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O primeiro-ministro, António Costa (3-D), acompanhado pelo ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro (2-D), pela ministra da Agricultura e da Alimentação, Maria do Céu Antunes (2-E), pela ministra da Defesa Nacional, Helena Carreiras (3-E), pela secretária de Estado da Proteção Civil, Patrícia Gaspar (D), e pelo presidente da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, brigadeiro-general José Manuel Duarte Costa (E), fala aos jornalistas após a visita ao Comando Nacional de Emergência e Proteção Civil e ao Núcleo de Apoio à Decisão para a Análise de Incêndios Rurais (NADAIR)e da reunião com o Centro de Coordenação Operacional Nacional (CCON), na sede da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, em Oeiras, 12 de julho de 2022. Portugal encontra-se em Situação de Contingência em todo o território do continente até às 23h59 do dia 15 de julho. MÁRIO CRUZ/LUSA
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Na terça-feira foi com vários governantes ao centro de operações em Carnaxide, no meio de uma agenda apostada em marcar presença no terreno.

MÁRIO CRUZ/LUSA

Na terça-feira foi com vários governantes ao centro de operações em Carnaxide, no meio de uma agenda apostada em marcar presença no terreno.

MÁRIO CRUZ/LUSA

Costa usa experiência da pandemia para se tornar comandante-chefe de um país a arder

Erros de 2017 levaram primeiro-ministro a puxar a si o dossier dos incêndios. Cancelou viagens, fez pedagogia e aproveitou know how da pandemia para alertar população para o perigo.

Na noite desta quarta-feira, começaram a chegar ao gabinete do primeiro-ministro atualizações sobre a situação meteorológica: afinal o dia seguinte seria o pior, o risco de incêndios no país era extremo. No gabinete de António Costa o alerta também é máximo e a informação correu logo escada acima e a presença do primeiro-ministro no briefing matinal do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) foi marcada às dez e meia da noite, para a manhã seguinte, às oito. Era central travar eventuais excessos de otimismo com uma situação mais controlada e foi o que Costa tentou fazer de manhã. Isso e assumir o comando das operações, antes que seja tarde. No PS respira-se de alívio.

No gabinete do primeiro-ministro há, neste momento, dois assessores destacados a acompanhar em permanência todas as informações no terreno e a informar a todo o momento o primeiro-ministro. Costa está em contacto também permanente com os ministros envolvidos nesta frente executiva de combate aos fogos e foram precisamente esse grupo de cinco governantes (Administração Interna, Ambiente, Agricultura, Defesa e Saúde) que, no passado sábado, estiveram na sede da Autoridade Nacional de Emergência e da Proteção Civil a receber o alerta mais grave sobre a semana que se seguiria — que sobressaltou António Costa.

Articulado com o Presidente da República, o primeiro-ministro adiantou-se no terreno, mal soube dessas previsões, e avisou através de uma nota enviada à redações que tinha acabado de desmarcar a visita oficial a Moçambique, a apenas 24 horas de embarcar rumo a Maputo. Motivo: “De modo a estar permanentemente disponível no país”. Horas depois viria Marcelo Rebelo de Sousa dizer que também ele tinha cancelado uma ida a Nova Iorque, a convite do Conselho Económico e Social das Nações Unidas, invocando as mesmas razões. Perante condições meteorológicas extremas, como aquelas que se preparavam para os próximos dias, ninguém quis correr o risco de ficar na história como o último a reagir.

Na memória recente do país — e destes protagonistas políticos em particular — está o trágico ano de 2017, onde os incêndios fizeram mais de 100 vítimas mortais. Nessa altura, muita tinta correu sobre quem se apressou a marcar presença junto das populações e a onda de afetos de Marcelo Rebelo de Sousa junto da população devastada fez atear os críticos contra o Governo.

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Em outubro, na segunda vaga, o próprio primeiro-ministro acabou por acompanhar esse espírito e foi até ao terreno, dias depois de ter ouvido uma brutal mensagem presidencial ao país, onde Marcelo alertou — entre outras muitas coisas — para a necessidade de “olhar para os dramas de pessoas de carne e osso com a distância das teorias, dos sistemas ou das estruturas” e que isso, “por muito necessário que possa ser, é passar ao lado do fundamental, na vida como na política”. Costa acusou o toque e apareceu no terreno em moldes semelhantes (e pouco usuais no seu tempo em funções), registando-o nas redes sociais.

