Além de enfrentar sanções económicas impostas pela União Europeia e pelos EUA — assim como por outros países como o Canadá ou o Reino Unido —, a Rússia está a ver grandes marcas e empresas cessarem atividade no país, nalguns casos de forma definitiva, ou a reduzirem as operações de forma significativa devido à invasão da Ucrânia. E se há algumas empresas que assumem publicamente que o fazem como forma de condenar o regime de Putin e em solidariedade com o povo ucraniano, outros justificam com os constrangimentos na cadeia de abastecimento que, dizem, tornam insustentável continuar a laborar. Quer seja por reputação, convicção ou logística, certo é que, a cada dia que passa, a lista de empresas a anunciar sair da Rússia ou a limitar aí a sua atividade não pára de crescer.

Petrolíferas viram as costas à Rússia

A União Europeia ainda não decretou sanções às exportações de petróleo e de gás natural da Rússia, mas os Estados Unidos e o Reino Unido já. E, mesmo, a exclusão de alguns bancos russos do Swift, sistema de informação de transações internacionais, não impede os pagamentos referentes a esses produtos a nível europeu. Ainda assim, tem havido pressão para algumas empresas deixarem de comprar à Rússia e até de desinvestirem em empresas e projetos russos. E já se vê o resultado.

A BP foi a primeira. Anunciou no fim de semana que vai vender a participação de 19,75% que tem na Rosneft, assim como de outras três joint-ventures nas quais participa na Rússia, incluindo a posição nos campos petrolíferos da Sibéria. O Taas-Yuryakh na Sibéria, onde a BP detém 20%, produz 70 mil barris de petróleo por dia, estando estimado chegar a 100 mil barris.

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Na mesma ocasião, a BP anunciou que sairia do conselho de administração da Rosneft, onde permanece o ex-chanceler alemão Gerhard Schröder. Dias mais tarde, anunciou que vai deixar de compras gás e petróleo russos, a menos que esteja em causa a segurança do abastecimento energético. Um porta-voz da petrolífera disse, contudo, que a BP vai cumprir as “obrigações contratuais” que já tenham sido feitas.

Depois disso, seguiram-se outras petrolíferas. A Shell começou por anunciar que ia abandonar a sua participação em vários projetos conjuntos com o grupo russo Gazprom na Rússia, avaliadas, no final do ano passado, em 3 mil milhões de dólares. A Shell integra o projeto de gás natural Sakhaline-2. Porém, dias depois, decidiu deixar de importar petróleo e gás russos.

Também a norte-americana ExxonMobil anunciou o ponto final nas parcerias na Rússia, onde está, nomeadamente, no gasoduto Sakhalin-1. A ExxonMobil tem mais de 1.000 trabalhadores na Rússia, onde está há 25 anos. Também na Rússia há três décadas, a Equinor anunciou a sua retirada de projetos na Rússia, onde tem um acordo de cooperação com a Rosneft desde 2012.

No caso da francesa Total Energies, o ministro da Economia francês, Bruno le Maire, já fez saber que pretende discutir com a empresa a sua permanência no mercado russo. Já garantiu que não vai injetar mais dinheiro em projetos russos, mas não anunciou a saída.

Antes mesmo destes anúncios, já o Ocidente tinha anulado o projeto Nord Stream 2, que injetaria gás natural russo na Europa. A Alemanha suspendeu a certificação da infraestrutura que ainda não estava em operação. E já esta semana se soube que alguns dos participantes do projeto pretendiam retirar-se, levando a que a empresa gestora do projeto avançou para insolvência.

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Em Portugal, o primeiro bloqueio aconteceu pela Prio. Logo a 25 de fevereiro, a empresa anunciou a suspensão de compras à Rússia, tendo sido seguida, agora, pela Galp.

A Galp suspendeu as compras de produtos petrolíferos à Rússia, uma medida com impacto na refinaria de Sines e que terá também um custo financeiro não quantificado.

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Depois desta primeira abordagem por parte das petrolíferas, certo é que empresas grandes como a BP e a Shell anunciaram igualmente que iam deixar de fazer novos contratos com a Rússia.

