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Derrotas políticas, sucessos empresariais e o luto pela mulher: Florentino Pérez é o homem que vai mandar na Superliga

Florentino Pérez é o homem por trás da nova Superliga, que abriu uma guerra no futebol. Perfil de um dos homens mais ricos de Espanha que andou pela política, convive com a elite e ficou viúvo em 2012

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(Artigo publicado originalmente a 15 de março de 2019 e republicado a 19 de abril de 2021 devido à importância de Florentino Pérez e do Real de Madrid na criação da polémica Superliga Europeia, que provocou um forte abalo no futebol europeu)

Florentino Pérez tinha consciência do que estava a fazer quando começou a deixar sinais a Cristiano Ronaldo e a Jorge Mendes de que não iria dificultar uma saída do jogador português do Real Madrid por 100 milhões de euros. Na política ou na vida empresarial, nunca deu ponto sem nó. Não é aquela figura sempre serena que todos pintam nos bastidores, como se percebeu quando andou agarrado ao telefone minutos a fio nos corredores do Santiago Bernabéu depois da derrota caseira com o CSKA Moscovo a pensar como iria despedir logo nesse dia Santiago Solari – um impulso apenas travado pela ação de José Ángel Sánchez, diretor geral do clube e pessoa próxima do presidente. No entanto, seja mais ou menos unânime, tem sempre um plano B pensado antes de fechar o A e não vê na mudança de rumo um problema desde que tenha a sua posição nas cúpulas das cúpulas salvaguardada — como se percebe por estes dias, quando aparece como presidente da nova Superliga europeia, que está a deixar o mundo do futebol em guerra. Mas quando Ronaldo saiu para a Juventus foi uma das poucas vezes que essa opção alternativa não existia. E os resultados seguintes comprovaram isso mesmo.

Entre a saída do tricampeão europeu Zinedine Zidane e a venda do maior goleador de sempre do Real Madrid, o presidente dos merengues pisou um chão como há muito não sentia. Movediço, ziguezagueante, incerto. Furou o protocolo ao contratar Julen Lopetegui e fazer com que o acordo fosse divulgado em termos públicos antes do início do Campeonato do Mundo, logo com um jogo contra Portugal em Sochi – o que, trocado por miúdos e com a devida distância temporal, significou defender-se lançando às feras da Real Federação Espanhola de Futebol o técnico, que acabou despedido mesmo antes do arranque do Mundial. Fez com que, uns meses depois, o treinador saísse pela porta pequena devido aos fracos resultados, defendendo-se do seu insucesso e até das indecisões em torno do perfil do sucessor, Solari. Resgatou agora o franco-argelino para substituir Solari, por ser a melhor opção mas também para recuperar o escudo que perdera entre a convulsão blanca após dez dias de derrotas consecutivas. Mas chegou a pensar-se, aliás, que a colocação do ex-capitão Raúl na equipa de juvenis significaria algo mais do que isso.

A pessoa que entrou nesta espiral ao sabor dos resultados foi a mesma que, durante anos a fio, quis manter em segredo o valor exato negociado com o Tottenham na compra de Gareth Bale para que não se soubesse que o galês custara mais do que Ronaldo. A mesma que leu como ninguém a importância conjuntural de criar a era dos “Galácticos” na primeira passagem pela presidência por forma a fazer acompanhar o salto qualitativo ao reforço financeiro – afinal, como disse numa Assembleia Geral citado pelo El País, “a liderança económica é a base da independência do Real”. A mesma que colocou na cabeça a ideia de que um dia seria campeão europeu de futebol e basquetebol (a outra modalidade de um clube sem o ecletismo ou ADN do Barcelona) e conseguiu esse feito em 2018. A blindagem nos estatutos que conseguiu criar à volta da sua posição (e que levou a uma guerra longa nos tribunais), argumentando que se tratavam de mudanças para evitar a ameaça dos magnatas que andavam a comprar clubes europeus, fez de Florentino Pérez um intocável. Mas o seu futuro no Real Madrid já esteve mais seguro.

