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Uma das imagens da catástrofe em Valência

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Uma das imagens da catástrofe em Valência

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DANA. Que fenómeno meteorológico é este que causou uma catástrofe em Espanha? E vai chegar a Portugal?

É imprevisível, até frequente, mas ganhou uma dimensão extrema em Espanha porque estacionou sobre Valência. Número de desaparecidos é uma incógnita e pode fazer subir o número de vítimas.

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Carros que deslizavam por entre águas turbulentas e se amontoavam pelas ruas. Pontes que se desmoronavam como se fossem legos. Pessoas a tentarem salvar-se agarradas a pequenos arbustos. Um tornado que levantou camiões. Cheias que chegaram em segundos depois do rio transbordar pelas margens não dando hipótese para fugas. Cascatas a cair das montanhas, das casas, dos muros, de qualquer lugar. O pior fenómeno meteorológico do século em Espanha provocou inundações fortíssimas que levaram vários residentes de Valência, o centro das chuvas torrenciais e dos ventos ciclónicos, a comparar as ondas de água que se formaram a um “tsunami”. Há 95 mortos confirmados, incluindo quatro crianças, mas a incógnita sobre o número de desaparecidos faz temer que as buscas que recomeçam na manhã desta quinta-feira tornem a dimensão da tragédia muito maior.

Na última noite, a chuva na região de Valência, onde as autoridades relataram 92 mortes, foi a mais elevada em 24 horas desde 11 de setembro de 1966, de acordo com dados oficiais. Castilla-La Mancha e Andaluzia foram também particularmente afetados pelo fenómeno, que em Espanha é conhecido como DANA (Depresión Aislada en Niveles Altos, Depressão isolada em Níveis Altos), mas que em Portugal se costuma chamar Gota Fria (depressão com com expressão em altitude).

Sucedem-se ainda algumas operações de resgate para salvar dezenas de pessoas presas em carros, telhados ou agarradas a árvores, embora, com a chegada da noite, já não sejam visíveis pessoas por resgatar. Mas as verdadeiras buscas só começam esta quinta-feira de manhã, admitiu a ministra da Defesa espanhola, explicando que é muito difícil atuar até se fazer alguma limpeza do terreno agora cheio de lama depois da água baixar e o tempo melhorar. “Algumas pessoas estão presas, mas há muitas outras que não sabemos se estão desaparecidas ou não. A grande incógnita neste momento é o número de pessoas desaparecidas”, afirmou, quase que antecipando um grande aumento do número de vítimas mortais, já que nenhuma autoridade avançou com valores para feridos ou desaparecidos.

Nas últimas horas, o governo espanhol decretou luto de três dias e anunciou que vai pedir apoio da União Europeia, que já se comprometeu a ajudar o país a superar as inundações “devastadoras”. Mas, afinal, que fenómeno meteorológico é este que está a deixar um rasto de destruição em Espanha e segue agora caminho, ainda que enfraquecido, para Portugal?

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O que é uma DANA?

Leslie, Berenice, Aline. O que têm em comum? São nomes que nos habituámos a ver atribuídos por institutos meteorológicos a tempestades ou depressões que, nos últimos anos, afetaram a Península Ibérica. Com uma DANA, a história é um pouco diferente. É, na verdade, o acrónimo espanhol para Depresión Aislada en Niveles Altos (em português, Depressão Isolada em Níveis Altos).

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Este foi o nome adotado pela Agência Estatal de Meteorologia de Espanha (AEMET) para descrever o fenómeno meteorológico que se origina com a separação de uma massa de ar frio em altitude, que dá origem a precipitação e tempestades. Na sua página, o organismo explica que sentiu a necessidade de o distinguir do termo que se popularizou, gota fria, porque por entre a população e até nos média era usado para referir qualquer situação de chuva muito intensa, por esta altura do outono e na zona do Mediterrâneo.

Por cá, no entanto, o fenómeno é simplesmente conhecido como gota fria. “Em português não temos uma tradução per si. Muitas vezes utilizamos a gota fria ou cut off low, do inglês, mas é o mesmo: “um isolamento em altitude da depressão”, explica o meteorologista Bruno Café, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera. O IPMA também usa a expressão depressão com expressão em altitude.

Como se forma uma DANA ou gota fria?

A Agência Estatal de Meteorologia de Espanha descreve o fenómeno como um “sistema de baixas pressões nos altos níveis da atmosfera que se separou completamente do fluxo zonal em altura.” Em termos leigos, acontece quando uma bolsa de ar frio se separa de uma massa polar, caracterizada por uma corrente de ventos frios muito intensos e que podem chegar aos 300 km/h, nas camadas superiores da atmosfera — normalmente a cerca de nove mil metros de altitude.

Um modelo da evolução da depressão partilhado pela AEMET na rede social X (antigo Twitter) pode ajudar no esforço de visualização. É possível ver como da massa fria, num tom de azul escuro, se separa uma bolsa que adquire a forma de uma espécie de gota de água. Esta move-se de uma forma muitas vezes difícil de prever.

Uma das principais características deste fenómeno é que é estacionário, ou seja, permanece no mesmo local durante um longo período de tempo, explica Bruno Café. Além disso, ao contrário das tempestades comuns, pode também mover-se em regressão.

"A depressão está a ser muito lenta. As linhas de instabilidade que são geradas pela depressão acabam por persistir muito tempo em determinadas zonas."
Bruno Café, meteorologista do IPMA

Uma outra característica da DANA é que, de modo natural, evolui por vezes para se estender também à superfície. “Neste momento, já temos uma depressão quer em níveis baixos, quer em níveis altos”, refere o meteorologista do IPMA.