Fabricantes de automóveis suspendem ou reduzem atividade — por posição política ou falta de componentes

No setor automóvel, também houve várias fabricantes a marcar uma posição contra a invasão russa, mas muitas delas disseram que o motivo foram os constrangimentos na cadeia de abastecimento.

A sueca Volvo (incluindo Volvo Cars e Volvo Trucks) suspendeu esta semana o envio de automóveis e camiões para o país, uma decisão que justificou com os “riscos potenciais associados às trocas comerciais com a Rússia, incluindo as sanções impostas pela UE e pelos EUA”. E que foi tomada apesar de a empresa ser detida por um conglomerado chinês — a China é dos poucos países a manter relações com Moscovo apesar da invasão à Ucrânia e mostrado oposição às sanções da UE e dos EUA.

Automóveis e camiões Volvo dizem não à Rússia

A Volvo Trucks, especificamente, tem na Rússia um mercado que representa cerca de 3% das suas vendas, mas suspendeu “todas as operações no país”, incluindo na fábrica que tem no país. Em 2021, a Volvo vendeu cerca de 9.000 carros na Rússia.

Esta tomada de posição motivou decisão semelhante da concorrente alemã Daimler Truck, que vai congelar os negócios na Rússia, o que inclui a colaboração com o fabricante local Kamaz.

Várias outras construtoras de automóveis e produtoras de componentes têm mostrado intenção de virar costas à Rússia: foi o caso da Volkswagen, da Renault, da fabricante de pneus Nokian Tyres, da Skoda, do grupo Stellantis, da General Motors, da Jaguar Land Rover, da BMW, da Ford, da Toyota, da Honda Motor, da Mazda e da Hyundai, que anunciaram planos para suspender as operações, reduzi-las significativamente ou mudá-las de sítio.

A Renault será das que está mais exposta aos efeitos do conflito, uma vez que detém a fabricante russa que produz a marca Lada. Com uma fábrica perto de Moscovo, decidiu pela suspensão, para já, até 5 de março, que justificou com a “mudança forçada nas rotas logísticas existentes” que está a causar uma escassez de componentes. Essa escassez é motivada, nomeadamente, pelo controlo apertado das fronteiras russas (os componentes são transportados por camião).

Também a Volkswagen suspendeu temporariamente as entregas e a produção na Rússia. O conflito já teve efeito nas operações na Europa: esta semana, a empresa interrompeu a produção por alguns dias em duas fábricas alemãs devido a um atraso no fornecimento de componentes fabricados na Ucrânia. Aliás, segundo o Wall Street Journal, admitiu fechar a fábrica principal na Alemanha no final deste mês por dificuldades na obtenção de componentes. Para já, a fábrica funciona com normalidade, mas a fabricante espera complicações na próxima semana.

A Skoda, que pertence à Volkswagen e tem na Rússia o segundo maior mercado, assim como fábricas, também vai limitar parte da produção devido à escassez de produtos. De igual forma, o grupo automóvel Stellantis, gerido pelo português Carlos Tavares, com fábricas em Kaluga, a cerca de 180 quilómetros de Moscovo, já avisou que, se para já continua a laborar, a situação pode mudar caso faltem componentes.

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Também a BMW interrompeu a exportação de carros para a Rússia e a produção no país “devido à situação geopolítica atual”, assim como a Ford, que, em comunicado, indicou que nos últimos anos tem optado por reduzir as operações no país.

A mesma atitude teve a fabricante automóvel japonesa Toyota, que anunciou a suspensão das operações na Rússia “até nova ordem” devido a “interrupções na cadeia de abastecimento” e às sanções internacionais. Já as operações de produção e venda na Europa “não vão ser afetadas”, assegura. A Toyota tem 168 pontos de venda e serviços na Rússia, assim como uma fábrica em São Petersburgo, com capacidade para produzir 100 mil veículos por ano. Já na Ucrânia tem 37 pontos de venda.

A Honda Motor, por sua vez, antecipou a suspensão da exportação de veículos para a Rússia, que apenas deveria acontecer em abril (e que tinha sido justificada com a queda contínua nas vendas). Já a Mazda planeia deixar de enviar componentes até à fábrica no leste da Rússia por causa das sanções. E a Hyundai também vai interromper a produção de automóveis na fábrica de São Petersburgo devido à escassez de componentes.