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Florentino Pérez e o porto seguro num período mais crítico do Real: Zidane (aqui na apresentação com a mulher, Véronique)

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Em setembro, quando os resultados com Lopetegui começaram a dar para o torto, Florentino sentiu pela primeira vez o peso das decisões (mal) tomadas. Logo à cabeça, até pelas visíveis dificuldades ofensivas da equipa, a saída de Ronaldo. Foi aí que falou nos dois pilares da sua vida extra Real, coisa que raramente acontece, e que se emocionou: a construção civil (que motivou o sonho de reformular o Bernabéu) e a família, nomeadamente a mulher que morreu em 2012 ( María Ángeles Sandoval, mais conhecida por Pitina), depois de 42 anos de casamento e três filhos. “Todos os estádios ingleses custaram mais de 1.000 milhões. O custo inicial do nosso era de 400 milhões, a sentença do Tribunal de Justiça de Madrid provocou um aumento até aos 525 milhões. O que querem? Sou o presidente e tenho a competência de tomar decisões. Não sei quantas vezes pintaram a minha casa, até a campa da minha mulher, algo que ainda não tinha revelado”, assumiu, também a propósito das reações dos adeptos mais radicais.

A política, o império empresarial e a vida depois do luto por Pitina

Florentino Pérez, de 72 anos, formou-se em Engenharia na Universidade Politécnica de Madrid e foi construindo o seu império na construção civil depois de sete anos de atividade política de que nem todos se recordam, nas décadas de 70 e 80. Começou por ser diretor geral da Associação Espanhola de Estradas e teve um papel importante na governação de Adolfo Suárez como líder da União de Centro Democrática, entre 1976 e 1983. Foi nessa altura que saltou do setor privado para o público, com cargos tão variados como no Ministério do Meio Ambiente, Ministério da Indústria e Energia, Ministério dos Transportes e Ministério da Agricultura. Voltou depois para o privado, liderando a Construcciones Padrós, e assumiu uma década depois, em 1993, a ACS (Actividades de Construcción y Servicios), hoje líder mundial no seu ramo e com presença nos cinco continentes. Foi isso que lhe valeu o título de Empresário do Ano e que fez dele um dos homens mais ricos de Espanha. Tudo sem necessidade de algum dia ter recrutado um assessor dea imagem, como explicava um perfil do El Economista.

“Florentino é um ser superior”, comentou em 2005 Emilio Butrageño, símbolo dos merengues (e da seleção espanhola) que é hoje diretor das Relações Internacionais do clube. No entanto, nem tudo foram sucessos para o homem que faz do levantar de negócios uma forma de vida – na construção civil e também na imprensa, como se viu na forma como recuperou a revista Guía del Ocio. Como recordava o El Mundo em 2000, perdeu na primeira eleição a que se candidatou no Real Madrid e teve dois naufrágios políticos nos anos 80, na União de Centro Democrática (1982) e na “Operação Reformista” de 1986, onde perdeu como candidato pelo Partido Reformista Democrático. Alguns ainda hoje lamentam que se tenha perdido um político com potencial, outros destacam a forma como conseguiu entrar num mundo como o da construção civil, muito fechado às novidades. Todos lhe reconhecem a veia empreendedora e a capacidade de trabalho que permitiram ao filho do dono de duas perfumarias construir um império a partir da compra de uma construtura falida.

Sócio dos merengues desde 1961, habituou-se a ir ao estádio desde miúdo, sobretudo depois de ter mudado para a rua María de Guzmán, a menos de 500 metros do Santiago Bernabéu. A cicatriz que ainda hoje tem no lábio foi feita lá, a celebrar um golo ao descer as escadas, com apenas cinco anos.

Florentino Pérez é o filho do meio entre cinco irmãos. As irmãs mais velhas, Marisol e Conchita, formaram-se em química e farmacêutica; Ignacio, como ele, optou pela Engenharia; Enrique, o mais novo, preferiu Economia. Cresceu no bairro Hortaleza, conhecido sobretudo por também ser o de origem do antigo selecionador Luís Aragonés. Descreve-se como “um miúdo normal dentro de uma família normal” nos tempos da Espanha pós-guerra. Os pais, Eduardo e Soledad, procuraram sempre para os mais novos algo que o país ainda estava a recuperar: a normalidade (palavra repetida muitas vezes num perfil do El País em 2002).

Foi nesse contexto que se formou, estudando no Colégio San Antón, onde jogava futebol. Além do grupo de amigos da escola, alguns ainda hoje as pessoas mais próximas, recorda o facto de ter em casa um dos primeiros televisores por aquelas bandas, em 1959, que o pai trouxe de uma viagem à Alemanha onde foi ver um jogo do Real. Não sendo aficionado de touradas, lembra-se do momento em que El Cordobés foi colhido, em Las Ventas. Sócio dos merengues desde 1961, habituou-se a ir ao estádio desde miúdo, sobretudo depois de se ter mudado para a rua María de Guzmán, a menos de 500 metros do recinto. A cicatriz que ainda hoje tem no lábio foi feita lá, a celebrar um golo enquanto descia as escadas, com apenas cinco anos. Ver o Real foi um vício de sempre tal como o tabaco. Mas, ao contrário do clube que lidera, deixou de vez de fumar em 2002. Começou novo e parou de um dia para o outro.

