu apoiar a saída da UE no referendo de 2016, ajudando o lado do Leave a conquistar a vitória. E, a manter-se tudo como está, as eleições poderiam ser uma boa solução para ultrapassar a sua curta maioria de apenas dois ou três deputados: as últimas sondagens, já com Boris na liderança dos conservadores, mostram que o partido teve uma subida significativa nas sondagens, passando para primeiro, com mais de 30% das intenções de voto. Melhor do que isso, afirma o Telegraph, só Tony Blair conseguiu, quando chegou à liderança dos trabalhistas. Para já, parece que a estratégia de colocar um eurocético à frente do Partido Conservador tem sido eficaz em conter o avanço de Farage.
De criança tímida a político exuberante: Boris Johnson não é uma piada
É por isso que, para Paul Webb, a possibilidade de o Reino Unido ir às urnas ainda antes do final do ano é cada vez mais certa: “Pode ser porque é imposta a Johnson por uma moção de censura no Parlamento — o que acontecerá se sairmos da UE sem acordo; em alternativa, pode ser ele próprio a decidir convocar eleições para reunir apoio público para um Brexit sem acordo”, resume.
“Com Boris Johnson a tornar-se primeiro-ministro, o seu partido conseguiu este salto nas sondagens. Pode ser sol de pouca dura, mas, ao mesmo tempo, [o líder da oposição] Jeremy Corbyn é mais impopular do que nunca”, aponta. Se o primeiro-ministro alimenta o sonho de se comparar a Winston Churchill, Corbyn provavelmente gostaria de imitar Clement Attlee, que, nas eleições de 1945, não só derrotou Winston Churchill como conseguiu a maior transferência de votos de sempre do Partido Conservador para o Labour. Oitenta anos depois, com o Brexit ao virar da esquina, não é certo que a História se repita. Nem para Boris, nem para Corbyn.