Construtoras de automóveis de luxo, como a Ferrari e a Lamborghini também fecharam as torneiras para Rússia, anunciando o fim das vendas para o país de Putin.

Ainda no setor dos transportes, tanto a Airbus como a Boeing tomaram uma posição em relação aos efeitos do conflito. Depois de anunciar uma pausa nas operações no campus de treino de Moscovo, e de fechar temporariamente os escritórios em Kiev, a norte-americana Boeing, fabricante de aeronaves, suspendeu o apoio técnico e de manutenção às companhias aéreas russas, assim como o fornecimento de peças. O mesmo foi feito pela fabricante europeia Airbus. Também já foi anunciado pela Boeing que ia deixar de comprar titânio à Rússia.

Redes sociais e streaming limitam acesso

O boicote à Rússia chegou também às redes sociais. A empresa que detém o Snapchat vai deixar de mostrar anúncios em território russo, bielorrusso e ucraniano na aplicação. E assegura que vai cumprir “todas as sanções que têm como alvo personalidades e negócios russos”. A Meta, que detém o Facebook, o Instagram e o WhatsApp, vai restringir o acesso aos canais russos RT e a agência de notícias Sputnik nas suas redes sociais, a pedido da UE, que determinou uma sanção sobre a emissão destes canais, o que teve de ser seguido por quem transmite os conteúdos. Porém, Moscovo estará a bloquear o acesso às redes sociais.

O Twitter vai, por sua vez, colocar um aviso nas mensagens partilhadas que tenham links de notícias de meios de comunicação social controladas pelo Kremlin. À semelhança do que aconteceu com o Facebook, a Rússia também anunciou que vai bloquear o Twitter.

Avaliações de restaurantes russos usadas para passar informação sobre Ucrânia

Também o TikTok suspendeu a publicação de vídeos e emissões diretas a partir da Rússia, depois de implementada no país a lei que limita a ação dos órgãos de comunicação social.

Já o Spotify, plataforma de streaming sueca, encerrou o escritório na Rússia, que teve de abrir na sequência de uma lei de Putin do ano passado que obriga as redes sociais com mais de 500 mil utilizadores diários a ter escritórios no país. Também vai remover conteúdos patrocinados pelo Kremlin como resposta ao “ataque não provocado contra a Ucrânia”. Além disso, encontrar podcasts de meios de comunicação com ligações ao Kremlin ficará mais difícil na UE. Apesar disso, não vai impedir utilizadores russos de aceder à plataforma de forma a “permitir um fluxo global de informações” aos cidadãos russos.

E a Netflix começou por dizer que vai suspender a atividade de produção e aquisição de conteúdos. Por exemplo, interrompeu a produção de duas séries, uma das quais sobre Anna Karenina. A plataforma de streaming já tinha, no início da semana, recusado cumprir a nova lei audiovisual russa, segundo a qual a plataforma tem de incluir 20 canais de televisão públicos para poder operar. Mais tarde, anunciou mesmo a suspensão total do serviço na Rússia.

Também os estúdios da Walt Disney Company, a Warner Bros e a Universal Pictures anunciaram que não vão lançar os novos filmes na Rússia. A Universal Music Group também mostrou intenção de encerrar todos os escritórios na Rússia, instando ao “fim da violência na Ucrânia o mais rápido possível”. E o YouTube anunciou que vai bloquear os canais RT e Sputnik. A Rússia, no entanto, já desligou a plataforma de streaming no país.

O CEO do Airbnb, Brian Chesky, também anunciou que a plataforma de arrendamento vai “suspender todas as operações na Rússia e na Bielorrússia” (este último país tem-se mostrado favorável às ações de Putin).

Também a Web Summit anunciou que vai “proibir todos os membros e agências do governo, media controlada pelo Estado, empresas apoiadas pelo Estado e empresas com vínculos com o governo russo” de participar no evento, que se realiza em Lisboa até 2028. Além disso, não vai “acolher quaisquer organizações ou empresas russas ou bielorrussas” em novembro, em Lisboa, na próxima edição.

Grandes cadeias de fastfood e refrigerantes seguem o mesmo caminho

A Yum Brands, que detém o KFC e a Pizza Hut, anunciou a suspensão de operações na Rússia e vai gastar os lucros que obteve com as operações naquele país em ações humanitárias, como “uma doação de um milhão de dólares à Cruz Vermelha para apoiar os afetados pela crise”.