“Encantador de serpentes”, como o apelida o Ideal, “Floro”, como é tratado pelos mais próximos, tem um círculo grande de gente conhecida mas um núcleo pequeno de amigos e pessoas de confiança. Aliás, olhando para o último elenco diretivo que foi a votos para a Direção do Real Madrid sem oposição em 2017, encontram-se amizades de infância, companheiros do Conselho de Administração da ACS, pessoas conhecidas dos negócios e da política e até familiares (o irmão Enrique), como detalhou a Bez. “Para estar ali tem de ser amigo de Florentino”, comentou uma fonte próxima do presidente merengue. O bom aluno fez-se mestre por saber separar muito bem as águas e andar sempre apoiado no mesmo grupo a quem reconhecia lealdade.

Florentino numa visita a Roma em 2002, com o Papa João Paulo II, a quem ofereceu uma réplica em prata do Bernabéu

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Como escreveu na semana passada o Al Navio, o céu e o inferno para Florentino podem estar separados por três quilómetros e cinco minutos: na manhã do dia do Real Madrid-Ajax, festejou num hotel a vitória num concurso para a construção de duas fábricas de ácido sulfúrico por 225 milhões de euros em Marrocos; à noite, os merengues foram humilhados no Santiago Bernabéu, bem ali ao pé, por 4-1 frente aos holandeses, acabando a noite a ouvir os adeptos pedirem a sua demissão. A vida do líder do clube da capital espanhola é sempre avaliada a dois níveis, desportivo e empresarial, mas existe um terceiro que sempre despertou interesse da imprensa cor de rosa: depois do longo luto a seguir à morte da mulher, a amizade próxima com Isabel Preysler fez várias capas (sobretudo depois da socialite ter vindo a Lisboa ver a final da Champions de 2014) mas estará agora numa relação com Françoise, francesa, 30 anos mais nova, que trabalhava no seu iate atracado em Palma de Maiorca e com quem foi visto em Paris e em Milão, como escreveram várias publicações. Fotos entre ambos, nenhuma. Como em tudo, mantém sempre a discrição.

Duas eras, a saída de Makelele e o sucesso europeu com bandeiras portuguesas

Por norma, quando existe um sorteio que beneficia mais uma equipa do que as restantes ou quando surgem decisões a nível de arbitragem a cair mais para um lado, as baterias são apontadas ao clube em causa. É uma inevitabilidade. No caso do Real, é obra de Florentino. Se existe uma formação mais acessível no caminho dos merengues, foi Florentino que colocou bolas quentes e frias; se o árbitro toma uma decisão errada na Liga, o responsável pelo VAR é Florentino. Tudo a brincar, claro. Mas também é a brincar que se dizem as verdades. Neste caso, a verdade é que o presidente dos blancos simboliza influência e poder, como se viu no velório da mulher, em 2012, com a presença dos membros das elites políticas, financeiras, desportivas e sociais.

Um perfil do Estado de São Paulo, feito pelo correspondente do jornal em Genebra, conta uma história com um misto de humor à mistura mas que traduz a esfera de liderança do empresário: em dia de clássico no Santiago Bernabéu, na tribuna junta-se a nata da sociedade espanhola, entre ministros, banqueiros, juízes, embaixadores e empresários, com grande luta pelos lugares que são disponibilizados. E porquê? Porque é uma forma de se cruzarem de forma discreta. A seguir é que vem o jogo de futebol. E há quem acrescente que quem ali entra e se cruza com Florentino Pérez ou sai tentado a ser parceiro do Real Madrid na sua área ou fica tentado a fazer negócio com a ACS. Ponto comum: um septuagenário sempre de fato.

Contratação de Figo, em 2000, foi o início da viragem de paradigma no Real Madrid com Florentino Pérez

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Florentino Pérez nunca digeriu a forma como perdeu as primeiras eleições a que concorreu, em 1995. Logo à partida por uma razão óbvia: houve muitas dúvidas em torno do escrutínio, ganho então por Lorenzo Sanz. Depois, por sentir que teve uma linha de raciocínio coerente com as necessidades financeiras do clube ao longo da campanha mas que falhou por omitir a outra parte que dá votos, que passa pela lado desportivo. Em 2000, chegou finalmente à cadeira de sonho. Na altura, o nome que fazia toda a diferença era português – Luís Figo. Com a devida distância, percebe-se hoje que o antigo Bola de Ouro apenas personificou a mudança de paradigma que estava para acontecer com o empresário no comando.