É um fenómeno frequente?

Não é de todo raro. “É uma fenómeno que acontece de vez em quando nas nossas altitudes”, explica Bruno Café. Basta recordar a DANA que, no início de setembro de 2023, provocou cheias intensas que afetaram principalmente a Comunidade de Madrid e de Toledo. Nesse ano, pelo menos três pessoas morreram, incluindo um jovem de 20 anos, noticiou na altura o jornal espanhol El País.

Este ano, a AEMET já vinha a emitir alertas de forte precipitação desde o dia 25 de outubro. Primeiro, a alterar particularmente para chuvas muito fortes nas Ilhas Baleares, especialmente em Maiorca, atingida este fim de semana por graves inundações, que não fizeram vítimas

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As inundações em Maiorca

dpa/picture alliance via Getty I

A situação agudizou-se a partir de terça-feira, particularmente na Comunidade Valenciana. Segundo o serviço de emergência local, só durante a madrugada foram resgatadas cerca de 200 pessoas. No entanto, por esta altura as equipas de proteção civil e de militares que estão no terreno continuam sem acesso a muitos dos locais afetados. Várias estradas foram cortadas, a circulação de metro foi interrompida em todas as linhas na região e vários voos chegaram a ser cancelados e desviados.

Porque é que esta depressão teve tanta intensidade?

A depressão está a ser descrita pela imprensa espanhola como uma das piores na história do país. “Poucas vezes vi um sistema como o que se formou ontem. A tempestade foi absolutamente enorme”, sublinhou o meteorologista espanhol Mar Gómez ao jornal El Mundo.

Carros empilhados, ruas cheias de entulho e estações de metro submersas. As imagens do rasto de destruição em Valência

“É uma situação extrema”, corrobora Bruno Café, explicando que “temos valores em Espanha que, em alguns locais, atingiram quase os valores que se registam num ano inteiro.” Foi o caso das localidades de Chiva, Buñol e Turís, em Valência, onde em oito horas caiu a quantidade de água que tipicamente cai durante um um ano inteiro no município. Já em Tavernes, também em Valência, registou-se a precipitação mais elevada em 24 horas desde 11 de setembro de 1966, segundo dados oficiais.

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AFP via Getty Images

Há três características que, na ótica do meteorologista do IPMA, potenciaram este efeito mais devastador. O primeiro é a estacionariedade: “A depressão está a ser muito lenta. As linhas de instabilidade que são geradas pela depressão acabam por persistir muito tempo em determinadas zonas.” Ou seja, a precipitação acaba por estar muito concentrada num local especifico.

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Outro fator que pode ter contribuído para agravar o problema é a temperatura do Mar Mediterrâneo, diz Bruno Café. Isto porque neste momento a temperatura da superfície do mar está entre um a dois graus acima da média para esta época do ano, segundo explicou José Miguel Viñas também ao El Mundo. “Não é uma anomalia tão significativa como outras épocas do ano, mas sem dúvida contribuiu para mais chuvas”, afirmou. A isso junta-se ainda a humidade elevada.

Ou seja, a DANA que se libertou da massa de ar frio polar, como um balão cheio de ar frio que estivesse a ser soprado em altitude pela superfície quente da Península Ibérica, desceu primeiro pela zona da Galiza/País Basco até ao Mediterrâneo, descarregou nas Baleares, voltou a ‘encher’ no quente Mediterrâneo e estacionou em cima da zona da Valência (e também Granada e Málaga) voltando a ‘abrir-se’ e a causar os estragos que se conhecem.

Vai chegar a Portugal?

A má notícia é que já chegou. A boa é que não se prevê a mesma intensidade que em Espanha, diz o meteorologista Bruno Café. Num primeiro comunicado, publicado na terça-feira, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera já tinha avisado para a chegada do fenómeno. Avançava num primeiro comunicado que para este fim de semana prolongado (sexta-feira, dia 1, é feriado), uma região depressionária com expressão em altitude nos dias 2 e 3 iria alterar as condições de estabilidade do tempo.

Esta quarta-feira não só alterou as previsões com colocou vários distritos sob alerta amarelo para chuva intensa. O organismo indicava que a depressão iria afetar Portugal mais diretamente a partir desta tarde e até ao final de sexta-feira. Mas, de forma muito mais leve do que aconteceu em Espanha.

“À medida que a depressão se vai deslocando para oeste vão também diminuindo as condições que poderão dar origem a tempo muito severo”, explica o IPMA. “A situação severa que ocorreu em Espanha está relacionada com fatores locais, mas também com instabilidade elevada, forte conteúdo em vapor de água transportado do mar Mediterrâneo e estacionariedade das bandas de precipitação”, distinguia.

O que se pode esperar nos próximos dias?

Para os próximos dias prevê-se “aguaceiros, por vezes fortes”, em especial nas regiões Centro e Sul do país. Doze distritos do continente vão estar esta quarta e quinta-feira sob aviso amarelo.

Nos distritos do Porto, Aveiro, Coimbra, Leiria, Santarém, Beja e Faro o aviso vai vigorar entre as 12h00 de hoje e as 00h00 de quinta-feira. Já Viseu, Guarda, Castelo Branco, Portalegre e Évora vão estar sob aviso amarelo entre as 12h00 de hoje e as 00:00 de quinta-feira e depois entre as 12h00 de quinta-feira e as 00h00 de sexta-feira.

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