A McDonald’s também vai fechar temporariamente os cerca de 850 restaurantes na Rússia e “suspender todas as operações no mercado” russo. Em comunicado, a gigante de fast food, que chegou em 1990 à Rússia, assegura que os salários dos trabalhadores naquele país vão continuar a ser pagos na totalidade e adianta que não consegue prever quando vai reabrir os estabelecimentos.

“Estamos a sofrer ruturas na nossa cadeia de abastecimento, juntamente com outros impactos operacionais”, indicou. A McDonald’s era uma das empresas que estava a ser duramente criticada por ter demorado mais de uma semana a pronunciar-se sobre o conflito e a anunciar a saída (que será apenas temporária) da Rússia. Cerca de 84% dos restaurantes no país são detidos pela empresa, enquanto o resto são franchise.

McDonald’s e Coca-Cola encerram temporariamente os seus negócios na Rússia

Decisão semelhante foi tomada pela Starbucks, que assegurou que os quase 2.000 funcionários vão continuar a ter apoio. A PepsiCo, por sua vez, suspendeu as suas atividades na Rússia, mas não todas: por um lado vai continuar a vender bens essenciais, como fórmulas para bebés e outras comidas e leite; por outro lado, suspende a venda da Pepsi-Cola e da 7UP, assim como investimentos de capitais e a publicidade. A Rússia é das poucas regiões do mundo em que a PepsiCo tem maior presença do que a Coca-Cola. Cerca de 4% das receitas anuais da PepsiCo têm origem na Rússia.

A Coca Cola, que também suspendeu a atividade, diz que vai continuar a monitorizar a situação. A Rússia contribuiu com entre 1% a 2% às receitas da empresa em 2021.

E o grupo de produtos de consumo europeu Unilever, que tem marcas como Lipton, Dove, Rexona, Cif, Axe, Ben&Jerry’s, Calve ou Hellmann’s, interrompeu importações de e exportações para a Rússia. Também suspendeu os investimento e a publicidade no país. Vai, porém, continuar a fornecer alimentos e produtos de higiene produzidos na Rússia.

Já a Nestlé optou por suspender apenas os investimentos na capital russa e a publicidade em todo o país, mas vai continuar a fornecer produtos alimentares essenciais.

Operadoras de cartões de crédito tiveram de cortar

As empresas norte-americanas de cartões de pagamentos Visa e Mastercard bloquearam várias instituições financeiras russas da sua rede, cumprindo assim as sanções impostas pelos EUA a Moscovo. Segundo a Reuters, em 2021, cerca de 4% das receitas da Mastercard tiveram origem em negócios dentro da (ou com a) Rússia, enquanto as receitas com a Ucrânia ficaram pelos 2%. Este foi um primeiro movimento que se seguiu a um maior, que incluiu também a American Express, de bloquearem ainda mais o acesso. Assim, os cartões emitidos fora da Rússia deixam de funcionar nesse país e os emitidos por bancos russos só funcionam na Rússia.

Vestuário e mobiliário também impõem restrições

A Nike vai suspender temporariamente as vendas no site e na aplicação na Rússia e não garante “a entrega de mercadorias aos clientes na Rússia”. Já a Adidas suspendeu a parceria com a Federação Russa de Futebol “com efeitos imediatos”. Em 2020, 2,9% da faturação da empresa foi para os mercados de leste (incluindo Ucrânia e Rússia).

Ainda no vestuário, tanto a Mango como a H&M anunciaram entre quarta e quinta-feira que vão suspender as suas operações na Rússia — e tanto a empresa espanhola como a multinacional sueca já caíram na bolsa de valores entretanto. No caso da Mango, num comunicado em que a marca diz estar a “seguir a evolução da situação geopolítica ao minuto”, é assumido que esta era a última solução desejada, dada a “responsabilidade” da empresa para com os seus 800 funcionários na Rússia e parceiros. No entanto, a empresa confirma que decidiu “finalmente” suspender temporariamente as operações no país, encerrando as suas 55 lojas (os franchises continuam a poder operar), a plataforma online e as entregas de encomendas na Rússia. Em paralelo, a Mango doou 100 mil euros a plataformas como a Cruz Vermelha internacional.