O saneamento financeiro começou com uma “guerra” complicada, que meteu justiça pelo meio, mas que foi a face não visível do sucesso dos merengues nas últimas duas décadas: a venda à Câmara de Madrid dos terrenos onde estava a cidade desportiva do Real para a construção de um pavilhão com capacidade para 20 mil espetadores, milhares de lugares de estacionamento e espaços verdes. A divisão entre socialistas acabou por ser a chave de um negócio que se pensava impossível de ser aprovado pelas autoridades regionais e municipais mas que avançou, com as receitas de exploração a servirem para a construção de um novo centro de treinos, conhecido hoje como Valdebebas.

Mas também a era dos “Galácticos”, mais tarde conhecida também como o período dos “Zidanes e Pavones”, trouxe algo novo em termos de gestão: a rentabilização dos direitos de imagem dos jogadores como nunca tinha sido feito em Espanha das maiores figuras da altura, como Figo, Zidane, Ronaldo ou David Beckham. A eles deveriam juntar-se os melhores talentos da formação, naquilo que era tido como a “mistura perfeita”.

Em dia de clássico no Santiago Bernabéu, a tribuna junta a nata da sociedade espanhola, entre ministros, banqueiros, juízes, embaixadores e empresários, com grande luta pelos lugares que são disponibilizados. E porquê? Porque é uma forma de se cruzarem de forma discreta. A seguir, a seguir é que vem o jogo de futebol.

Até 2003, o Real Madrid ganhou uma Liga dos Campeões (Bayer Leverkusen, 2-1 com um golo fantástico de Zidane na final), dois Campeonatos, uma Supertaça Europeia, uma Taça Intercontinental e duas Supertaças. E continuavam a chegar estrelas, neste caso britânicas: David Beckham em 2003, Michael Owen em 2004. No entanto, foi também nesse ano que o clube vendeu Claude Makelele, considerado o ponto de equilíbrio de um conjunto que tinha grandes estrelas e jovens com potencial. Era pelo francês que passava a receita de harmonia e estabilidade num projeto com metas elevadas. Coincidência ou não, depois desse ano e até fevereiro de 2006, teve cinco técnicos mas não mais ganhou. Contestado pelos adeptos, também pela superioridade do Barcelona nessa altura, saiu alegando apenas razões pessoais. “Pensamos que o Real Madrid precisa de uma mudança. Este é o momento adequado para deixar a presidência. Estou convencido de que pode ser a reviravolta de que o clube necessita”, disse sobre uma “decisão ponderada” antes de passar a liderança do clube para um fiel de sempre, Fernando Martín.

Ramón Calderón foi o homem que se seguiu. Ganhou alguns títulos no plano interno, falhou em termos europeus. No início de 2009, na sequência de várias investigações sobre a forma como passou um orçamento em dezembro de 2008 com votos de pessoas que não tinham direito, pessoas que alegadamente já tinham morrido e até um indivíduo que seria adepto do rival Atl. Madrid, apresentou a demissão. O caminho para o regresso de Florentino estava aberto e foi consumado numa conferência de imprensa com grande pompa no hotel Ritz. Foi o único nome a cumprir todos os requisitos financeiros para ser presidente, avançou como candidato unânime e não demorou a deixar marca sobre aquilo que considerava ser um virar de ciclo, gastando mais de 250 milhões de euros em contratações, com destaque para Cristiano Ronaldo, Kaká, Benzema ou Xabi Alonso. Os títulos não vieram logo, mas os merengues voltavam a ter as armas do início do século.

A apresentação de Ronaldo em 2009, com Eusébio e Di Stéfano, num Santiago Bernabéu lotado

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Nem tudo foi perfeito. Em termos internos, o Real venceu apenas dois Campeonatos, duas Taças do Rei e duas Supertaças entre 2009/10 e esta temporada. Ainda assim, e muito graças ao português que se tornaria o maior goleador da história do clube, foi escondendo esses momentos de insucesso e algumas escolhas falhadas para o comando técnico (como Rafa Benítez) com a glória europeia que sempre funcionou como grande meta para projetar o clube em termos mundiais: entre 2014 e 2018 ganhou quatro das cinco Ligas dos Campeões (a primeira com Zidane como adjunto de Ancelotti, as outras três com o francês como número 1), a que juntou ainda quatro Mundiais de Clubes e três Supertaças Europeias. Lá fora, os merengues voltaram aos tempos de Alfredo Di Stéfano e companhia; agora, sem o avançado mais “parecido” em termos de influência ao argentino, teve a pior temporada da segunda era na liderança. E ouviu adeptos pedirem a sua demissão, após o jogo com o Ajax.

