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Como é que se aprende a ser resiliente e mais confiante?

A paixão pela defesa da biodiversidade, o sonho de acabar com o tráfico de espécies selvagens e o resumo da conversa sobre a escola ideal, que ensina a resiliência e treina a confiança.

“Nunca se é grande demais para sonhar, nem os sonhos são grandes o suficiente”. Aconselha todos os jovens a apoiar causas que os façam sentir “maiores”, a fazer a diferença e a não ter medo de arriscar. Defende que a Terra é um lugar belo, onde os animais devem ter cada vez mais protagonismo e atenção. Eles são, afinal, uma das melhores partes do mundo de Lisa, licenciada em Ciências do Meio Aquático e Medicina Veterinária, pela Universidade do Porto, mais concretamente no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS).

Lisa Moutinho Teixeira  nasceu em Guimarães há 27 anos e vive o dia a dia com a intensidade própria de quem ama o que faz, entregando o melhor de si nas tarefas que desempenha ao serviço do Jardim Zoológico da Maia. É ali que se encontra a estagiar, no início da carreira que pretende seguir orientada pelos valores da defesa do ambiente e proteção dos animais. Além de praticar todos os procedimentos médicos, também aplica técnicas de  enriquecimento ambiental que visam diminuir o impacto negativo do cativeiro nos animais. Ao mesmo tempo, está a concluir o Mestrado Integrado em Medicina Veterinária, o que torna os dias mais curtos para outras atividades como jogar xadrez. Em 2002 foi Campeã Distrital de Xadrez, um hobby transmitido pelo pai, xadrezista e professor na Escola D. Afonso Henriques , em Guimarães, onde é o dinamizador do Clube de Xadrez Afonsino .

Atualmente, por causa da pandemia, os jantares e convívios de família e amigos foram “teletransportados para o pequeno ecrã”, diz Lisa aludindo às videochamadas, sublinhando que mesmo nos dias mais cheios não abandona a “atividade física, o piano nem o mar.” O mergulho também integra a lista de paixões e a certificação que possui permitiu-lhe apreciar a beleza submarina tropical em alguns mergulhos que realizou no Brasil. Foi lá que começou a cumprir “a missão”, como gosta de dizer, no Hospital Veterinário de Animais Silvestres da Universidade Brasília, onde lhe foi possível libertar animais recuperados após intervenção clínica e considerados aptos à sobrevivência no habitat natural.

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A experiência mais gratificante foi mesmo “viver o sonho de cuidar de animais que são do mundo, e tornar possível seu o retorno à vida livre, onde fica a sua verdadeira casa.” A quantidade de animais selvagens que chegam aos CETAS  para receber tratamento é enorme, num fenómeno com origens no tráfico ilegal de espécies exóticas, no atropelamento e na fuga de cativeiros. No fim do dia, “saber que alguns deles poderiam voltar a voar, ou regressar à floresta, foi muito compensador, é uma sensação maravilhosa perceber que se pode salvar animais sem dono, que são do mundo.”

Lisa não se sentia particularmente à vontade com répteis, mas foi obrigada a lidar com jiboias em ambiente selvagem, em diversas ocasiões, durante a estada no Brasil. As mordeduras destas serpentes constritoras não são letais, mas podem provocar reações inflamatória muito dolorosas. Tanto mais que as jiboias “têm muitas bactérias nas mucosas e na pele”, explicou Lisa, que teve de ultrapassar os seus receios muitas vezes, sempre que era preciso resgatar algum exemplar, por abandono ou confisco das autoridades policiais brasileiras. O facto de lidar progressivamente melhor com répteis é um bom testemunho de resiliência desenvolvida através da exposição ao perigo ou obstáculo que queremos ultrapassar.

O tema das soft skills, das competências de resiliência e de autoconfiança, ao longo do percurso educativo são fundamentais “para criar profissionais de mão cheia, com uma capacidade maior de resolução de problemas, de acreditar em ideais e de adquirir a plasticidade de trabalhar em grupo, como forma de aprimorar os nossos objetivos na carreira e no dia a dia”, explica a jovem veterinária acrescentando que “o segredo está no trabalho em equipa, sem esquecer o que cada indivíduo pode trazer de novo, de diferente.”