Já a H&M expressou a sua “profunda preocupação com os trágicos desenvolvimentos na Ucrânia”, anunciando que também vai “suspender temporariamente todas as vendas na Rússia”, sendo que as lojas na Ucrânia já foram temporariamente fechadas por questões de segurança.

Entre as marcas de luxo que encerraram temporariamente as lojas na Rússia estão ainda as francesas Hermès, a Chanel e o grupo da Louis Vuitton — este último garantiu que o salário dos trabalhadores no país continuará a ser pago. Já a Chanel, que tem 17 lojas próprias na Rússia e pontos de venda em grandes lojas, com um total de 371 funcionários, adiantou que não vai fazer entregas no país, que vai fechar as lojas e suspender o comércio online. A Hermès, por sua vez, tem apenas três lojas na Rússia e refere que vai “continuar a apoiar” as equipas no país. No início deste ano, a marca de luxo disse que planeava abrir uma loja em São Petersburgo este ano, mas adiou a decisão “indefinidamente”.

A Rússia vai também ficar sem relógios da Rolex.

À lista de empresas com relações cortadas com a Rússia juntam-se ainda a marca de luxo Prada e a alemã de equipamentos desportivos Puma, que pararam com as entregas no país. Assim como a Levi Strauss & Co, que também suspende “novos investimentos”. Em 2021, cerca de 4% das receitas líquidas da empresa foram da Europa de leste e, dessas, metade vieram da Rússia. A suspensão foi também decidida pela marca espanhola de acessórios de moda e jóias Tous, que encerrou as lojas físicas e online justificando com a “complexidade operacional”. A empresa está a “estudar fórmulas” para “oferecer apoio às equipas” na Rússia.

A mesma decisão foi tomada pela empresa espanhola Inditex, que detém Zara, Bershka, Oysho, Stradivarius, Pull&Bear, Massimo Dutti e Uterqüe. Com 502 lojas, das quais 86 são da Zara, tem ainda mais de nove mil trabalhadores para quem vai desenvolver “um plano especial de apoio”. A Rússia representa cerca de 8,5% do lucro operacional.

De forma semelhante, a Ikea anunciou que vai suspender temporariamente as exportações e as importações da Rússia e Bielorrússia, assim como as operações de produção e de retalho no país. Ou seja, “as entregas de todos os subfornecedores para essas unidades são colocadas em pausa”, avisou, em comunicado. As decisões afetam 15 mil colaboradores da empresa.

E a holandesa Heineken, a terceira  marca de cerveja mais popular da Rússia, que emprega 1.800 pessoas, depois de suspender novos investimentos e exportações para a Rússia, revelou que vai mesmo deixar de produzir e de vender a cerveja no país.

… assim como as gigantes tecnológicas

Também a Apple interrompeu a venda dos seus iPhone e outros produtos na Rússia, frisando que a empresa está ao lado de “todas as pessoas que estão a sofrer como resultado da violência”. Também já removeu as aplicações da RT e da Sputnik da loja digital fora da Rússia e desativou as ferramentas de trânsito e de reporte de acidentes em tempo real como uma “medida de segurança” para os cidadãos ucranianos e como uma forma de limitar a informação disponibilizada ao exército russo.

A Apple limitou ainda transações na Rússia através do Apple Pay. E vai deixar de fazer publicidade na App Store para a Rússia.

Na mesma linha, a Google também deixou de disponibilizar informação de trânsito em tempo real dentro da Ucrânia no Google Maps, tendo a empresa explicado que, neste caso, era para proteção dos seus utilizadores — também a Apple desativou alguns funcionalidades do seu Apple Maps na Ucrânia pelo menos motivo. A Google está ainda a bloquear anúncios relacionados com a crise que procurem “tirar proveito da situação”.

A Samsung foi outra das empresas a anunciar o fim do envio de produtos para a Rússia, indicando como prioridade “garantir a segurança” dos funcionários e das respetivas famílias. Assim como a Microsoft, que suspendeu as vendas de produtos e serviços na Rússia, condenando a invasão “injustificada” à Ucrânia.