Nesta última semana, o primeiro-ministro não perdeu tempo. Mal percebeu a dimensão do risco de incêndio no país, descartou uma visita que o deixaria a milhares de quilómetros e a voos de regresso limitados, e pôs os pés no terreno. O país já ardia, nomeadamente os distritos de Leiria e Santarém. Na segunda-feira seguinte, logo de manhã, visitou a Sala de Operações e Comando da Unidade de Emergência da Proteção e Socorro (UEPS) da GNR em Coimbra, pouco depois avançou para uma visita no Centro de Meios Aéreos da Lousã e ao Helicóptero de Coordenação Força Aérea, e ainda ao final dessa mesma manhã, no mesmo concelho, visitou o ponto de observação de trabalhos realizados pelas Equipas de Sapadores Florestais do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas.

Não ficou por aí. À tarde seguiu para Viseu, para visitar a Companhia de Ataque Estendido da Unidade de Emergência da Proteção e Socorro. Na terça seguinte foi até Carnaxide, em Lisboa, para uma reunião do Centro de Coordenação Operacional Nacional e uma visita ao Comando Nacional de Emergência e Proteção Civil e ao Núcleo de Apoio à Decisão para a Análise de Incêndios Rurais. Quarta-feira foi a Vila de Rei, para a sessão de apresentação do balanço do Sistema de Informação Cadastral Simplificado e o Balcão Único do Prédio (BUPi), criado pelo Governo logo em 2017.

As visitas serviam para mostrar presença, comando, mas também mostrar trabalho e tentar aplacar as críticas de quem o ouviu queixar-se dos “problemas estruturais” em matéria de incêndios e vai apontando que próprio já está em funções há tempo suficiente para mostrar esse trabalho.

Sintonia Belém/São Bento

Prevenir, prevenir, prevenir. E responsabilizar a “mãozinha humana”. São estes os dois principais eixos da mensagem que Costa traçou com precisão e da qual não se desvia onde quer que vá – o que já levou a que fosse acusado pela oposição de desresponsabilizar, assim, o Executivo de eventuais situações mais graves que possam vir a acontecer. Nesta estratégia, tem contado, desta vez, com Marcelo Rebelo de Sousa, cujos avisos são feitos quase em uníssono, e sintonia, com o primeiro-ministro.

Logo no domingo, o próprio Presidente foi a Carnaxide, com o ministro da Administração Interna, e elogiou a decisão de Costa de se manter no país e ter agido com a declaração da situação de contingência. Dias depois, já esta quinta-feira, o Governo anunciou a decisão de estender o nível intermédio da lei de bases da Proteção Civil até ao próximo domingo, mesmo que a meteorologia comece a dar tréguas precisamente nesse fim de semana. E tem estado mais resguardado: voltou a aparecer neste palco esta quinta-feira, ao lado do MAI para visitar, no hospital de São José, um bombeiro ferido.

Na segunda-feira, na primeira paragem do seu périplo, em Coimbra, Costa explicava o guião para esta fase: por um lado, carregava nos avisos sobre o “elevadíssimo risco” e a “gravidade da situação”, sem poupar em adjetivos, estabelecendo desde logo o clima de alerta; depois, passava à necessidade de prevenir, com a tónica claramente colocada na responsabilidade individual, mesmo quando questionado sobre se – como já alegaram vários autarcas no terreno – os meios são suficientes para combater os incêndios.

O problema vem antes disso, quis frisar o primeiro-ministro. “Só não há incêndios se a mãozinha humana não provocar o incêndio — portanto temos de evitar o incêndio”, resumia Costa – mesmo que isso não seja bem assim. Mas, para a mensagem que queria passar, a hipérbole servia: “É preciso contar acima de tudo com todos e cada um de nós” e ter “o máximo de cuidado”.

Fact Check. “Os incêndios nascem sempre da ação humana”, como disse António Costa?