A Bolsa Ibero-Americana do Santander  foi “crucial para conseguir usufruir desta experiência maravilhosa e de extrema importância para o desenvolvimento pessoal e profissional, sem um encargo financeiro tão pesado”, explica. Lisa destaca as vivências que jamais esquecerá, sublinhando “a emoção que sentiu pela oportunidade de viver vários meses do outro lado do oceano.” Fez unidades curriculares que não estão disponíveis em Portugal, estagiou em dois hospitais veterinários universitários, nas áreas de medicina e cirurgia em animais de companhia e em animais selvagens. Aprendeu muito sobre protocolos terapêuticos e medidas profiláticas, constatando que é sempre através da partilha de conhecimentos que se consegue evoluir. Em suma, a experiência permitiu-lhe adquirir mais flexibilidade e adaptabilidade para o futuro.

Além da luta contra o tráfico de animais selvagens, quer ajudar a travar a velocidade de extinção das espécies através de estratégias de conservação e proteger a biodiversidade do mundo.

O percurso exemplar de Lisa Moutinho Teixeira diz bem da importância da escola nos processos de desenvolvimento, tema da quinta Conversa Solta, em ambiente virtual, intitulada “A melhor escola do mundo é a que ensina a resiliência e treina a confiança”.

“O segredo está no trabalho em equipa, sem esquecer o que cada indivíduo pode trazer de novo, de diferente.”
Lisa Moutinho Teixeira - Estudante do 6º ano do Mestrado Integrado em Medicina Veterinária, Licenciada em Ciências do Meio Aquático

“Hoje Conversas. Amanhã és Pro” é o mote desta iniciativa que reúne o Santander e o Observador para levar até si uma série de conversas sobre o tema da Educação. Desta vez, a jornalista Laurinda Alves conversou com Ana Mafalda Lapa, bióloga e professora, finalista do Global Teacher Prize, Milton de Sousa, professor na Nova SBE, especialista na área de “Servant Leadership” e Sofia Menezes Frére, diretora do Santander Universidades.

Juntos, mas à distância, partilharam experiências e opiniões estimulando a reflexão  acerca das estratégias de reforço da confiança e da resiliência, num registo simples e informal que já conquistou a audiência através das redes sociais.

Veja na íntegra a conversa “A melhor escola do mundo é a que ensina a resiliência e treina a confiança”

O que não vem nos livros

“Entra nesta porta se queres mudar o teu futuro”, pode ler-se na porta do gabinete onde Ana Mafalda Lapa, professora e coach desenvolve a sua ação em prol de um modelo de excelência para o ensino em geral, no 3º ciclo e secundário em particular. A falta de confiança é uma das principais razões apontadas pelos alunos que a procuram para, simplesmente, conversar. A dinâmica de proximidade e a empatia que é capaz de investir na relação pedagógica explicam, facilmente, o facto de ter sido apontada como finalista do Global Teacher Prize. Diz que “a resiliência e a confiança demoram tempo a criar, mas treinam-se com situações vivenciais, é preciso levar os alunos a passar por experiências que os façam sentir confiantes.” Projetos em que os alunos são obrigados a contactar com o meio exterior são fundamentais. Conta que “os projetos de grupo ajudam muito a melhorar as competências sociais dos alunos, treinam a resiliência e a colaboração que tb é importante para a confiança”, do mesmo modo que “treinar o erro também é importante para aprender.”

“Aprender sobre liderança e aprender a ser líder são questões diferentes, embora sejam relacionáveis. Mas ensinar liderança em sala de aula não é suficiente para preparar as pessoas para ser líderes”, sublinha Milton de Sousa, especialista na área de “Servant Leadership”. Levar a liderança para a escola e tentar ensiná-la nas aulas não é suficiente. Aliás, é muito importante que quem está dedicado a sistemas de liderança tenha consciência de que “é muito diferente ser líder e ensinar a ser líder”.

E no quadro atual da crise pandémica é literalmente “impossível aprender a ser líder atrás  do computador”, refere o professor da Nova SBE, acrescentando que se pode aprender imenso com as ferramentas digitais, mas que isso “será limitador de várias competências porque para aprender é preciso fazer.” É como na metáfora da bicicleta, “é preciso fazer várias tentativas, cair e voltar a tentar até conquistar o equilíbrio.” Com a liderança é semelhante, as escolas devem capacitar-se para trabalhar estas competências e não apenas as do domínio cognitivo.

Com uma grande experiência na área de recursos humanos, Sofia Menezes Frére considera que assumir o perfil de líder com confiança é um aspeto crítico para o sucesso. É preciso ter “uma estratégia bem definida, trabalho de equipa, transparência, proximidade, demonstrar capacidade de ultrapassar os problemas e passar a ideia que juntos seremos mais fortes.”