Outra empresa a cortar laços foi a PayPal, que suspendeu todos os seus serviços de pagamento na Rússia.

A esta lista junta-se ainda a dinamarquesa Lego, que confirmou esta quinta-feira a suspensão temporária do envio de produtos para a Rússia. No caso, a decisão não foi justificada com motivos políticos, mas antes com “o efeito das sanções e o ambiente imprevisível de operação”.

Lego suspende envio de produtos para a Rússia devido a sanções comerciais

Nas tecnologias, as próprias sanções impõe limitações nas exportações deste tipo de bens, pelo que OracleSAPHP Lenovo são algumas das empresas que suspenderam operações.

Consultoras recusam voltar a trabalhar com alguns clientes da Rússia

A Accenture, com 2.300 trabalhadores na Rússia, descontinuou a operação no país e assegurou que vai “prestar apoio aos colegas russos”, embora não especificando de que forma. A consultora de tecnologia não tem atividade na Ucrânia, mas diz que vai prestar apoio aos colegas de nacionalidade ucraniana e às respetivas famílias.

Já a consultora KPMG começou por comprometer-se a cortar relações com os clientes que tenham sido abrangidos pela onda de sanções impostas contra a Rússia. Segundo o presidente executivo da KPMG do Reino Unido, a consultora está a alinhar o contacto com os clientes com as sanções, o que significará terminar alguns desses vínculos no país ou mesmo globalmente. Mas depois do anúncio da Accenture acabou por ir mais longe e anunciar a saída do país. A mesma decisão foi tomada pela PWC, a EY e a Deloitte, que, com a KPMG, formam o grupo das “big four” das maiores consultoras de gestão. Apesar de não terem operações diretas na Rússia, operam no país através de entidades geridas por sócios locais.

A EY tinha começado por anunciar que estava a trabalhar com os governos para cumprir as sanções, não esclarecendo inicialmente se isso significava pôr fim a laços com clientes. Acabou por ir mais longe e suspender as atividades.

O diretor global da McKinsey proferiu duras palavras contra a Rússia, numa publicação no LinkedIn, considerando que o ataque é “indefensável” e anunciou que a consultora “não vai voltar a servir nenhuma entidade governamental na Rússia”, onde tem mais de 400 trabalhadores e parceiros. Já esta quinta-feira, sob forte pressão externa, a consultora acabou por anunciar que “não irá iniciar quaisquer novos trabalhos com cliente na Rússia”, ou seja, públicos ou empresariais – “assim que os nossos trabalhos em curso na Rússia forem concluídos, todos os nossos serviços a clientes no país ficarão suspensos”, adiantou a empresa.

Já o presidente da Boston Consulting Group condenou a invasão russa mas, até ao momento, apenas assegurou que a consultora não vai “trabalhar para o governo central na Rússia”. “À luz da atual guerra, não vamos aceitar nenhum trabalho para o governo, e estamos minuciosamente a avaliar todo o nosso portefólio de trabalho na Rússia”, indicou a empresa.

Transporte por mar e logística

As três maiores empresas de transporte de contentores por mar, a suíça MSC, a dinamarquesa Maersk e a francesa CMA CGM anunciaram a interrupção das reservas para o transporte de e para a Rússia. A decisão exclui os bens essenciais, como alimentos ou equipamento médico. Os contentores marítimos têm um papel essencial no comércio mundial, assegurando o transporte da maior parte dos bens industriais, pelo que excluir a Rússia desse acesso pode ter impactos severos na economia do país. Até porque também os voos das companhias aéreas dos aliados foram suspensos.

Na logística também se adivinham constrangimentos para a Rússia, depois de as maiores empresas terem interrompido envios para o país, que fica, assim, cada vez mais isolado. Em causa estão a DHL, da Alemanha — que tomou a mesma medida para a Bielorrússia, aliada de Moscovo —, a Kuehne + Nagel AF, sediada na Suíça, e as norte-americanas FedEx e UPS. As entregas a partir da UE à Rússia ainda são possíveis, mas estão a ser feitas por empresas mais pequenas.

No caso da FedEx e da UPS, a suspensão aplica-se também à Ucrânia, uma opção que as empresas justificam com a necessidade de garantir a segurança dos seus trabalhadores no país.