O alerta foi dito e repetido ao longo da semana. Em Carnaxide, quando sugeriu que os festivais poderiam nesta altura ser deslocalizados ou cancelados (minutos antes de ser confirmada a primeira decisão quanto ao Super Bock Super Rock), irritou-se com a insistência dos jornalistas em perguntas sobre o tema e sobre as compensações monetárias da decisão: “É o menor dos problemas (…) Quem nos dera a nós que a maior preocupação fosse o cancelamento desses eventos e não o estado de gravidade que temos”.

Depois, recorreria ainda a um terceiro eixo para ajudar a mensagem, sobretudo no que toca à necessidade de prevenir individualmente, a passar: a memória coletiva da pandemia. Nos últimos dias, foram muitos os paralelismos traçados com a fase mais aguda da Covid-19: quando pede cuidados individuais ou anuncia mudanças como essas, nos festivais, Costa recorda que é preciso que todos remem para o mesmo lado, pelo bem comum. Como na pandemia: uma espécie de estamos todos no mesmo barco.

O, neste dossiê, aliado Marcelo corrobora: o Presidente, que se tem mantido fora do terreno, vai deixando avisos no mesmo sentido, sobre os perigos da meteorologia e sobre a necessidade de cada um ajustar os seus comportamentos. “Temos de pedir mais um pouco de civismo”, explicava Marcelo esta quinta-feira. Costa concordará.

Socialistas aliviados com Costa no comando

As constantes aparições de António Costa nas televisões e a ideia de que está, mais do que nas últimas semanas de crise, aos comandos animaram alguns dos socialistas que andavam preocupados com a descoordenação do Executivo. “Graças a Deus, está a fazer pela vida – e bem”, comenta um dirigente com o Observador. Outro, embora apontando que Costa – que teve a pasta da ministro da Administração Interna no tempo de José Sócrates  – sempre seguiu de perto a questão dos incêndios, concorda: “Quer mostrar que está presente”.

“Aproveitou este momento para mostrar que está cá e com pulso firme, não há rédea solta”, acrescenta um deputado. “Só espero que ele não baixe a guarda”, desabafa um dirigente já citado.

Costa fora, desamparo no PS. Socialistas alertam para falta de coordenação e “cansaço”

E há, para os socialistas, duas possíveis explicações para o protagonismo de Costa nesta semana de perigo: por um lado, o trauma que ficou do dia em que, em 2017, teve de anunciar “a maior tragédia envolvendo vidas humanas de que temos conhecimento, nos últimos anos, em Portugal”, e das acusações de que foi alvo depois – incluindo a falsa ideia de que estaria de férias nessa altura (entraria em férias uns dias depois, em julho, no rescaldo do roubo de armas em Tancos).

Por outro, o facto de Costa perceber que se disseminava, pelo menos na bolha política e no próprio partido, a impressão de que estava ausente e mais dedicado aos assuntos europeus enquanto se sucediam crises envolvendo o Executivo – e mostrar, como dizia com todas as letras, este fim de semana, na Comissão Nacional do PS, que “isto não anda em piloto automático” e “precisa de alguém que saiba conduzir”. E é isso mesmo que alguns socialistas entendem que o período de fogos transmite: que o Governo “acordou” e está mais alerta.

No Expresso, num artigo de opinião publicado esta quinta-feira, o antigo dirigente e deputado do PS Ascenso Simões lembrou anos em que Costa era o MAI — e ele seu secretário de Estado —  e a sua “ação determinante de António Costa, essa direção política existiu sempre”. Quanto ao presente: “Nos últimos dias voltamos a verificar essa liderança política. Costa sabe bem o que está em causa. Mas também pode estar mais descansado porque o país está preparado como nunca esteve”.

Outro socialista ouvido pelo Observador aponta ainda para a experiência de Costa na pandemia, aplicada à gestão deste novo problema: a pandemia foi “pedagógica” e ajudou a que a população percebesse melhor os apelos à responsabilidade individual ou até proibições relacionadas com uma causa maior – antes era a doença, agora o perigo dos fogos. E, de novo, com Costa aos comandos da operação – e da mensagem.

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