As alterações estatutárias e o último grande sonho: remodelar o Bernabéu

Pelo meio, e quando estava no patamar de intocável (ainda mais), aprovou em Assembleia Geral alterações estatutárias que aumentaram o número de anos de associado para se ser candidato à presidência do clube, bem como as garantias pessoais e patrimoniais necessárias, que têm de assegurar uma espécie de caução de 15% do orçamento anual. Um grupo de sócios colocou a questão nos tribunais, o assunto arrastou-se durante alguns anos mas acabou por merecer uma aprovação parcial desses pontos, o que por uma questão lógica subiu a fasquia para quem o quiser desafiar nas urnas. Florentino, esse, justificou que o único objetivo era garantir que nenhum milionário ou magnata estrangeiro entrava no domínio de um Real Madrid que deveria ser dos sócios. Até entre quem o apoia, a justificação não gerou consenso. Mas o presidente já tinha passado essa fase.

A grande fixação nesta nova fase entroncou na remodelação do Santiago Bernabéu. O novo centro de treinos já estava construído e a ser utilizado. A expansão para novos mercados encontrou um ponto de consolidação. As receitas totais conseguiram superar as dos grandes clubes ingleses, nomeadamente o Manchester United. O último ponto do projeto que Florentino Pérez tinha para o Real, mas que esteve sempre na cabeça do presidente dos blancos, era a melhoria das condições do estádio e uma consequente adaptação aos tempos que correm. As negociações com a Câmara de Madrid não foram fáceis, houve vetos pelo meio, desenhos que tiveram de ser corrigidos, contas que cresceram, mas tudo chegou a um final feliz por 525 milhões.

Florentino Pérez já colocou em marcha o último grande projeto no seu plano Real: a remodelação do Bernabéu

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Ao longo deste trajeto, Florentino Pérez tentou manter uma liderança tranquila, sem necessidade de descer ao balneário. Mas, como se viu desde logo pela reação que teve quando Ronaldo admitiu, depois da final da Liga dos Campeões de 2018, que podia estar de saída (como acabou por acontecer), também tentava fazer prevalecer a sua posição sempre que o considerava ser necessário.

Na recente crise do Real Madrid, e quando teve palavras duras com os jogadores do balneário, entrou em choque com o capitão, Sergio Ramos; no dia seguinte, procurou o central para serenar ânimos e seguir em frente. Mostrou aí, mais uma vez, que não se importa de promover consensos quando considera que existe um bem maior em causa. E muda de opinião quando percebe que os factos também mudam – e é por isso que o “protegido” Gareth Bale tem guia de marcha.

Pelo meio, mesmo sendo uma personalidade avessa a grandes aparições públicas, entrevistas ou polémicas, teve episódios onde se tornou alvo (fora as investigações abertas a filiais da ACS, que não têm diretamente a ver consigo). Ramon Calderón, o antecessor, já o criticou de forma aberta em vários assuntos relacionados com o Real Madrid. E houve mais exemplos, sempre no campo das decisões técnicas e quando os resultados desportivos não surgem. No entanto, e no início desta semana, houve um novo foco que se abriu, como relatou o Mundo Deportivo: José Manuel Villarejo, antigo comissário do Corpo Nacional da Polícia que está em prisão preventiva acusado de pertencer a uma rede de crime organizado, referiu que o líder dos merengues tinha financiado a oposição na Guiné Equatorial, além de subornar políticos sul-americanos; e que Marcus Slaughter, reforço da equipa de basquetebol, foi inscrito no Campeonato em 2014/15 com passaporte falso do país para não ocupar uma vaga de extra-comunitário.

José Manuel Villarejo, antigo comissário do Corpo Nacional da Polícia que está em prisão preventiva acusado de pertencer a uma rede de crime organizado, referiu que o líder dos merengues tinha financiado a oposição na Guiné Equatorial, além de subornar políticos sul-americanos; e que Marcus Slaughter, reforço da equipa de basquetebol, foi inscrito no Campeonato em 2014/15 com passaporte falso do país para não ocupar uma vaga de extra-comunitário.

Florentino, como é habitual, não reagiu. Mas a resposta nos bastidores não deverá tardar muito. Na vida, como nas empresas ou no Real, o self made men pode não falar muito mas faz prevalecer o dom da omnipresença.

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