Ana Mafalda Lapa constata que “a escola espelha a sociedade onde os pais têm muito pouco tempo para estar com os filhos e muitas vezes não se apercebem do que se passa com eles”. Quando existem situações complicadas, a escola pode ter um papel importante porque “os alunos partilham mais aspetos da sua vida com os colegas e professores, com os quais se identificam.”

O sistema dos Padrinhos é um exemplo em que os alunos mais velhos assumem o papel de padrinhos dos mais novos, que por sua vez falam mais facilmente com os padrinhos sobre os problemas que sentem e depois o padrinho partilha com o professor. “Na escola existe uma melhor perceção porque os alunos são vistos em contexto.” Os pais vêm os filhos em casa, sozinhos, “mas na escola percebe-se muito pela forma como se relacionam uns com os outros, como trabalham em conjunto” explica a professora.

“A resiliência e a confiança demoram tempo a criar, mas treinam-se com situações vivenciais.”
Ana Mafalda Lapa - Bióloga e professora, finalista do Global Teacher Prize

Milton de Sousa defende que é preciso reforçar a aprendizagem fora do contexto de sala de aula, “expor os alunos a contextos diferentes, que os levem a sair da zona de conforto.” Para isso recorrem a uma série de iniciativas de índole social para envolver os alunos e mostrar-lhes a realidade, tomando parte nela.

Deixa uma ideia fundamental no âmbito da liderança servidora, a de que quando estamos ao serviço dos outros, paradoxalmente encontramo-nos a nós próprios.

“Quando estamos ao serviço dos outros, paradoxalmente encontramo-nos a nós próprios.”
Milton de Sousa - Professor na Nova SBE, especialista na área de “Servant Leadership”

Valorizar o erro

Sofia Frére sublinha que “é critica a atitude dos jovens quando chegam à empresa,  a maneira como se apercebem do contexto, a procura do conhecimento, aceitar com humildade, aprender com os erros.” O importante é aproveitar sempre cada erro para aprender e não o repetir. “Faz parte da resiliência tirar proveito das situações e ultrapassar os obstáculos. Todos têm uma hipótese de vencer desde que tenham a atitude certa e a dedicação certa” conclui.

Apesar das melhorias trazidas por diferentes abordagens nas escolas e faculdades, “ainda há skills que tem de melhorar bastante” sublinha Sofia Frére, acrescentando que “é muito importante o papel das chefias no início de carreira, os que são capazes de treinar a confiança e ensinar os pontos mais importantes para o sucesso.”

“Todos têm uma hipótese de vencer, desde que tenham a atitude certa e a dedicação.”
Sofia Menezes Frére - Diretora Santander Universidades.

É preciso valorizar o erro e usá-lo para melhorar continuamente.  “A resiliência também passa pela capacidade de ver o positivo no negativo”, refere a professora Mafalda, explicando que é preciso aproveitar a circunstância, criar cenários alternativos e investir mais na criatividade.

A necessidade de fazer pausas no currículo para abordar temas que não vêm nos livros foi um ponto comum a todo o painel. “É preciso trabalhar os mindsets orientados para a aprendizagem” diz Milton, num domínio que tem muito a ver com a humildade que podemos desenvolver para assegurar que somos capazes de continuar a aprender mesmo depois do êxito. “O sucesso é o primeiro passo para deixar de conseguir aprender”, realça o professor da Nova SBE.

As escolas devem desenvolver as atitudes de humildade e aprendizagem que vão resultar em maior resiliência. É preciso estimular autorreflexão e o pensamento autocrítico como forma de desenvolver a consciência dos alunos para valorizar a sua essência enquanto ser humano. E também precisamos de partilhar mais os desaires porque eles costumam ensinar mais do que os êxitos.

O líder não é infalível e deve ter a coragem de mostrar as suas vulnerabilidades. Assumir que não se sabe não implica falta de competência. O próprio professor deve dar esse exemplo, estimulando a humildade intelectual e a capacidade de pedir ajuda quando necessário. “A ideia do líder infalível tem de acabar, tanto nas escolas como nas organizações”, conclui Milton de Sousa

Nas notas finais desta conversa, ficou a ideia de que a resiliência deve ser cultivada por todos, aprende-se com a experiência e com os erros, os nossos e os dos outros. Dentro do espírito colaborativo a partilha de boas práticas nas empresas, no primeiro emprego, é fundamental. A liderança servidora é a que podemos usar para resgatar e influenciar os outros. Este tempo de pandemia é também uma oportunidade para treinar novas competências, potenciar o melhor do outro e de si, na convicção de que qualquer escola pode ser a melhor do mundo desde que saiba ensinar a resiliência e treinar a confiança.

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